Jostein Gaarder definiu a humanidade como um conjunto de elfos de açúcar. Tomo a liberdade de explicar o motivo do uso desta expressão em seu livro "Maya: Um romance da história da criação".
Somos mitos. E não podemos ter a mínima pretensão de não sê-los.
Os povos da antiguidade prestavam culto a deuses e seres mitológicos com habilidades sobre-humanas, e que hoje nem sequer reparamos que as utilizamos frequentemente.
Seres mitológicos que eram capazes de voar, de dar e tirar vidas, saúde, amores; seres que levavam a outras dimensões, que viajavam pelo vazio infinito do universo. Que se comunicavam sem a necessidade de contato físico. Que podiam prever desgraças e modificar plantações e animais.
Estes povos cultuavam o que fazemos hoje. Ao preverem que o ano 1000 chegará, e 2000 não passará, imaginavam que habitariam o planeta apenas anjos e o Espírito de Deus. Somos esses anjos, somos mitos que os antigos cultuavam e temiam.
Mas há mais: Seremos ainda mitos daqui há milênios. Quando povos futuros olharem para nossos fósseis, haverão os que duvidarão. Poderão dizer que no século XX não haviam seres racionais. Ou ainda que a contagem dos anos está errada, tendenciosa, que não somos tão antigos. O planeta? Ele sobreviverá sem nós. Se não haverão homens, então haverão outras criaturas. E a razão se desenvolverá neles também. Então, por certo, se questionarão sobre esses fósseis frágeis encontrados no subsolo (os que ainda não tenham se transformado em petróleo).
Se somos seres místicos, deidades, então Gaarder optou por definir-nos como elfos. E de açúcar.
Como já citei, o planeta vai continuar. Mudarão a atmosfera, os seres vivos vegetais e animais. Alguns seres terão capacidade para se adaptar às mudanças, outros não. Acredito que os homens são terão tal capacidade. Tantas gerações conseguindo modificar o ambiente acabam se esquecendo de melhorar a si mesmas. O que temos feito para melhorar nosso corpo? E se o ar ficar rarefeito? E se o solo ficar mais ácido?
A comparação com o açúcar deriva da intenção de dizer que somos animais perecíveis, sensíveis inábeis em aperfeiçoamento corporal. Em apenas um momento morremos. Nada mais.
Assim, somos elfos de açúcar, segundo Gaarder. Talvez esse ensaio possa nos levar a refletir sobre a nossa transitoriedade, nossa vida frágil que não passa de um momento na longa história do planeta, e nos faça perceber que não é o planeta que depende de nós, mas nós é que dependemos dele.

Referências:
GAARDER, J. Maya. O romance da criação. Tipografia Perez: Lisboa, 2001.