O enredo de Vidas Secas baseia-se basicamente pela chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada e arruinada e pela a saída da família, mais ao fim da história, que diante de um novo período de seca, foge para o Sul. Nesse meio tempo a família vive como agregada na fazenda, para cujo proprietário Fabiano trabalha, o chefe da família. Assim eles passam um momento de parada em um mesmo local, uma vez que viviam em um nomadismo provocado pela seca.
Logo no primeiro capítulo o autor denuncia a seca que vinha sendo enfrentada pela família de retirantes e mostra as características de cada personagem, características essas que são tratadas com tão naturalidade que os assemelha a animais movidos pelos instintos de sobrevivência.
Nesse contexto de miséria identifica-se a função do senhor da família como o responsável pela sobrevivência de seus filhos e mulher, função esta tratada como carga em que o pai se submete e põe em jogo sua dignidade diante da necessidade, confrontando sua situação com a seca a família e a vida, como um todo.
Verifica-se ainda em Fabiano a ignorância do homem que se encontra em sua situação diante de uma sociedade ociosa em trechos como quando ele vai comprar querosene: está com água. Vai comprar chita: é cara. É levado ao jogo, não sabe se comunicar, e é preso.
Outro ponto alto da obra consiste nas aspirações dos filhos e dos membros da família de modo geral, que não podem ser satisfeitas diante de sua condição como o sonho da Sinhá Vitória de ter uma cama. Sem falar na situação complicada de convivência entre os adultos e as crianças, talvez gerados por essa condição de impossibilidade de satisfação das aspirações dos mesmos. Tais fatos podem ser identificados em trechos como: "Família reunida em torna do fogo. Não havia conversa, apenas grunhidos. Ninguém entende ninguém, já são poucos humanos".
Ver-se ainda o desespero e a falta de esperança do homem que se encontra em situações subumanas como a de Fabiano em momentos do enredo como, "Fabiano diante do imposto e da injustiça do patrão. Nascera com esse destino, ninguém era culpado por nascer com destino ruim". Além da dignidade e da bondade do homem simples, que mesmo diante da situação retratada acima não se vinga quando tem a chance de o fazer.
Em alguns momentos da história percebe-se, que o único problema enfrentado pela família não é só a seca, eles são vistos com certo despreso e deboche pelo povo da cidade próxima da fazenda em que estavam, como no momento em que Fabiano é humilhado e preso pelo delegado da cidade, quando o mesmo delegado vai pedir-lhe ajuda após alguns tempos ele o ajuda. Fato semelhante ocorre quando Fabiano é enrolado financeiramente pelo patrão e nada faz, mesmo tendo ciência.
Com a análise das personagens o narrador vai nos decifrando sua humanidade embotada, confundida com a paisagem indigna de vida do sertão, ? a seca do Nordeste a opressão dos pobres, a condição animalesca em que vivem ? para esculpir o ser humano universal.
Assim Graciliano Ramos vai remontando a vida do homem sertanejo, mostrando o seu verdadeiro cotidiano, sem muitas máscaras e com grande importância à regionalidade do sertão.
No fim do enredo o tempo volta e tudo o que tinha ocorrido se desfaz e a família retirante retoma a estrada e tudo volta a se repetir mais uma vez, mostrando a capacidade do miserável de se manter na situação que se encontra, no início da história os meninos se arrastavam atrás dos pais, no fim os pais se arrastam atrás dos meninos. Os meninos corriam. "Era o destino do Norte ? O (nor)destino".

Referência Bibliográfica:
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 45. ed.