Jackson Cruz

Era noite quando bateram à porta, abriram-na apressadamente, entraram, alguns procuram logo tomar lugar à mesa. A conversa fluía descontraída; nostálgica. Ao fundo divisava-se o tímido acorde do violão. Adentrou-se a madrugada nesse clima: amigos, prosa, canções; muitas risadas.

Entre uma conversa e outra… olhares. Aproximaram-se, corações acelerados, mão frias. Sorrisos… E agora estavam ali, pertinho. Tão perto que um podia ouvir o coração do outro.

Àquela distância seu olhar era ainda mais penetrante, mais enigmático, mais hipnotizador. Seus cabelos longos ainda mais sedosos, deslizando pelos dedos, quando brincava com os fios jogando-os para frente e para trás, exibia seu lindo pescoço, quando sorria expunha seus dentes brancos, seu rosto se tornava ainda mais belo.

E ali, embreagados, não sentiram o tempo, não ouviram as músicas, não perceberam os outros, não enxergaram as coisas, por um instante era como se toda a imensidão do Universo estivesse retida, presa nas fronteiras daquele olhar.

O intervalo do violão trouxe de fora o doce som da chuva cantando no telhado. Entrementes entrou no recinto um frio pidão sugerindo abraço. Corpos se tocam, bocas se calam, mãos deslizam pela nuca, alcançam as costas, descem à cintura, entretecem-se, confundem-se.
Sob a chuva fina os pés caminham pela calçada na companhia de outros pés.

                                                          Porto Seguro, 21/07/09.
Jackson Cruz
Publicado no Recanto das Letras em 27/07/2009
Código do texto: T1721837