Epistemologia de Aristóteles.



1. Vida:
"Aristóteles: O príncipe eterno dos verdadeiros filósofos"
Augusto Comte

Aristóteles nasceu em Estagira, uma antiga cidade da Macedônia, colônia grega da Trácia, no litoral Norte do mar Egeu, em 384 a.C. Filho de Nicômaco, médico de renome - cientista da natureza, portanto -, teve claramente a influência da profissão do pai no seu projeto filosófico.
Aos dezoito anos, em 367 a.C., foi para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia, nessa época, duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até 347 a.C., ano que morreu Platão.
Com a morte do grande professor e com a escolha do sobrinho de Platão, Espeusipo, para a chefia da academia, Aristóteles partiu para Assos com alguns ex-alunos; No ano de 343 a.C. chamado por Filipe II, tornou-se preceptor de Alexandre, O Grande; função que exerceu até 336 a.C., quando Alexandre subiu ao trono.
Neste mesmo ano, de volta a Atenas, fundou o Lykeion, origem da palavra Liceu, cujos alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam), nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as ciências naturais.
Em 323 a.C. com a morte de Alexandre, os Atenienses voltam-se contra Aristóteles, de origem macedônica, perseguido pelos gregos, foge para a ilha Eubéia, onde vive sua mãe. Em 322 a.C. morre nesta mesma ilha aos 62 anos.

2. Obra:
"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."
Aristóteles
Perderam-se todas as obras publicadas por Aristóteles, com exceção da Constituição de Atenas, descoberta em 1890. As obras conhecidas resultaram de notas para cursos e conferências do filósofo, ordenadas de início por alguns discípulos e depois, de forma mais sistemática, por Adronico de Rodes (c. 60 a.C.).
As principais obras de Aristóteles, agrupadas por matérias, são: (1) Lógica: Categorias, Da interpretação, Primeira e segunda analítica, Tópicos, Refutações dos sofistas; (2) Filosofia da natureza: Física; (3) Psicologia e antropologia: Sobre a alma, além de um conjunto de pequenos tratados físicos; (4) Zoologia: Sobre a história dos animais; (5) Metafísica: Metafísica; (6) Ética: Ética a Nicômaco, Grande ética, Ética a Eudemo; (7) Política: Política, Econômica; (8) Retórica

3. O Rompimento com Platão:

"Nada há na mente que já não tenha passado pelos sentidos"
Aristóteles


O maior interesse de Aristóteles estava na natureza viva. Ele não foi apenas o último grande filósofo grego; foi também o primeiro grande biólogo da Europa.
Conforme apresentado pelo grupo anterior, podemos dizer que Platão estava tão mergulhado nas formas eternas, no mundo das "ideias", que quase não registrou as mudanças da natureza. Aristóteles ao contrário, interessava-se justamente por estas mudanças, por aquilo que hoje chamamos de processos naturais.
Indo um pouco mais além, também podemos dizer que Platão se afastou do mundo dos sentidos e que só percebia muito superficialmente tudo aquilo que vemos ao nosso redor. É que ele queria escapar da caverna para ver o eterno mundo das ideias! Aristóteles fez exatamente o contrário: ele saiu ao encontro da natureza e estudou aves, lagartos, girassóis e mamíferos.
Enquanto Platão usou como base de sua doutrina filosófica apenas a razão, Aristóteles usou também os sentidos. Aristóteles era portanto um empírico, ou seja, aquele que defende a teoria de que todo o conhecimento do mundo vem daquilo que lhes diz seus sentidos.

3.1 As ideias não são inatas.

"A dúvida é o principio da sabedoria."
Aristóteles

Em sua busca pelo eterno e imutável, Platão chegou à teoria das ideias perfeitas, que estão acima do mundo sensorial. Além disso, Platão considerava estas ideias mais reais do que os próprios fenômenos da natureza. Primeiro vinha a ideia galinha e depois todas as galinhas do mundo dos sentidos, ciscando com suas sombras projetadas sobre a parede de uma caverna.
Aristóteles achava que Platão tinha virado tudo de cabeça para baixo. Ele concordava com seu mestre em que um exemplar isolado da galinha passa, que nenhuma galinha vive para sempre. Ele concordava também que, em si, a forma da galinha era eterna e imutável. Mas a "ideia" galinha não passava para ele de um conceito criado pelos homens e para os homens, depois de eles terem visto certo número de galinhas. A "ideia" ou forma galinha não existia, portanto, antes da experiência vivida. Para Aristóteles a "forma" galinha consiste nas características da galinha, ou seja, naquilo que chamamos de espécie.
Aristóteles dizia que as formas estavam dentro das próprias coisas, assim a galinha em si e a forma galinha são duas coisas tão inseparáveis quanto ao corpo e a alma.
O apresentado acima foi uma ruptura drástica com o pensamento platônico, enquanto Platão julgava que o máximo de realidade está em pensarmos com a razão, para Aristóteles era percebermos com os sentidos.
Segundo Aristóteles, o que existia na alma humana, nada mais era do que reflexos dos objetos da natureza, o oposto ao pensamento de Platão. Para Aristóteles, Platão foi prisioneiro de uma visão mítica do mundo.
Importante salientar que Aristóteles não negava que o homem tivesse uma razão inata. Pelo contrário: para ele, a razão era a característica mais importante do homem. Só que esta razão permanece totalmente vazia enquanto não percebemos nada.

4. As formas como características das coisas.
"Todo homem, por natureza, quer saber"
Aristóteles

Para Aristóteles a realidade consiste em várias coisas isoladas, que representam uma unidade de forma e substancia.
A substancia é o material de que a coisa se compõe, ao passo que a forma são as características peculiares de cada coisa.
Quando um gato mia e corre pelo telhado; a forma do gato é precisamente miar, correr, ter filhotinhos etc. Assim, a forma são características próprias da espécie. A forma gato é aquilo que ele faz. Quando o gato morre ? e, portanto deixa de miar -, a forma gato também deixa de existir. A única coisa que resta é a substância do gato.
A substância sempre encerra a possibilidade de se tornar forma. Para Aristóteles, toda mudança observada na natureza é uma transformação ocorrida na substância, de uma possibilidade para uma realidade.
Um ovo de galinha encerra a possibilidade de se transformar em galinha ou em um galo. Pode ser que ele termine frito. Nesse caso, Aristóteles diz que houve um acidente. Um acontecimento que impede que a forma se transforme naquilo que ela é em potencia.

4.1 Potências, ato e movimento
Para Aristóteles todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus, em que Deus seria "Ato Puro".
Aristóteles afirmava que todas as coisas estão em movimento (da potência ao ato), e para ele este movimento deveria ter um motor. Aristotelicamente, este primeiro propulsor seria Deus.

5. Causa final ou Finalidade
"O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz."
Aristóteles

Aristóteles teve uma notável visão da relação de causa e efeito na natureza. Ele acreditava que a na natureza havia diferentes tipos de causas. No nosso estudo, sublinhamos aquilo que ele chamou de causa final ou finalidade, mas antes vamos aos diferentes tipos.

5.1 As quatro causas

Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:
? A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);
? A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);
? A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge como as mãos de quem trabalha a argila);
? A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
Exemplo 2:
Por que chove?
Resposta escolar: Chove porque o vapor d água esfria nas nuvens e condensa na forma de gotas de chuva que, por causa da força da gravidade, caem no chão.
Aristóteles teria observado que nesta reposta somente foram apontada 03 causas. A causa material, que é o fato do de o vapor d?água em questão estar ali justamente na hora em que a nuvem esfriou; a causa formal, que é o fato de ser inerente à "forma" da água cair no chão e a causa eficiente, que é o fato do vapor de água esfriar. Aristóteles teria acrescentado que chove porque as plantas e animais precisam de água da chuva. A isso ele chama de causa final ou finalidade. Ele acreditava que por trás de tudo na natureza havia um propósito.

6. Lógica

O sábio procura a ausência de dor e não o prazer
Aristóteles
A diferença entre "forma" e substância" também foi muito importante quando Aristóteles descreveu o homem no mundo.
Quando reconhecemos as coisas, nós a ordenamos em diferentes grupos ou categorias. Por exemplo, vemos um coelho hoje, outro amanhã e outro depois de amanhã. Os coelhos não são exatamente iguais, mas há alguma coisa que é comum a todos os coelhos. E esta coisa que é comum a todos os coelhos e a "forma" do coelho. Tudo que é distintivo ou individual pertence á "substância" do coelho.
Logo, vamos reconhecendo e ordenando as coisas pelo mundo, colocamos os coelhos no viveiro, os cavalos no estábulo as plantas na varanda e os porcos no chiqueiro.
O mesmo ocorre em nossa consciência: estabelecemos a diferença entre coisas que são feitas de pedra, coisas de lã e coisas de barro. Distinguimos coisas vivas de coisas mortas, e plantas de seres humanos.
Aristóteles quis mostrar que todas as coisas da natureza pertencem a grupos e subgrupos. (Zeus é um ser vivo um animal, um animal vertebrado, um mamífero, um cachorro, ou melhor, o cachorro do professor André).
Aristóteles fundou com isso a ciência da lógica e estabeleceu uma série de normas rígidas para que conclusões ou provas pudessem ser consideradas logicamente válidas.
Pegando por exemplo Zeus (o cachorro do professor André): Todas as criaturas vivas são mortais (primeira premissa), Zeus é uma criatura viva (segunda premissa), logo, Zeus é mortal. Mas, tomara que viva muito.

7. Ética
É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.
Aristóteles
Aqui Aristóteles pergunta: Como o homem deve viver? Do que o homem precisa para viver uma boa vida?
Aristóteles acreditava em 03 formas de felicidade: a primeira forma de felicidade é uma vida de prazeres. A segunda é uma vida como cidadão livre. E a terceira é uma vida como pesquisador e filósofo.
Aristóteles sublinha o fato de que é preciso integrar estas 03 formas para que o homem leve uma vida realmente feliz. Ele recusa portanto, qualquer decisão unilateral. Aristóteles chama a atenção para um "meio-termo de ouro." Não devemos ser avarentos nem extravagantes, mas generosos. Somente através do equilíbrio poderemos nos tornar uma sociedade harmônica.

8. Ontologia Aristotélica
O homem nada pode aprender senão em virtude do que já sabe
Aristóteles
Segundo Aristóteles, a filosofia é essencialmente teórica: deve decifrar o enigma do universo, em face do qual a atitude inicial do espírito é o assombro do mistério. O seu problema fundamental é o problema do ser, não o problema da vida. O objeto próprio da filosofia, em que está a solução do seu problema, são as essências imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universal e o necessário, as formas e suas relações. Entretanto, as formas são imanentes na experiência, nos indivíduos, de que constituem a essência. A filosofia aristotélica é conceitual como a de Platão, mas, contudo, parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de partida da dedução é tirado - mediante o intelecto da experiência. A formação do conceito é, portanto, a posteriori às observações dos sentidos.





Bibliografia:
? http://mathematikos.psico.ufrgs.br/disciplinas/ufrgs/mat010392k2/ens22k2/xyz/arist. htm acessado em 19/09/2010
? CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
? http://www.benitopepe.com.br/tag/aristoteles/ acessado em 18/09/2010
? GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda. 1997
? ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; Martins, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna. 1994