RILDO BARROS FERREIRA

RESUMO

Os problemas ambientais em um mundo globalizado representam um grande desafio para o ser humano na tentativa de equacionar um desenvolvimento econômico e social e em paralelo preservar os recursos naturais, possibilitando seu usufruto para as gerações futuras e mantendo sua qualidade de vida como elementos presentes no conceito de desenvolvimento sustentável. As exigências em estabelecer modelos de desenvolvimento inovadores acarretam a criação de novas alternativas de utilização dos recursos, calcadas no uso racional ambiental. Assim, dentro desta realidade, se originam oportunidades de empreender seguindo os princípios do desenvolvimento sustentável e possibilitando a introdução de inovações na esfera de negócios, seguindo esta filosofia como uma via sustentável de geração de riqueza para empresa e sociedade. Aliás, fundamenta-se o desenvolvimento sustentável como um modelo de desenvolvimento que permita o atendimento das necessidades humanas do presente, sem prejuízo para as futuras gerações. Nas empresas que introduziram o conceito de desenvolvimento sustentável, possibilita-se, além dos ganhos ambientais, uma melhora na imagem da organização junto à sociedade e estimula seus funcionários, engajados numa causa de preservação ambiental. Mas a introdução de elementos que proporcionem ganhos na qualidade de vida e saúde do trabalhador eleva também a sua produtividade. Esta pesquisa tem por objetivo, através de uma pesquisa bibliográfica, demonstrar como empreendimentos sustentáveis, que visam a qualidade de vida e o respeito pela natureza, incentivam os seus funcionários e como conseqüência, garante uma maior produção.

Palavras-chaves: Desenvolvimento Sustentável. Saúde. Estímulo. Produtividade. Trabalhador.

1 INTRODUÇÃO
Muito se sabe que a produção de uma empresa está diretamente relacionada com o bom relacionamento entre funcionários e, principalmente, com a qualidade do ambiente de trabalho. Não é difícil perceber que em locais não agradáveis o ritmo de trabalho se torna diferente de um local mais agradável.
As questões ambientais e do trabalho vêm assumindo novas configurações com o aprofundamento do processo de globalização (DOWBOR et al., 1997), com a reestruturação produtiva (Harvey, 1996) e a adoção das políticas econômicas de corte neoliberal (Fiori, 1997). Constata-se um duplo movimento: a dissolução das fronteiras políticas e econômicas ao desenvolvimento do capitalismo globalizado e desregulamentado (Hirst; Thompson, 1998) a emergência de "novas" fronteiras ambientais que não podem ser desconsideradas em longo prazo por este modo de produção (.Altvater, 1999).
O avanço tecnológico, e o contínuo processo de automação, a globalização e as exigências por produtos e serviços de qualidade, vem transformando, modificando e causando diversos impactos, nos modos de produzir das organizações, ao nível do trabalho, afetando também sua cultura, estrutura e entre os indivíduos. E assim, verifica-se que os trabalhadores são atingidos de forma direta por estas transformações, pois elas ocorreram num ritmo muito elevado, muitas vezes maior que a própria capacidade humana pode suportar. As conseqüências, que parecem ser bastante profundas, não foram adequadamente mensuradas quanto aos seus efeitos nocivos à saúde, à segurança e ao ambiente.
Hoje as organizações não podem ser mais consideradas como meras instituições econômicas, cujo propósito é a obtenção de lucro, mas também são analisadas pela mudança no ambiente em que operam. Ao utilizarem os recursos naturais em seus processos produtivos, prejuízos podem ocorrer ao meio ambiente, e, conseqüentemente, à sociedade em geral, pois, uma vez que os recursos naturais são finitos e sua utilização errônea e inadequada, os efeitos são sentidos muito além de sua região de extração ou uso.
O debate hoje acerca da saúde do trabalhador remete ao quadro das transformações que ocorrem no universo do trabalho, o que possibilita compreender como estão configurados os novos meios que possibilitaram a ampliação da exploração intensiva da força de trabalho, que é uma das principais características do novo padrão para o desenvolvimento do capitalismo. Sua objetivação tem-se dado, quer por meio da adoção de novas tecnologias, da utilização de novas formas de organização da produção e do trabalho ou de mudanças nas relações de trabalho e que provocaram o surgimento de contratos de natureza precária, na subcontratação e terceirização, no aumento incontrolável da jornada de trabalho entre outros.
De fato, como reflexo dos novos riscos nos processos produtivos e nos ambientes de trabalho, houve uma forte elevação nos coeficientes de doenças profissionais na década de 1990. Assim, a busca por uma maior qualidade de vida tem sido uma constante nas sociedades, sendo que a saúde e a qualidade de vida estão estritamente associadas ao cotidiano dos indivíduos. A qualidade de vida no trabalho vincula-se pelo desejo de uma vida melhor, estando com o foco para o atendimento das demandas básicas dos indivíduos, compreendendo, seja em suas condições concretas, como transporte, emprego, salário etc., ou em condições pessoais, abrangendo aspectos culturais, afetivos, sexuais, etc
Diante deste quadro, a saúde dos trabalhadores tem sido uma área essencial de pesquisa, pois se mostra como um tema privilegiado para a construção de uma nova mentalidade para compreender e analisar o processo de saúde-doença coletiva enquanto processo social.
Tal situação lança desafios à questão democrática, particularmente no caso brasileiro, país profundamente marcado por uma cultura político-autoritária e excludente, que impediu a sedimentação de uma experiência democrática e o exercício da cidadania de forma plena. Como ocorrerá a participação da sociedade, a representação de interesses e, particularmente, a governabilidade do espaço ambiental, dadas as limitações impostas por processos econômicos sem fronteiras.
A preocupação ambiental decorre de uma realidade econômica em crescimento acelerado, resultado de uma competitividade e inovação sem precedentes, em que a necessidade de detecção e otimização dos fatores críticos de sucesso é a chave para um desenvolvimento sustentado Segundo ACSELRAD (2001).
A denominação "sustentabilidade" é comumente utilizada entre os estudiosos na área ambiental para considerar o ponto de equilíbrio dos ecossistemas, significando manter ou manutenção e conservar. Em seu sentido mais amplo esse conceito demonstra a busca de uma estratégia para alcançar a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza.
Neste sentido, a expansão e intensificação dos empreendimentos sustentáveis podem reduzir em muito os efeitos danosos do processo de globalização na esfera do trabalho, tornando menos agressivo o ambiente de trabalho. Possibilita-se também em ganhos na produtividade através do estímulo proporcionado por uma melhor qualidade de vida no trabalho e na boa imagem que uma empresa ecologicamente correta transmite sociedade.
Esta pesquisa tem por objetivo, através de uma pesquisa bibliográfica, emonstrar como empreendimentos sustentáveis, que visam a qualidade de vida e o respeito pela natureza incentivam os seus funcionários e como conseqüência garantem uma maior produção.

2 DESENVOLVIMENTO
De acordo com Castel (1998), a degradação ambiental e a crise da sociedade do trabalho e a conseqüente queda na qualidade de vida e aumento da exclusão/desigualdade social, estão a exigir no nosso entender uma discussão que aprofunde a articulação entre trabalho, meio ambiente e desenvolvimento econômico, pois se questiona até que ponto os recursos naturais e a humanidade suportarão o modelo hegemônico de produção: trabalho e consumo.
Em uma conjuntura perpassada por transformações econômicas, políticas, sociais, institucionais e culturais intensificam-se a crise socioambiental e do mundo do trabalho. Suas origens relacionam-se, por um lado, à desterritorialização da política, em que a soberania do Estado é colocada em xeque pelos padrões de internacionalização do processo decisório e de mundialização das atividades políticas, provocando a crise dos sistemas democráticos e, por outro, ao movimento crescente de desterritorialização de empresas e conglomerados industriais em direção àqueles países com oferta de condições operacionais favoráveis, ou seja, melhores preços da força de trabalho, economia de transportes e recursos de infra-estrutura, além de uma baixa preocupação em relação ao cumprimento das legislações trabalhista e ambiental. Esta mobilidade das empresas decorre das novas formas de organização da produção, que são muito mais flexíveis do que as baseadas no modelo fordista, pois permitem adaptações às flutuações das demandas de produtos e serviços e um aproveitamento melhor das vantagens comparativas em diferentes locais do mundo (CHESNAIS, 1996).
Observa-se uma crescente integração dos mercados, mudanças nas estratégias de políticas econômicas (do keynesianismo ao neoliberalismo) e transição do padrão da organização industrial taylorista-fordista para o da acumulação flexível (HARVEY, 1996). O aprofundamento do processo de globalização econômica traz novas demandas e exigências às empresas que utilizam, como estratégias de busca de competitividade, o emprego maciço de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção e do trabalho (IANNI, 1996).
As novas tecnologias, basicamente a microeletrônica, as biotecnologias e os novos materiais têm como característica comum, sua aplicação universal, tanto no desenvolvimento de produtos, quanto na organização da produção. O uso das biotecnologias e dos novos materiais redefine a relação da produção industrial e agrícola e dos seres humanos com a natureza (HEIN apud SOBRAL, 1997), com implicações para o meio ambiente no local de trabalho, comunidades/sociedade e em escala planetária. Com as novas formas de gestão do trabalho no padrão da acumulação flexível surgem novas tendências em relação ao trabalho: este se torna mais abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo e complexo. Não somente nos setores onde vigoram os novos conceitos de produção, mas em toda a estrutura produtiva são demandadas novas qualificações e competências profissionais para os trabalhadores, dentre as quais incluem-se as relacionadas à temática ambiental (DELUIZ, 1996; 2001).
Entretanto, se os processos de intensificação do uso de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção flexíveis, enxutas e racionais trazem, por um lado, as possibilidades de um trabalho revalorizado, mais qualificado acarretam, por outro lado, o desemprego e a exclusão de trabalhadores (ANTUNES, 2000), pela racionalização de custos e a otimização da produtividade industrial e de serviços. Os reflexos do processo de modernização capitalista têm se revelado particularmente perversos em países como o Brasil, onde a adoção de novos conceitos de produção está associada a formas políticas e empresariais autoritárias, levando à exclusão política e econômica das classes populares, ao aumento do desnível das esferas econômica e social e à degradação ambiental.

2.1 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO E SUAS CONSEQUENCIAS
Com a mundialização da produção observa-se, por um lado, o aumento em alguns países da parcela dos incluídos no consumo de massa (Extremo Oriente e Sudeste Asiático), com hábitos importados do Ocidente e, por outro, o crescimento do número de excluídos do mercado de trabalho em escala nunca antes vista. Ambos os processos causam severos impactos ao meio ambiente: a incorporação ao mercado consumidor mundial de um grande número de pessoas, além de contribuir para a redução da diversidade cultural (homogeneização/ padronização de hábitos) e, conseqüentemente, da diversidade biológica, reforça os efeitos do consumismo (como o lançamento de gases na atmosfera/efeito estufa, elevada e concentrada produção de resíduos sólidos, esgotos sanitários em áreas urbanas densamente povoadas). Da mesma forma, a marginalização socioeconômica implica que um significativo contingente populacional passa a subsistir graças aos recursos naturais ou causando grande impacto sobre o meio ambiente (extinção de espécies vegetais e animais dos ecossistemas, corte e queima da vegetação para venda de carvão, entre outros). (SOBRAL, 1997).

Importa destacar, por um lado, que desigualdade social e degradação ambiental sempre andaram juntas no Brasil, conformando uma questão socioambiental e, por outro, que as agressões ao meio ambiente (custos ambientais) afetam as pessoas que dele dependem para viver e trabalhar, de modo desigual ou segundo sua vinculação ao modo de produção hegemônico (como residir próximo às indústrias poluidoras, lixões, margens dos cursos d?água e áreas com elevada declividade), determinando que grupos em piores condições socioeconômicas fiquem mais expostos do que outros a riscos ambientais. (Novicki,Maccariello, 2002).



A desigualdade social que se intensifica com a globalização neoliberal e tem como expressão a exclusão social ? carência de recursos materiais e sentimento de não-pertencimento ao tecido social ? pode levar ao retorno de uma situação em que predominam as relações de intercâmbio direto com a natureza (extrativismo, caça, pesca) de modo forçado (processo de exclusão social) e desqualificado (famílias sem os conhecimentos necessários para sobreviver partir dos recursos naturais). Esta situação explicita bem uma outra dimensão da relação entre desigualdade/ exclusão social e degradação ambiental. O diálogo entre ambientalistas naturalistas/preservacionistas ? que não levam em consideração as dimensões social, política, cultural, econômica ? e os "excluídos", torna-se impossível na medida em que aqueles desconsideram as estratégias de sobrevivência que passam a nortear as ações de famílias situadas abaixo da linha da pobreza. (ACSELRAD 2001).




2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Frente a este quadro de crise social e ambiental de dimensão planetária, verifica-se a formulação de diferentes propostas de modelos de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis ("desenvolvimento sustentável"). Entretanto, devemos estar atentos às concepções existentes sobre desenvolvimento sustentável, pois estas estão ancoradas em diferentes matrizes teóricas que informam a intenção de efetivar distintos projetos políticos, segundo os interesses em confronto, que se refletem nas abordagens se práticas educacionais.
Uma primeira concepção de desenvolvimento sustentável origina- se no interior do discurso desenvolvimentista e é defendida pelo Estado e empresariado. Foi proclamada pelo Relatório Brundtland (1987), produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU: desenvolvimento sustentável é aquele que "atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades" (ACSELRAD; LEROY, 1999), isto é, aquele que garante um crescimento econômico vigoroso e, ao mesmo tempo, social e ambientalmente sustentável.
Mas esta concepção de desenvolvimento sustentável é reiterada pela Agenda 21, que se inicia com a afirmação da primazia da economia como motor do desenvolvimento sustentável e aponta, em seus vários capítulos, a necessidade de "um ambiente econômico e internacional ao mesmo tempo dinâmico e propício", de "políticas econômicas internas saudáveis", da "liberalização do comércio" e de uma "distribuição ótima da produção mundial, sobre a base das vantagens comparativas" (ACSELRAD e LEROY, 1999), na perspectiva da lógica e da hegemonia do mercado.
Tanto a Comissão Brundtland, quanto a Agenda 21, propõem uma nova relação entre produção, meio ambiente e desenvolvimento econômico inspirada em uma noção de sustentabilidade pautada por uma visão econômica dos sistemas biológicos, onde caberia ao desenvolvimento econômico apropriar-se dos fluxos tidos como excedentes da natureza sem, no entanto, comprometer o "capital natural" (HAWKEN; LOVINS e LOVINS, 1999). Sua estratégia conjuga crescimento econômico com progresso técnico capaz de poupar recursos materiais, mas sem restrição aos ritmos da acumulação capitalista. O mercado é apresentado como "o ambiente institucional mais favorável à consideração da natureza como capital" (ACSELRAD e LEROY, 1999), convertendo-se o desenvolvimento sustentável, nesta concepção, em um ambientalismo de livre mercado.
Na abordagem mercadológico-ambiental de desenvolvimento sustentável, a palavra-chave é a eficiência, e as inovações tecnológicas devem garantir um melhor aproveitamento dos recursos naturais e diminuir os efeitos nocivos das atividades produtivas. Embora se reconheça a responsabilidade do atual padrão de produção e consumo pela crise ambiental, o que se propõe é a relativa redução de consumo de matéria e energia a partir da maior eficiência tecnológica. Desta forma "a noção de sociedade sustentável ancora-se na redução máxima do desperdício ou poupança de recursos" (MAZZOTTI, 1998) e a racionalidade do sistema, em seu conjunto, implica considerar o desperdício no quadro da produção socioeconomica, tendo como noção reguladora o princípio da otimização de recursos ou poupança, ou da relação ótima custo-benefício, isto é, a eficiência.
Esta concepção de desenvolvimento sustentável tem, portanto, como princípio norteador, o crescimento econômico e a eficiência na lógica do mercado, e seus pressupostos estão ancorados na economia política clássica, no liberalismo econômico de Adam Smith, e na sua atualização contemporânea, o neoliberalismo de Friedrich August von Hayek. O eixo da teoria de Smith (1985) é o crescimento econômico e sua idéia central é a de que a riqueza das nações é determinada pelo aumento da produtividade do trabalho, que tem origem em mudanças na divisão e especialização do processo de trabalho. O crescimento da produtividade do trabalho, que produz um excedente de valor sobre seu custo de reprodução, permite o crescimento do estoque de capital (acumulação) e amplia o tamanho dos mercados. Para assegurar a prosperidade das nações é preciso que haja liberdade dos indivíduos ? compreendidos como agentes econômicos ? para agir, inspirando-se em seus próprios interesses, e essa ordenação natural é mais capaz de favorecer a geração da riqueza do que as coordenações artificiais, como as exercidas pelo Estado, cujo papel deve ser reduzido ao mínimo. Para Smith (1985), não há antagonismo, mas harmonia entre os interesses individuais e o interesse geral, sendo a liberdade na procura da riqueza a condição de todo o progresso. Segundo Hayek (1987) o Estado regulador do mercado destrói a liberdade dos cidadãos e a competição, sem as quais não há prosperidade.
A matriz discursiva da eficiência capitalista, segundo ACSELRAD (2001, p.31), abriga tanto os otimistas tecnológicos, "que acreditam na ação de uma ?mão invisível intergeracional? que garantirá que a máxima satisfação dos interesses presentes transmitirá um mundo mais produtivo às gerações futuras" essa aspa onde começa, quanto aqueles que vêem o problema da poluição como decorrência de uma falha dos mecanismos de ajuste do mercado, ou seja, da não-internalização da poluição como um custo de produção.
A análise dos pressupostos que norteiam esta concepção de desenvolvimento sustentável permite- nos compreender a necessidade do aumento da competição, da maior mobilidade de capital, dos processos de acumulação e de alocação de capital, de busca cada vez maior de aumento da produtividade do trabalho pelo capital e de eficiência, na dinâmica capitalista de geração de valor. Permitimos compreender, igualmente, que na concepção de desenvolvimento sustentável centrada na lógica do capital, o livre mercado é o instrumento da alocação eficiente dos recursos planetários e, neste sentido, a relação trabalho e meio ambiente está subsumida à supremacia do capital, com sérias conseqüências para o mundo do trabalho e para os recursos naturais.
Uma segunda concepção de desenvolvimento sustentável, orientada pela matriz discursiva da auto-suficiência, entende que a sustentabilidade seria alcançada, por um lado, com a preservação e construção de comunidades sustentáveis, "que desenvolvem relações tradicionais com o meio físico natural de que depende sua sobrevivência" e, por outro, com o fortalecimento do Estados nacionais ? "atores potenciais estratégicos na implementação de políticas ambientais domésticas e na execução dos acordos internacionais de proteção da ecologia global", em oposição aos objetivos do livre comércio e à erosão das fronteiras nacionais (ACSELRAD, 2001, p.1).
Se, por um lado, esta concepção de desenvolvimento sustentável traz consigo uma crítica ao capitalismo globalizado e desregulamentado e seus impactos sobre a autonomia decisória dos Estados nacionais, por outro, ao propor uma volta ao passado ? que também se expressa na sacralização das comunidades tradicionais e dos recursos naturais ? esta proposta de desenvolvimento sustentável realiza uma inversão dos postulados do paradigma mecanicista e, desta forma, não ultrapassa os marcos do dualismo cartesiano homem-natureza. Trata-se de um desenvolvimento sustentável "biocêntrico": enquanto no cartesianismo o homem é colocado no centro do universo, fundamentando o antropocentrismo e a degradação ambiental, na matriz discursiva da autosuficiência, o homem é visto em posição de subserviência em relação à natureza.
Esta concepção tem como princípio norteador a lógica da autosuficiência e da auto-regulação na busca do equilíbrio homem-natureza e seus pressupostos estão ancorados nas idéias do naturalista inglês Gilbert White (1720-1793) e na fisiocracia do economista político clássico François Quesnay (1985), particularmente em seu Quadro Econômico, de 1758.
White (apud GRÜN, 1996) fala sobre uma volta ao passado ou a "reanimação dos laços de lealdade entre os homens e as energias vitais da terra", através de uma concepção orgânica ou harmônica da relação homem-recursos naturais, em contraposição ao mecanicismo reducionista que promoveu a alienação dos seres humanos da natureza (cartesianismo/ antropocentrismo). Quesnay, por seu turno, também defendia a construção de uma relação harmônica entre Homens e natureza, entretanto isto significava uma severa obediência às leis naturais.
Na realidade, fisiocracia significa "governo da natureza", ou seja, os fisiocratas entendem que existem leis naturais que governam as atividades econômicas (determinismo natural). Se, por um lado, o principal problema identificado pela teoria do valor no pensamento fisiocrático foi o fato de considerarem que somente a agricultura gera excedente (produto líquido) ou riqueza, por outro, a fisiocracia teve o mérito de chamar a atenção para a origem e definição do conceito de riqueza: "a reprodução econômica é garantida pelas riquezas renascentes", regeneráveis, ou seja, pelos recursos naturais renováveis (CORDEIRO, 1995).
Cordeiro (1995) resgata a importância do pensamento fisiocrático para a reflexão sobre a preservação dos recursos naturais renováveis, considerados a verdadeira riqueza social. François Quesnay (1985) privilegia a riqueza social (valor de uso) em detrimento da acumulação capitalista (valor de troca), questionando a "sociedade do ter" (consumismo) em favor da "sociedade do ser". Em síntese, os fisiocratas buscavam as condições de uma reprodução a longo prazo da vida social, apresentando uma baixa preocupação com o processo de acumulação capitalista.
A análise dos pressupostos que norteiam esta concepção de desenvolvimento sustentável permite- nos compreender que, na lógica da auto-suficiência e da auto-regulação, a relação trabalho e meio ambiente aponta para a subsunção do trabalho à natureza e "do indivíduo à comunidade, tornando-o uma mera função social" (MAZZOTTI, 1998).
Por fim, uma terceira concepção de desenvolvimento sustentável tem como perspectiva a "sustentabilidade democrática", "entendida como o processo pelo qual as sociedades administram as condições materiais de sua reprodução, redefinindo os princípios éticos e sociopolíticos que orientam a distribuição de seus recursos ambientais" (ACSELRAD, 2001; LEROY, 1999). Propõe uma mudança do paradigma hegemônico de desenvolvimento econômico, com base em princípios de justiça social, superação da desigualdade socioeconômica e construção democrática ancorada no dinamismo dos atores sociais. Traz a discussão da sustentabilidade para o campo das relações sociais, analisando as formas sociais de apropriação e uso dos recursos e do meio ambiente. Compreende que as noções de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável são construções sociais fruto do embate político entre os vários atores em busca de hegemonia de suas posições.
Nesta perspectiva, o mercado deixa de ser um ator privilegiado do desenvolvimento e a visão economicista de um modelo que privilegia o crescimento econômico desconsiderando o caráter finito dos recursos naturais, cede lugar a uma perspectiva de desenvolvimento democrático, que se realiza na partição da riqueza social e na distribuição do controle sobre os recursos, inclusive os provenientes da natureza, explicitando o cunho político desta apropriação.
Esta concepção de desenvolvimento sustentável tem como fundamento norteador a eqüidade como princípio da sustentabilidade, destacando que é o modo de produção capitalista que está na raiz da desigualdade social e da degradação ambiental. Seus pressupostos estão ancorados na tradição do marxismo e na crítica da economia política, ou seja, nas críticas à sociedade fundada sobre a propriedade privada dos meios de produção, à subsunção do trabalho ao capital e à lógica da acumulação capitalista (MARX, 1988).
Para Marx, a natureza existe independentemente, mas para a humanidade, ela só manifesta suas qualidades e ganha significado através de uma relação transformadora com o trabalho humano (BOTTOMORE, 1988). Embora o filósofo considerasse, no século XIX, a voraz tendência expansionista do modo capitalista de produção como condição necessária para a transição ao socialismo, nem por isso deixou de pôr em evidência sua violência destrutiva. Marx (1988) observa em
Para Marx (1988), a divisão social e técnica do trabalho na sociedade capitalista geram a alienação do homem em relação ao seu trabalho e à natureza, desumanizando-o. Mas, seu desenvolvimento contraditório, ao criar a totalidade de forças produtivas, o domínio do homem sobre a natureza, torna necessária e inevitável por parte do homem a apropriação dessas forças e o desenvolvimento total, completo, multilateral de suas faculdades como homem integral (MANACORDA, 1991). Entretanto, esse desenvolvimento omnilateral só seria possível se a totalidade das forças produtivas fosse dominada pela totalidade dos indivíduos livremente associados, o que somente ocorreria com a superação da propriedade privada e do trabalho alienado. A análise dos pressupostos que norteiam esta concepção de desenvolvimento sustentável permite-nos compreender a necessidade da crítica ao modelo de desenvolvimento capitalista e o papel dos sujeitos políticos na construção de alternativas societárias democráticas que superem a desigualdade social e a degradação das próprias bases materiais do modo de produção. Permite-nos compreender, igualmente, que na concepção de desenvolvimento sustentável na lógica da sustentabilidade democrática, a relação trabalho e meio ambiente não está subsumida à hegemonia do capital, mas as categorias trabalho e natureza articulam-se na perspectiva de ampliação da qualidade de vida das populações e de superação da desigualdade/exclusão social e da desigualdade socioambiental.
Segundo Mészáros (2001) o desenvolvimento sustentável somente será alcançado com uma efetiva cultura da igualdade substantiva ou material (justiça social), remetendo o debate para as causas estruturais da degradação socioambiental, ou seja, o modo de produção capitalista.





3 CONCLUSÃO
Já é notório atualmente entre as empresas que os investimentos na tecnologia da informação representaram um aumento na produtividade de seus funcionários bem como na redução de custos, elementos essenciais num ambiente organizacional dominado por estrita competitividade oriunda do processo de globalização. Mas a busca desenfreada pelo lucro deixou relegado a segundo plano o trabalhador e todas suas necessidades como ser humano.
Por outro lado, a globalização acarretou nas empresas, a necessidade de ampliar a competitividade com suas rivais, em nome de sua própria sobrevivência e assim surge uma atenção redobrada à produtividade e qualidade, como também à redução de custos. Este contexto trouxe uma diminuição do bem-estar nas relações de trabalho devido à ampliação e intensificação da jornada de trabalho, nas eventuais demissões, pela redução de salários e dos benefícios sociais que refletem na saúde do trabalhador. Surgem fadigas, estresses, ansiedades e uma sensação de desproteção e insegurança constantes, que influenciam na esfera emocional e psicológica, distúrbios emocionais, etc. Os agravos à saúde ocasionados pelo trabalho excessivo e um ambiente de trabalho hostil contribuem para uma redução da qualidade de vida e da saúde laboral. E a resposta do trabalhador a esta realidade refere-se a uma maior passividade, agressividade ou dificuldades de concentração em suas atividades. Neste sentido, um processo que visava ampliar a produtividade empresarial, obtém efeitos contrários e agravados pela redução na saúde do trabalhador.
A questão da qualidade de vida no trabalho é observável entre os empregados, abrangendo condições seguras, em atividades laborais que incentivem o desempenho e o crescimento profissional através de remunerações adequadas e principalmente satisfatórias, onde não ocorram agravos à saúde.
Assim, os gestores ou administradores empresariais finalmente estão percebendo que os trabalhadores devem ser seus parceiros na luta pela sobrevivência empresarial, pois com eles desmotivados, insatisfeitos e doentes jamais alcançarão produtividade e qualidade almejadas, dificultando profundamente o sucesso da empresa. Verificou-se ser necessário um maior incentivo para ampliar a satisfação dos trabalhadores em suas atividades, que podem vir através de uma consciência de desenvolvimento sustentável.
Os empreendimentos sustentáveis surgem como uma promissora tendência internacional, tendo por base a harmonização das atividades empresariais com o meio ambiente e a comunidade. Os empreendimentos sustentáveis permitem uma maior lucratividade para seus investidores e proprietários, redução de custos e melhor saúde, possibilitando uma maior produtividade. Entre a sociedade surge uma repulsa para empresas que degradam e exploram predatoriamente os recursos naturais do meio-ambiente, que possuem processos de produção obsoletos e que também não disponibilizam condições de trabalho adequadas para seus funcionários.
Estas empresas contribuem para o Desenvolvimento Sustentável, reforçam a competitividade das empresas, melhoram as estatísticas econômicas e ecológicas, estimulando a criação de um racional sistema de produção, estimulando o surgimento de outras empresas com a mesma consciência, multiplicando ou disseminando empresas que visam à sustentabilidade. É um conceito extremamente valorizado pelo mercado consumidor, e que estimula a inserção no mercado de produtos ecologicamente corretos, e cujos métodos de produção não agridem ao meio ambiente. Quando a empresa absorve este conceito ela se torna a grande beneficiada porque aprimora sua imagem e melhora seus resultados econômicos. Os próprios trabalhadores se sentem mais estimulados ao engajamento à causa da empresa, pois se de um lado contribui para a produção de bens admirados pela sociedade, por outro a própria empresa lhes garante condições de trabalho adequadas e acesso à saúde. Todos perceberão que preservar o meio ambiente está na manutenção de sua própria existência, e abalar o meio ambiente poderá dificultar o crescimento econômico, reduzindo os postos de trabalho, emprego e a saúde da classe trabalhadora.
Com trabalhadores incentivados e dotados de um ambiente de trabalho saudável ocorrerá naturalmente uma elevação da produtividade, cujos benefícios serão visíveis para qualquer empresa, com uma redução de seus custos, manutenção ou aumento do nível de qualidade de acordo com as demandas dos clientes, fidelizando-os e proporcionando uma boa imagem junto à sociedade.



SUSTAINABLE DEVELOPMENTS: HEALTH MAKES BIGGEST PRODUCTION

ABSTRACT
The environmental problems in a globalized world is a big challenge for humans in an attempt to equate an economic and social development and in parallel to preserve natural resources, allowing their enjoyment for future generations and maintaining their quality of life, as elements in the concept sustainable development. The requirements to establish innovative models of development, involves the creation of new alternatives for use of resources, seated in the rational use environment. Thus, in reality, opportunities arise to undertake following the principles of sustainable development and building a new business concept, according to this philosophy as a way of sustainable wealth creation for business and society. Alias, is based on sustainable development as development that meets current needs, without prejudice to future generations. In companies that have introduced the concept of sustainable development is possible in addition to environmental gains, an improved image of the organization to society and encourages its employees, engaged in a cause of environmental preservation. But the introduction of elements that provide enhanced quality of life and health of workers also increases your productivity. This research aims, through a literature search to demonstrate how sustainable projects aimed at the quality of life and respect for nature encourage their employees and consequently ensure higher production.

Keywords: Sustainable Development. Encouraging Health. Productivity. Worker.







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