Ela não tinha nenhum juízo
Quando fui trabalhar em uma nova comarca, ao chegar me avisaram que havia uma mulher que estava sempre ligando para a promotoria. Ela não batia bem da cabeça e ligava para relatar crimes que nunca aconteceram e falar um monte de besteiras. Às vezes ela aparecia de corpo e alma para apresentar os seus reclames. Tudo era absurdo, cobrava direitos que ela nunca teve, como, por exemplo, salários atrasados de seu cargo de professora. Determinado dia estava eu trabalhando fora do expediente e o telefone tocava insistentemente. Decidi atender a ligação e ouço aquela musica que identifica as ligações a cobrar. Logo me veio a cabeça que poderia ser aquela mulher desequilibrada que ainda não conhecia e por esta razão resolvi atender do seguinte modo: - Açougue Boi Bom, bom dia. - o que? Não é da promotoria? -Não, é do açougue. - Cruz credo, tem tanto sangue na promotoria que até já virou açougue. A mulher bateu o telefone na minha cara e eu sobe de cara que era a tal desmiolada. Noutro dia me encontrava na labuta quando escuto uma gritaria na sala de espera da promotoria. Corro para o local e as funcionarias estavam assustadas, com a porta trancada, pois a referida doente segurava um pedaço de pau e ameaçava quebrar tudo. Ela sempre dizia que um colega promotor era seu amante, mais uma de suas falsas crenças, ou não. Para acalmá-la resolvi falar do seu suposto amante, que naquela hora trabalhava em outra comarca. – Fulana! O seu amante não esta e nem vem aqui hoje. Pode ir embora. Deixa para brigar com ele em outro ocasião - Ele não é mais meu amante. Eu cortei o negocio dele e vendi por dez reais. Depois de muita conversa a mulher foi embora sem fazer o estrago prometido. Quando o colega chegou eu lhe disse que não sabia que o negocio dele valia tão pouco.