Educar Promove a Democracia Efetiva e Cidadania 

Muitas coisas podem ser feitas a partir de nossa iniciativa, sendo a mais importante aquela que se torna realidade, a que se torna ação cidadã, ação libertadora e democratizadora.

Para falar de cidadania é preciso, primeiro, falar um pouco sobre democracia. Existem definições de democracia elaboradas por estudiosos, professores ou militantes. Algumas ressaltam mais o aspecto filosófico, outras os elementos práticos ou formais.

A concepção democrática da sociedade rompe radicalmente com esta visão e afirma que a ordem política, econômica e social é fruto de um processo histórico conduzido por homens e mulheres.

A democracia pode ser entendida como forma de organização da sociedade baseada em princípios éticos de liberdade, igualdade, diversidade, solidariedade e participação. Portanto, democracia é a um só tempo um projeto e um desejo, uma utopia que se amplia na medida em que vira realidade.

Ela supõe a criação e o fortalecimento de um sujeito político, coletivo, que engloba homens e mulheres em seu papel de construtores da sociedade.

Os principais atores da democracia são os cidadãos e as cidadãs. Articuladores em torno de um projeto de sociedade de um conjunto de valores éticos, defendendo a constituição de direitos, assumidos e fazendo cumprir deveres para com o bem comum, formam a cidadania: a força da democracia.

A constituição é, também, um processo que se realiza na história. É preciso ter em mente que somos parte de um processo que nos envolve e nos transcende, mas cujo desfecho não esta determinada. A necessidade de envolvimento com a ação solidária, com a ação política que transforma as utopias em realidade.

Podemos desenvolver ações locais de solidariedade e ajuda social; podemos organizar debates e palestras; podemos pesquisar a realidade de nosso país, saber como vivem e quais os desafios que enfrentam nossos vizinhos; as pessoas de nosso bairro e, com elas, propor ações visando melhorar as condições de vida.

Diante do exposto nos perguntamos: o que é ser cidadão? O que é  exercer  a cidadania?

Cidadão é qualquer pessoa que tem seu registro de nascimento. Exercera a cidadania é respeitar as leis, ter seus direitos e cumprir com  os seus deveres.

Ser cidadão é viver com dignidade, respeitando o outro, é cooperar com a sua cidade, seu estado, seu país.

Lodi acredita que: “Na prática diária do viver e fazer educação a idéia de cidadania deve ser reforçada para se tornar prática diária, onde cada um será o sujeito de seus direitos e deveres”. (LODI, Ivana Guimarães, Revista Mundo Jovem, 2002, p.8)

O verdadeiro cidadão é apto no enfrentamento dos desafios da humanidade, luta pela construção de uma sociedade de menos desigual e mais global em dignidade de vida, não negando nem fugindo de seus desafios.

Educar para a cidadania e eticidade não é produzir seres que continuem apenas repetindo a mesmice, reproduzindo comportamento que já não dão mais certo, e contribuir na formação de pessoas com visão crítica,questionadora com noção de sua condição de transformar a sociedade que vive.

Sabemos que na constituição brasileira o poder emana do povo e em seu nome é exercido (art. 1, par.1ª) e está nas mãos de cada cidadão exercer este poder que é a sua cidadania. Ser cidadão é agir, trabalhar, torna-se parte viva na sociedade, consciente e responsável pela construção da história de uma ação. Mas como? Segundo Lodi: A educação precisa assumir seu papel fundamental neste tecer e fazer do cidadão, que deverá viver eticamente neste mundo global. Não podemos mais tratar a ação educativa superficialmente, sem exemplo e vivência concreta. Precisamos nos comprometer com esta causa, promovendo uma transformação, onde o futuro que queremos seja o mais importante legado para as futuras gerações, formado por cidadão ciente e comprometido consigo mesmo e com o próximo.

Construir um mundo melhor não implica apenas descobrir de quem é a culpa pelos erros atuais, ou apontar erros, ou querer respostas imediatas, pois nenhuma mudança ocorrerá agora. Transformar o que foi sedimentado ao longo de anos supõe vontade, coragem e persistência.

Refazer caminhos, nesse sentido é um grande desafio mesmo acreditando-se numa educação transformadora. É preciso assumir um compromisso para com nossos alunos, para com cada um de nós, na certeza de que, apesar do inesperado das diversas circunstâncias, sempre vale a pena educar.

A cidadania assim construída passa a ser um compromisso público integrado à personalidade de cada um, onde a efetivação do ser ético acontecerá em todas as dimensões, mesmo na “sociedade-net”. Por que sociedade net?

Habitamos um mundo cheio de contradições e possibilidades de crescimento mundial, com o advento da tecnologia da informação, nasce uma nova forma de construção de sociedade: a sociedade em redes. Essa sociedade é caracterizada pela globalização da economia; por sua forma de se organizar em redes; pela convivência  midiática cotidiana, por novas formas de gerar o conhecimento. Mudou nosso modo de pensar, de comportar-se, de perceber a realidade, de produzir bens e conhecimentos, de comunicar, de negociar, de estabelecer relações, de criar cultura. 

A democratização do sistema educacional está associada, de maneira bem próxima, dos movimentos sociais a  favor da educação popular e poder público, discutindo o processo de institucionalização dos movimentos por escola, pela democratização da escola e o papel dos instrumentos de participação popular na consolidação de uma sociedade autônoma.

Nessa perspectiva, a educação estabelece uma busca sincronizada dos seus valores. Ao democratizar o sistema educacional, busca-se a justiça para que todos e todas possam ser respeitados, a partir de sua maneira de ver o mundo, as coisas, as pessoas e elas próprias, a participação, como fonte geradora de qualquer processo deve ser partidária e constituir um espaço de disputa de projetos que é o passo inicial, segundo Coelho, para a construção da liberdade, da igualdade e da democracia.

Libâneo assim define essa participação:

“A concepção democrática – participativa baseia-se na relação orgânica entre a direção e participação do pessoal da escola. Acentua a importância da busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de gestão em que as decisões são tomadas coletivamente e discutidas publicamente. Entretanto, uma vez tomadas às decisões coletivamente, advoga que cada membro da equipe assuma sua parte no trabalho, admitindo-se a coordenação e a avaliação sistemática da operacionalização das decisões tomadas dentro de uma real diferenciação de funções e saberes”.³

As demandas por escola pública de qualidade têm como ponto principal o direito à educação que se registra como princípio constitucional e com uma diretriz de política pública. O estado se utiliza dessa representatividade como instrumento para alcançar seus objetivos estratégicos que nem sempre estão coerentes com aqueles propostos pelos trabalhadores da educação e pela sociedade de maneira geral. Tais objetivos são subsidiados na comprovação de que é preciso ter autonomia pedagógica, administrativa e financeira para se construir um sistema único de educação centralizado numa democratização do acesso, da gestão e na qualidade social da educação. Isto, porque, segundo Mendonça4­­:

“A educação brasileira experimentou uma democratização tardia e a cultura política autoritária predominou, intercalada por espasmos de democracia. A democratização da educação pública brasileira passou por vários estágios, tendo sido compreendida, inicialmente, como direito universal ao acesso e, posteriormente, como direito a um ensino de qualidade e à participação democrática na gestão das unidades escolares e dos sistemas de ensino”. (Mendonça, 2000, p.2)

As dificuldades encontradas no sistema educacional remontam há muitos anos e fala-se da crise escolar como se ela existisse desgarrada do contexto histórico-social, econômico e político da sociedade concreta onde acontece.

REFERÊNCIAS

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: Pedagógica crítico-social dos conteúdos, 1985. 

LODI, Ivana. Guimarães , Revista Mundo jovem, julho 2002, p.8. 

MENDONÇA, Erasto Forte. In Desenvolvimento do Processo de Democratização da  Educação em MT, na década de 90: Odorico Ferreira Cardoso Neto. Cuiabá, 2002, p.26.