Conforme destaca Travaglia (1997), o principal objetivo do ensino de língua materna nas escolas de Ensino Fundamental e Médio é desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua, onde para isso é necessário abrir a escola à pluralidade dos discursos, ou seja, à variação linguística.
Nesse mesmo paradigma, o Parâmetro Curricular Nacional, Pcn de (1998), de língua portuguesa, destaca que o objetivo é desenvolver no educando o domínio da expressão oral e escrita em situações de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção social e material do texto (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatário(s), bem como seu lugar social; finalidade ou intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do texto, operando sobre as dimensões pragmática, semântica e gramatical.
Portanto, tais palavras desejam explicitar que não cabe a argumentação de trabalhar única e exclusivamente com a Gramática Normativa, e insistir arduamente que tudo o que foge ao padrão tradicional seja vinculado como "errado". Isto é, não existem concepções que possam ditar "certo" ou "errado", antes de tudo existem paradigmas que apontam aceitáveis ou inaceitáveis, de acordo com cada uma das situações em que o aluno estiver à frente e se fizerem necessárias.
Nas escolas a preocupação primordial seria monitorar os educandos de maneira consciente de seu próprio desempenho linguístico, através de nomenclaturas em que o professor desqualifica como ruim qualquer produção textual do aluno que cometa deslizes contra a sintaxe ou a ortografia. Vale lembrar, que não devemos abrir mão da gramática, porém, inseri-la no texto como método de aprendizagem para um melhor desempenho e não simplesmente atribuí-la como regra, e sim, como meio de desenvolver um texto adequado a norma padrão, pois conforme destaca (Ilari & Basso, 2007): "...quando encontramos pequena incoerência num texto impresso atribuímos a má qualidade de revisão e não a falta de normas". Levando em conta, que o aluno acerca dos seus conhecimentos gramaticais contextualizado, possa escolher a forma adequada de expressar-se tanto na escrita quanto na fala de acordo com a situação a qual se encontra.
Dessa forma, a prática com textos e sua produção aliada ao exercício linguístico formariam um conjunto basilar do qual sustenta-se o ensino de língua portuguesa, funcionando como um aporte na formação dos alunos. Os conteúdos partem, portanto, de textos, sempre, valorizando e destacando diferenças e semelhanças, fazendo com que o aluno discuta o que lê e produz como participante de seu processo de aprendizagem.
De acordo com isso tomemos por base as palavras de Possenti (1998):
"O que o aluno produz ou fala reflete o que ele sabe (gramática internalizada). A compararão sem preconceito das formas é uma tarefa da gramática descritiva. E a explicitação da aceitação ou rejeição social de tais formas é uma tarefa da gramática normativa. As três podem evidentemente conviver na escola".

Perante tais constatações, observa-se que as aulas de língua materna devem priorizar as atividades de leitura, produção textual e interpretação motivando sua prática constante; despertando no educando o espírito analítico e crítico através de textos sob as inúmeras variedades linguísticas e literárias, como também, textos jornalísticos, promovendo assim, o despertar do interesse pela leitura e escrita. Enfim, disponibilizando a cada educando a oportunidade de ir tão longe quanto possa através da adoção de técnicas e metodologias apropriadas, aos alunos, às circunstâncias e ao seu meio.
Quanto à concepção da leitura e do incentivo da mesma Carvalho (2006) destaca como: "elemento chave para a formação das futuras elites sociais, econômicas, políticas e científicas. O mundo moderno enfatiza o princípio da produção da informação e da ordenação do conhecimento."
As práticas pedagógicas de língua materna tem sido alvo de uma constante preocupação. Afinal, muitas são as dificuldades dos alunos no que diz respeito ao desenvolvimento da proficiência em leitura e compreensão de texto. No entanto, não podemos esquecer que é papel da escola como um todo tornar os discentes capazes de utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo fazer uso de informações contidas nos textos, bem como conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valor e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.
Quanto à concepção textual e seu exercício em sala de aula, o Pcn de língua materna destaca:
"Cabe a escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade". (PCN, 1998).

Assim, a escola e mais especificamente as aulas de língua portuguesa não consistem apenas enquanto um aporte que dita o é "certo" ou "errado", mais especificamente, conscientizam-se de seu papel, de construção e formação de um educando crítico, capaz de posicionar-se diante das situações que lhe forem necessárias, e tal formação somente é possível através de textos problematizadores que coloquem em voga o pensamento reflexivo do aluno em formação.
No ensino da língua materna observa-se que a utilização estritamente da Gramática Normativa pode vir a ocasionar um embate com a Gramática Internalizada já trazida pelo aluno antes de ingressar no ambiente escolar. A partir disso, o educando começa a se confrontar com regras gramaticais e conceitos que vão de encontro com as formas de comunicação de seu meio social. Desta forma, o que deveria ser um aprimoramento da competência comunicativa, acaba se tornando, na verdade um mito de que o aluno não tem capacidade o suficiente dominar a sua língua materna.
Diante disso Masetto (1997) enfatiza que a Educação consiste num esforço permanente, através do qual os homens vão percebendo criticamente como estão sendo no mundo, buscando, desse modo, o desenvolvimento de uma consciência problematizadora.
Então, pode-se compreender que a educação consiste no processo de desenvolvimento da capacidade intelectual e moral do ser humano. Sendo caracterizada como uma das principais ferramentas de socialização e construção do indivíduo crítico e reflexivo, utilizando-se enquanto um instrumento de construção do saber e da cultura dos sujeitos.
Nesse sentido, a função do educador é de estabelecer alicerces para que o aluno possa aprender por si próprio, oferecendo liberdade crítica e reflexiva frente ao ensino que lhe é disponibilizado. Promovendo um ambiente favorável ao educando de motivação, através da construção de uma identidade aos saberes escolares e nunca desconsiderar o conhecimento trazido por estes de seus espaços sociais.
O papel do professor, em suma, não é o de "produzir", "criar" o saber, mas antes disso, aprimorar o desenvolvimento, a cultura do discente, visto que antes do mesmo ingressar no ambiente escolar estava inserido num habitat propício a sua construção intelectual. Assim, o professor deve na verdade disponibilizar meios para que os alunos por si próprios construam seus conhecimentos, a partir dos aportes utilizados pelos educadores para tal fim.
Um ensino linguístico pautado na análise de dados é necessário, certamente, e conscientemente, mais eficiente e satisfatório do que a simples e mera memorização de regras, que ditam "erros" e "acertos". Ofertar ao aluno o contato com uma vasta diversidade de gêneros textuais é fundamental para a efetiva percepção das inúmeras variedades e modalidades linguísticas existentes para a formação digna e eficaz de leitores e escritores. A leitura e a escrita são pontes incontestáveis para que haja uma inclusão do indivíduo dentro da sociedade.
Vale destacar, entretanto, que para desenvolver um processo sistemático de reflexão e conscientização sobre a interferência dos fenômenos de variação linguística nos diversos usos da Língua Portuguesa dentro e fora da sala de aula, é necessário ter em mente que isso não ocorre de um dia para o outro e que não pode ser visto como se fosse fruto de uma simples adesão por parte do docente, mas de um processo contínuo e sistemático de trabalho e reflexão sobre os aspectos formais da língua, seus gêneros, seus usos, seu contexto, sua história e seus falantes, bem como de uma política de formação de professores planejada desde sua fase inicial até os estágios mais avançados da formação continuada, que objetive subsidiar as práticas de ensino da Língua Portuguesa numa visão plural do conhecimento científico.
O objetivo de ensino de uma língua para pessoas já falantes dela deve ser a possibilidade de levá-las ao domínio efetivo e consistente das habilidades de leitura, escrita e oralidade. Ou seja, a escola deve formar alunos capacitados como leitores, e que possam produzir qualquer tipo de texto. Porém esse objetivo não será alcançado sem uma prática, mais uma vez vale registrar: ler e escrever devem ser atividades essenciais no ensino da língua.
Como todos os indivíduos ao ingressam na escola já possuem uma gramática internalizada, deve-se explorar a expressividade e permitir que essas variedades linguísticas sejam desenvolvidas e aperfeiçoadas para que sirvam as diversas situações sociais. Tal prática levaria ao ensino da norma culta pelo contraste ? comparando a língua que se tem com aquela que é exigida como padrão na sociedade, a fim de que o educando possa adequar-se gradativamente ao novo modelo, sem medos ou imposições.
Sinteticamente, deve-se, enquanto professor de língua materna, valorizar a leitura e a redação, motivando sua prática constante; despertando o espírito analítico e crítico através de textos sob as inúmeras variedades linguísticas e literárias, como também, textos jornalísticos, promovendo assim, o despertar do interesse pela leitura, escrita e o uso do dicionário. Enfim, disponibilizando a cada educando a oportunidade de ir tão longe quanto possa através da adoção de técnicas e metodologias apropriadas, aos alunos, as circunstâncias e ao seu meio.
É necessário, entretanto, refletir acerca do Pcn de seu conteúdo, suas propostas e sugerir atividades. Afinal, por mais que se questione sua utilidade, este tem como principal objetivo fazer com que o ensino forme cidadãos, e essa é a finalidade primeira de todo processo educativo.
Deve-se salientar, por fim, que o ensino da Língua Portuguesa se dá na medida em que professor e aluno se percebem sujeitos ideológicos de um mesmo processo, em constante construção, do qual resulta uma experiência única e significativa para ambos: o primeiro tem a possibilidade de descobrir e entender a lógica das falhas cometidas pelo aluno e, assim, saber exatamente em que ponto e porque há necessidade de corrigi-lo, enquanto ao segundo é dada a chance de pensar crítica e cientificamente a língua e aplicar o que aprendeu para melhor compreensão de seu conhecimento.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


CARVALHO, Kátia de. Disseminação da informação e da biblioteca: passado, presente e
futuro. O ideal de disseminar: novas perspectivas, outras percepções. Salvador: EDUFBA, 2006.
ILARI, R.; BASSO, R. O Português da gente: a língua que estudamos e a língua que falamos. 1ª ed. São Paulo: Contexto, 2007.
MASETTO, M.Tarciso. Didática: a aula como centro. 4ª ed. São Paulo: FTD, 1997.
PARÂMETROS curriculares nacionais ? terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental MEC, 1998.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1998.
TRAVAGLIA, L. Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1997.