Referencial Teórico

Cerca de 70.000 brasileiros morrem por ano vítimas de acidente vascular encefálico (AVE). Trata-se da principal causa de morte no país, tanto entre homens quanto entre mulheres, segundo o Ministério da Saúde.

A doença é caracterizada pela falta de irrigação sanguínea numa parte do cérebro. Sem sangue, os neurônios presentes na região afetada não têm acesso a nutrientes e ao oxigênio — e podem morrer. "A gravidade do AVE depende da localização e do tamanho da área afetada. Isso explica por que a doença causa desde sintomas leves até sequelas definitivas ou óbito", diz Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo.

O derrame costuma ser de dois tipos: isquêmico, correspondente a cerca de 80% dos casos, e hemorrágico, responsável por aproximadamente 20% deles. No caso do AVE isquêmico, ou AVE I, o agente é um coágulo, que, oriundo de diferentes causas (como trombose, hipertensão e colesterol alto), obstrui um vaso que leva o sangue do coração para o cérebro — uma artéria. Já o AVE hemorrágico, ou AVE H, ocorre quando alguma artéria se rompe, desencadeando uma hemorragia cerebral.

Sintomas — Nas duas versões, os sintomas são os mesmos: dificuldade para falar, dormência de um lado do corpo, fraqueza, visão dupla e desequilíbrio. Diante desses sinais, é preciso levar o paciente ao pronto-socorro o mais rápido possível. No hospital, a pessoa será submetida a exames de imagem — ressonância ou tomografia — para diagnosticar o tipo do derrame. No caso do isquêmico, o procedimento de desbloqueio da passagem sanguínea, chamado trombólise, pode ser feito, em média, até quatro horas depois do acidente. Já o hemorrágico, mais difícil de ser tratado, requer, a depender da gravidade, uma operação para drenar o hematoma.

 

Fatores de risco — Segundo o estudo internacional Interstroke, realizado em 22 países, entre eles o Brasil, e publicado em 2010, 90% dos casos são associados a fatores de risco evitáveis. São eles: hipertensão, diabetes, sedentarismo, colesterol alto, obesidade, tabagismo, abuso de álcool, problemas cardiovasculares e dietas ricas em gordura e em sal. Os outros 10% podem estar relacionados à genética, idade (segundo a Associação Americana de AVE, a probabilidade de uma pessoa ter um derrame dobra a cada década depois dos 55 anos) e etnia (negros e orientais são mais predispostos à hipertensão, o que facilita o AVE).

Há pouca diferença entre os fatores de risco relacionados ao sexo. "Se a mulher não é tabagista, usuária de anticoncepcionais e vítima de enxaquecas com aura, seu risco não é mais elevado que o do homem", diz Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.

A incidência da doença, porém, muda de acordo com o avanço da idade. "O AVC é um pouco mais prevalente em homens até os 75 anos. Como as mulheres vivem mais que os homens, e a idade é um fator de risco para a doença, elas apresentam uma probabilidade mais elevada de ter derrame", explica Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O AVE afeta uma em cada cinco mulheres e um em cada seis homens.

 

Referências Bibliográficas

1. Brasil, Ministério da Saúde - Sistema de informações sobre mortalidade. DATASUS - TABNET. Indicadores e dados básicos. Brasil, 1997. Disponível em: www.datasus.gov.br. 1999.

 

2. Gomes MM. Doenças do cérebro: prioridade de política de saúde pública no Brasil? Rev Bras Neurol 1992;28:11-16.

 

3. Adams RD, Victor M, Ropper AH. Cerebrovascular diseases. In: Adams RD, Victor M, Ropper AH (ed). Principles of neurology, 6th ed. New York: McGraw Hill, 1997;777-873.