Perciliana Pena*

Zeila Miranda Ferreira**

A excessiva individualidade, característica do profissional da educação que tem dificuldades em socializar os materiais e textos que produz, é um dos problemas que os educadores precisam combater. Para se efetivar esse esforço coletivo, é necessário que o professor/pedagogo se esforce para superar o individualismo pedagógico, evitando buscar soluções isoladamente, para enfrentar e solucionar as dificuldades que encontra em sua prática docente. Wachowicz, (1996, p. 134), afirma que "o individualismo que caracteriza tão exacerbadamente a cultura ocidental e, consequentemente, o trabalho do professor, é uma grande limitação para as respostas que têm sido dadas à necessidade mais característica do nosso tempo: a socialização das consciências".

Nesse sentido, Collis (1998) apud Barros (1994), falando sobre aprendizagem colaborativa, diz que "ninguém é uma ilha e não há um projeto tão simples que uma só pessoa possa realizar sozinha". Lembra também que aprender com os outros, reformulando o conhecimento a partir da crítica do outro, é importante para o fortalecimento das habilidades de comunicação e raciocínio. Assim, trocar materiais didático-pedagógicos e experiências entre os educadores pode transformar a ação do professor numa prática mais reflexiva, rica, cheia de possibilidades e de aprendizagem.

Quando alunos e/ou professores trabalham juntos com o mesmo objetivo de aprendizagem e produzem um produto final ou chegam a uma solução comum, estão a aprender cooperativamente. E quando trabalham cooperativamente, "percebem" que podem atingir os seus objetivos somente se os outros membros do grupo também atingirem os seus, ou seja, existem objetivos de grupo.

Na aprendizagem, há sempre uma interação com o objeto, com o meio ambiente, e essa deve ser identificada com construção social; a importância do trabalho cooperativo na aprendizagem foi destacada na teoria de Vygotsky (1986). Ele diz que a forma de funcionamento interpsicológico tem um forte impacto no resultado do funcionamento intrapsicológico. A transformação dos processos externos em processos internos - internalização, não é vista por este autor, como mera transferência, mas sim como o resultado de uma longa série de acontecimentos de desenvolvimento; consequentemente, a realidade social tem um papel muito importante na determinação da natureza do funcionamento intrapsicológico (Baquero, 1998).

Existe diferença entre trabalho colaborativo e trabalho cooperativo. No trabalho colaborativo, segundo Ferreira (2003) as pessoas assumem diferentes papéis ao resolverem uma tarefa proposta, e cada um fica responsável por uma parte da mesma. Com essa divisão de trabalho, os indivíduos trabalham a maior parte do tempo, sozinhos e isolados. Pode surgir a competição como uma variável com peso e com efeitos psicossociais não muito saudáveis.

No trabalho cooperativo, Santoro & Borges (1998) explicam que as pessoas trabalham sempre em conjunto, num mesmo problema, em vez de separadamente, dividindo tarefas. Desse modo, cria-se um ambiente rico em descobertas mútuas, retornos recíprocos e há um processo permanente de compartilhar as idéias, pouco espaço para a competição e muito para a interação entre os alunos. Além disso, a resolução de problemas é ideal para a discussão em grupo, pois as suas soluções podem ser demonstradas, os alunos podem mostrar aos outros a lógica dos seus argumentos, pode aparecer diferentes formas de resolver o mesmo problema, uns podem ajudar aos outros a perceber e compreender conceitos básicos e todos aprendem falando, ouvindo, expondo, pensando com o outros.

Desse modo, percebe-se que na aprendizagem colaborativa, a aquisição de conhecimentos, habilidades ou atitudes não é um processo inerentemente individual, mas resulta da interação do grupo. Esse tipo de aprendizagem baseia-se de acordo com Barros (1994), nas seguintes premissas: a) cada participante tem conhecimentos e experiências individuais para oferecer e compartilhar com os outros membros do grupo; b) quando trabalham juntos como um time, um participante ajuda o outro a aprender; c) para construir uma equipe, cada membro do grupo deve desempenhar um papel para realizar a missão do grupo; d) o intercâmbio de papéis desempenhados no grupo adiciona valor ao trabalho da equipe porque um participante pode assumir um papel com o qual esteja familiarizado numa dada situação.

Portanto, a aprendizagem colaborativa pode ser entendida e deve ser adotada pelos professores, como metodologia do trabalho pedagógico, como uma estratégia educativa em que dois ou mais sujeitos constróem o seu conhecimento através da discussão, da reflexão e tomada de decisões.


Referência Bibliográfica

BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

BARROS, L.A. Sistemas de suporte a ambientes distribuídos para aprendizagem cooperativa. COPPE/UFRJ, 1994. Tese de Doutorado.

FERREIRA, S. Ambiente para aprendizagem colaborativa de computação básica e programação. Campus Global - PUCRS. 1998. Disponível na internet: http://terra.cglbal.pucrs.br/ensino. Consultado em 28/05/2003.

SANTORO, F.M. BORGES, M.R.S. Um framework para estudos de ambientes de suporte à aprendizagem cooperativa. Revista Brasileira de Informática na Educação. 4, p. 51 - 68. 1998.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986.

WACHOWICZ, Lilian Anna. Ensino: do conhecimento ao pensamento. E deste para os projetos. In Educação: Caminhos e Perspectivas. Vários autores. Curitiba: Champagnat, 1996.

* Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), coordenadora do curso de Pedagogia, professora e pesquisadora da Faculdade de Dracena (FADRA), Dracena, SP.

** Doutora em Educação pela USP, pedagoga, psicóloga, pesquisadora e professora de cursos de Graduação e de Pós-Graduação presencial e a distância da Faculdade Pitágoras e da Faculdade ESAMC de Uberlândia, MG.