“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.” (John Dewey)

INTRODUÇÃO

Epistemologia é a teoria das ciências, o estudo crítico dos princípios, teorias e objetivos das ciências. O estudo de epistemologia nos permite analisar a origem, os objetivos e possíveis contribuições de determinada ciência.

A psicopedagogia não pode ainda ser classificada como ciência, entretanto, por ser um conhecimento sistematizado e que pode fazer uso do método científico, a considero como tal.

O objetivo deste trabalho é Identificar a contribuição do estudo da epistemologia da psicopedagogia na determinação do campo de atuação da mesma. Para tal recorreu-se à análise do artigo escrito em 2007 por Laura Monte Serrat Barbosa, intitulado “A epistemologia da psicopedagogia: reconhecendo seu fundamento, seu fundamento, seu valor social e seu campo de ação”, publicado na Revista Psicopedagogia.

PSICOPEDAGOGIA

A princípio a psicopedagogia via as Dificuldades de Aprendizagem como “doenças do aprendiz”. Num período histórico em que o processo de aquisição de conhecimento institucional e sistematizado era caracterizado como responsabilidade apenas do aprendiz, os problemas nesse “processo de ensino” eram imputadas unicamente ao aprendiz. Com o tempo, as Dificuldades de Aprendizagem passaram a ser incorporadas como parte do processo de aprender, dividindo a responsabilidade pelo insucesso da aprendizagem entre o aprendiz cognoscente e o sistema educacional (profissionais e políticas).

Pode-se dizer que ocorreu um período de crise, seguido de um período denominado Revolução científica, de acordo com a teoria de Kuhn. Tal evento deu-se entre as décadas de 1990 e 2000. O resultado de tal período foi a mudança de paradigma, considerando que atualmente o objeto de estudo da psicopedagogia é o sujeito, o ser cognoscente.

De acordo com Barbosa, “desde o ano 2000, na Associação Brasileira de Psicopedagogia [ABPp], tem existido um esforço para ampliar conceitos, agregar a diversidade, compreender a aprendizagem como um paradigma de conjunção, entendendo-a como algo complexo (trama), que envolve não somente o conhecimento a ser aprendido, mas o sujeito cognoscente, constituído pelas dimensões racional, relacional e desiderativa, ligada à subjetividade, e pelo contexto histórico e geográfico no qual se encontra.” (p. 92)

A visão racional aplica-se no acúmulo de informações, que é essencial ao processo de aprendizagem, mas não é a sua totalidade, como pensava-se nos primórdios dos estudos da psicopedagogia. A visão relacional caracteriza-se pelas interferências das relações sociais vivenciadas pelo aprendiz no seu processo de aprendizagem. Eventos importantes de aspectos históricos ou geográficos interferem de maneira positiva ou negativa no processo de aprendizagem o tempo todo. Já a visão desiderativa refere-se aos desejos do aprendiz, ao interesse dele em prosseguir nesse processo de aprendizagem, evidenciando a necessidade de atividades que possam despertar o interesse no prosseguimento da aprendizagem. Se pensarmos na aprendizagem como resultado destas três dimensões, pode-se perceber tamanha a complexidade de tal processo.

“A psicopedagogia é uma área de estudos preocupada em conhecer o ser que conhece e que produz conhecimento e, para tal, necessita superar a visão clássica que, segundo Morin, separa o objeto de seu meio, separa o físico do biológico, separa o biológico do humano, separa as categorias, as disciplinas, etc. Essa visão reduz o complexo ao simples e não permite perceber a unidade na diversidade, nem a diversidade na unidade.” (BARBOSA, p. 95). A visão dualista que divide o sujeito em objetivo (corpo) e subjetivo (psicológico) mostrou-se insuficiente para a identificação adequada das Dificuldades de Aprendizagem, bem como insuficiente, também, para as propostas de soluções. O objetivo em se identificar uma Dificuldade de Aprendizagem é a possibilidade de intervir adequadamente, de maneira que se possa amenizar ou sanar tal evento. Se basearmos o trabalho na visão dualista acima citada, a detecção e intervenção adequada das Dificuldades de Aprendizagem se mostrará fragmentada e insatisfatória. É preciso considerar as três dimensões envolvidas na aprendizagem de um sujeito: racional, relacional e desiderativa.

A ideia de que seria importante na atuação do profissional de psicopedagogia o conhecimento acerca da epistemologia já não é recente. De acordo com Barbosa, “Visca foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a epistemologia da psicopedagogia e propôs estudos fundamentados no que chamou de Epistemologia Convergente, que é resultado da assimilação recíproca de conhecimentos” (p. 95). A Epistemologia Convergente pode ser considerada um método de atuação clínica que objetiva o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica, destinado a diferentes faixas etárias. Este método busca compreender as influências das esferas afetiva, cognitiva e do meio sócio educacional, baseando-se em teorias da psicanálise, psicologia social e epistemologia genética.

Após o levantamento tais informações, verifica-se que o profissional capacitado a atuar em psicopedagogia tem em seu atendimento os aspectos objetivos e subjetivos influentes no processo de aquisição de conhecimento e, mais complexamente falando, de aprendizagem. De acordo com Barbosa, “o valor da psicopedagogia, portanto, está na preocupação em trabalhar com o aprendiz humano, com um sujeito que é movido pelo desejo e pelo respeito. O campo de ação da psicopedagogia encontra-se diante de si, onde se encontram os aprendizes: na escola, nas casas, nas empresas, nas organizações ou mesmo na rua” (p. 98). Assim sendo, o psicopedagogo é importante em todo o processo de aprendizagem, em qualquer circunstancia, visto que aprendemos desde que nascemos até quando morremos, em qualquer lugar.

Barbosa, em seu texto, questiona a divisão da psicopedagogia em institucional, clínica, empresarial, etc. Deixo neste momento minha opinião, de que tal divisão fez-se necessária na construção da ciência psicopedagogia. Se um dia poderemos desfazê-la e considerar a psicopedagogia uma única área de atuação, somente poderá desvelar-se no futuro. Mas, até o momento, julgo tal divisão necessária.

CONCLUSÃO

Após a elaboração da revisão do artigo pude aprender que os estudos de epistemologia da psicopedagogia não são recentes e são necessários para um melhor desempenho do profissional capacitado a atuar na psicopedagogia. Foi possível revisar que a aprendizagem estrutura-se em três dimensões, que devem ser respeitadas, identificadas e investigadas no momento da intervenção psicopedagógica. Concluo que Qualquer estudo que venha acrescentar melhoras no atendimento psicopedagógico faz-se necessário e, portanto, os estudantes ou profissionais de psicopedagogia deveriam ter interesse e acesso a informações pertinentes acerca da Epistemologia da Psicopedagogia.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Laura Monte Serrat. A epistemologia da psicopedagogia: Reconhecendo seu fundamento, seu valor social e seu campo de ação. Ver. Psicopedagogia, 2007; 24 (73): 90-100.

KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.

MORIN, Edgard et al. O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Europa-América, 1996.