Desde o começo da década de 90 as discussões na área da educação passaram a acentuar a necessidade de um olhar prospectivo em relação à educação escolar inclusiva. Uma efervescência contagiou, e ainda contagia, diferentes estudiosos, pesquisadores, associações e sistemas de ensino chacoalhando as políticas públicas instituídas e instituindo movimentos que poderiam (e podem) configurar outras políticas e práticas. Nesse cenário a educação especial, como modalidade da educação, e a escola, de modo geral, ganham destaques e se apresentam. São convidadas para revisitar seus conceitos, constructos teóricos e suas práticas pedagógicas.
As ideias inclusivistas, que ganharam força principalmente a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, que defendem a inclusão como possibilidade fundamental para a escolarização das pessoas com necessidades educacionais especiais, consideram importante focar na reorganização dos sistemas de ensino e na cultura organizativa escolar. No princípio inclusivo a escola é que precisa se adaptar para responder, educativamente, às necessidades de seus alunos, indistintamente.
Compreender a natureza e o funcionamento da escola, nessa ótica, se faz necessário. Além disso, com a perspectiva inclusiva, é chegado o momento de instaurar uma outra lógica. Em "A crítica da razão indolente" (2000), Boaventura de Souza Santos sugere que o antigo conhecimento, como um guia fraco, precisa ser substituído por um novo conhecimento, demandando com isso uma "ciência da turbulência, sensível às novas exigências intelectuais e políticas de utopias mais eficazes e realistas do que aquelas pelas quais vivemos no passado recente" (SANTOS, 2000, p.186). Eis o convite, e desafio, da educação inclusiva.
No encalço desta outra racionalidade, o pensamento complexo de Edgar Morin se revela. Morin nasceu em Paris, em 1921. Pesquisador emérito do CNRS é formado em História, Geografia e Direito. Migrou para a Filosofia, a Sociologia e a Epistemologia, depois de ter participado da Resistência ao nazismo, na França ocupada, durante a Segunda Guerra Mundial.
Na cena inclusiva, a escola precisa desconstruir uma cultura mecanicista e determinista, homogênea e cartesiana. Historicamente, a educação especial se sustentou em uma concepção de educação classificatória. Marcada pelo modelo médico e clínico se distanciava, efetivamente, das questões da educação e da escolarização das pessoas (alunos) com deficiências fortalecendo uma concepção binária. A complexidade, contrariamente, "[...] propõe a superação das dicotomias conhecimento/conhecedor, corpo/alma, razão/emoção" (TESCAROLO, 2004, p.22).
A palavra complexidade, à primeira vista, sugere confusão e mesmo alguma dificuldade para definir, nomear e ordenar. Entretanto, como afirma Morin (2007, p.06) "a complexidade é uma palavra-problema e não uma palavra-solução".
Afinal, o que é complexidade? A complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e múltiplo. É efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem nosso mundo fenomênico. Quando se trata de inclusão esta é a lógica: a diferença e a diversidade, como constituintes do mesmo organismo, do mesmo sistema, a escola e a educação.
Na ciência a complexidade surgira sem dizer seu nome, no século XIX. Ela compreende incertezas, indeterminações e fenômenos aleatórios. Essa é a tríade que sugere o desafio de educar na inclusão. Assume a incerteza no seio de sistemas ricamente organizados. Nesse aspecto a escola, como organismo vivo, pode ser compreendida como sistema aberto. Um sistema aberto é aquele que, permanentemente, estabelece trocas com o seu meio, que se mostra de modo interdependente.
A complexidade pressupõe a superação da visão simplificadora e reducionista e passa a se referir a uma realidade muito mais ambígua e ambivalente. Ela contribui para mudar as perspectivas epistemológicas do sujeito ao observar que é impossível conceber o fenômeno utilizando um modelo simples aplicado generalizadamente.
A contribuição do pensamento complexo encontra terreno fértil na escola, e na educação, que se pretende inclusiva. Ao eleger a complexidade como paradigma, a intersubjetividade e a instabilidade como características epistêmicas também são absorvidas. Assim, professores, pais, alunos, especialistas, pesquisadores constituem uma rede de apoio que amplia e fortalece as práticas inclusivas. Reconhecê-la possibilita repensar e reconstruir os modelos, de escola e de educação, e propor outras lógicas para além daquelas marcadas pelo ideário hegemônico. Como responder ao desafio, cotidiano, da inclusão? Tecendo juntos!

Referências:
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2007.
SANTOS, B.S. A crítica da razão indolente - contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum.Vol. 1. São Paulo: Cortez, 2000.
TESCAROLO, R. A escola como sistema complexo: a ação, o poder e o sagrado.São Paulo: Escrituras Editora, 2004.