Contos proibidos.

Conto I.

Emanuelle e o paraíso das recordações.

Era um dia como outro qualquer, o sol aparecera logo cedo trazendo consigo um calor escaldante. Nessa cidade o calor era algo muito comum. Emanuelle seguia sua rotina diária e já estava quase pronta para ir trabalhar quando o celular tocou.  Ainda abotoando sua camisa, pegou o telefone que estava sobre a mesa e atendeu:

_ Alô, quem é? Perguntou ela vendo que no identificador não aparecera o número, pois tinha sido inibido.

_ Sou eu meu amor! Reconhece a minha voz?  Respondeu do outro lado com uma voz que não lhe parecia estranha, mas que naquele momento não conseguira recordar. Então ela insistiu:

_ Por favor, identifique-se, ou do contrário irei desligar!

_ É o Gustavo.

Após a revelação da voz misteriosa, brotou-se um sorriso malicioso no rosto de Emanuelle. Ela recordara de alguns encontros que havia tido com aquele rapaz e de como esses encontros foram intensos.

_Gustavo! Faz muito tempo que não te vejo e que não ouço o som de suas palavras. Desculpe-me o mau jeito, eu não tive a intenção de ser rude com você.

_ Não precisa se desculpar minha princesa! Estou te ligando porque estou sentindo muito a sua falta.

_Que lindo! Fico feliz que você esteja sentido saudades.

_ Por isso quero te ver. Será que podemos nos encontrar à noite para um jantarzinho naquele restaurante que costumávamos frequentar?

_ Hoje o meu dia vai ser bastante corrido e não sei se poderei acrescentar mais uma tarefa.

_ Não diga não! -Pense comigo; se você terá um dia longo e cansativo, não poderá deixar de jantar, então, jante comigo! Tomaremos um bom vinho e poderemos aproveitar uma boa conversa para matar as saudades. Prometo que serei uma ótima companhia e ajudarei você a relaxar.

_ Ai Gustavo! Você continua o mesmo de sempre: um sedutor. Não vejo como recusar uma proposta tão bem-vinda como esta.

_ Sendo assim, está tudo certo minha linda! Nos veremos logo mais, passo para te buscar às 19:00 h.

_Combinado. Agora tenho de ir, já é tarde e não posso me atrasar para o trabalho. Beijos e até mais tarde.

_Beijos minha gatinha!

Logo ao desligar a ligação, Emanuelle terminou de pôr o último botão na casinha de sua camisa. Seu peito parecia ter inflado por causa da respiração que, subitamente, ficara ofegante e estava forçando o botão para frente num movimento frenético como se quisesse rompe-lo e deixar seus seios livres. Olhou-se no espelho e retocou o batom vermelho para representar a chama que queimava em sua pele.

Saiu às pressas até o carro que estava estacionado na garagem do condomínio onde morava. Tirou a chave da bolsa e destravou o alarme para entrar no carro. Dirigiu em alta velocidade perdida em meio a pensamentos ardentes e provocantes. Parou o carro na mesma vaga de sempre e foi em direção ao escritório onde trabalhava. Chegando lá, avistou seu chefe com ar de arrogância e olhar de quem “seca” a beleza alheia. Emanuelle nunca gostou daquele olhar, muito menos da forma como ele falava e dava ordens como se tivesse a intenção de possuí-la de alguma forma. Ela o cumprimentou com frieza aparente e continuou a caminhar até a mesa onde ela executava seus trabalhos administrativos diários.

Passaram-se algumas horas e ela pôde ver no relógio antigo que ficava na parede em frente a sua mesa que já passava de meio dia e meia. Rapidamente, pegou sua bolsa e foi para o horário de almoço. Aproveitou esse tempo para colocar os pagamentos em dia e teve de enfrentar filas enormes em bancos. Voltou do almoço e logo retornou ao trabalho. Quando chegou o final de seu turno, às cinco horas, despediu-se dos colegas de trabalho e foi para academia como de costume.

_ Oi Emanuelle! Cumprimentou o instrutor com olhar de aprovação. Ela o encara e fala de seu pouco tempo para treinar naquele dia. Dito isto, vai logo se alongando e aquecendo seu corpo na esteira para se preparar para a musculação. Emanuelle possui um corpo muito bonito, cheio de curvas, com seios e pele firmes, um bumbum arrebitado, pernas bem torneadas. Enfim, uma mulher extremamente sensual. Mas não é só isso, ela também tem um rosto lindo, um sorriso gracioso e é dona de um olhar penetrante.

Durante todo o treino, Emanuelle, sentia uma euforia percorrendo por todo o seu corpo e todas as atividades lhe pareciam muito excitantes. Sentou no último aparelho que faltava fazer. Era o aparelho que trabalha a parte interna da coxa. Colocou o peso adequado e começou uma série de seis repetições de dez. E iniciou as repetições em ritmo constante com movimentos de abre e fecha das pernas. Aquela atividade trouxe para seu corpo uma agitação ainda maior. Parou um pouco e se pegou passeando em suas recordações. Como havia em sua mente uma certa urgência, concentrou-se novamente e voltou a executar o treino e, por fim, o concluiu. Ela não gostava de atrasos e queria ter tempo o suficiente para ficar bonita e cheirosa para o seu desejado.

Chegando em casa, foi depressa tirando a roupa de ginástica e “entrando” no chuveiro. Nem mesmo aquela água fria escorrendo pelo seu corpo aquietara a frenesi que agora residia nele. Saiu do banho e foi se vestir, se perfumar e passar hidratante por toda extensão do corpo. Tendo finalizado esse ritual, foi ao encontro do telefone para observar se havia alguma chamada. Não havia. Calçou seu sapato de salto alto que ressaltou muito bem aquelas pernas volumosas naquele vestidinho curto e preto. Ao terminar de se calçar, olhou-se no espelho e pôde apreciar o resultado de sua arrumação. De repente o interfone toca, ela corre para atender. Sim, era ele, o Gustavo.

_ Oi minha princesa! Já está pronta?

_ Sim Gustavo, já estou descendo.

_ Tudo bem gatinha, estou aqui te esperando.

Quando ela se aproximou, recebeu um longo e terno abraço. Enquanto ele a apertava contra o peito, sentia o pulsar acelerado de seu coração. Foi tudo tão intenso e tão confuso. Era uma mistura de querer bem com uma alta excitação. Após alguns minutos de circulação sanguínea intensa, resolveram entrar no carro para ir ao restaurante conforme havia combinado. Chegando lá, foram em busca de uma mesa e gentilmente sentaram-se sem se perder na troca de olhares. Nesse momento, Emanuelle aguçava cada vez mais seus sentidos com a finalidade de ter o maior contato possível de diversas formas com ele. Seu olfato parecia estar vinte vezes mais apurado devido a sua incessante busca pelo cheiro que exalava do corpo dele. Ela queria sentir o tempo todo e por isso libertava sua mente para tais sensações.

Ele a fitava como um colecionador admira suas coleções: como verdadeiras obras de arte. Olhava-a como se visse nela um belo traçado firmado numa valiosa pintura. Observava o olhar pungente daquela moça que estava bem a sua frente. Ele via o brilho e tão compenetrado ficou que nem percebera passar longos minutos em silêncio apenas se deliciando com o magnífico momento. Decidiram fazer o pedido e enquanto o jantar não chegava ficaram relembrando conversas e carícias passadas. Aquela conversa foi mexendo cada vez mais com eles e o entusiasmo tomou conta de ambos. O jantar foi servido e de acordo com o que fora prometido conversaram animadamente saboreando algumas taças de vinho.

Acabaram a refeição e beberam mais uma garrafa de vinho. A essa altura já estavam bem soltos e o corpo esquentara ainda mais. Ela se sentindo um pouco tonta e receosa do que poderia acontecer, pediu a ele que a levasse para casa. Não que ela não quisesse permanecer ali, mas porque o medo agora era mais forte que a vontade. Ela já havia se apaixonado perdidamente por ele, porém na época ele não soube ser firme, não soube seguir a diante e construir um relacionamento. Ele passava por diversos conflitos existenciais e emocionais, pois vinha de um relacionamento conturbado e falido do qual não tinha conseguido se libertar completamente. Ele se prendia e se agarrava ao passado como se ele fosse o cais para o seu “navio”. Não sabia ainda viver de outra forma que não a de antes e pisar em terrenos desconhecidos para ele era como se um dia acordasse e não mais tivesse a visão e por isso teria de viver de forma totalmente diferente do que para ele era conhecida.

Foram essas lembranças que invadiram a mente dela e a fez sentir naquele instante como se tivesse tomado um banho de água fria que deixou seu corpo inteiramente gélido.  Ela o admirava muito e o sentimento ainda vivia dentro dela, mas a frustração vivida a partir da fraqueza que ele demonstrou ainda era um ferida aberta. Ela não queria apostar da forma que fez antes e por mais que ela tentasse não conseguia ver nele a coragem e determinação que ela tanto sonhou ver. Ele havia desistido dela por algumas vezes em pensamento até que ela deixou o caminho dele livre para ele reviver seu passado, abrindo mão assim do seu presente.

Ele pediu a ela para conversar um pouco mais enquanto faziam um passeio frente o mar. Ela pensou seriamente em recusar, mas decidiu tentar aproveitar mais alguns momentos ao lado dele. De mãos dadas, saíram caminhando pelo calçadão da praia e seguiram sem pressa até uma passarela de madeira que conduzia para areia do mar. Foram ao encontro com o mar e Emanuelle sentia fortes arrepios com as rajadas de vento que o mar soprava em sua direção. Gustavo na tentativa de trazer conforto para sua amada a envolvia em seus abraços e deu um beijo ardente em seus lábios. Seu corpo novamente aquecera e havia tanta vontade de permanecer ali que ela não se esquivou um minuto sequer, correspondeu o beijo com a mesma intensidade com que o recebera.

As ondas que davam movimento ao mar vinham ao encontro do casal apaixonado molhando seus pés agora já descalços em contato com a areia. Enquanto que o clima na praia à noite era frio, a água tinha temperatura morna e bastante agradável. Gustavo deitou o corpo de sua amada delicadamente buscando mais aproximação e conforto. Ele deitou por cima do corpo dela colocando o peso do corpo parcialmente sobre o dela e a outra parte sobre suas próprias mãos fixando-as na areia densa e úmida. Ele a fitava com ternura e ela desviava o olhar para o céu apreciando as estrelas que pareciam estar mais perto da terra. Sentiu seu pescoço ser beijado por ele e ainda estava concentrada naquele céu tão limpo que revelava a posição e o formato arredondado que a lua tinha naquela noite tão especial exibindo um clarão tão grande que parecia que possuía luz própria. 

O êxtase tomou conta daquele romântico cenário e as bocas se procuravam cada vez mais e a todo momento as mãos de Gustavo passeavam pelo volumoso e esbelto corpo de sua “sereia”. Ela se contorcia ao mesmo tempo em que seu corpo vibrava em reação aos toques extremadamente desejados por ela. Havia um delirante movimento dos corpos que buscavam o encaixe exato. Eles envolvidos totalmente naquela ardente voluptuosidade, se entregavam ao que para eles seria mais que isso, embora não fosse o momento para planos ou pensamentos racionais. O único imperador ali era o instinto mais primitivo e irracional de todos: a atração sexual. Mesmo sendo ele o imperador que governava aqueles corpos, não dava ordens sozinho, junto dele estava outro “ser” irracional e mais imprudente de todos: o amor. Eles ainda não tinham consciência disso, mas o subconsciente estava perto de torna-lo evidente.

Gustavo cada vez mais louco de desejo, levantou o vestido de Emanuelle e arrancou a calcinha dela com apetite voraz. Bebeu da intimidade de sua querida com a sede de quem atravessa o deserto a dias sem água. Ela contraía o corpo cheia de libido ao sentir a língua movendo-se pelo seu clitóris. Em seguida ele a beijou e procurou saciar sua fome que só crescia naqueles seios tão saborosos e perfeitos de Emanuelle. Ela ficava cada minuto mais ansiosa para senti-lo dentro dela. Ela o queria por completo, as carícias e todo aquele contato para ela não bastava. Então, com um sussurro no ouvido dele ela pediu:

__ Gustavo, “me” possua! Você sabe o quanto desejo ser sua, somente sua!

Ele ficou ainda mais fora de si com aquele pedido e segurando seu membro firme e já lubrificado naturalmente pela louca vontade, penetrou de uma só vez aquela “grutinha” quente e tão molhada. O ritmo oscilava, ora mais lento, ora mais acelerado. Fizeram amor durante algum tempo e nada parecia ser mais importante que isso para eles naquela noite. Quando ficaram exaustos e satisfeitos permaneceram deitados lá por mais algum tempo, trocando olhares, beijos apaixonados, mas sem dizer nenhuma palavra. Era como se as ações falassem tudo, como se elas tivessem tornado tudo mais simples, mais calmo, mais concreto. As dúvidas não pairavam mais sobre aquele romance e respirar tornou-se algo mais natural e prazeroso. Eles estavam no “paraíso” e esse já não era apenas parte de suas recordações, ele era real como sempre haviam sonhado, embora esse sonho tivesse sido interrompido por ideias e apegos ao medo que eram trazidos por uma vida que muito exige racionalizar e padronizar nossos atos como forma de “segurança” contra a dor ou o erro. O motivo para aquele amor ter sido adiado por algum tempo foi justamente esse: o medo do incerto. O que eles só puderam descobrir mais tarde, para ser exato, naquele dia, que parecia ser apenas mais um dia comum, foi que a imprecisão das coisas é um fato e não se pode ter garantias de nada, nem mesmo do que já parece tão nosso, tão firme e concreto. Nada é estático, indissolúvel ou imutável, logo não há garantias em nada. O único motivo que os prendia e os inibia para viver o novo era o medo e esse é um obstáculo que deve ser vencido todos os dias e foi justamente no que mais pensaram: em não estagnar nunca, em compreender ou pelo menos tentar se conhecer mais e entender seus limites e anseios para que pudessem viver o que a vida lhes proporcionara.  Partiram juntos daquela praia, porém não apenas fisicamente, foram juntos em suas ideias e sonhos. Agora não havia mais limites e obstáculos que não pudesse ser vencido, pois quando duas pessoas resolvem se encontrar para viver a vida com tudo que ela oferece, não há razão que as impeçam de fazer isso!