A seita Moon, com cerca de três milhões de crentes em 140 países, concilia com invejável inteligência a implementação da Teologia da Unificação com a gestão paralela de uma empresa de porte incomum. Analistas econômicos atribuem-lhe a condição de uma das 50 maiores multinacionais e calculam que o seu patrimônio de cinco bilhões de dólares e um ativo quase do mesmo nível possa estar gerando uma renda anual aproximada a 500 milhões de dólares. O mérito por essa situação é, sem dúvida, do extraordinário talento mercantil do reverendo Moon, que administra suas empresas com admirável eficiência técnica, ora através de elementos de confiança, ora através de fundações, como a "Unification Church International", sediada nos Estados Unidos.
Moon começou nos negócios em 1959, com a compra da fábrica de fuzis "Yehowa Shotgun", financiado por amigos japoneses, e cresceu rápido, graças ao baixo custo da mão-de-obra, na maioria de seus seguidores. Logo, entrou no ramo exportação de armas e de automóveis de fabricação coreana para o Japão. Ao mesmo tempo, passou a controlar toda a produção e comercialização de ginseng do Oriente e a industrialização de ervas farmacêuticas da Coréia. Ganhou rios de dinheiro. Nos Estados Unidos, Moon caracteriza suas atividades pela enorme diversificação de negócios, com presença nos mais diversos setores e participação acionária em grandes complexos industriais americanos. Os jornais "Washington Times" e "World Daily Press", mais o matutino "Notícias do Mundo", editado em espanhol, lideram uma cadeia de 19 outros veículos de comunicação da engrenagem moonista na América, Ásia e África, alguns operando em vermelho, como é o caso do "Washington Times", que acumula prejuízos de 150 milhões de dólares, mas continua a circular regularmente, amparado financeiramente pela seita. A produtora de filmes do grupo, a "One Way Productions", já fez vários longas­-metragens para o mercado cinematográfico americano.
O sucesso da seita Moon na América não foi sempre tranqüilo. Em 1984, embora já reconhecida há muito tempo como organização religiosa pela Corte Suprema dos Estados Unidos, intensificaram-se as pressões de setores protestantes fundamentalistas contra a Igreja da Unificação, urdindo-se, então, contra o seu chefe, uma trama em que tomaram parte ativa elementos ocupantes de posições de relevo no Ministério da Justiça, Departamento de Imigração e FBI. Moon foi processado por sonegação fiscal de 7 mil e 300 dólares, provenientes de operação financeira para o custeio, em 1972, de uma cruzada por 40 estados americanos, denominada "Day of Hope", inteiramente financiada pela igreja do Japão com doação de 1,7 milhão de dólares, os quais teriam rendido 25 mil dólares enquanto depositados no Chase Ma­nhattan Bank. Naturalmente, uma importância irrisória para um grupo religioso que recolhia milhões de dólares anualmente aos cofres do Tesouro americano. Mas nada disso foi considerado, uma vez que o que se pretendia, realmente, era agarrar Moon, a fim de solucionar um problema de opinião pública, e o objetivo foi alcançado. O reverendo foi condenado a 18 meses de reclusão, sentença que cumpriu quase integralmente na prisão federal de Danbury, em Connecticut. Todavia, a cadeia só aumentou-lhe o prestígio.
Fora dos Estados Unidos, no Uruguai, por exemplo, a seita Moon é proprietária do Banco de Crédito, do Hotel Victoria Plaza e do diário "Últimas Notícias", de Montevidéu. Aliás, era plano do mestre coreano, até bem pouco tempo, converter aquele país sul-americano na "primeira república unificacionista".
A seita faz, também, investimentos no Brasil, onde possui uma empresa pesqueira, com 78 barcos, em Belém do Pará, exportadora de camarões e lagostas em larga escala. É dona, ainda, de uma construtora, gráficas, fábricas de confecção, lojas de importação, agência de viagem e 14 padarias na cidade de São Paulo, além de vários outros pequenos empreendimentos.
Talvez prevendo os obstáculos que enfrentaria no futuro, a Igreja da Unificação aqui chegou muito cautelosa. A visita do reverendo Moon ao Brasil, em 1965, não significou, absolutamente, o início de atividade muito ostensiva. O missionário japonês Tatsuhiro Sassaki, deixado no Rio de Janeiro pelo mestre coreano, tinha como atribuição apenas o reconhecimento do terreno e a doutrinação em circuito fechado. Quem deu mesmo grande impulso à seita no País foi o reverendo coreano Hyung Tae Kim, que inaugurou, de 1975 até o quebra-quebra de agosto de 1981, vários templos no Estado de São Paulo e um em Passos, Minas Gerais. Sua gestão foi repleta de novas iniciativas, como a tradução para o português do livro "O Princípio Divino", de autoria do reverendo Moon, fundação das revistas "Mundo Unificado" e "Família Mundial", realização de diversos seminários internacionais, preparação de missionários para o proselitismo nas cidades do interior, incremento ao programa de viagem de noivos para serem casados pelo reverendo Moon nos Estados Unidos, excursões culturais de líderes comunitários à Coréia e aquisição da chácara para a instalação do antigo seminário central em São Bernardo do Campo.
Depois do quebra-quebra de 1981, a Igreja da Unificação arrefeceu bastante seu ímpeto expansionista no Brasil, mas retomou-o aos poucos, já contando com 165 missões em diversas cidades, 3.500 militantes (missionários e assemelhados) em tempo integral e. segundo estimam, mais de 50 mil adeptos. Comprou, por 18 milhões de cruzados, em 1986, um enorme prédio de seis pavimentos na rua Cardeal Arcoverde, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, transformando-o em templo e sede administrativa central. Para o moderno edifício adquirido à rua Pires da Mota, na Aclimação, também na Capital paulista, fez a mudança da Faculdade de Teologia. O curso é de três anos, sendo os dois primeiros teóricos e o último de prática missionária, com pós-graduação em Barrytown, nos Estados Unidos. Estavam matriculados 132 alunos em 1986.
A seita Moon mantém um organismo especial para cuidar dos problemas da juventude, chamado Colegiado Acadêmico para a Reflexão de Princípios (CARP), que atua a nível internacional, promovendo conferências e debates universitários, competições esportivas, certames culturais e, sobretudo, intensa doutrinação anticomunista. O CARP faz o intercâmbio entre jovens dos diversos países filiados à entidade, edita a revista política "CARP Magazine" e financia a impressão do jornal "Tribuna Universitária", do qual um dos articulistas permanentes é o senador Jarbas Passarinho.

1.Bibliografia
Delcio Monteiro de Lima/OS DEMÔNIOS DESCEM DO NORTE/1987
Francisco Alves