Elas são tão fáceis de entender
Publicado em 15 de março de 2010 por lucia czer
Elas são tão fáceis de entender
- Celso!
- Siim?
- Com qual destes devo ir?
Celso tem os óculos acavalados sobre o nariz, refestelado na “cadeira do papai”, lê as notícias esportivas. É sábado à tarde e o casal vai a uma festa de bodas de ouro de um amigo da família. Celso já está pronto: Veste calças pretas, risca de giz e camisa azul de mangas longas. Sapatos de verniz completam o visual.
Durante os anos em que estão casados, Vera foi abastecendo o guarda-roupas do marido com inúmeras camisas, todas em azul, sua cor preferida. Fica fácil para Celso: Não há motivo para ficar indeciso na hora de aprontar-se.
- Hummm... O verde. Você fica linda de verde.
Ele mal levantou os olhos do jornal.
- Você está louco? Vou parecer um repolho gigante.
- Ah, filha! Veste qualquer um, estamos atrasados.
- Detesto que me chame de “filha”, não ouse usar esse tom comigo. Você nem me olhou, na verdade, você não liga pra mim!
- Amor, Verinha... Veste qualquer um. Todos são lindos. Esse marinho é novo?
- Novo? Novo, como?! Se você não tivesse gasto uma fortuna com o equipamento novo de pesca, eu teria comprado um vestido.
- Ah, sei...
Não havia dúvidas, mais cedo ou mais tarde, ela traria o “pobre” do equipamento de pesca à baila!
- E esse branco, o que você acha?
- Hum hum, combina com você.
- Viu? Taí! Você nem viu que não combina com estes sapatos?
- Ok. Ok.
- Ah, meu Deus! Estou gorda como uma porca, meu cabelo tá horrível. Essa cor não me favorece...
- Cor? Que cor?
- A do cabelo, oras. Celso...! Celso, por favor, quer olhar para mim?
- Pronto, querida, a seu dispor.
- Não vou mais. Desisto. Vá sozinho.
- Você quem sabe. Vou indo, já atrasado. Ainda preciso passar lá no Marcos...
- Quê? Marcos? Aquele que casou com a sua primeira namorada, aquela lambisgóia platinada, loira de farmácia?
- Preciso, querida, preciso.
- Pode parar! Não vai, não. Sozinho, ene, a, o, til!
- Num piscar de olhos, está pronta, arrumada, perfumada. Ele a olha de soslaio, um sorriso meio disfarçado no canto da boca. Continua linda, pequenina, delicada, tão suave! As marcas da idade só serviram para conferir-lhe uma beleza mais amadurecida.
- Viu? Você tem sorte de ter casado com uma mulher que odeia discussões inúteis. Ah, se eu fosse mulher de fazer tempestade em copo d’água...!
- Sei, filha, sei...!