Tomando-se como referência dados do INEP, em pouco mais uma década (de 1990 a 2001), nota-se que a participação das instituições privadas de ensino superior cresceu significativamente, passando de cerca de 75% para quase 87% do total de instituições no Brasil.

A quantidade de instituições públicas permaneceu praticamente estável (variando de 210 a 220 entre 1990 a 1998) e nos três anos seguintes caiu significativamente até atingir o número de 183 no ano de 2001.

No que diz respeito às instituições privadas, estas oscilaram entre 663 e 711 no período de 1990 a 1997 e, ao contrário de suas congêneres públicas, de 1998 em diante experimentou um grande crescimento, atingindo o número de 1.208 instituições, ou seja, quase 7 vezes maior do que o de instituições públicas, sendo que 10 anos antes esta mesma relação era levemente superior a 3 vezes.

Diante deste quadro, um dos questionamentos possíveis de se fazer é: qual o impacto deste crescimento vertiginoso do número de instituições no ensino superior brasileiro de uma forma geral? Quais os aspectos positivos e negativos?

Bem, o impacto mais imediato e mais facilmente observável é com relação à disponibilidade de vagas no ensino superior. Se em 1990, o total de matrículas foi de pouco mais de 1,5 milhão, uma década depois atingiu mais de 3 milhões, ou seja, o dobro de alunos matriculados.

É inegável que este crescimento é positivo na medida em que, de certa forma, atende à demanda de longa data de nossa sociedade, de maior democratização do acesso ao ensino de nível superior.

Entretanto, não obstante este aumento e maior disponibilidade do número de vagas, infelizmente ele não foi suficiente para reverter o fenômeno do chamado efeito funil do sistema educacional brasileiro.

Este perverso fenômeno tem sido responsável pelo fato de que de cada 10 alunos que ingressam, não mais do que 2 concluem o curso 4 anos depois 1.

Qual a razão da perpetuação de tal fenômeno se levarmos em consideração o incremento tanto no número de vagas quanto no número absoluto de alunos concluintes?

Poder-se-ia supor de imediato que a principal razão seria de ordem econômica, ou seja, dificuldades em arcar com a mensalidade e demais despesas ao longo dos anos de curso, porém, é importante destacar que quando se analisa separadamente instituições públicas e privadas, observa-se que o índice médio de conclusão é da ordem de 15% e 19%, respectivamente. Ou seja, se assim fosse, esperava-se que esta relação seria inversa, levando-se em consideração que não há pagamento de mensalidades nas instituições públicas.

Sendo assim, devemos levar outros aspectos também em consideração, como por exemplo:

a) Desistências ao longo do curso em função de o estudante considerar não estar matriculado no curso com o qual realmente se identifica. Este fator apresenta duas características: o estudante pode simplesmente desistir do curso e não mais se interessar pelo ensino superior ou ainda, pode prestar novo vestibular para ingressar em outra carreira ou solicitar transferência para outro curso.

b) Repetências. Muitos alunos não concluem o curso no tempo de duração estimado e acabam permanecendo por mais um a três anos na escola por conta de repetência em algumas disciplinas, o chamado estudante profissional.

Face à grande necessidade do país em desenvolver-se em vários aspectos (sociais, econômicos e tecnológicos, por exemplo), bem como incrementar sua inserção no comércio internacional, é imperativo que se procure desenvolver mecanismos para diminuir os efeitos danosos deste fenômeno funil que além de representar tremendo desperdício de recursos de toda ordem, faz com que o país permaneça cada vez mais atrasado em relação às nações mais evoluídas e até mesmo de países em desenvolvimento como o nosso (como por exemplo: Índia, Argentina, Chile, Coréia do Sul, entre outros) e, além do mais, contribui para alijar ou restringir o acesso ao ensino superior de pessoas realmente interessadas, motivadas e em condições de ir até o fim.

Claro está que é muito difícil esperar que todos os que ingressam em determinado ano, saiam formados alguns anos depois (100% de aproveitamento). Indubitavelmente seria a condição ideal, mas nem sempre o ideal é o possível de se obter.

Por outro lado, também não é admissível contentar-se com uma situação na qual menos de 20% dos que se matriculam recebam o diploma alguns anos depois.

Para ter-se uma idéia de quanto isto representa em termos de atraso sócio-econômico para o país, basta observar a situação de alguns países selecionados 2 conforme abaixo tabulado:

 

 

 

 

País

 

GNI 3

 

GNI / capita 4

 

Média de anos de estudo

 

Gastos públicos com educação (% GNI)

 

US bilhões

 

Posição

 

US mil

 

Posição

 

EUA

 

10.110.087

 

1

 

35.060

 

2

 

12,0

 

4,8

 

Japão

 

4.265.616

 

2

 

26.070

 

22

 

9,5

 

3,5

 

Inglaterra

 

1.466.194

 

4

 

25.870

 

23

 

9,4

 

4,5

 

Índia

 

501.532

 

11

 

2.570

 

145

 

5,1

 

4,1

 

Brasil

 

497.393

 

12

 

7.250

 

85

 

6,0

 

4,7

 

Coréia do Sul

 

473.050

 

13

 

16.480

 

51

 

10,8

 

3,8

 

Argentina

 

154.145

 

27

 

9.930

 

72

 

8,8

 

4,0

 

África do Sul

 

113.492

 

32

 

9.870

 

74

 

6,1

 

5,5

 

Venezuela

 

102.577

 

36

 

5.080

 

111

 

6,6

 

5,0

 

Chile

 

66.318

 

43

 

9.180

 

77

 

7,5

 

4,2

 

Estônia

 

5.605

 

111

 

11.120

 

66