ELE É MEU IRMÃO

 

Há tempos atrás, dentro de uma de suas campanhas, a Igreja Católica divulgou uma foto onde aparecia um adulto branco aparentemente conversando com uma menina, negra, que carregava uma criança, também negra.

É evidente que a menina que carregava a criança também era uma criança. Era uma criança-menina

Lembro-me de algumas coisas que me chamaram a atenção, nessa foto:

A criança-menina era negra.

A criança do colo, aparentava uns dois anos.

Ambas extremamente magras, aparentemente desnutridas.

A criança do colo com aspecto de que era portadora de alguma deficiência física, razão pela qual era carregada pela criança-menina...

É evidente que essa foto-mensagem tinha um objetivo. Por isso as duas crianças olhavam fixamente para a câmara que as fotografava. Até parece que queriam dizer algo, através daqueles olhos fotografados pelo olhar da câmara do fotógrafo, a todos os que vissem a foto. Não sei o que queriam dizer, aqueles olhos, mas sei o que eu entendi.

Sei, também, que logo abaixo da foto aparecia um diálogo sugerindo ser travado entre o adulto, branco e a menina-criança negra, que segurava no colo, uma criança negra.

O diálogo era o seguinte:

- Ela não é muito pesada, para que você o carregue? – pergunta o branco, referindo-se a criança do colo.

- Não. Ele é meu irmão! – a resposta da menina-criança.

Hoje, mais de vinte anos depois, ainda me recordo, da imagem e do diálogo:

- Ela não é pesada?

- Não. É meu irmão.

Meu irmão não é pesado. O fardo do mundo é pesado, mas meu irmão não é pesado. Os problemas são pesados, mas meu irmão não é pesado. Crises e questões de trabalho são pesados; a ingratidão de um colega é pesada; a falta de vaga nos hospitais é pesada, mas meu irmão não é pesado.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, Filósofo, Teólogo, Historiador