EDUCAÇÃO PÚBLICA: UM MODELO AMEAÇADO

Tiago Bolognesi de Andrade.

       O objetivo do texto é demonstrar a importância da educação pública e atentar para o perigo que ela corre na socidade pós-moderna, na qual ocorrem grandes equívocos em relação à sua importância e o seu verdadeiro significado. Para esclarecer a questão da educação pública, buscaremos o significado real desta. Uma das coisa importantes de se esclarecer é a dicotomia que se cria em relação ao ensino público e privado, principalmente no que diz respeito ao mito da qualidade do ensino particular em relação ao público.

       Historicamente a educação pública surgiu do anseio de políticos e educadores liberais do começo de século XX, os quais visavam a democratização do ensino, ou seja, uma escola que contemplasse ricos e pobres indistintamente, servindo-se do direito político à uma escola pública e gratuita oferecida pelo governo. Sobre o surgimento deste modelo de educação pública, Brandão diz que:

Há quem diga que isto foi o resultado de um confronto entre “liberais” e “conservadores na política, um confronto que invadiu a questão da educação. De um lado ficaram os que falavam em nome das elites agrárias tradicionalistas e acostumadas a padrões ultrapassados de domínio político. De outro lado ficaram os que falavam em nome das novas elites capitalistas, atentas a novos tempos e problemas que batiam nas portas do mundo e do Brasil.(BRANDÃO,1985, pag.40).           

       Sacristán diz que o homem civíl só é indivíduo quando é público, não podendo ficar na esfera do meramente privado. Nesta necessidade do público emerge a função do Estado em proporcionar uma educação de qualidade e universalizá-la. Aqui a ação do estado é acusada de ser cara, ineficiente e contrária à efervescência pós-moderna da pluralidade cultural. Porém ressalta que a crítica deste modelo não é contra a sua existência, e sim na forma clássica de entendê-la.

       Ele afirma ainda que a educação pública é uma forma de garantir o direito de todos à educação, principalmente os menos favorecidos, além de desempenhar um papel de  importante na transmissão da cultura e estímulo à cidadania. Temos que a educação pública é extremamente necessária para o progresso da humanidade, na medida em que se preocupa com o direito coletivo e ao mesmo tempo incentiva  a liberdade de cada indivíduo:

O espírito que orienta a educação pública, herdado da Revolução Francesa, é o de ser um poder para aperfeiçoar o corpo social e servir ao seu progresso, além de servir à liberdade individual; isto é, ela está animada de propósito coletivo. (SACRISTÁN,1996, pag.153).

       Uma das coisas que prejudicam a aceitação da educação pública e deturpam a sua imagem, é o mito da qualidade da educação privada em relação à pública. A educação privada vendo-se forçada a atender interesses comunitários, propõe ser servidora dos interesses públicos para que assim possa manter-se ativa e cativar seus “clientes”. E sabemos que ela não poderia deixar de ser assim, pois os valores comunitários devem nortear as práticas educativas. Temos uma visão social de comunidade para defender, e só através de uma educação pública baseada nos princípios democráticos da igualdade, que ela poderá atender essa exigência.

       O autor diz que só podemos fazer uma comparação justa entre estes modelos educativos, público e privado, se considerarmos primeiro as condições sócio-econômicas e culturais dos alunos de um sistema e outro. Costumo dizer que a meritocracia só teria sentido em nossa sociedade, se as oportunidades fossem iguais. Em segundo lugar devemos saber que a comparação teria que considerar também elementos materiais, humanos e técnicos. Contudo é preciso lembrar que a educação pública traz compromissos com os mais pobres, compromisso este que a educação privada nem sempre cumpre, mas ambos os modelos tem suas vantagens metodológicas, cumpre observar o que há de melhor em todas elas e aplicá-las.

       Segundo o autor, a escola pública deve focar no fortalecimento intelectual dos alunos, devemos atribuir ao êxito, a sua devida importância, neste sentido somos alertados: “Não se deve cair na tentação bem intencionada de argumentar que o êxito acadêmico não é equivalente à qualidade pedagógica ou cultural e que são importantes outros objetivos.” (SACRISTÁN, 1985, pag.161). O fracasso do aluno na busca acadêmica do êxito, certamente manchará a imagem da educação pública. Sendo ela um espaço aberto de debate e intercâmbio de idéias, condição fundamental para a inovação pedagógica, deve ela buscar alternativas para a letargia e a burocratização de seus processos.

       Por fim o autor vai argumentar que a educação é um instrumento de socialização, importantíssimo nesta sociedade multicultural na qual não há mais espaço para o racismo e a segregação. Temos que a importância da autonomia intelectual e moral é parte integrante e fundamental deste sujeito social. É preciso que os cidadãos se sintam importantes na esfera da decisão pública que delimita os rumos da nação. Quanto ao Brasil no âmbito educacional, devemos deixar de sermos tão conservadores e sermos mais progressistas, devemos deixar de lado esta burocratização que impede a necessária criação e consolidação de um novo modelo de educação e sociedade que contemple a todos. É preciso chamar toda a sociedade brasileira para este projeto público de educação; pais, professores e alunos, a educação é o nosso maior tesouro, é de suma importância refletir sobre o seu significado.

       Penso que a educação, juntamente com a cultura e a educação, é o verdadeiro princípio da humanidade. Numa perspectiva antropológica sobre a verdadeira essência do homem e aquilo que realmente faz com que sejamos únicos e diferentes de todos os outros animais, acredito que podemos resumir a nossa especial posição neste universo desordenado ao nosso princípio imanente de humanidade, condição para todos os valores elevados que só tem sentido com a transmissão de suas conquistas através do processo educativo.

       Todo homem nasce humano, mas só adquire sua humanidade via cultura e educação, meios pelo qual o conhecimento se produz, se reproduz, se sistematiza, se universaliza, disseminando seus resultados no seio da sociedade. Somos seres sociais, animais políticos como diria Aristóteles, temos necessariamente que viver em comunidade para ter acesso ao legado educacional de nossos predecessores, e é justamente nesta dimensão coletiva e comunitária que a educação pública ganha a sua maior justificação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 15a ed. São Paulo, SP: Brasiliense, 1985.

SACRISTÁN, J. G. Educação Pública: um modelo ameaçado. In: SILVA, T. T; GENTILI, P. Escola S&A. Brasília: CNTE, 1999. p. 150-166.