Idanir Ecco[1]

Alexandra Auziliero Banaszeski[2]

Da mesma forma que precisamos aprender a ler para entender e transformar o mundo, precisamos criar um processo de alfabetização no trânsito, para aprender a ler nossa cidade, nossas ruas e estradas, melhorando significativamente a qualidade de vida no país.

(Prof. JOÃO PEDRO).

1 INTRODUÇÃO

A prioridade da sociedade, em qualquer circunstância é sempre a proteção à vida. e o imperativo é vivê-la com qualidade, alegria e responsabilidade.

O artigo ressalta como temática, "Escola e Educação para o Trânsito", é resultado de uma pesquisa que investigou as estratégias didático-pedagógicas implementadas nas Escolas da Rede Pública Estadual de Erechim-RS que viabilizam a Educação para o Trânsito, mais precisamente nas Escolas localizadas no perímetro urbano.

A necessidade de uma conscientização ampla e urgente sobre a Educação para o Trânsito é visível aos olhos de todos, dada a complexidade dos problemas que surgem no dia-a-dia de todas as cidades. Hoje toda a população está envolvida, sob diferentes aspectos, com os problemas relacionados ao trânsito.

A situação "acende uma luz de alerta" em relação questões de cidadania, pois as relações no trânsito envolvem valores e princípios fundamentais para um convívio social saudável: respeito ao próximo, obediência às leis, a solidariedade, prudência. O que se percebe em nossa sociedade é a fragilidade desses valores, revelando uma sociedade em crise, marcada pela agressividade, individualismo e desrespeito.

A partir do exposto, e considerando que a escola constitui-se em espaço e momento significativo de Educação e de formação dos seres humanos torna-se relevante investigar e analisar como as escolas estão abordando a Educação para o Trânsito, pois a situação é um problema de educação que envolve não somente condutores de veículos e pedestres.

As normas e condutas no trânsito devem ser compreendidas e assimiladas por todos. E a escola pode contribuir nesse processo. Ademais, é na infância e na adolescência que se verifica a maior aceitação de ensinamentos e de condutas.

Esta investigação é justifica-se, também, mediante a constatação de que no Código de Trânsito Brasileiro, no Art. 76 afirma que:

[...] A Educação pra o Trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, através de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.

A investigação fora de caráter qualitativo, e orientou-se pelo enfoque exploratório, mediante pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.

O procedimento utilizado para esta coleta de dados foi a aplicação de Questionário Anônimo, composto por cinco (5) questões. É mister destacar que houve uma dificuldade muito grande quanto da aceitação dos professores em responder às questões propostas e até mesmo da parte diretiva em consentir, alegando que os professores estavam sobrecarregados de trabalhos e de atividades extra-classes. Houveram situações em que foi preciso retornar ao local de coleta de dados mais do que uma vez. Em contrapartida, outros responderam prontamente e da mesma forma o atendimento por parte da equipe diretiva, que foi excelente. Frente a essa situação, foram distribuídos (aceitos) cinqüenta e seis (56) questionários e devolvidos quinze (15).

Para interpretar os dados coletados nesta pesquisa, foram feitas classificações a partir das questões propostas nos questionários. Iniciamos a texto apresentando elementos conceituais tanto da educação quanto da educação para o trânsito para proceder à análise dos dados da pesquisa. O que segue, expõe interpretativamente, os dados coletados.

2 EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO: ELEMENTOS CONCEITUAIS

2.1 DAEDUCAÇÃO

Não existe um tempo determinado para as pessoas educarem-se. E disso decorre que a educação acompanha o processo do viver. É preciso conceber a educação ao longo da vida como uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes, aptidões e da sua capacidade de discernir e agir.Portanto, educação engloba o ensinar e o aprender[3] e constitui-se num processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano visando a sua melhor integração individual e social. Ou seja, consiste em transmitir normas de comportamento técnico-científico (instrução) e moral (formação do caráter que podem ser compartilhadas por todos os membros da sociedade). Neste sentido, Brandão (1993, p.7) afirma que "Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela [...]".

A Educação é, antes de mais nada, um ato de amor e coragem, que está ligada ao diálogo, à discussão e ao debate. Os homens enquanto seres humanos vivem em constante aprendizado, pois a cada dia adquirem novos conhecimentos, novos saberes.

O processo educativo configura-se sempre que surgem formas sociais de condução e controle da aventura de ensinar e de aprender e quando sujeita-se a pedagogia[4], torna-se ensino formal, cria situações próprias para seu exercício e constitui executores especializados. É quando estrutura-se escolas, alunos e professores.

Para Niskier (2001), a escola é considerada como agência educativa, no sentido que ela coloca em ação os principais meios para que sejam atingidos os parâmetros considerados ideais pela sociedade. Ela reproduz os modelos, as normas, as idéias da sociedade e da humanidade em geral.

A escola, portanto, é concebida como um lugar de aprendizagem e não como um espaço onde professor se limita a transmitir o saber ao aluno; deve tornar-se o local onde são elaborados os meios para desenvolver atitudes e valores e adquirir competências. Para Martins (2004, p.33), "a educação se processa por meio de razões e motivos. Um motivo é o efeito da descoberta de um valor. Há, pois uma estreita relação entre motivos e valores e entre valores e educação."

Assim sendo, a escola desempenha um papel fundamental no processo de formação de cidadãos aptos para viverem em uma sociedade. E nesse contexto entendemos a educação para o trânsito.

2.2 DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO

Dentre os diversos acontecimentos que causam intranqüilidade à sociedade, os acidentes de trânsito com vítimas, envolvendo não só os motoristas, mas também, os pedestres, vêm destacando-se. Trata-se de um problema preocupante, cuja solução é desafiadora, por envolver muitos fatores de ordem social e jurídica.

O trânsito[5] caracteriza-se pela relação homem-necessidade de circulação, num contexto determinado. O trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais. Transitar[6] é uma necessidade de todo ser humano. Todos, portanto, são usuários do trânsito, independente do papel que estejam desempenhando.

O trânsito é o mais importante ponto de junção dos diversos grupos, segmentos e indivíduos de uma sociedade. É um sistema extraordinariamente complexo, do qual todos dependemos diariamente: para deslocarmo-nos, como condutores, passageiros ou pedestres; para despacharmos as mercadorias que produzimos; para recebermos as mercadorias e produtos que consumimos.

Nosso comportamento no trânsito é regido por um conjunto de leis que prevêem comportamentos e ações corretas, bem como infrações, multas penalidades e a responsabilização civil e criminal por nossos atos no trânsito, principalmente quando colocamos em risco a segurança e a vida, nossa e das demais pessoas.

O atual Código de Trânsito Brasileiro, que entrou em vigor em janeiro de 1998, é muito mais rigoroso que o anterior, pois a nova lei prima pelo rigor na aplicação de punições. Se a gravidade da infração ultrapassar os limites da periculosidade[7] normal, o autor do fato responderá por crime culposo. Ademais, as violações individuais dos direitos das demais pessoas, como o de ter um trânsito seguro, estavam tomando proporções alarmantes, refletidas em índices estatísticos de acidentes e mortes no trânsito brasileiro. O que se percebe, infelizmente, é que é no trânsito que as pessoas descarregam suas frustrações e problemas pessoais.

O homem, procurando encurtar distâncias tem negligenciado os limites impostos pelos padrões estabelecidos pela legislação (de trânsito) e, ainda, demonstrado ser deseducado no trânsito, através do desrespeito, provocações, demonstrações de superioridade, agressividade e violência. Isto decorre da "particularidade de o se humano possuir vários tipos de comportamento, ou seja, maneira de agir adquirida na vida social, que o distingue das outras espécies animais." (MARTINS, 2007, p.18).

Entretanto, é necessário conhecer e obedecer às leis de trânsito, exercendo a cidadania e respeitando uns aos outros, o que se pode conseguir por meio da educação, pois conforme Ferreira (1995, p. 22):

O estado define a formação do cidadão como um dos fins da educação, atribuindo as instituições de ensino, públicas e privadas, o dever de dotar os jovens de condições básicas para o exercício consciente da cidadania. Ou seja, deixa a cargo dessas instituições a tarefa de transmitir conhecimentos aos jovens e desenvolver neles hábitos e atitudes, de forma a viabilizar a meta da cidadania.

Em nossa sociedade, o trânsito vem se tornando um ambiente de hostilidade, agressividade, que culmina no índice significativo de mortalidade, e as principais vítimas do trânsito são os jovens. No ano de 2000 de 15 a 29 anos representaram 32,7% das vítimas fatais. (ALDÈ, 2007).

O mais intrigante é que quase todos os jovens que estão morrendo no trânsito passaram pela escola nos últimos dez anos (ou ainda são estudantes), mas sua formação não incorporou noções de segurança, respeito e cuidados com a própria saúde e a do próximo.

Para Martins (2007, p.19), "é preciso humanizar a realidade do trânsito, corrigindo os erros com campanhas educativas bem conduzidas e direcionadas pelos diversos meios de comunicação, valendo-se de estratégias diversificadas." Mas, o que se percebe é que as iniciativas na área de educação para o trânsito ainda são limitadas, pontuais. As campanhas vinculadas à área, são veiculadas timidamente, com pouco impacto atingindo uma pequena parcela da população.

Educar para o trânsito é preservar a vida, evitar acidentes, exercer a cidadania, no qual respeito, cortesia, cooperação, solidariedade e responsabilidade constituem os eixos determinantes da transformação do comportamento do homem no trânsito.

Sabe-se que esta não é uma tarefa simples e fácil. Pois, para transformar uma sociedade, é importante a participação, conscientização e o desejo de cada criança, adolescente, adulto ou idoso. É necessário que os pais, professores, empresários e as próprias autoridades percebam que atitudes corretas no trânsito podem salvar vidas. Ademais, as mudanças passam pela perspectiva do querer, pela opção. Neste sentido Martins (2007, p.83) ressalta que:

É necessário conscientizar o cidadão que a reeducação, a se iniciar nos bancos escolares, já nas primeiras séries, não pode se limitar à situação escolar. Ela precisa mobilizar as crianças, os familiares, a comunidade, o estado e a nação, tanto em relação à educação dos pedestres quanto à dos condutores, dos policiais e dos advogados e juízes, para que a atuação de cada um seja sempre de forma positiva.

A partir disso, o que pode ser desenvolvido são atividades educativas de trânsito através de situações reais, significativas e contextualizadas, que ativam a capacidade do aluno, dando ao professor a oportunidade de perceber o quanto ele já sabe e o quanto aprendeu sobre o tema.

A temática Educação para o Trânsito pode ser trabalhada de forma interdisciplinar envolvendo todas as áreas do conhecimento, pois conforme Martins (2007, p.93):

Falar sobre trânsito é, antes de tudo, falar sobre caminhos abertos á locomoção humana, caminhos que conduzem as pessoas, que traçam histórias dos lugares, que interligam espaços e que transportam riquezas. Isso sugere que falar sobre trânsito é falar sobre a vida e o progresso.

O trânsito, porém, mostra-se cada vez mais complexo, apresentando novas e desafiantes problemáticas para aqueles que tem a tarefa de administrá-lo ou entendê-lo com o objetivo de propor soluções. Tarefa esta que se torna um desafio, conforme Martins (2006, p.54), "uma vez que, da mesma forma que a educação, o trânsito caminha da super-especialização para a busca da generalização." Para entender o trânsito, é necessário compreender fenômenos de ordem social, psicológica, educacional, e até mesmo política e econômica.

A pluralidade de questões que o trânsito envolve, como crescimento populacional, migração da população para os centros urbanos, comportamento social e individual, cidadania, ética, comunicação, ensino-aprendizagem, educação de crianças, jovens e adultos, entre outros, requer uma abordagem de forma interdisciplinar, na qual cada disciplina contribui com o conhecimento já produzido e se alia às outras para a produção de novos conhecimentos. E a partir do trabalho entre as diversas áreas do conhecimento, produzir-se-á propostas que atendam melhor aos anseios da população, que está cada vez mais preocupada com questões relacionadas ao trânsito, comprometendo a qualidade de vida.

Um dos meios de educar para o trânsito e para a vida, de forma a construir gerações de futuros condutores de veículos e pedestres mais concisos de sua cidadania e do valor do ser humano, é através da educação, que poderá iniciar nas escolas em níveis pré-escolar, fundamental e médio. No entanto, é necessário um trabalho coletivo, com a participação de toda a sociedade, em prol da construção de um trânsito mais seguro, humano e solidário.

3 A IMPORTÂNCIA EM TRABALHAR EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO NA ESCOLA

Uma das questões propostas referiu-se à importância de trabalhar a temática Educação para o Trânsito na escola. Neste sentido todos os professores participantes da pesquisa, afirmaram ser importante, pois é uma forma de conscientizar os alunos dos perigos que existem no trânsito, quando não são tomados cuidados necessários. Afirmou um dos sujeitos da pesquisa

Eu acho importante trabalhar a temática Educação para o Trânsito na escola para que a comunidade escolar (alunos, professores, pais...) estejam conscientes e alertas quanto aos perigos para a vida, se não houverem os cuidados necessários em relação ao trânsito.[8]

 

Outro professor ainda afirma que "é importante trabalhar esta temática na escola para conscientizar desde cedo as crianças, nossos futuros motoristas".

É indubitável que a conscientização das pessoas é de enorme importância; mas não basta, é preciso que além de conscientes sejam pessoas críticas e que atuem na sociedade como cidadãos que tenham clareza de seus direitos, como também, de seus deveres. Por isso, entendemos que a educação deva primar pela formação e construção de valores morais e éticos, no intuito de promover e valorizar a vida.

Conforme um dos professores, a importância está relacionada com a situação de que o ser humano está sempre em formação e afirmou: "porque é um lugar onde o conhecimento atinge uma época do ser humano em formação". E a escola é um espaço promissor para adquirir-se conhecimentos novos e que ao mesmo tempo nunca são prontos e acabados, isto é, estão sempre em constante transformações.

Outro argumento para que a referida temática seja trabalhada nas escolas, são os fortes laços que existem entre a escola e a comunidade em torno da escola. Um professor ressaltou que "todo conhecimento adquirido na escola, com certeza é repassado para os demais membros da família, como também aos vizinhos e, às vezes, levado ao conhecimento da comunidade a que pertence."

No entanto, alguns professores afirmaram que é importante trabalhar essa temática para que as crianças aprendam a parte mais normativa do trânsito, como sinais de trânsito, como usar a faixa de segurança. Nas palavras de um dos professores:

É importante, pois é através da orientação para a Educação para o Trânsito na Escola que o aluno aprende como deve se comportar na rua, na faixa de segurança, sinaleira, observar o que deve ser feito e o que não deve no trânsito (respeitar a sinalização).

É inegável a necessidade do cumprimento destas normas, mas é preciso formar o educando na perspectiva da cidadania, socializando valores de justiça, respeito e solidariedade.

Alguns professores argumentaram sobre a importância da referida temática como forma de salvarmos vidas, pois às vezes as falhas são como que uma arma fatal no trânsito. Questionado se é importante trabalhar Educação para o Trânsito nas escolas afirma: "sim, quanto mais conhecimento sobre o trânsito, as pessoas ficam conscientizadas de que é bom saber as regras, sinais, pois qualquer falha torna-se uma arma fatal."

Assim sendo, o trabalho da escola pode ser muito significativo, para que aconteçam o menos possível de falhas em nossa sociedade, ao promover juntamente a conscientização dos alunos, a informação sobre as leis e reforçando princípios e valores de convivência cidadã. Afirmou determinado professor:

Vivemos em uma sociedade em desenvolvimento e as pessoas devem estar conscientes e informadas da importância do trânsito e a necessidade de conhecer e respeitar as leis de trânsito para segurança de todos.

Outro, ainda revelou que:

Se trabalharmos desde a infância a respeito do trânsito e, principalmente, a vida, conseguiremos tornar o indivíduo mais consciente de suas responsabilidades, tanto agora, enquanto criança, quanto no futuro, quando este for adulto.

 

Desta forma, é de extrema importância a conscientização de todos para que o respeito, a honestidade, a dignidade, a solidariedade enfim, a vivência de valores éticos possam contribuir na superação de quadros de sinistralidade no trânsito.

4 O TRABALHO COM A EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO NA ESCOLA

Neste aspecto o que foi possível identificar é que nenhuma escola possui um trabalho contínuo e sistemático na efetivação da Educação para o Trânsito.

Alguns professores afirmaram que trabalham a temática Educação para o Trânsito com palestras, vídeos, jogos e textos, e aulas sobre leis e normas de trânsito. Nas palavras de um professor: "com palestras, vídeos, passeios, jornais e noticiários do dia-a-dia, através do diálogo na sala de aula."

Outros afirmaram que "cada professor trabalha em sala de aula o tema conforme o nível dos alunos" e, também, "conforme as necessidades individuais de cada turma." Neste sentido, observa-se que não existe um trabalho contínuo e sistemático nas escolas, o que é uma pena, pois estamos todos os dias envolvidos com o trânsito. Conforme um professor participante da pesquisa:

Procuramos trabalhar os cuidados que a criança deve ter no trânsito para prevenir acidentes, bem como o melhor comportamento dos motoristas, pois, assim, a criança poderá levar isso para seus pais e/ou adultos com os quais convive.

Contudo, foi constatado que existem algumas escolas que vão um pouco mais além e trabalham com as crianças através de projetos com outras instituições. Um dos professores afirmou que trabalha "através de projetos como, a Semana do Trânsito, juntamente com instituições municipais como SMEC, Brigada Militar." Apesar de não ser um projeto contínuo, fica evidente que, de certa forma, a escola procura trabalhar da melhor maneira possível, propondo atividades com outros órgãos e não trabalhando isoladamente. Outro professor ainda ressaltou que a escola trabalha, também,

através de projetos, professores do CAT geralmente trabalham integrando conteúdos iniciando com meios de transportes, cuidados no trânsito e sinalização. Algumas vezes (outrora) o comandante da Brigada Militar ou Corpo de Bombeiros vem à escola dar palestras e orientar os alunos.

No entanto o Detran (2007, p.03) ressalta que:

Não é mais aceitável que continuemos restringindo o trabalho com o tema trânsito apenas as regras de circulação e ao ensino da sinalização, quando temos ao nosso alcance uma infinidade de propostas que podem instrumentalizar uma mudança duradoura. A educação para o trânsito apresenta poucos resultados se for realizada somente durante a Semana Nacional de Trânsito ou ainda em decorrência de algum acidente nas proximidades da escola. O trânsito é um tema rico, com inúmeras possibilidades a serem exploradas, e pode contribuir para uma melhor compreensão do nosso cotidiano, nossos hábitos e atitudes, assim como estimular discussões de ordem sócio-política.

Os registros atestam que, no contexto escolar, está carecendo de programas sistemáticos, continuados e de políticas públicas eficazes em relação à operacionalização da educação para o trânsito no âmbito escolar.

5 PLANEJAMENTO OU AÇÕES INTEGRADAS COM ÓRGÃOS PÚBLICOSNA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO

A análise dos dados coletados comprovou a hipótese de que poucas escolas possuem algum planejamento ou ações integradas com órgãos públicos, no que diz respeito a educação para o trânsito. Dos quinze (15) questionários respondidos, onze (11) deles revelam que as escolas não possuem planejamento ou ações integradas com órgãos públicos.

Os demais, questionários revelam a existência de algum tipo de planejamento ou ações integradas com órgãos públicos, pois entre os quatro (4) restantes, três (3) deles revelam que as escolas são auxiliadas pela Brigada Militar. Afirmou um dos participantes: "através de palestras, filmes e aulas sobre sinais de trânsito, com o militar que ajuda e controla o trânsito na entrada e saída dos alunos".

Contudo, um dos sujeitos participantes revelou a existência de vínculo com órgãos públicos afirmando que "sempre que é possível vem o pessoal do DETRAN, das auto-escolas, a Brigada Militar, fazem palestras, passam vídeo, distribuem folderes, livrinhos com atividades que após são trabalhados em aula." Mesmo assim, nota-se que não é um trabalho contínuo e sistemático, pois acontecem em um período de tempo muito curto, provavelmente, na Semana do Trânsito.

A problemática do trânsito no contexto da sociedade atual, urge a sua discussão e conscientização pois, apresenta-se, inegavelmente, como forma de desqualificação da vida. Registra o Código de Trânsito Brasileiro, em seu parágrafo 2º, do artigo 1º:

O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito.

Porém, o que foi possível constatar é que existem poucas escolas que possuem ações integradas com órgãos públicos, que não há estrutura governamental para assegurar este direito e, muito menos, dispositivos de controle efetivos que permitam a existência de um trânsito em condições seguras, talvez isto ocorra pela limitação ao cumprimento da lei, nos diferentes contextos sociais.

No entanto, acredita-se que um dos principais recursos e/possibilidades para assegurar o direito a um trânsito seguro é a construção de um processo pedagógico de valorização da vida, que possibilite aos indivíduos e grupos, a consciência de seu agir, nas diferentes situações vividas nos espaços públicos.

6 ESTRATÉGIAS DIDÁTICOS METODOLÓGICAS ADOTADAS PELA ESCOLA NA EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO

No que diz respeito às estratégias didáticos metodológicas, a maioria das escolas trabalham com os alunos a partir de vídeos, palestras, livros, filmes e cartazes. Outros alegaram que não possuem estratégias para trabalhar com os alunos.

Um professor afirmou que trabalha com os alunos a partir de "livros didáticos, filmes, jornais, revistas e o grupo de professores, juntamente com a direção". Outro utiliza-se da observação (ruas, sinais de trânsito), diálogos com os alunos em sala de aula, como estratégias para trabalhar a temática Educação para o Trânsito. Porém, isto não basta, para tornarmos nossos alunos conscientes e críticos, afim de que atuem na sociedade de forma humana e responsável.

Conforme um dos sujeitos da pesquisa "são desenvolvidas aulas eventuais, no momento que trabalhamos meios de transportes, semana do trânsito". Mais uma vez ficaclaro de que não existe um trabalho contínuo e sistemático sobre a temática em questão, isto é, a educação para o trânsito.

É notório que a maioria das pessoas da sociedade tende a associar o termo trânsito à imagem do automóvel. Ou ainda, associá-lo às placas de sinalização, aos agentes de fiscalização, enfim, aos aspectos mais técnicos, legais e menos humanas. Acontece, também, de pensarmos nas tragédias, nas perdas resultantes do trânsito, diariamente noticiadas pelos veículos de comunicação.

Desta forma e, devido à dinâmica das relações pré-estabelecidas entre os participantes do trânsito em seus diferentes papéis, fica evidente que quem possui um veículo, ou está dentro de um, sente-se em maior vantagem, direito e poder. Reserva-se ao pedestre o espaço que sobrar, cabendo a ele, submeter-se a isso por ser o participante mais frágil nesta esfera. Conforme DETRAN (2007, p.01),

A redução do indivíduo frente ao grande destaque dado ao veículo pode causar conflitos. Contudo este não é o único fator capaz de produzir embates. As pessoas são diferentes, têm personalidades únicas e necessidades individuais, e as relações no espaço coletivo são reflexo desta diversidade. Se, o que sobressai neste ambiente são as relações de poder, o exercício de respeito ao outro fica prejudicado pois, na prática, o individual toma o lugar do coletivo.

Neste sentido, é preciso rever as abordagens reducionistas que relaciona a temática trânsito ao veículo condutor, tratando apenas de conteúdos técnicos, e buscar estabelecer relações com aspectos pedagógicos.

Segundo a Lei nº 9394/96, LDB, no seu artigo 1º:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

O contexto da atual realidade brasileira, com uma profunda divisão social e uma injusta distribuição de renda, tem dificultado o desenvolvimento de um processo democrático que oportunize a inclusão do homem numa sociedade na qual os valores de respeito, solidariedade, dignidade e honestidade estejam presentes. Tais dificuldades, porém, não podem se tornar elementos impeditivos de ações que oportunizem a formação de um homem consciente, crítico, com valores morais éticos, movido por atitudes, hábitos e habilidades que possam vir a transformar essa realidade.

Uma estratégia possível para tratar deste tema tão complexo, segundo o DETRAN (2007, p.02) seria o trabalho a partir do que a mídia produz e apresenta,

[...] A mídia, através de suas produções, diz muito a respeito de nós, do nosso tempo. As produções publicitárias, em formas de campanhas, muitas vezes entram em choque com as regras básicas da segurança e da cidadania no trânsito. Por isso a importância de trabalharmos com estes produtos, desconstruí-los e analisá-los.

Dentre os professores participantes, um deles ressaltou algo muito importante utilizado como estratégia para a efetivação da Educação para o Trânsito:

Procuramos partir das experiências trazidas pelas crianças para teorizar qual seria o comportamento adequado em cada situação. Além disso, realizamos observações (dirigidas) no centro da cidade e na frente da escola, bem como atividades lúdicas e de compreensão sobre os elementos trabalhados.

Enfim, cabe ao professor construir alternativas e estratégias que suprem as dificuldades e interesses dos educandos e da comunidade escolar, frente a realidade de cada escola. Porém, que visem a emancipação do cidadão, aquela que o faça pensar e se preocupar, buscando um sentido para sua existência e para a vida em sociedade e não a que, simplesmente, o torna passivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantas dificuldades encontradas, desde o início da pesquisa, seja por falta de material e, também, pela resistência de professores em responder o questionário, dificultando em muito a pesquisa de campo, pois não foram todas as escolas que participaram, algumas nem se quer quiseram ouvir os argumentos sobre a relevância da pesquisa e seus objetivos, concluímosisa e seus objetivos, concluo satisfatoriamente, não somente por termos alcançado os objetivos, mas pelo conhecimento produzido.

Em relação à Educação para o Trânsito na Educação Formal Escolar a investigação comprova que faltam estratégias permanentes nas escolas para a efetivação da Educação para o Trânsito. A temática é trabalhada de forma isolada, (focado principalmente nas normas), bem como durante um período muito curto, exemplo a Semana do Trânsito. Não existe um trabalho contínuo e sistemático.

Portanto, ao trazer para seu interior um tema com enorme relevância social, a escola não apenas estreitará seu vínculo com a comunidade, como também abrirá espaço para a qualificação da vida. Além disso, falar sobre o modo como locomovemo-nos pode estimular o debate a respeito da convivência social, das condutas sociais frente às diferenças, das formas de inclusão e exclusão construídas diariamente, enfim, pode tornar o ambiente escolar cada vez mais aberto ao trabalho com temáticas que mobilizem a sociedade.

Neste sentido, é relevante investir em projetos e ações educativas que levem as pessoas a buscar melhores condições de vida, mudando o seu comportamento no trânsito, mudança esta que significa salvarmos vidas e ajudarmos que tantos outros possam aproveitá-la sem limitações impostas pelo mau comportamento do cidadão.

A tarefa, portanto, é Educar para um trânsito mais civilizado e mais seguro. Como ressalta Martins (2007, p.106),

Tornar o trânsito mais humano requer motivação na perspectiva educativa que refletirá na motivação da escola, da família e de todo o espaço do trânsito, estendendo a interdisciplinaridade a muito além da alfabetização e do Ensino Fundamental e Médio, ou seja, na dimensão do ser humano de forma totalitária, atingindo-o no que ele tem de mais importante: cidadania, ética e respeito, que são elementos organizadores de uma instituição social.

Os dados coletados e analisados neste trabalho sustentam a necessidade de educar para o trânsito e para a vida, de modo a construir gerações de futuros condutores de veículos e pedestres mais conscientes de sua cidadania e do valor do ser humano, uma vez que as escolas, até o momento, não incluem em seu conteúdo de estudos o tema Educação para o Trânsito de modo contínuo e sistemático.

REFERÊNCIAS

ALDÉ, Lorenzo. TRÂNSITO: medida de segurança. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materia.asp?seq=135. Acessado em: 30/04/2007.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1993.

BRASIL, Lei nº 9.503, de 23 de Setembro de 1997. Código de Trânsito Brasileiro.

BRASIL, Lei nº 9.394, de 20 de Setembro de 1996. LDB.

DETRAN. Educação para o Trânsito na Escola: caminhos possíveis. Disponível em: http://www.vivamais.rs.gov.br/upload/artigo. Acessado em: 20/08/2007.

FERREIRE, Nilda Tevês. Cidadania: uma questão para a educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996.

FONTENELE, Sheila. Trânsito na Escola: uma questão de cidadania. Disponível em: http://www.amc.fortaleza.ce.gov.br/modules/dect/art_trans_escola.pdf.Acessado em: 1/11/2007.

MARTINS, João Pedro. A Educação de Trânsito: campanhas educativas nas escolas. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2007.

NISKIER, Arnaldo. Filosofia da Educação: uma visão crítica. São Paulo, SP: Loyola, 2001.

OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Filosofia da Educação: reflexões e debates. Petrópoilis, RJ: Vozes, 2006.

ROSSATO, Ricardo. Século XX: urbanização e cidadania. Santa Maria, RS: Palotti, 1996.

SOUZA, Sandra Esteves. Pequeno dicionário do estudante: língua portuguesa. Itapevi, SP: Fênix, 1998.

VASCONCELOS, Maria Lucia Marcondes Carvalho; BRITO, Regina Helena Pires de. Conceitos de Educação em Paulo Freire. São Paulo: Vozes, 2006.

ZACHARIAS, Maria Lúcia Câmara. Educação ao longo da Vida: uma necessidade. Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/edulovi:htm. Acessado em: 20/08/2007.



[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Campus de Erechim/RS. [email protected].

[2] Pedagoga formada pela URI Campus de Erechim/RS.

[3] Ensinar e aprender surge da necessidade de aprender o ato de ensinar. A dialética entre o aprender e o ensinar constitui um ciclo gnosiológico, que se dá pela prática e pela pesquisa, favorecendo a autonomia dos educandos. Exige rigorosidade metódica e a consciência de que o educador influencia o processo do conhecimento, acreditando na possibilidade d mudança. Só é possível ensinar a aprender através da prática cognoscente, por meio da qual os educandos vão se tornando sujeitos cada vez mais críticos e aprendendo a razão de ser do objeto que se estuda. (FREIRE, apund VASCONELOS; BRITO, 2006).

[4] Estudo das questões relativas à educação. Arte de educar as crianças.

[5] Ação ou efeito de transitar; passagem, trajeto; o movimento de pedestres e veículos que transitam nas cidades ou nas estradas.

[6] Andar, fazer caminho, passar, viajar, percorrer.

[7] Qualidade ou estado de perigoso.

[8] Todas as partes do texto que estão italicadas são falas dos sujeitos participantes da pesquisa, transcritas a partir dos Questionários Anônimos.