RESUMO

Este artigo buscou refletir, por meio de observações aplicadas, baseadas nos pressupostos teóricos da Educação Matemática Crítica, como o processo de ensino/aprendizagem da Matemática contribui para a construção de um conhecimento que desenvolva um pensamento crítico e autônomo nos estudantes. Esta tendência da Educação Matemática sugere que o conhecimento matemático deve ser construído de modo democrático, voltado para o exercício da cidadania e argumenta sobre o papel colaborativo da Educação Matemática Crítica no processo de integração do cidadão numa sociedade dotada de atitudes funcionais. Na perspectiva da educação como sendo um ato político e a Matemática estando inserida nessa dimensão política, compreende-se que uma aprendizagem por excelência se dá a partir do momento em que há uma preparação por parte do sujeito com o domínio de um conteúdo relacionado ao mundo atual. Assim sendo, na democracia da construção do conhecimento matemático voltado para uma formação plena e existencial do cidadão, é fundamental que o estudante saiba contextualizar o maior número de instrumentos e técnicas intelectuais possíveis, modelando as situações-problemas adequadamente numa situação real, técnicas estas que são influenciadas pelos processos de construção dos modelos matemáticos. Os resultados obtidos pelos procedimentos metodológicos corresponderam às expectativas reflexivas que objetivaram a esta pesquisa. Através deles foi constatado que a Educação Matemática Crítica contribui para o processo de formação cidadã, mas que, no entanto, é necessário que os professores se atentem para a didática aplicada em sala a fim de fazer com que seus estudantes permaneçam atentos do início até o final da aula.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo científico, cujo tema é Educação Matemática Crítica - Desenvolvendo Competências para a Vida, será apresentado como TCC do curso de Matemática à Universidade Estácio de Sá.
Pensar na construção do conhecimento a partir dos processos de construção de modelos matemáticos concebe que o ensino da matemática e que a própria Matemática esteja relacionada ao mundo real com aplicações em situações do cotidiano não como algo abstrato e sem utilidade, mas de forma dinâmica, atrativa e criativa de modo que seja desenvolvido nos estudantes o pensamento crítico, a confiança em seu potencial de raciocínio lógico e o hábito de utilizar as suas competências com autonomia.
Diante disso, levantou-se o seguinte questionamento: Como o processo de ensino/aprendizagem da Matemática pode permitir uma construção de conhecimento e contribuir para a formação do estudante como um ser social analítico e crítico da sua própria realidade? A Educação Matemática Crítica, uma das tendências da Educação Matemática, se preocupa com esse posicionamento crítico e formação democrática e cidadã dos estudantes.
O tema em questão objetivou esta pesquisa a observar, por meio do estágio supervisionado II em Matemática, realizado na Escola Conselheiro Samuel Mac Dowell, localizada no município de Camaragibe / Pernambuco, executado pela autoria deste artigo, como os estudantes que cursaram os seus estudos na modalidade EJA Módulo II, naquele período e atualmente EJA Módulo III, turmas únicas (segundo e terceiro ano do Ensino Médio, respectivamente) apreendem o conhecimento matemático e de que forma eles aplicam este conhecimento em seu cotidiano.
Ainda nesta pesquisa há a reflexão sobre as muitas dificuldades que os professores enfrentam ao transmitir o conteúdo, bem como as formas de chamar a atenção e de fazer com que os seus estudantes permaneçam atentos do início até o final da aula. Mas esta consideração foi analisada apenas durante o período do estágio supervisionado, pois a pesquisa de campo se restringiu ao foco da investigação sobre o estudar Matemática contribuir para a formação crítica e autônoma do cidadão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Percebe-se que um dos grandes desafios da Educação Matemática Crítica é desenvolver nos estudantes do ensino básico competências direcionadas a uma formação para cidadania, de forma tal que rompa com as amarras da exclusão social e os conduza à "construção do conhecimento de forma crítica, consciente, estimulando a autonomia, a reflexão, a discussão, o raciocínio" (Boeri e Vione, 2009, p. 13).
Para D'Ambrósio (1996, p. 26), Naturalmente, em todas as culturas e em todos os tempos, o conhecimento, que é gerado pela necessidade de uma resposta a situações e problemas distintos, está subordinado a um contexto natural, social e cultural.
É nesse contexto natural, social e cultural que a Educação Matemática Crítica questiona o seu papel de colaboração no processo de integração do cidadão numa sociedade dotada de atitudes funcionais categoricamente estruturada em poderes tecnologicamente dominantes, por exemplo.
Conforme o autor Skovsmose (2001, p. 72 apud ROUSSEAU, 1968, p. 110),
"(...) O soberano pode colocar o governo nas mãos de todo o povo, ou de uma grande parte do povo, de modo que haja mais cidadãos-magistrados que cidadãos comuns privados. Essa forma de governo é conhecida como democracia".
Na democracia da construção do conhecimento matemático voltado para uma formação plena e existencial do cidadão, é fundamental que o sujeito busque e encontre na Educação Matemática Crítica o potencial suporte para o processamento das informações e para a aplicabilidade de um modelo matemático simples ou complexo, gerenciando tais competências também nas reflexões sociais, econômicas e políticas.
Nessa perspectiva, para Ubiratan D'Ambrósio (1996), educação é um ato político que quando voltada para a cidadania, é fundamental que haja uma preparação do sujeito com o domínio de um conteúdo relacionado com o mundo atual.
Neste sentido, a Matemática está inserida numa dimensão política e depende do contexto cultural. O autor D'Ambrósio (1996) ainda esclarece que a aprendizagem por excelência, isto é, a capacidade de explicar, de apreender e compreender, de enfrentar, criticamente, situações novas é saber contextualizar o maior número de instrumentos e técnicas intelectuais, modelando as situações-problemas adequadamente numa situação real, para com esses instrumentos, chegar a uma possível solução ou curso de ação.
Para tanto, é necessário que o estudante consista em ser capaz de indagar, perguntar, analisar, compreender, pesquisar, buscar novas alternativas, experimentar, dialogar, enfim, ter uma atitude científica perante a realidade e perante as diversas situações.
De fato, para Skovsmose (2001), devemos ser capazes de entender as funções de aplicações da Matemática, por exemplo, devemos entender como decisões (econômicas, políticas, etc.) são influenciadas pelos processos de construção de modelos matemáticos.
As observações às aulas ministradas na Escola Conselheiro Samuel Mac Dowell, entre os meses de setembro e novembro de 2015, durante a realização do estágio supervisionado II em Matemática, incitou a reflexão sobre como se dá o processo de construção do conhecimento matemático a fim de poder compreender as influências da Educação Matemática Crítica na formação do cidadão para a vida fora do contexto escolar. A mesma, sendo norteada pelos referenciais teóricos que embasaram o enredo desta pesquisa, levou em consideração que o processo de ensinar e aprender também deve ser democrático, com o professor conduzindo os seus estudantes por um aprendizado para a vida.
A prerrogativa apresentada pela execução do estágio supervisionado II, em Matemática na modalidade EJA, embora um tanto quanto complexa, deu condições de compatibilizar as observações das práticas e experiências docentes vivenciadas em sala de aula com as investigações das necessidades de se refletir sobre o processo de ensino/aprendizagem dessa disciplina, voltados para uma formação integral do sujeito, desenvolvendo nele um pensamento autônomo e crítico através da aplicação dos conhecimentos e modelagem matemática, envolvida nas diversas situações-problemas que fazem parte da realidade desses estudantes.
Na perspectiva de uma educação matemática voltada para o senso crítico e habilidoso do estudante e também num sentido de desenvolver competências matemáticas para o exercício da cidadania e da democracia do educando, Paulo Freire (1996, p. 17) questiona:
Por que não estabelecer uma necessária "intimidade" entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm com o indivíduo? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? Skovsmose (2001) especifica que "um processo educacional envolve pessoas (estudantes e professores), mas naturalmente também um assunto (o currículo) " e que um dos pontos - chave da Educação Crítica "relaciona-se fora do processo educacional", que por sua vez "está relacionado a problemas existentes fora do universo educacional", os quais podem ser selecionados por "vários critérios", sendo dois "fundamentais": "o subjetivo" e "o objetivo".
O estudo deste artigo se delineou em pesquisas bibliográficas e de campo, de cunho qualitativo e exploratório, estimulando aos estudantes a refletirem sobre o tema em questão e procedendo com a aplicação de um questionário embasado nos dois "critérios fundamentais" selecionados por Skovsmose.
A metodologia aplicada na execução da pesquisa de campo foi desenvolvida pelo método indutivo e realizada em duas etapas: a fase de observação, compreendida entre os meses de setembro e novembro de 2015 através do estágio supervisionado II em Matemática com a turma da EJA Módulo II e a de constituição do objeto de análise, concebida pela aplicação de um questionário impresso, realizado no mês de maio de 2016 com a mesma turma, atualmente em curso na EJA Módulo III.
A principal dificuldade do método desenvolvimento deste trabalho foi de relacionar as informações do relatório do estágio supervisionado à aplicação teórica da pesquisa qualitativa e exploratória adequadas ao projeto do artigo científico, pelo fato de os objetivos e dos critérios na busca pelas informações para a confecção e da execução de cada um desses trabalhos não serem os mesmos, pois enquanto um visa relatar as experiências e práticas docentes em sala de aula, o outro pretende refletir como a Educação Matemática Crítica contribui para a formação cidadã dos estudantes por meio do aprendizado na disciplina de Matemática.

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