1. Introdução

No passado, nossos ancestrais mantinham um estilo de vida extremamente ativo. Comparando-se com as gerações atuais nossos antepassados possuíam grande dificuldade em manter-se vivos. Para se alimentar necessitavam da caça de animais muitas vezes maiores e mais fortes, para se aquecer precisavam extrair a madeira para fogueira. Não existia veículo algum que os levasse a lugares mais longínquos. Sendo assim, parece correto afirmar que a história da humanidade nos traz fortes indícios de que o início da espécie foi repleto de movimentos, exercícios até então involuntários ou não programados. O correr, o saltar e o arremessar parece ter sido fortemente presente e necessário à evolução humana.
Hoje em dia, os avanços tecnológicos facilitam cada vez mais a vida do homem que aos poucos vêm perdendo sua característica inicial de espécie ativa e rica em movimentos necessários para a sobrevivência. Exemplo disso, são as pessoas que percorrem distâncias curtíssimas a bordo de seus automóveis, deixando de caminhar ou correr. O trabalho manual e pesado vêm sendo substituído pelo simples apertar de um botão da máquina.
Se por um lado, a tecnologia e a industrialização facilitam nossas vidas e contribuem para o progresso social e econômico da civilização, por outro nos colocam a mercê de uma série de fatores de riscos relacionados ao estado de saúde.
Atualmente, em todo o mundo, discute-se sobre as altas taxas de mortalidade referente a doenças chamadas de crônico-degenerativas, como alguns tipos de câncer, dislipidemias e o diabetes mellitus (ROLLAND CACHERA et al., 1996; CERVATO et al., 1997; MONTEIRO et al., 2000; CARVALHO et al., 2001; FORNÉS et al., 2002 apud SOUZA, 2006) . Além disso, Guedes e Guedes (1995), caracterizam essas enfermidades como doenças hipocinéticas, de hipo+cinesia, sendo elas apresentáveis com maior freqüência em indivíduos com estilo de vida sedentário ou carente de atividades físicas. O termo apresentado pode ser traduzido da seguinte maneira: hipo..., prefixo de diminuição, grau inferior; cinesia, ciência do movimento, em suas relações com a educação, a higiene e a terapêutica (FERNANDES et al., 1992). Portanto, podemos entender as doenças hipocinéticas como as derivadas de falta ou diminuição dos níveis das atividades físicas, educacionais e suas relações com o ambiente. Em suma, o termo será apresentado no desenvolvimento deste trabalho como sinônimo das doenças crônico-degenerativas.
Contrariando essa perspectiva, a Educação Física aparece como uma das variáveis na promoção da qualidade de vida e da saúde, tendo papel importante na atuação escolar (NAHAS, 2001). Abastecido por essa crença, a presente pesquisa pretende apontar o papel da educação física escolar na educação motriz dos indivíduos, ainda no ensino fundamental, de forma à prevenir que crianças se tornem adultos sedentários e tenhamos que remediar todos os incômodos que um estilo de vida carente de atividade física possa causar.
Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de discutir e entender o que é, e como se atinge a qualidade de vida, e assim, inferir a Educação Física escolar como variável importante na promoção dessa qualidade, e por consequência, da saúde.

2. Revisão de Literatura

Depois de identificada a problemática que incentivou esta produção e a tematização da qualidade de vida e seus fatores de promoção, faz-se necessário entender e definir esse termo em suas relações com a saúde e a educação física como forma de prevenção dos distúrbios hipocinéticos.

2.1 Qualidade de Vida

Presentemente fala-se muito em "qualidade de vida", "qualidade em saúde", e "qualidade de produtos" (CORRÊA; GONÇALVES, 2004). Podemos também, acrescentar "qualidade em educação". Mas o que significa "qualidade"?
Buscando no Dicionário Brasileiro Globo (Fernandes et al, 1992), encontra-se como significado de qualidade: Aquilo que caracteriza uma coisa; propriedade; modo de ser; disposição moral; caráter; aptidão e etc. Portanto, ao abordar um dos temas citados, refere-se a forma com que ele se apresenta. Sendo assim, quando o assunto é qualidade de vida, estamos nos referindo ao modo com que conduzimos nossa vida. Logo, o enfoque de discussão deve ser em caráter de melhoria desse modo.
Manoel (2002), encara a qualidade de vida como algo muito complexo, não podendo ser analisada através de um enfoque singular, caso contrário compromete-se o entendimento do todo. Evidenciando-se um único elemento do sistema, a explicação se torna simplista, pois a modificação de um dos componentes pode originar mudanças drásticas e abrangentes ao sistema.
A psicologia do esporte trabalha esses conceitos e define o assunto da seguinte maneira:
A qualidade de vida reflete a satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos de alguém; isso enfatiza a experiência subjetiva mais que as condições objetivas de vida. A qualidade de vida ou "felicidade" é a abundância de aspectos positivos somada a uma ausência de aspectos negativos. Ela reflete também o grau no qual as pessoas percebem que são capazes de satisfazer suas necessidades psicofisiológicas". (BERGER; MCINMAN, 1993:729) apud (SAMULSKI, 2000:302)
Mendes e Leite (2004) avaliam a qualidade de vida como uma condição inteiramente individual, pois depende do panorama e das expectativas de vida de cada ser. Assim, o que pode ser considerado por alguém como uma vida de boa qualidade, pode não satisfazer outras pessoas que sentem-se felizes de outra maneira.
Semelhantemente, Samulski (2000) concluiu que a qualidade de vida é o resultado positivo do conjunto de condições subjetivas da vida de um indivíduo, considerando seu trabalho, sua vivência na sociedade, seu humor, sua saúde física e mental. Ele ainda certifica que o exercício físico influencia indiretamente a vida social das pessoas, e age diretamente na saúde física e no humor.
Podemos então, considerar que a perspectiva da qualidade de vida vem substituindo gradualmente a relação atividade física e saúde, incorporando o discurso às Ciências do Esporte e à Educação Física. Essa relação positiva é estabelecida entre atividade física e melhores níveis de qualidade de vida (ASSUNPÇÃO et al, 2005).

2.1.1 Definição de Saúde

Considerando Fernandes et al (1992), podemos definir saúde como sendo o bom estado do indivíduo, cujas funções orgânicas, físicas e mentais se encontram em situação normal; boa disposição do organismo; força; robustez; vigor.
Mendes e Leite (2004), acreditam que os vocábulos de saúde e qualidade de vida quase sempre se confundem, e apontam para a definição de saúde utilizada pela OMS como sendo uma condição de bem-estar não só do corpo, mas também espiritual, psicológico e social, compreendido entre boas relações com outras pessoas e com o meio ambiente, sendo que, segundo os autores, definiria bem a qualidade de vida.
Já Bouchard et al (1990) apud Guedes e Guedes (1997), afirma que a saúde deve, acima de tudo, ser compreendida como um estado total de bem-estar físico, social e psicológico, e não somente como ausência de doenças.
Efetivamente, existe maior conscientização para que se abandone o conceito empregado costumeiramente à saúde. Dentro desse entendimento, é visível que não basta apenas não apresentar nenhum quadro de enfermidade ou doença. É necessário apresentar indícios e evidências que afastem ao máximo os fatores de risco. Admitindo que as doenças hipocinéticas são resultantes de estágios mais avançados e que seus sintomas são quase sempre silenciosos, não se pode considerar, por exemplo, que um adolescente fumante possa se tornar um adulto saudável somente por não estar doente no momento. O mesmo acontece com crianças e adolescentes obesos; ou com problemas no desempenho motor; ou ainda, com índices de crescimento e desenvolvimento abaixo do esperado (GUEDES E GUEDES, 1997).

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