Egito: entre a realidade e o que a imprensa noticia
Publicado em 13 de fevereiro de 2011 por Luiz Eduardo Farias
Existem coisas que ainda não digeri sobre os acontecimentos no Egito. Posso estar profundamente enganado, mas penso bem diferente do que a maioria dos meios de comunicação tanto propaga sobre o assunto.
Primeiramente, desde o início os manifestantes, segundo os jornais, estão nas ruas "em defesa de uma democracia". Você se lembra de algum governo que foi derrubado apenas com este discurso? Bom, eu não! A questão do modelo político de uma sociedade é tão teórico que o povo, na prática, não vê sentido. Jamais ouvi dizer sobre qualquer revolta de caráter nacional que não tivesse mergulhada em problemas sócio-econômicos.
A renda média mensal do trabalhador no Egito é equivalente a R$ 86. Quase metade dos egípcios sobrevive com até US$ 2 por dia. A taxa de desemprego é de cerca de 10% (quase o dobro da brasileira). Este quadro não é novo e o país vive um histórico recente de protestos e greves. De 2004 a 2008, foram mais de 1.900.
É natural que os egípcios começassem a pensar em mudanças. Assim como no futebol, na política "time que ganha não se mexe" e "time que perde tem que mudar". Sim, é bem simplista mesmo! Para vencer as dificuldades sócio-econômicas, o Egito exigiu novos ares na política.
O ex-líder Hosni Mubarak não caiu porque era um ditador, e sim porque falhou na tarefa estatal de proporcionar o básico para a sua população. Não obstante, a versão dos jornalistas certamente "vende" uma história bem mais confortante.
Outra coisa que me causa bastante incômodo é a referência aos acontecimentos no Egito como uma "revolução". Quem o diz desconhece a situação no país ou o conceito. Como ensina o professor do Departamento de Oriente Médio da Universidade de Haifa, Israel ? Uri Kupferschmidt -, só há revolução quando há substituição de uma filosofia social-econômica (acrescento, política) por outra. E no Egito, não há ninguém sugerindo um novo caminho, algo que substitua o status quo atual.
Depois da queda da monarquia, em 1952, três militares governaram o Egito, incluindo Mubarak. Hoje, pode-se dizer que o Egito é um país altamente militarizado, o maior dos árabes e um dos maiores do mundo. A ausência de lideranças civis e a simbiose Exército-Estado dão poucas esperanças de que os militares sairão de cena. Hoje (13/02) já chega a notícia de que eles fecharam o parlamento. A ajuda norte-americana, que gira entre 2 a 3 bilhões de dólares anuais, deixa poucas dúvidas que possa surgir um governo anti-americano (e este não era o discurso popular). Com as particularidades dos muçulmanos egípcios (só como exemplos: são sunitas e não têm um "Khomeini" aguardando a entrada triunfal no país, etc), diria que a possibilidade de uma revolução islâmica, nos moldes da iraniana em 1979, é praticamente nula. Isto não passa de um discurso ocidental para o apoio de um "mal menor". A Irmandade muçulmana poderá ter voz num novo regime, mas jamais terá a primazia.
A verdade é que Mubarak se foi, mas o regime ainda é o mesmo.
Primeiramente, desde o início os manifestantes, segundo os jornais, estão nas ruas "em defesa de uma democracia". Você se lembra de algum governo que foi derrubado apenas com este discurso? Bom, eu não! A questão do modelo político de uma sociedade é tão teórico que o povo, na prática, não vê sentido. Jamais ouvi dizer sobre qualquer revolta de caráter nacional que não tivesse mergulhada em problemas sócio-econômicos.
A renda média mensal do trabalhador no Egito é equivalente a R$ 86. Quase metade dos egípcios sobrevive com até US$ 2 por dia. A taxa de desemprego é de cerca de 10% (quase o dobro da brasileira). Este quadro não é novo e o país vive um histórico recente de protestos e greves. De 2004 a 2008, foram mais de 1.900.
É natural que os egípcios começassem a pensar em mudanças. Assim como no futebol, na política "time que ganha não se mexe" e "time que perde tem que mudar". Sim, é bem simplista mesmo! Para vencer as dificuldades sócio-econômicas, o Egito exigiu novos ares na política.
O ex-líder Hosni Mubarak não caiu porque era um ditador, e sim porque falhou na tarefa estatal de proporcionar o básico para a sua população. Não obstante, a versão dos jornalistas certamente "vende" uma história bem mais confortante.
Outra coisa que me causa bastante incômodo é a referência aos acontecimentos no Egito como uma "revolução". Quem o diz desconhece a situação no país ou o conceito. Como ensina o professor do Departamento de Oriente Médio da Universidade de Haifa, Israel ? Uri Kupferschmidt -, só há revolução quando há substituição de uma filosofia social-econômica (acrescento, política) por outra. E no Egito, não há ninguém sugerindo um novo caminho, algo que substitua o status quo atual.
Depois da queda da monarquia, em 1952, três militares governaram o Egito, incluindo Mubarak. Hoje, pode-se dizer que o Egito é um país altamente militarizado, o maior dos árabes e um dos maiores do mundo. A ausência de lideranças civis e a simbiose Exército-Estado dão poucas esperanças de que os militares sairão de cena. Hoje (13/02) já chega a notícia de que eles fecharam o parlamento. A ajuda norte-americana, que gira entre 2 a 3 bilhões de dólares anuais, deixa poucas dúvidas que possa surgir um governo anti-americano (e este não era o discurso popular). Com as particularidades dos muçulmanos egípcios (só como exemplos: são sunitas e não têm um "Khomeini" aguardando a entrada triunfal no país, etc), diria que a possibilidade de uma revolução islâmica, nos moldes da iraniana em 1979, é praticamente nula. Isto não passa de um discurso ocidental para o apoio de um "mal menor". A Irmandade muçulmana poderá ter voz num novo regime, mas jamais terá a primazia.
A verdade é que Mubarak se foi, mas o regime ainda é o mesmo.