Edson Silva

A hora está chegando. Falta pouco para que todos nós brasileiros participemos de mais uma eleição democrática. Sinto-me como se fosse votar a primeira vez, embora eu já tenha 48 anos e vote desde 1982- época em que não podíamos, ainda, votar pra presidente, reflexo do tempo que alguns hipócritas nem tem vergonha de dizer que eram melhores-, ano que ingressei no Instituto de Artes e Comunicação (IAC) da PUC de Campinas para fazer o curso de Jornalismo.

E como evoluíram os folhetos de campanhas. Hoje multicoloridos, cheios de fotos. Nem se comparam aos de minha infância, na época eu, meus irmãos e amigos recolhíamos das ruas as pequenas cédulas. Eram escritas em letras pretas em papéis brancos, rosas, verdes, amarelos ou azuis claros, as com foto eram raridades e as fotografias eram em preto e branco. Havia comício na Praça em frente aos Irmãos Mosca, Parque Industrial, em Campinas, e apresentações de filmes do Vigilante Rodoviário, época que nem se ouvia falar de pedágios. Era o final dos anos 60.

De certa forma, cresci sonhando com o dia de participar de Eleição, não como candidato, como eleitor. Meu falecido pai, que era sargento da extinta Guarda Noturna de Campinas, tinha verdadeiro ritual até sair para votar. Naquela época, a votação era no Dia da Proclamação da República, 15 de novembro. Ele vestia seu terno branco, deixado impecavelmente limpo por minha mãe, e saia, geralmente levando eu ou algum de meus irmãos, até a seção eleitoral. Rígido, nem a nós papai revelava seu voto, que era secreto.

Com ele aprendi que jamais devíamos nos omitir. Ele não anulava voto ou deixava em branco e com seu jeito simples de migrante nordestino(da Paraíba) ensinava que "se não expressasse sua vontade, podiam colocar um nome qualquer na cédula em branco"- naquele tempo nem se sonhava com Urna Eletrônica - Realizado o ritual de votação, meu pai ficava dias e dias acompanhando no rádio de válvulas e pelos jornais notícias que indicariam resultados das eleições. Aprendida a lição, desde 82, minha primeira eleição, exceto uma vez por total falta de opção e ainda em cédula de papel, jamais anulei voto.

Ficou em mim a cultura que voto nulo ou branco é omissão e isto não combina quando somos chamados a definir o futuro do país, estados ou dos municípios, seja optando em manter o que está bom ou decidir de maneira firme e consciente mudar o que está ruim. Ensinamentos que não passarão relacionam o lavar as mãos com omissão. Por isso, prefiro participar e lembrar de uma música do Ivan Lins: "... não lavei as mãos e por isso é que me sinto cada vez mais limpo..."

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.
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