*Artigo publicado no Jornal a "Página da Educação", 17 de junho de 2009

Existe algo em minha formação que não ficou tão claro para mim: a ação educativa em função do sistema burocrático de ensino. A palavra democracia proclamada nas salas de aula durante minha graduação constituiu-se de maneira vaga e um pouco distante de ser alcançada por nós educadores enquanto inseridos no sistema educacional. Depois da proposta de Centralização e Descentralização ocorrida no Brasil sobre o sistema educacional, em que o governo centraliza seu poder, controla e fiscaliza todo o processo por meio de avaliações e exames padronizados, torna mais difícil a autonomia e o espontaneísmo do educador, e, por conseguinte, a democracia na escola. A tendência desresponsabiliza o governo central dos possíveis insucessos a respeito da aprendizagem dos alunos. Como se não bastasse, o educador enfrenta a burocracia do sistema educacional e as hierarquizações de tarefas no interior das escolas, encarando as políticas da administração educacional que, segundo a direção escolar, se pauta nas ordens vindas do poder centralizador que é a União. A idéia de papel avaliativo e definidor de políticas fica mais clara no artigo 9 da LDB 9394 quando este determina à União a função de elaborar, organizar, manter, prestar, estabelecer, assegurar, supervisionar, avaliar, entre outros.

Desta forma, acredito que a instituição passa a ter uma imagem de caráter empresarial, sendo sustentada por interesses das classes que representam o poder. Os educadores, frente a essas hierarquizações de tarefas, se retraem e se veem obrigados a permanecerem dentro de um paradigma de imobilismo e de travas burocráticas, dispersando-se de sua verdadeira tarefa que é a ação educativa. Autores como Thurler (2001) defendem que a lógica burocrática é a divisão de trabalho e de estruturas hierárquicas impostas e consideradas ótimas e pertinentes às necessidades de uma empresa, ao passo que a lógica profissional convém ao trabalho dos especialistas na qual só eles são capazes de fazer. Nesse impasse, o professor tem como desafio educar e alfabetizar crianças durante a prática de seu trabalho docente dentro de seu espaço na sala de aula e por outro lado se vê preso ao sistema burocrático imposto, não podendo ele ir além de suas funções. Na maioria das vezes, eles se acomodam e não se responsabilizam por nenhum compromisso extraclasse, alegando que o problema maior está no sistema burocrático. Ou quando fazem a tentativa de inovar, se unem contra a direção enfraquecendo o poder hierárquico. A direção percebe a ameaça, sente que pode perder o controle e tenta derrubar esses grupos centralizando as decisões. Desmotivado e sem perspectivas o educador se retrai, voltando a fazer o que lhe era imposto, exercendo suas mesmices funções.

Se analisarmos detalhadamente as estruturas de hierarquizações da escola, observaremos que esses mecanismos de hierarquizações acontecem também de maneira informal dentro e fora da sala de aula; a mãe culpa o educador pelo não aprendizado do filho, o educador sem pensar transfere essa deficiência de aprendizado à direção, que não abre espaço para melhores condições de aprendizagens. A direção, por sua vez, repassa ao sistema educacional, a crise da educação, declarando que só está cumprindo com sua função de administrar e que os problemas da sala de aula são preocupações do educador. Não cabe à direção se incomodar com esses pormenores. No entanto, em meio a tantos desafios é possível ir além desse paradigma burocrático educacional e transformar o quadro de imperspectivas da educação. Não há como fechar os olhos para o sistema burocrático educacional, nosso erro é rotularmos que no instante em que aderirmos ao modelo de administração escolar hierárquica nada mais pode ser feito para a melhoria da qualidade nas escolas. Ao relacionarmos a escola com a empresa é interessante respeitarmos esses processos de cargos e funções e, enriquecedor conhecermos novas linhas de trabalho; produzirmos os mais variados métodos e desafiarmos, como disse antes, o que se institui como padrão.

Referências

THURLER, M. G. Inovar no interior da escola. Porto Alegre: Artmed, 2001.