Por muito tempo a Educação Infantil foi comumente entendida e praticada com caráter assistencialista. As crianças iam às creches e parquinhos infantis para receber alimentação, cuidados e brincar. Embora pareça que a qualidade das práticas pedagógicas aplicadas a esta faixa etária tenha melhorado ao longo das décadas é necessária uma reflexão mais aprofundada.

A partir de 96 com a LDB, a Educação Infantil passa a fazer parte da Educação Básica constituindo-se como sua primeira etapa.

Apesar de ter sido valorizada com essa lei, passando a ser considerada como parte integrante da Educação Básica, existem algumas questões que precisam ser discutidas.

Estudos apontam que muitas práticas pedagógicas aplicadas nas creches e parquinhos infantis de antigamente eram adequadas e atravessaram o tempo, sendo utilizadas atualmente. O brincar era priorizado, ainda que não houvessem muitas contribuições da neurociência apontando sua importância e nem as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2009 indicando dois eixos para a Educação Infantil: as interações e as brincadeiras.

Hoje, sabe-se muito a respeito do desenvolvimento infantil e da importância do brincar, do movimento, das interações e da música neste processo, bem como do papel da escola, muitas vezes, como único provedor destas experiências no cotidiano das crianças pois já não se vê as ruas cheias delas jogando bola, soltando pipa, correndo, saltando como antigamente. O movimento e as interações estão limitados ao pouco espaço das casas e apartamentos e às telas de celulares, televisores e computadores.

Isso torna o papel da escola de Educação Infantil FUNDAMENTAL para o desenvolvimento das habilidades necessárias na primeira infância, mas, infelizmente, práticas pedagógicas equivocadas que antecipam os conteúdos do Ensino Fundamental, principalmente com a sistematização da alfabetização, acontecem com frequência.

Talvez por interpretações equivocadas da Lei, ou por uma ansiedade por parte das famílias, a Educação Infantil, algumas vezes, não prioriza o que de fato, deveria.

No momento em que a criança é privada da possibilidade de desenvolver suas habilidades corporais, emocionais e cognitivas, pulando etapas, este desenvolvimento é prejudicado, muitas vezes, de modo irremediável. Já, quando este direito é garantido, a aquisição e o domínio da leitura e da escrita acontecem de forma tranquila na idade adequada.

Outra reflexão que se deve fazer é em relação às crianças de seis anos no Ensino Fundamental pois elas foram muito prejudicadas. Não há adequação curricular e de espaços para que sejam recebidas como deveriam. Na maioria das vezes são consideradas crianças de sete anos, como se fosse possível antecipar o desenvolvimento infantil em um ano.

Todas estas questões demonstram o quão FUNDAMENTAL é a etapa da Educação Infantil e o quanto deve ser conduzida com comprometimento e responsabilidade.

Nerli de Lourdes Cesarino Vieira- [email protected]