Artigo:

Educação sexual com adolescentes com Deficiência Mental

O período de adolescência é considerado como uma etapa de transição no desenvolvimento humano, iniciando, de acordo com o Compêndio de Psiquiatria (1997), com 12 ou 13 anos até aproximadamente o final da segunda década de vida, por volta dos 25 anos. Caracterizado por um período em que ocorrem “profundas alterações no desenvolvimento biológico, psicológico e social” (KAPLAN, SADOCK, GREBB, 2003).

No plano biológico é a etapa conhecida como puberdade, em que é caracterizado pelas modificações no corpo, tanto nos caracteres sexuais primários (vagina, nas meninas e pênis nos meninos) quanto nos secundários (por exemplo, os pêlos faciais nos meninos e o alargamento dos quadris nas meninas), diferenciando, assim, entre os sexos feminino e masculino (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 1995).

Contudo, não se pode deixar de citar que a adolescência é uma construção social, já que por muitos séculos, até o final XIX, não existia uma cultura adolescente, assim como a própria adolescência não era considerada uma etapa do desenvolvimento (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 1995). Essa mudança ocorreu somente no século XX, com a revolução industrial e a necessidade de mão-de-obra qualificada, com capacitação, formação e estudo, diferenciando-se do período anterior da história em que entrava-se no mercado de trabalho por volta dos sete anos e início da puberdade.

Sendo assim, enquanto a sociedade espera seus membros jovens preparem-se para assumir o papel de adultos, os mesmo vivenciam a adolescência, etapa do desenvolvimento com “seus próprios hábitos e maneiras, e que enfrenta problemas peculiares” (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 1995). Ao longo do desenvolvimento do adolescente ocorre o processo de configuração de identidade, no plano psicológico, no qual o mesmo passará por crises que acompanharão suas escolhas dentro do mundo. Definindo, segundo Erikson, suas identidades sexual, profissional e ideológica (Rappaport, Fiori, Davis, 1982).

No desenvolvimento cognitivo, Piaget e Inhelder, após avaliações, perceberam que diferente da infância, onde o pensamento é concreto, logo, o possível, no pensamento, é subordinado ao real, o adolescente consegue levar em consideração todas as “situações e relações causais possíveis entre seus elementos” (COLL, PALACIOS, MARCHESI, 1995), tornando a realidade um subconjunto do possível e sendo para Piaget, a melhor habilidade cognitiva que define a fase das operações formais.

Entretanto, o desenvolvimento de um adolescente tem formas heterogenias e uma delas é o desenvolvimento dos sujeitos com deficiência mental, também conhecido como retardo mental, que, de acordo com a Associação Americana de Deficiência Mental (AAMD) proposta por Heber em 1961, é “um funcionamento intelectual geral abaixo da média, originada durante o período de desenvolvimento e associado a deterioração do comportamento adaptativo”, presentes antes dos 18 anos de idade (AMIRALIAN, 1986).

Sua etiologia inclui condições genéticas, seja cromossômicas ou herdadas, como a síndrome de Down, a do X frágil ou a finilcetonúria (PKU), exposição pré-natal a infecções e toxinas, trauma perinatal, condições adquiridas e fatores sócio-culturais (KAPLAN, SADOCK, GREBB, 2003). A gravidade do retardo mental está relacionada ao momento de ocorrência e a duração da exposição do sistema nervoso central, sendo que, quanto mais severo for o retardo, maiores são as chances de uma causa evidente (KAPLAN, SADOCK, GREBB, 2003).

A classificação inclui diversos fatores, como o nível de desempenho alcançado (medidos através de testes gerais de inteligência), a adequação social e as possibilidades educacionais (AMIRALIAN, 1986). O DSM-IV divide em quatro tipos de retardo mental, de acordo com o grau de comprometimento intelectual: leve, moderado, severo e profundo (KAPLAN, SADOCK, GREBB, 2003).

Contudo, apesar dos estudos sobre deficiência mental terem aumentados, falar sobre a sexualidade desses adolescentes não é comum no meio acadêmico, havendo um número reduzido a cerca do tema (MAIA, CAMOSSA, 2003).

Os estudos que retratam sobre a questão da sexualidade em deficientes mentais demonstram que os jovens têm acesso limitado e muitas vezes deturpadas sobre sexualidade, tornando-se necessário a estimulação de propostas sobre orientação sexual por parte não somente dos profissionais, mas também dos pais que vêem seus filhos, ou como adolescentes assexuados ou com uma sexualidade exagerada, tendo a necessidade de recriminação e limite, esquecendo-se, em ambos os casos, que a sexualidade é algo inato nos seres humanos, independente de sua condição física e cognitiva (MAIA, CAMOSSA, 2003).

Os adolescentes com deficiência mental ao serem tratados como pessoas diferentes dos padrões normais, influenciam na maneira que os mesmos lidam com suas limitações e até mesmo sua auto-estima, autoconfiança e todo seu desenvolvimento psico-afetivo e também sexual desses adolescentes (ALBUQUERQUE, RAMOS, 2007).

A escolha do tema nesse trabalho deu-se, portanto na sensibilização  a cerca do tema e das conseqüências na vida desses adolescentes, tornando-se necessário uma pesquisa para melhor compreender a visão dos próprios adolescentes sobre sua sexualidade através da proposta de uma orientação sexual. 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

AMIRALIAN, Maria Lúcia T. M. Psicologia do excepcional. In: Temas Básicos de Psicologia. São Paulo: EPU, vol. 8, p. 1-9. 1986. BERGER, P. e LUCKMANN, T.

 

COLL, César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia Evolutiva. Porto Alegre: Artmed, v. 01, 1995.

COLL, César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades Educativas Especiais e Aprendizagem Escolar. Porto Alegre: Artmed, v. 03, 1995.

KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J.; GREBB, Jack A. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. São Paulo: Atmed, 1997

RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner Rocha; DAVIS, Cláudia. A idade escolar e a adolescência. São Paulo: EPU, v. 04, 1982.