EDUCAÇÃO MUSICAL: TEM OU NÃO TEM?1

Francisco Higo Mendes2

RESUMO

Este trabalho aborda um estudo referente à pratica musical como elemento presente na história do homem, como instrumento de criação e expressão humana, atuando de inúmeras formas na vida do educando que estuda música, com foco no ensino da música na escola de ensino fundamental, discutindo sua atualização e realidade das atividades no ambiente escolar. Assim, esse estudo baseia-se numa pesquisa qualitativa, utilizando como instrumento de coleta de dados a observação e a aplicação de entrevistas. Fundamentamos o trabalho em autores como: BERNNET (1986), ARAÚJO & ILARI (2010), COTRIM (1976), DRUMMOND (2011), BRASIL (2011), dentre outros. Através dos instrumentos de pesquisa foi identificado que a música esta presente nas apresentações e festividades escolares, mas a mesmo não existe de fato no currículo das escolas estudadas, apesar de ser uma área de grande aceitação pelos educandos, podendo ser estrategicamente colocada junto aos demais conhecimentos, interagindo entre os mesmos.

Palavras-chaves: Educação musical. Música na escola. História da Música.

 INTRODUÇÃO

Este trabalho busca apresentar a utilização dos elementos ou componentes musicais na história do homem, fazendo parte formadora de sua cultura, como meio de comunicação, expondo concepções e sentimentos oriundos do interpretar de mundo do ser humano, de acordo com a subjetividade de cada um.

Expondo as mudanças artísticas no contexto histórico para constatar a riqueza das variações que refletem a visão e a forma de se expressar, sem esquecer de reconhecer as mudanças artísticas como enriquecedoras das artes, tão pouco jamais, olhando de forma a ranquear ou classificar como melhor ou pior, mais sim diferentes, abertas ao gosto de cada um.

Fazendo-se necessário reconhecer as potencialidades do ensino da música e sua utilização de forma impar para o ser humano, podendo ser a partir da vida uterina, abarcando portanto o estudante, logo podendo dar subsídios a caminhada escolar rumo ao saber e a educação com relevante interação de conhecimentos.

Expondo as colocações, propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais/Arte, que aborda inúmeras ideias do acesso à arte nas escolas de todo Brasil, delimitando o ensino entre outros materiais e autores citados durante o desenvolvimento do trabalho e portanto não esquecendo da legalidade da presença do ensino das artes na escola, pela Lei N. 12.287, de 13 de julho de 2010.

O presente artigo foi elaborado em uma abordagem qualitativa, seguindo as diretrizes de uma pesquisa de campo. Para a obtenção de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e observações (secreta e aberta), tendo como sujeitos das entrevistas: um estudante do 5º ano, um estudante do 6º ano, um estudante do 7º ano, um estudante do 8º ano, e um estudante do 9ºano, distribuídos em três escolas diferentes da rede pública do município de Groaíras-CE que são: Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Rosário, E.E.F. Noélia Ximenes Parente e E.E.F. Júlia Eliza Farias, com a utilização de gravador, computador, papel e caneta como recursos de pesquisa.

Este trabalho forma-se em três partes: a primeira, busca ver as mudanças ocorridas historicamente nos movimentos artísticos (principalmente na Europa), nas formas singulares de cada período, destacando os principais formadores e mudanças empregadas na musica. A segunda parte aborda as contribuições da arte dos sons perante o homem. A terceira, mostra a pesquisa nas escolas, buscando a realidade da música no contexto escolar, suas possíveis contribuições com as demais disciplinas e correlação a saberes.

 

  1. O HOMEM E A MÚSICA

Os componentes ou elementos musicais estão em todas as culturas, apresentando-se de forma maleável e flexível, variando segundo a interpretação de mundo do homem.

O homem apresenta-se historicamente como um ser em constante modulação, modificando não só a si mesmo, mas ao meio em que o cerca segundo sua necessidade, para isso o homem desenvolve inúmeras formas para sucumbir dificuldades e entre elas esta contida a arte dos sons como forma de comunicação e expressão.

Técnicos em linguística chegam a afirmar que o homem contou antes mesmo de falar. Observando uma criança nos seus primeiros anos de vida, vemos que consegue emitir uma series de sons acoplados que ela usa para se comunicar. Isto acontece antes de começar a ordenar foneticamente os sons para aprender a falar. (Corrêa. 1973. P. 84)

 

Além de uma ferramenta de comunicação, a música é um meio de transposição interna para externa, refletindo sentimentos e a cultura proveniente do ser humano de forma particular e relativa. Segundo Contrim (1975, p.9), “Os artistas procurando transmitir a beleza através dos sons, da imagem, do movimento e da palavra deram origem as artes”, como a literatura, escultura, pintura, dança, arquitetura e a música.

Na civilização Egípcia encontramos mostras esculpidas nas pirâmides de inúmeros instrumentos musicais: harpas, alaúdes, flautas, trompas e instrumentos de percussão. Na civilização babilônica e Assíria, inscrições em pedra e grandiosos monumentos que nos ligaram estas civilizações, com isso podemos ver a utilização da música de acordo com as informações deixadas por estes povos à centena de anos antes de Cristo.

Os gregos deixaram um legado interessante na história da música, pois consebiam-na como parte integrante da cultura e da educação do povo, com ritmo estreitamente relacionado com o da poesia, encontrando equilíbrio ideal inerente à natureza original de ambas as partes.

 

    1. MÚSICA MEDIEVAL

 

Entre os séculos V e XV estende-se o período medieval. “Foi à época dos senhores feudais, invasões bárbaras e do fanatismo religioso, que inspirou as famosas cruzadas”. (MASCARENHAS, 1978, P.70).

A música medieval consistia de início uma única melodia, destituída de harmonia, ou seja, de tessitura monofônica, mas com melodias com livre fluidez e suavidade, mantendo-se quase sempre dentro de uma oitava com intervalos de um tom, ritmo irregular e com alguns cantos de modo antifônico (alternação entre coros), com notação musical pouco precisa desenhada sobre as palavras contidas na melodia, e com poucas possibilidades de expressão musical. Seguindo este pensamento MASCARENHAS (1978, P.70) explica:

 

Nesse tempo de quase permanente convulsão bélica, as atividades musicais praticamente só conseguiam sobreviver nos castelos e em igrejas, conventos e mosteiros. Predominavam então a música sacra ou religiosa. [...] Entretanto, fora dos meios culturais, cantores populares chamados menestréis ou jograis, parabulavam pelas ruas e eram incentivados pelo povo.

A partir do século IX os compositores buscando refinamento e belezas nas suas músicas acrescentaram uma ou mais linhas de vozes, criando composições polifônicas. Entre os instrumentos medievais está o Galubé e tamboril, chamela, corneto, harpa saltério, carrilhão, entre outros.

 

    1. MÚSICA RENASCENTISTA

 

Entre 1450 a 1600 caracteriza-se na Europa ocidental o período da renascença, com a exploração do homem perante suas emoções, passando a observar e questionar, e não somente a aceitar tudo pelas aparências, “Exprimiu-se em música pela retomada (renascimento) da arte grega com modelo de uma arte nova, que fosse expressão do homem na totalidade dos seus impulsos e não somente de ordem religiosa”. (CORRÊA, 1973, P.92). Contribuindo para mudanças e novas inspirações aos artistas. Com tudo, as principais obras musicais foram compostas para a igreja, mas muitos compositores modularam seus trabalhos para as músicas profana (música popular, não religiosa) e peças instrumentais, abrindo novas concepções para instrumentos que tinham utilidade de acompanhar o coro e não de protagonizar um tema musical. Entre os instrumentos do renascimento está o sacabuxa ( antepassado do trombone de vara, já trabalhando cromaticamente) e o trompete ainda com poucas notas devido os pistos ou cilindros ainda não terem sido inventados.

A tessitura da música renascentista foi modificada comparando-se a medieval, com a utilização mais efetiva da harmonia, com destaque para utilização de acordes dissonantes preenchendo de forma vertical a melodia e o contraponto tecido de forma horizontal. Ampliando bastante as possibilidades de expressão musical.

 

    1. MÚSICA BARROCA

 

O nome ‘barroco’ significa pérola mal formada ou joia de formato distorcido ou irregular. Inicialmente, utilizada para caracterizar a utilização excessiva de enfeites ou ornamentos na arquitetura. Posteriormente, o nome foi empregado aos músicos que desenvolviam um estilo (melodia, harmonia, ritmo, timbre, forma e tessitura) diferente, e inovador, estendendo-se de 1600 até 1750.

Durante o século XVII o sistema de modos apresentou mudanças significativas devido os mesmos não atenderem mais as ideias dos compositores que criavam músicas acidentadas (bemolizadas, sustenizadas) ficando difícil encaixar sua música nos modos utilizados até então (dórico, frígio, lídio, mixolídio, eólio, jônio), consistindo de tônica á tônica ou I º a VIII º, todas naturais (sem alterações ascendentes e descendentes), quando trocada as escalas os intervalos também são alterados.

Para resolver desenvolveu o sistema tonal maior e menor encaixando-se nestes novos modos apenas dois dos anteriores: o jônico e o eólico (dó maior, La menor).

As primeiras óperas foram perdidas no tempo, restando muito pouco das mesmas, compostas de coro (não muito grande), tessitura de acordes simples executados por uma pequena orquestra de formação variante. “ A primeira ópera a nos chegar na integra foi Eurídice, composta por Peri e Caccini.” (BENNETT, 1986, P.36)

Claudio Monteverdi (1567-1643) deu vida e emoção dando dramatismo a ópera. Utilizando intervalos mais curtos (cromático), introduzindo novos timbres no instrumental com orquestras bem mais pomposa, pó volta de 40 instrumentos variados.

Pela primeira vez, a música instrumental passa a ser considerada tão importante quanto a vocal.

Foi durante o período barroco qual a orquestra começou a tomar forma. No princípio, o termo “orquestra” era usado para designar um conjunto, formado ao acaso, com quaisquer instrumentos disponíveis. Mas, à medida que avançava o século XVII, o aperfeiçoamento dos instrumentos de corda, em particular o violino, por esplêndidos artesãos, como a família Amati, Guarneri e Strandivari [...] (BENNETT, 1986, P.43).

A orquestra barroca apresenta grande variedade de timbres e dinâmica com mudanças acentuadas como quedas bruscas entre forte e piano (intenso e suave) e vice versa, melodias fluentes com muitos ornamentos (trinados, apogiatura, mordente etc.) com compositores como alemães Haendel (1678- 1741), Bach (1685-1750) e o Italiano Vivaldi (1678-1741).

 

    1. MÚSICA CLASSICA – DO CLASSICISMO AO ROMANTISMO

 

A palavra “clássico” vem do latim classicus, significando cidadão de classe, de muito valor, de muita importância. O termo em música refere-se às criações musicais, compostas entre 1750 e 1810.

O estilo clássico no início apresentava-se de forma leve e amável e elegante, buscando agradar o ouvinte.

No passar do tempo o estilo clássico foi aprimorando-se apresentando equilíbrio, beleza e expressividade com tessitura leve, menos enfeitada, mas sem deixar o contraponto, sendo basicamente homofônica (música com o mesmo ritmo em todas as vozes)

 Os classicistas pretendiam que sua música fosse linguagem para cantar a religião, o amor o trabalho, ou qualquer coisa. Buscavam dar-lhe pureza total, afim de que o mero ato de ouvi-la bastasse para dar prazer. (CORRÊA, 1973, P.94).

 A orquestra clássica esta em grande desenvolvimento dando continuidade que iniciará no barroco. Empregando instrumentos de sopro como trompa que possui um timbre de ligação entre os instrumentos da orquestra, dando unidade a tessitura no lugar do cravo muito utilizado no barroco.

Pela primeira vez na história as obras instrumentais passam a ter mais importância, se comparada com a cantada, apresentando maior variedade de dinâmicas como o crescendo e o sforzando.

Principais compositores: Carl Philip Emanuel Bach (1714-1788), Johann Christian Bach (1735-1782), Haydn (1732-1809), Mozart (1756-1791), Beethoven (1770-1827).

Logo após a virada do século (XVIII-XIX) Apareceu novas mudanças no estilo musical. Iniciando assim o período na história da musica chamado romantismo empregada primeiramente na pintura, literatura e mais tarde aos músicos e sua música. Apresentando e buscando a emoção, abadonando-se ao seus sentimentos, através de uma forma de expressão instável, móvel e variada.

A orquestra tocava melodias mais líricas, semelhante a canções, com harmonias ricas com utilização de acordes dissonantes. A tuba ganha oportunidade no naipe dos metais. Completando a família e já utilizando o sistema de válvulas dando maior estenção ao instrumentos. Sem esquecer também de um maior virtuosismo técnico principalmente dos violinistas e pianistas, atuando em uma rica variedade desde canções e peças pequenas ate gigantescas obras de longa duração.

 

    1. MÚSICA DO SÉCULO XX À CONTEMPORÂNEA

 

A música do século XX à contemporaneidade é constituída por inúmeras experiências, abrindo novos horizontes à tendências fascinantes e variadas.

Os períodos da música anteriormente apresentavam determinadas características que possibilitava sua identificação de forma clara entre boa parte dos compositores de cada época que utilizavam praticamente o mesmo estilo, no século XX em diante mostra-se com diferentes tendências e misturas complexas e inovadoras.

O alicerce ou elementos bases da música foram moldados seguindo novas inspirações e busca de novos timbres mais estranhos e intrigantes, sons praticamente desconhecidos, mas oriundos de instrumentos conhecidos, busca dos registros extremos dos instrumentos (agudos e graves), utilização de surdinas nos metais, efeitos sonoros com a própria mão na campana do instrumento¹, sons novos oriundos de aparelhos eletrônicos, melodias curtas podendo ser até totalmente inexistente, abrindo lugar para a improvisação, ritmos dinâmicos e sincopados ( a acentuação incidindo sobre os tempos fracos) uso de polirritimias (diferentes ritmos de forma simultânea).

Dentre as variadas tendências musicais podemos citar o impressionismo tendo como um dos principais nomes Claude Debussy (1862-1918), na França, na qual vemos refletidas as tendências musicais com a pintura impressionista buscando a “impressão” com maior ênfase do que a “expressão” utilizando uma grande liberdade rítmica, melodica e harmônica. Já o expressionismo busca a emoção de forma intensa e exagerada com compositores como ARNOLD SCHOENBERG (1874-1951), que na harmonia desprezou as fórmulas clássicas de constituição da mesma, quebrando paradigmas e sendo um dos nomes de outra tendência da música atonal que ausenta-se da relação de cada tom com a fundamental (tônica).

As experiências com a arte dos sons continuaram gerando tendências como a politonalidade que é a utilização de dois ou mais tons de forma simultânea na mesma peça e entre outras. A música eletrônica de origem alemã com primeiro estúdio de música instalado na rádio de colônia (Alemanha) em 1951 por HERBERT EIMERT, uma composição eletrônica inclui todos os sons registrados por microfones e por aparelhos eletrônicos podendo ser eletronicamente modificados com adaptação no volume, vibrato (ondeamento), ecos (repetição do mesmo son com intensidade decrecente ou crescente).

Podemos ver com o passar do tempo, o homem muda a forma de expressar o que sente. De acordo com sua visão singular e única do meio que o cerca, manifestando-se com relativas formas de expressão, proveniente de sua cultura e do “eu” particular, criando novas concepções culturais, a partir do seu interpretar do mundo.

Concebe-se as culturas em contínuo processo de elaboração, de construção e reconstrução. Certamente cada cultura tem suas raízes, mas estas são históricas e dinâmicas. Nãon fixam as pessoas em determinado padrão cultural engessado. (MOREIRA, 2010:22)

 As mudanças na história da música e na forma do homem expressar-se através dela vão continuar, pois os indivíduos mudam e a forma do homem conceber-se também é mutável. A arte dos sons como qualquer outra arte não é classificável (melhor, pior) ou ranqueada segundo sua superioridade sobre a outra, mas são formas únicas, aberta a subjetividade de gosto e afinidade de cada um, não existindo portanto período da música, muito menos músico melhor- pior, superior- inferior, e sim diferentes.

 2. A MÚSICA E A EDUCAÇÃO

 Podemos enxergar na atualidade que o talento musical não é inato, mas sim um processo de apropriação dos conhecimentos elementares de música, caracterizando um elo de ensino e aprendizagem, rompendo paradigmas referentes ao “dom musical”, abrindo as portas para a sistematização do conhecimento dinamizado pela liberdade de expressões e o mais importante a possibilidade de recriação e criação do novo.

Em muitas culturas a educação tem com finalidade preparar ou criar meios para o homem viver bem socialmente e consigo mesmo, e a música pode ser um dos meios utilizados para o alcance desta meta, atuando como ponte para a espontaneidade e criatividade que segundo ILARI & ARAÚJO:

 A criatividade desempenha um papel crucial na vida cultural e também no desenvolvimento individual e no bem estar do ser humano. Ela envolve prazer, que faz com que os indivíduos sejam perseverantes em suas criações, mesmo sobre condições de rejeição ou de dificuldade. (2010, pag.91).

A introdução do trabalho artístico musical é aconselhável em qualquer faixa etária, com as crianças pode desenvolver e estimular o pensamento e a linguagem, dando condições à descobertas de sons produzidos ou não pela mesma, possibilitando novas maneiras de se expressar e se comunicar com as pessoas, ampliando as formas de conceber o mundo, conhecendo e criando de forma simultânea pois a arte nos possibilita aprender de uma forma e transpor para fora de si outra segundo nossa interpretação ou simplesmente vontade.

 [...] A arte ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referencias a cada momento, ser flexível. [...] O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida. (BRASIL, 2001, p.21).

 As escolas de nível infantil utilizam canções e musicais consideradas de repertório infantil, praticamente em sua totalidade, pois reconhecem a eficácia desta metodologia devido grande retorno apresentado pelos educandos que se apropriam de conhecimentos do currículo praticamente brincando que segundo FERNANDES:

 As brincadeiras cantadas da infância são atividades extremamente ligadas a movimentos e representações. São músicas que aproximam pura e simplesmente pela livre vontade de brincar. [...] com a brincadeira cantada, as crianças vivenciam os elementos musicais de forma integrada [...] (2011, p.66).

 Antes mesmo do nascimento de uma criança, a partir do 2º mês de vida uterina, o bebê é capaz de ouvir sons oriundos do exterior do útero, competindo ao sentido auditivo, o primeiro contato com o mundo exterior.

As pesquisas mostram que o feto é capaz de reconhecer o timbre, distinguindo a voz de sua mãe entre outras vozes femininas que segundo DRUMMOND:

 É a voz da mãe que propicia ao feto substituir o caos sonoro da vida uterina (ruídos vicerais, batimentos cardíacos próprios e maternos, sons respiratórios da mãe) pela “melodia significante” que representa a

fala materna. (2011, p.1).

 

  1. EDUCAÇÃO MUSICAL: TER OU NÃO TER?

 

A necessidade de realizar esse trabalho surge da experiência em sala de aula, antes mesmo da aprovação em 23º lugar no vestibular deste curso que agora busco com este trabalho, mas um grande passo rumo a tão sonhada graduação.

Atuando como professor de música no município de Sobral-CE, durante dois anos, pude sentir as dificuldades de trabalhar este conhecimento, contudo nasceu grande vontade de amadurecer como professor buscando conhecimento, e o caminho escolhido foi o curso de pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.

Nossa pesquisa nasce da busca de saber como a educação musical está inserida no ambiente escolar do município de Groaíras-CE, procurando também entender como a prática musical poder vir a contribuir para a apropriação de conhecimentos formadores do currículo escolar e como suas práticas podem contribuir para o desenvolvimento dos educandos.

Utilizamos como instrumento de pesquisa a entrevista semi- estruturada e a observação, sendo que foram entrevistados um estudante do 5º ano, um estudante do 6º ano, um estudante do 7º ano, um estudantes do 8º ano, e um estudante do 9ºano, distribuídos em três escolas diferentes da rede pública do município de Groaíras-CE que são: Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Rosário, E.E.F. Noélia Ximenes Parente e E.E.F. Júlia Eliza Farias.

As observações nas escolas foram realizadas de forma aberta ( as pessoas sabem que são observadas), e secreta (as pessoas não sabem que são observadas), em outra, podendo assim enxergar as práticas ministradas nas escolas.

A escolha de um estudante do 5º ao 9º ano e de três escolas diferentes, manifesta a busca da realidade sobre a educação musical, não apenas de uma escola mas sim de todo o município, sendo que são responsáveis por abarcar estudantes tanto da sede municipal quanto de alguns distritos, não existindo outras escolas na sede municipal de ensino fundamental administrada pelo município.

O resultado das observações revelam uma participação efetiva de apresentações musicais feitas por educandos, durante a feira literária (evento anual de exposição de trabalhos e atividades desenvolvidas pela escola) e datas comemorativas, visando mostrar potencialidades dos alunos, dando mais brilho aos eventos, sendo de grande aceitação.

Porém, não foi vista nenhuma aula de música durante as observações em nenhuma das escolas, competindo as entrevistas buscar informações de como são montadas as apresentações dos estudantes que segundo o aluno (L) do 9º ano acontecem:

As apresentações são sem compromisso, não tem nenhum professor fazendo apresentações musicais e não tem aula de música na minha escola, a diretora ou professores falam de um determinado evento nas classes e buscam quem sabe tocar para participar. (ALUNO L)

 A informação obtida com o “aluno L” do 9º ano foi reveladora, mostrando que a música existe na escola porem a educação musical não é trabalhada na escola como conhecimentos formadores do ensino escolar, que segundo a Lei N.11.769, de 18 de agosto de 2008, altera a Lei N.9.394 de 20 de dezembro de 1996, Leis de diretrizes e bases da educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, que recebeu recentemente alterações pela Lei N.12.287, de 13 de julho de 2010, em seu Art.26. que fala no parágrafo 2º do ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Podemos constatar que não basta existir a lei regularizando o ensino musical no currículo escolar, se não existe material para o ensino, profissionais capacitados e ambiente compatível para o estudo instrumental, vocal, entre outros, localizando-se dentro da escola, possibilitando um ensino real.

Confirmando as informações obtidas anteriormente temos os depoimentos dos educandos (T) e (P) do 7º e 8º ano:

Na minha escola já teve apresentações de alunos cantando e tocando violão, mas não tem professor , nem aula de música. (ALUNO T).

Na minha escola não tem professor de música mas tem de dança, há poucos dias toquei o zabumba e as vezes toco o violão que é meu. (ALUNO P).

Durante as entrevistas surgiu uma pergunta bem conveniente: de onde vem os conhecimentos musicais dos estudantes que se apresentam nas escolas? Quatro dos cinco entrevistados falaram que era fora da escola (alunos do 6º, 7º, 8º e 9º ano), dois em projetos da secretaria de ação social (estudantes do 8º e 9º ano) de Groaíras (projeto crescendo e aprendendo com arte flauta doce), dois por meio de aulas particulares e um dos entrevistados não sabia. Quando perguntados se gostariam que em sua escola tivesse aula de música 100% disseram que sim, destacando que achava bonito (estudante do 5º ano), que certamente seria aproveitados muitos talentos ( aluno do 6º ano), por que tocar é muito bom ( estudantes do 7º, 8º e 9º ano).

Quando perguntados se o estudo da música tem relação com disciplinas ministradas na escola ou se contribuiria de alguma forma para o entendimento das mesmas, Todos falaram que sim, mas foram três dos cinco que mostraram relação de forma clara e objetiva citando a matemática, história e português, como na divisão musical referindo-se a leitura musical, relacionando com a matemática como cita o educando (L) do 9º ano:

- A música é a matemática que é feita no instrumento! (ALUNO L).

 Conseguindo também este elo dos conhecimentos o estudante (P) do 8º ano:

- Biografia de compositores, instrumentistas, é história como a da escola. (ALUNO P).

 Podemos constatar uma rica ligação dos conhecimentos feitos pelos entrevistados que estudam música, tendendo a fortificar os saberes apropriados, não isolando os mesmos, mas tecendo uma teia de informações que podem interagir entre si, sendo reconhecida no P.C.N./Arte que diz:

Esta área também favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo, por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente, sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático. (BRASIL, 2001, p.19).

Analisando os dados coletados, podemos constatar no 1º capítulo, como a arte dos sons está inserida na história, participando efetivamente do interpretar humano, podendo sem dúvida contribuir, como podemos ver no 2º capitulo no desenvolvimento do homem, mas obviamente se reconhecida sendo colocada de forma correta, presente no currículo e ainda mais importante nas práticas ministradas na escola.

Infelizmente podemos comprovar mediante as observações e relatos obtidos por entrevistas que a aula de música praticamente não existe nas escolas, oriundas da localidade estudada, não deixando para trás que todos os entrevistados gostariam de aprender música na escola, resaltando também que três dos cinco entrevistados, conseguem fazer facilmente ligações entre conhecimentos musicais e disciplinas ministradas na escola como matemática, história e português.

Certamente a não existência do ensino da música na escola, não se trata de um caso isolado, mas sim transparece uma realidade vivida em muitos outros municípios. Existe uma participação bem rotineira de apresentações musicais de alunos durante eventos escolares, comprovando que a música é interessante aos olhos dos educandos e profissionais da educação, que não conseguem trabalhar em cima de uma área tão rica, devido uma aparente falta de aprofundamento na mesma, somada com a preferência curricular que aborda em peso outros conhecimentos tidos, mas convenientes ou importantes, certamente para muitos não mais tão prazeroso que a música.

O ensino da música tem um longo caminho a percorrer para então ser realmente aproveitado nas escolas, apesar de nosso país possuir grande reconhecimento referente nossa música, que se destaca com grande expressividade, musicalidade, criatividade, entre outras particularidades que só a nossa música tem e que infelizmente, tamanha riqueza não é aproveitada em muitas escolas do nosso Brasil.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos certamente finalizar com um entender mais aprofundado referente à música na escola, vendo que esta área ainda tem grande percurso até fazer parte da vida dos estudantes de forma real e que certamente quando chegar será de grande ajuda na formação dos educandos.

Dentro deste artigo está contido um pedaço da história da música, que é certamente muito pouco perante a riqueza da arte dos sons, mas que mostra como a música está presente na vida do homem há muito tempo. Presente, temos também colocações de como a música pode contribuir de forma impar na vida do estudante, dando subsídios para o desenvolvimento intelectual desde a vida uterina.

Através dos instrumentos de pesquisa foi identificado que a música esta presente nas apresentações e festividades escolares, mas a mesmo não existe de fato no currículo das escolas estudadas, apesar de ser uma área de grande aceitação pelos educandos, podendo ser estrategicamente colocada junto aos demais conhecimentos, interagindo entre os mesmos.

Apesar de a música ser um elemento tão rico, ainda hoje não é reconhecida, sendo subestimada ou até mesmo descartada pelo currículo que perde certamente a atratividade que a música possibilita, não podendo esquecermos das suas contribuições para os estudantes como forma de expressar-se, que é única, e instrumento pedagógico de grande valia.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, Sergio Ricardo. Ouvinte consciente: Arte musical. 2ª Ed. Guarulhos: Editora do Brasil S.A., 1973.

COTRIM, Gilberto Vieira. TDEM: trabalho dirigido de educação musical. 5. ed.São Paulo: Saraiva, 1976.

ILARI, Beatriz Senoi; ARAÚJO, Rosane Cardoso. : Mentes em música. Curitiba: UFPR, 2010.

FERNANDES, Iveta Maria Borges Ávila. Brincando e aprendendo: Um novo olhar para o ensino de música. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.

MASCARENHAS, Mário. Minha doce flauta doce. Vol 3. São Paulo: Irmãos Vitale S/A, 1978.

BENNETT, Roy. Uma breve história da música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

MOREIRA, Antônio Flávio; Candau, Vera Maria. Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pedagógicas. 4º. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DA ARTE, 1º a 4º série. Vol.6. Brasília, 2001.

RIBEIRO, Loudes; PINTO, Gerusa. As atividades psicopedagogicas no currículo da pré-escola e ensino fundamental, 1º a 4º série. 3. Ed. Vol. 2. Belo Horizonte- MG: FAPI LTDA, [20-?].