EDUCAÇÃO FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: COMPONENTES
PROF. MS. ALFREDO CESAR ANTUNES

         Hoje, o sedentarismo da vida moderna, aliado ao conhecimento existente que relaciona a atividade física a melhoria da qualidade de vida e da saúde e o culto ao corpo impôs a homens e mulheres, a necessidade de exercitarem-se. É cada vez mais comum ver-se pessoas andando, correndo, pedalando, ou freqüentando academias de ginástica e musculação. Segundo Ghiraldelli (1988) o fenômeno da proliferação das academias de ginástica, ainda se nutre, mesmo que minimamente, nos preceitos da concepção higienista, onde existe uma real possibilidade de aquisição de saúde e beleza através da Educação Física.

                   As academias de ginástica e musculação tornaram-se locais alternativos à prática de atividade física, porque conseguem um envolvimento com as pessoas e se propõem a oferecer uma atividade física orientada, segura, sistematizada e eficiente, em um ambiente agradável, confortável, seguro e, acima de tudo, saudável.

                   Além disso, atualmente, é consenso entre os próprios profissionais de Educação Física que eles devem incentivar a prática de atividade física no sentido de movimento corporal que resulta em um aumento do gasto energético em repouso (Bouchard et al., 1993) com o objetivo de melhoria da aptidão física. A aptidão física é entendida como a capacidade de realizar trabalho muscular satisfatoriamente com vigor e energia, e também por uma demonstração de traços e capacidades que são associados com um baixo risco de desenvolvimento de doenças hipocinéticas (Pate apud Bouchard et al., 1993).

                   A aptidão física inclui funções morfológica (altura, composição corporal e distribuição de gordura, flexibilidade e densidade óssea), muscular (força, resistência e potência), cardiorespiratória (transporte de oxigênio, função do coração e pulmões e pressão arterial), habilidades motoras (equilíbrio, agilidade, coordenação e velocidade), e regulação metabólica (tolerância à glicose, metabolismo de lipídios e lipoproteínas e seleção de substrato metabólico) (Shepard, 1995).

                   Começa a existir a percepção de que a prevenção de doenças é melhor, mais lucrativo e econômico do que sua cura. Nesse contexto a atividade física tem um  papel fundamental, fazendo com que aumente a demanda de educadores físicos no setor privado da economia, (especialmente nas academias de ginástica e musculação) pois eles ajudam as pessoas a obterem e manterem a saúde e a boa forma. Esta função de promover estilos de vida saudáveis deve ser o principal foco de atenção da Educação Física no futuro (Sage, 1987; Ellis; 1988; Davis, 1996).

                   Existem inúmeras evidências científicas acumuladas que mostram a importância da área da Educação Física para a saúde e qualidade de vida da população. Há um crescente reconhecimento, não somente entre os educadores físicos, mas também entre as comunidades médicas e científicas (American Heart Association, American College of  Sports Medicine) que a atividade física influencia muitos aspectos da saúde e qualidade de vida da população (Pate apud Bouchard et al.,1993).

                   Em 1992 foi realizado uma conferência no Canadá, onde um grupo de aproximadamente cem especialistas reuniu-se para estudar e estabelecer as relações entre atividade física, aptidão e saúde (Shephard, 1995). Nessa conferência examinou-se os efeitos biológicos do exercício sobre os vários sistemas do corpo e os estados de doenças que são influenciadas favoravelmente pela atividade física regular. Segundo Shephard, foi verificado, nessa conferência, fortes evidências dos benefícios da atividade física regular para várias doenças. Nesta conferência, ainda, saúde foi definida como uma condição humana com dimensões sociais e psicológicas, além das físicas, caracterizada com um polo positivo de um lado (desfrutar a vida e resistir a desafios e não apenas a ausência de doenças) e negativo de outro (morbidez e mortalidade).

                   A Educação Física tem um papel fundamental na saúde e qualidade de vida da população, porém, são elementos muito complexos e possuem muitas variáveis e implicações, que vão além das dimensões biológicas. Por exemplo, a prática de atividade física regular pela população, depende de contingências econômicas como a infra-estrutura que apoie e promova a participação, o acesso que as pessoas têm às infra-estruturas e os comportamentos que são incompatíveis com uma vida fisicamente ativa (Corbin, 1993). Outros fatores são a hereditariedade,  estilo de vida (cigarro, dieta, bebidas alcoólicas), ambiente social (fatores sócio-cultural, político e  econômico) e ambiente físico (temperatura do ar, umidade, pressão barométrica, poluição atmosférica) (Shepard, 1995).

                   Segundo Novaes (in: Votre, 1996) o conceito de saúde deve abranger fatores genéticos, culturais, econômicos, sociais e ecológicos além das doenças e quando associados a qualidade de vida deve respeitar os objetivos individuais.

                   Mcneill (in: Massengale, 1987) também inclui várias dimensões nos programas de saúde e bem-estar (welness). Segundo o autor esses programas ultrapassam os objetivos fisiológicos de maior captação de oxigênio, aumento do tônus muscular, equilíbrio da homeostase, redução de tensão nervosa e muscular, etc e inclui outras dimensões. Entre elas estão a mental (intelectual) como por exemplo esclarecer valores pessoais, capacidade de lutar contra o stress em diversas situações, capacidade para alterar a consciência para promover saúde mental através de biofeedback ou meditação, capacidade de administrar o tempo. A dimensão social expressa a capacidade de resolver conflitos construtivamente, comunicar-se melhor e com confiança, ajudar as pessoas. O autor, também, inclui a dimensão espiritual (metafísico) como, por exemplo, capacidade de controlar a consciência em situações extremas de medo e êxtase, capacidade de encontrar paz, sentido, um modo de vida e capacidade para inspiração.

                   Além disso, os educadores físicos devem ter em mente que a prática de atividades físicas deve ser planejada de acordo com o objetivo desejado. Esses objetivos podem estar relacionados com o desenvolvimento da aptidão física, estética, saúde, lazer, esportes, educação, reabilitação, etc. Dessa forma, o simples fato de estar praticando uma determinada atividade física não garante a obtenção ou melhoria da saúde, para isso deve haver um planejamento específico que contemple os aspectos da aptidão física relacionados a este objetivo.

                   Segundo Guedes & Guedes (1995) o conceito de aptidão física relacionada à saúde implica a participação de várias dimensões. A primeira é a dimensão morfológica que engloba composição e distribuição de gordura corporal. A segunda é a funcional-motora que é dividida em cardiorrespiratória e músculo esquelético, a primeira divisão tem como objetivo principal o consumo máximo de oxigênio a segunda a força muscular, resistência muscular e flexibilidade. A terceira dimensão é a fisiológica onde está incluso a pressão sangüínea, tolerância à glicose e sensibilidade insulínica, oxidação de substratos, níveis de lipídios sangüíneos e perfil de lipoproteínas. A quarta e última dimensão é a comportamental que engloba aspectos emocionais e de tolerância ao estresse.

                   Posto isso, tem que ser levado em consideração que um programa de atividade física que deseja desenvolver a saúde tem que ser planejado, visando o desenvolvimento dos aspectos relacionados à saúde de forma integrada e equilibrada e não apenas de alguns componentes isolados.

                   Como exemplo pode-se citar o trabalho de Monteiro et al. (1995), que avaliou componentes da aptidão física relacionados às capacidades esportivas e à saúde de indivíduos da mesma condição ocupacional (policiais militares) com três diferentes padrões de atividades, ou seja, sedentários, intermediários e ativos. Considerando-se que para aquisição da saúde, no que se refere à aptidão física, todos os componentes  a ela relacionados devem ser trabalhados juntos e de forma equilibrada, nenhum dos grupos investigados na pesquisa citada adquiriu benefícios quanto à saúde, devido às diferenças encontradas nos vários componentes de suas atividades sistemáticas, apesar de praticarem atividade física regular. Exemplificando, os indivíduos ativos obtiveram níveis altos de força e resistência muscular, não apresentaram ganho de flexibilidade e obtiveram percentual de gordura semelhante aos demais. Na verdade, os exercícios executados por esses indivíduos estavam mais relacionados com a estética do que com a saúde. Além disso, um indivíduo pode estar bem fisicamente e ter problemas de stress, emocionais, de relacionamento e, até mesmo, espirituais, não podendo ser considerado completamente saudável.

REFERÊNCIAS

BOUCHARD, C.; SHEPHARD, R.J.; STEPHENS, T. (Ed.) Physical activity, fitness and health: Consensus statement. Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1993.

CORBIN, C.B.  Clues from dinosaurs, mules, and the bull snake: our field in the 21 st century. Quest, v. 45, p. 546-556 1993.


DAVIS, M.G.  Promoting our profession: the best of times …the worst of times. JOPERD, v.67, n.1, jan., p.48-51, 1996.

ELLIS, M. J.  The business of physical education: future of the profession.  Champaign, Illinois: Human Kinetics Books, 1988a. 222p.

GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.R.P.  Exercício físico na promoção da saúde. Londrina: Midiograf, 1995.


GUIRALDELLI JR, P.  Educação Física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1988. 64p.

SAGE, G.  The future of the profession of physical education. In: J.D. Massengale (Ed.) Trends toward of the future in physical education. Champaign II: Human Kinetics Publishers, 1987.


SHEPARD, R.J.  Physical activity, fitness, and health: the current consensus. Quest, v.47, p.288-303, 1995.

McNEILL, A.  Wellness programs and their influence on professional preparation. In: MASSENGALE (Ed.) Trends toward the future in physical education, Human Kinetics, 1987. p.85-94.

MONTEIRO, H.L. et al.  Aptidão física relacionada à saúde de indivíduos, ativos, intermediários e sedentários de mesma atividade ocupacional.  Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v.1, n.6, p.12-17, 1995.


NOVAES, E.V.  Qualidade de vida, atividade física, saúde e doença. In: VOTRE, S.J. (Org.) Cultura, atividade corporal e esporte. Rio de Janeiro: Ed. Central da Universidade Gama Filho, 1996.p.175-186.