Educação – Reflexão – Aluno Profissional: Professor

Lucélia Ribeiro[1]

"Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo." 

Falarmos no papel da educação que está instalada em nossa prática é realizarmos um retrospecto da educação ao longo de seu contexto histórico, desde a educação nas sociedades tribais onde as crianças aprendiam sem a necessidade de alguém para ensinar, imitando os gestos dos adultos, até a chegada do grande marco da educação que foi a apresentação dos pilares básicos, essenciais a nova educação que aparece no relatório Educação, um tesouro a descobrir, coordenado por Jacques Delors, na Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI.

Sabendo que a educação é o elemento chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado, os estudos e as pesquisas realizadas sobre o papel da educação que abordam as principais correntes e fundamentos sociológicos, filosóficos, históricos e psicológicos e suas contribuições no campo educativo, reporta para a docência reflexiva quanto à construção política e pedagógica do processo educativo, auxiliando na construção crítica e no olhar investigativo do professor pesquisador, para ampliação do seu conhecimento no uso das novas tecnologias da informação e comunicação.

A educação atual nos prepara na condição de estudantes para formação de atitudes na qual, sejamos capazes de efetivar mudanças ao nível emocional e intelectual compreendendo que a educação na contemporaneidade necessita de metas educacionais bem elaboradas, culminando em aprendizagens e mudanças nas estratégias de ensino, observando que a educação tem o papel da construção do caráter do ser humano e a sua conduta ética na sociedade nos assuntos abordados nas disciplinas durante o curso de graduação.

Entendemos que os conceitos ligados a prática reflexiva surge como um modo possível dos professores interrogarem as suas práticas de ensino, e que essas reflexões abrem um leque de oportunidades para retornarmos a atividades consideradas ineficazes e efetivarmos práticas que atendam aos objetivos de uma educação traçada em idéias questionadoras e dinamizadoras nas suas atividades. Quando enfocamos a expressão "prática reflexiva" esta inevitavelmente se confronta a investigação de nossas praticas diárias em sala.

O desenvolvimento profissional dos professores ocorre ao longo da profissão. Evidencia-se nesse processo a participação de vários e complexos fatores pessoais e profissionais, entre eles, a construção da autonomia, a relação com o grupo de iguais, as escolhas, as experiências e vivências pessoais e profissionais. Logo, é um processo contínuo que se produz ao longo da trajetória formativa do professor e está inserido em um projeto de vida, o qual cada professor é sujeito participativo e responsável por seu crescimento ou por sua estagnação.

Nesta perspectiva, a reflexão permite a reconstrução da prática, possibilitando o crescimento pessoal e profissional do professor, já que o instiga a buscar novas formas de pensar e agir a partir das diversas situações vivenciadas no ambiente escolar. O professor possui saberes, oriundo de sua prática, de sua construção intelectual, enfim de sua história de vida. Também os alunos em formação inicial, possuem seus saberes inerentes à maneira de ser, conseqüentes das experiências vivenciadas ao longo de sua trajetória educativa. Esses saberes pessoais e profissionais, enquanto formação inicial é saberes que se aplicam e se modificam nas práticas de ensino

A representação da prática docente numa perspectiva metacognitiva e crítica ao tecemos nossas reflexões e propusermos discussões sobre o exercício da docência a partir de experiências anteriores à graduação que é capaz de influenciar na construção de nossas próprias teorias referente à profissão, tomou como base pensamentos sobre ações praticadas no período de docência e suas decorrências rotineiras, analisando suas circunstancias e tomadas de decisões no processo ensino aprendizagem, não deixando de trazer o pensamento da escola e suas condições sociais.

"Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. A avaliação, neste contexto, terá de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social". (Luckesi, 1984: 46).

Partindo desse ponto e dessa afirmação concebemos que o professor é um profissional cuja especificidade de sua arte é ensinar. Para isso, deve ter em suas atividades formativas iniciais momentos privilegiados para apreender um conjunto de habilidades, conhecimentos e requisitos que são essenciais para o exercício de sua função. A isso, o autor dá o nome de profissionalidade e dessa conquista serão derivadas outras duas etapas de sua formação: a profissionalização e o profissionalismo.

Assim como Luckesi, Libâneo (2001, p. 65), afirma que

Se o professor perde o significado do trabalho tanto para si próprio como para a sociedade ele perde a identidade com a sua profissão. O mal-estar, a frustração, a baixa auto-estima, são algumasconseqüências que podem resultar dessa perda de identidade profissional.

Defende que para garantir a profissionalidade docente, o ensino como atividade específica do professor e da escola, a busca por melhor formação e condições de trabalho e pelo retorno do significado social do ser professor deve simultaneamente atentar para as suas atividades formativas e de docência como essencial na formação continuada, já que é no contexto do trabalho docente que a identidade do professor se consolida fundamental para a compreensão dos fatos históricos e para a sua articulação com a história/realidade presentes, uma vez que o presente é fruto da dinâmica dos acontecimentos históricos presentes no passado.

Em décadas anteriores, acreditava-se que, quando concluída a graduação, o profissional estaria apto para atuar na sua área o resto da vida, sem que este necessitasse de ações e formações contínuas para ampliação de seus conhecimentos. Inevitavelmente e por conta das constantes transformações no contexto educacional é visível que a realidade atual convoca o profissional docente para uma tomada de consciência que o leve a realizar suas próprias transformações, devendo estar consciente da importância crucial as formações permanentes que estão atualmente interagidas na escola no seu dia a dia.

Entendemos dessa forma que o profissional em docência não deverá ter e/ou mostrar abstinência no prazer pelos seus estudos e leituras que devem estar sempre evidenciados em sua trajetória a profissional, até porque esse prazer que o professor demonstre, ficará visualizado pelos alunos que assimilaram este gosto.

A isso chamamos de prazer em aprender no momento de ensinar com prazer. Os desafios desse profissional são inúmeros haja vista, que enfrenta grandes obstáculos sociais, inclusive financeiros, para almejar e manter-se atualizado em cursos/e ou capacitações formativas para aprimoramento, ampliação e desenvolvimento de suas práticas pedagógicas, efetivando-se a sua eficiência em apresentar novas atividades que contemplem sua atualização

As transformações sociais que se apresentam no ambiente educacional é que irão gerar transformações no ensino para a atualidade, pois apesar da importância dada as formações continuadas ainda observando claramente que os resultados da educação continuam sendo insatisfatório, o que vem colocar que as mudanças são necessárias nas práticas educativas, evidenciando, portanto, sua formação e sua prática para motivação de estudos freqüentes.

O movimento de reflexão coletiva poderá permitir ou não que o professor faça uma releitura de suas mediações pedagógicas. Caso essa reflexão aconteça, é significativo salientar que a mesma se dê preferencialmente no coletivo e através do compartilhamento de saberes e fazeres, que são traduzidos pelas competências e habilidades profissionais inter-relacionadas às efetivas práticas educativas realizadas no âmbito da profissão docente e que constituem o repertório de saberes (Pimenta, 2002).

Portanto, refletir possibilita ao professor a [re] significação constante de seus saberes e fazeres. O professor que reflete sobre o que faz, muda seu pensamento e suas ações frente aos alunos, reelabora sua maneira de ensinar e aprender através de diferenciadas formas de entender e praticar a profissão que lhe foi destinada.

Entendendo que no mundo atual a educação ainda é muito discutida e se analisarmos claramente perceberemos que buscamos uma melhor relação entre a educação e a sociedade, já que são intrinsecamente ligadas. E ao questionarmos o papel da educação, queremos também ver e saber qual o verdadeiro papel da sociedade, visto que os objetivos tanto da sociedade como da educação não podem ser vistos separados e sim ligados, pois entendemos a educação como um recorte da sociedade.

A partir dessas considerações entendemos que a educação deve buscar a moral, a construção do caráter e a busca da conduta para o ser humano, fazendo como que estes princípios possam ser parte integrante da sociedade em que convive, e não ficar a mercê dela.


6.0 – REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 7ª Ed. São Paulo: Hucitec, 1995.

BRASIL. Diretrizes Curriculares dos Cursos de História. MEC – Secretaria de Educação Superior: Departamento de Políticas do Ensino Superior, Brasília, 1999

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1998.

LIBÂNEO, José C. Formação de Professores e Nova Qualidade Educacional - Apontamentos Para Um Balanço Crítico. Educativa - Rev. Dep. Educação UCG, Goiânia - GO, v. 3, p. 43-70, 2000

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

PIMENTA, Selma Garrido e GHEDIN, Evandro (Orgs.). Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A Pesquisa e a Construção do Conhecimento Cientifico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3ª ed., São Paulo: Rêspel, 2005.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


[1] Educação – Reflexão – Aluno Profissional: Professor. Lucélia Ribeiro – Professora da Rede Municipal de Juazeiro Graduada em Letras – Faculdade de Tecnologia e Ciências-Ead. Cursando Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional –UNIESB.