ENSINO À DISTÂNCIA: a eficiência do método

Marcio Renard Lima de Araujo
Ruana Talita Penha de Sá

Sumário: Introdução; 1 Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância; 2 Panorama do EAD; 2.1 O que é educação a distância e por quê?; 3 O papel dos professores; 4 O perfil dos alunos; Considerações Finais; Referências.


RESUMO


O trabalho a seguir, discutirá um tema relativamente novo, porém não menos importante. Atualmente, a utilização da tecnologia como artifício para a melhoria do ensino tem sido amplamente valorizada. No entanto, faltam esclarecimentos a cerca do método pedagógico necessário à eficiência do Ensino a Distância. Neste artigo, enfatizando o campo do ensino superior, discutir-se-á a competência do método como formador de conhecimento crítico e o papel dos professores e alunos na modalidade.

PALAVRAS-CHAVE
Ensino à distância. Tecnologia. Eficiência do método


INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, não há dúvida de que a educação foi uma das áreas mais privilegiadas pela tecnologia. Nesse contexto surge o ensino a distância, desafiado a comprovar a compatibilidade entre a tecnologia e educação de qualidade. Segundo o ABRAEAD, desde 2004 as instituições que ministram graduação e pós-graduação a distância cresceram mais de 356%.
Neste trabalho, tratar-se-á da eficiência do método educação a distância comparando os principais dados do Referencial de Qualidade para a Educação Superior a Distância ao Anuário Brasileiro de Educação a Distância de 2008. A principal finalidade deste item é que seja feita uma comparação entre teoria e prática. Será discutido também o papel de um importante agente nesta modalidade: o professor. E será feita uma breve análise do perfil do estudante a distância.
O presente artigo busca compreender o método EAD, assim como também analisar se sua dinâmica pedagógica é capaz de formar cidadãos com conhecimento crítico e não apenas repassar informações aos alunos.

1 REFERENCIAIS DE QUALIDADE PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

Toda esta parte do trabalho é desenvolvida a partir do documento oficial (que discute os referenciais de qualidade do ensino superior a distância e tem como preocupação garantir a qualidade dos cursos e coibir a sua precarização) disponibilizado pela Secretaria de Educação a Distância em 2007 e do Anuário Brasileiro de Educação a Distância de 2008 (ABRAEAD).
O texto inicia-se enfatizando a inexistência de um modelo padrão para o EAD. Cada cotidiano, cada área e seus respectivos estudantes definirão as peculiaridades necessárias à metodologia aplicada. O importante é que seja valorizado em primeiro lugar o ENSINO, para depois ser pensada a forma que este será organizado: a DISTÂNCIA. Para desenvolver o seguinte trabalho, foram enfocadas as partes mais importantes:
1. O curso deve possuir uma filosofia de aprendizagem que proporcione interação entre os estudantes, desenvolvimento de projetos, conhecimento de diferentes culturas e construção do conhecimento.
ABRAEAD: 50,7% das instituições ouvidas exigem a pesquisa durante o curso e 20,7% como avaliação final. No que tange a administração das finanças em 2007, os gastos com aquisição de tecnologia, laboratórios, softwares e serviços de internet consumiram 71,8% dos investimentos, ficando o resto para a produção de conteúdo por equipe interna (14,6%) ou terceirizada (2,4%).
2. Utilização de sistemas de comunicação que possibilitem interatividade entre professores, tutores e estudantes (a relação entre colegas de curso deve ser fomentada). O curso de ensino superior a distância deve prever encontros presenciais e prever vias efetivas de comunicação entre todos os agentes da modalidade.
ABRAEAD: No que tange a evasão escolar, 25% dos entrevistados se decepcionaram com o EAD e justificaram a decepção devido à ausência da interação com outros alunos.
Sobre a disponibilidade de informações: dentre 140 instituições ouvidas, 13,6% delas têm alunos que atuam de forma passiva (apenas recebem informação); 30%, alunos atuando de forma ativa (formulando questões) e 54,3% possuem alunos atuando de forma interativa (aluno e professor interagem em tempo real).
3. Avaliação: Um projeto de ensino a distância deve avaliar a aprendizagem de seus alunos (a fim de verificar o progresso dos estudantes e estimula-los a construir conhecimento) e submeter-se a avaliação como instituição.
ABRAEAD: A prova escrita presencial é a avaliação mais comum durante e no final dos cursos, sendo utilizada por 81,8%. O trabalho de pesquisa também é exigido por uma maioria das instituições durante o curso.
4. Equipe multidisciplinar: com funções de planejamento, implementação e gestão de cursos a distância, onde docentes, tutores e pessoal técnico-administrativo devem estar em constante qualificação.
5. Infraestrutura material (equipamentos de televisão, vídeocassetes, áudio-cassetes, fotografia, impressoras, linhas telefônicas [...], fax, equipamentos para produção audiovisual e para videoconferência, computadores ligados em rede e/ou stand alone e outros [...]). É fundamental a disponibilidade de biblioteca e laboratórios de ensino.
ABRAEAD: Entre as instituições ouvidas, 71,4% disponibiliza biblioteca e 55,7% algum tipo de laboratório.

2 PANORAMA DO EAD

2.1 O que é Educação a distancia e por quê?

São inúmeras as definições que qualificam a educação à distância. Segundo Dohmem(1967) a educação a distancia "é uma forma sistematicamente organizada de autoestudo onde o aluno se instrui a partir do material de estudo que lhe é apresentado, o acompanhamento e a supervisão do sucesso do estudante são levados a cabo por um grupo de professores. Isto é possível através da aplicação de meios de comunicação capazes de vencer longas distâncias". Ou seja, o EAD é uma categoria de educação em que se desenvolve um ensinoaprendizagem sem que alunos e professores estejam em um mesmo lugar.
De acordo com a Lei 9.394/96 que hoje é a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a educação a distância é regulamentada de forma efetiva. O art. 80 reza que: "O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a vinculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada". Tal regulamentação representou um incentivo e um avanço nesta modalidade de ensino.
A expansão do EAD se deu principalmente pela demanda do "mercado consumidor" de conhecimento, pelo interesse de capacitação e qualificação em determinadas áreas e pelo interesse múltiplo da efetivação dessa educação. Isso é decorrência de um mercado competitivo que almeja e exige cada vez mais um trabalho qualificado. As pessoas que por alguma razão não estão encontrando respostas para suas demandas no ensino tradicional - seja pela ausência de cursos nos locais onde vivem, seja pela falta de tempo para uma dedicação integral a uma formação - estão-se apresentando como os candidatos preferenciais para uma experiência à distância (BENAKOUCHE, 2000). Isso revela que nessa perspectiva, a educação distância é um fator positivo para aqueles que não tiveram a oportunidade de ingressar no ensino superior por condições adversas, sejam elas por isolamento de cidades ou impossibilidade de estar presente em sala de aula.

3 O PAPEL DOS PROFESSORES

O papel do professor é de profunda relevância quando se trata da modalidade ensino a distância. O método EAD não diminui a importância do professor no processo de aprendizagem. No entanto, muitos pensam dessa forma: segundo o Prof. Dr. Gilberto Perez Cardoso, em uma pesquisa de opinião feita na Universidade de São Paulo com 280 alunos, 18% revelaram achar que o professor estava com seus dias contados e que futuramente perderia espaço para o computador.
Muitas vezes, erroneamente, somos levados a acreditar que o papel do professor é reduzido ou mesmo dispensável nesta modalidade. Clifford Stoll (2002, p. 4, apud Gilberto Cardoso), que possui renome na área da informática, enfatiza que "não se podem substituir bons professores por bons computadores ou bons "websites"; não se podem sequer substituir maus professores por um bom software (...) nada substitui a boa e velha relação professor/aluno". Fica claro que, apesar da inegável praticidade do EAD em certas situações, a capacidade do ser humano de despertar sensibilidade no outro é indispensável.
Dentro dessa abordagem, é bastante pertinente a colocação de Gilberto Cardoso ao afirmar que "parece sensato colocarmos as coisas em seus devidos lugares e lembrar que, na história da civilização, muitos feitos tecnológicos já surgiram... e também se foram. O ser humano, porém, ficou". (2002, p. 4)
O relacionamento entre o professor e o aluno varia muito de acordo com a disponibilidade do professor. As dúvidas dos alunos, em algumas instituições, já podem ser tiradas em tempo real. É o exemplo da rede Edsat, mantida pelo grupo paranaense Uninter: "o aluno telefona para um número gratuito e fala com uma equipe de tutoria que filtra perguntas" (EAD...,2006). Porém, essa não é a única forma de estreitar o relacionamento com os estudantes: a comunicação via e-mail também é bastante útil para esse fim. Tâmara Benakouche (2000) enfatiza a viabilidade do correio eletrônico para estabelecer relacionamentos cordiais. Os próprios emoticons (símbolos que representam expressões faciais) ajudam a "suavizar" algumas cobranças feitas aos alunos. Segundo o ABRAED, dentre os recursos mais utilizados pela tutoria dos cursos EAD, o e-mail está em primeiro lugar com a preferência de 77,9% das instituições cadastradas.

4 O PERFIL DOS ALUNOS

Majoritariamente, os alunos de ensino a distancia são casados, têm filhos estudaram em escolas públicas e sempre buscam uma melhor especialização em sua formação profissional. Segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira), há uma diferença entre alunos de graduação presencial e à distância. Na comparação entre os dois grupos no desempenho nas sete áreas analisadas pelo Enade, os alunos da graduação do ensino a distância tiveram notas superiores aos alunos de cursos presenciais. (ENSINO SUPERIOR, 2008).
Tal fato nos remete a conclusão de que os alunos de ensino a distância na maioria das vezes são pessoas com maior maturidade e consequentemente maior responsabilidade diante de seus atos. Afinal o ensino a distância propõe uma "liberdade acadêmica" bem maior que o ensino presencial, já que há ausência de uma autoridade para instruí-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após comparar os dados do Anuário Brasileiro de Educação a Distância aos Referenciais de Qualidade para o Ensino Superior a Distância, nota-se uma clara distância entre "como deve ser" e como é posto em prática o método pedagógico. A priorização da obtenção de novas tecnologias precariza e coloca em segundo plano a construção do conhecimento crítico, principal proposta das instituições de ensino superior.
O que se observa é que por possuir um vasto acervo de softwares, websites e tecnologias avançadas, a proposta do ensino a distância acaba não sendo vista como uma proposta de ensino, e sim de educação por mero repasse de informações através das tecnologias de informação e comunicação. Assim como expressa DEMO (1998, p.13) "quando falamos de 'teleducação', a questão mais embaraçosa não está na 'tele', mas na 'educação'". Ainda com suas palavras: "a instrumentação eletrônica não é, em si, educativa ou formativa. É facilmente informativa, atraente, dinâmica (...)" (grifo do autor).
O que se pode ser considerado ao final deste artigo é que apesar da tecnologia não estar sendo utilizada da forma certa, a demanda pelo ensino a distância só vem a crescer e os alunos que procuram este método, em sua maioria, estão dispostos a levar a sério a proposta. Isto fica claro ao observar que no ENADE, numa média geral de todos os resultados em 13 áreas, os alunos a distância se saem ligeiramente melhor (38,26) do que os alunos presenciais (37,6).

REFERÊNCIAS

Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância, 2008. Coordenação: Fábio Sanchez. -- 4. ed. -- São Paulo : Instituto Monitor, 2008.


BENAKOUCHE, T. Educação a distância: Uma solução ou um problema? Paper, Reunião anual da Anpocs, Petrópolis, 2000.


BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/referenciaisead.pdf.>.Acesso em: 7 nov. 2009.

CARDOSO, Gilberto Perez. O professor e o ensino a distância. Radiol Bras, São Paulo, v. 35, n. 4, Julho 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842002000400001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 11 Nov. 2009.

DEMO, Pedro. Questões para a Teleducação. Petrópolis, Editora Vozes, 1998.

EAD: oportunidade e ameaça. Revista @prender, n. 33, p. 24-33, dez. 2006.

MUGNOL, Marcio. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: conceitos e fundamentos. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 9, n. 27, p. 335-349, maio/ago. 2009. Disponível em:<http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd99=view&dd98=&dd1=2738&idioma=3> Acesso em: 5 nov. 2009

NUNES, Ivônio Barros. Noções de educação a distância. Disponível em: <http://www.rau-tu.unicamp.br/nou-rau/ead/document/?down=3>.