Comenta-se muito da má qualidade da educação em nosso país. E têm-se razão. É uma das piores do mundo. Quando a questão é levantada costuma-se nomear culpados. Geralmente a responsabilidade pelo caos em que se encontra a educação no Brasil recai sobre o governo. Outros agravantes também são os baixos salários, o desprestígio social do professor, a violência, as más condições físicas das escolas etc.; em face desses fatores negativos e impotentes igual a uma formiguinha diante de um elefante, só resta ao professor se conformar e aceitar passivamente a condição de inferioridade.

Porém, contradizendo as circunstâncias como fator responsável e determinante pela má qualidade da educação - na opinião da maioria dos profissionais da área - levanto tese contrária, ou seja, apesar de existir um sistema dominante e alienante não se deve maximizar o papel do governo e nem minimizar a do educador como agente direto no processo de ensino-aprendizagem. Nesse processo a relação entre professor e aluno é de fundamental importância para que a educação aconteça.Essa relação diz respeito em grande parte a esses dois atores. Ou seja, por mais que o sistema vigente aliene o aluno, cabe ao educador como agente direto e transformador romper com o status quo.

É fácil e cômodo para os professores transferirem a responsabilidade para os poderes públicos. Assim nos eximimos do compromisso de resgatar o aluno para a consciência de seus direitos de cidadão. Por mais que o sistema aliene e afaste o educando de uma educação de qualidade, o agente principal é o professor, não o secretário de educação, governador ou ministro. Porque é na sala de aula que se dá a interação educando - educador e não ministro-aluno, secretário - aluno.

Vivemos numa sociedade complexa e cheia de paradoxos. Na era da globalização e comunicação imediata via internet, professores sem preparo e alheios ao que acontece ao seu redor desconhecem seu papel de transformador da sociedade e procuram eximir-se de suas responsabilidades transferindo-as para o sistema vigente.

O magistral educador e psicanalista Rubem Alves foi feliz ao afirmar que "professor é profissão, educador é vocação": A frase traz luz e nos ajuda a entender a situação atual da educação brasileira. Há uma grande diferença entre o profissional da educação e o educador. O primeiro encara o seu trabalho como fonte de sustento. Enquanto que o segundo é mais que um transmissor de conteúdo: é o agente transformador da matéria-prima mais fantástica do universo: a mente humana. Se usarmos a analogia da orquestra, diríamos que os alunos são os aprendizes e o professor o maestro. Para que a orquestra possa dar espetáculos há necessidade da presença de um maestro competente e compromissado com o que faz. Depois de ensaiada e afinada a orquestra irá refletir competência e talento do regente.

Exemplo maior de um grande maestro é o educador Paulo Freire. Sua obra já transformou e continua transformando milhões de seres humanos. Educação para Freire é sinônimo de revolução social e política, de luta e muito esforço. Dizia que "não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. É uma verdadeira aula de luta pela conquista da cidadania. Para Freire a educação que fala, por exemplo, em democracia e silencia o povo, é uma farsa.

O verdadeiro educador é aquele que ajuda o aluno a ter uma visão crítica da vida e do mundo. Educar é transformar pessoas para que o mundo seja transformado por elas... Se não for assim, não vale à pena trilhar esse caminho que um dia já foi considerado um sacerdócio!