Universidade Federal do Espírito Santo- UFES

Centro de Educação Física e Desportos- CEFD

VANESSA BRITO CÂNDIDO

WEVERTON RUFO TAVARES

Educação Física e saúde: relações estabelecidas sobre o aspecto benéfico dos exercícios físicos

Vitória
2009

Universidade Federal do Espírito Santo- UFES

Centro de Educação Física e Desportos- CEFD

Educação física e saúde: relações estabelecidas sobre o aspecto benéfico dos exercícios físicos

Trabalho válido como requisito parcial de avaliação na disciplina de Ed. Física, saúde e sociedade do Curso de Educação Física da UFES, ministrado pelo Prof. Dr. Anselmo José Peres.

Introdução

No presente trabalho buscamos apresentar uma contrariedade que está composta ao tema educação física e saúde, onde procuramos enfatizar alguns pontos que já foram percebidos e propostos de maneira a pensar melhor sobreesse tema.

Procuramos apresentar assuntos no qual induz o individuo a pensar e buscar mais informações sobre aquilo que lhe é proposto em relação ao exercício físico e os benefícios que futuramente pode lhe trazer, enfatizando bem que não somente os fatores de riscos "físicos", tal como cigarro, seriam uma das principais causas de não ser saudável , deixando de levar em conta os fatores socioeconômicos e psicológicos que também envolvem o individuo.

É colocado em questão também, onde a educação física poderia intervir deixando em vista, a contrariedade de que o exercício físico deveria ser como uma atividade prazerosa e de livre escolha.

Educação física e saúde

Talvez uma das palavras que a sociedade brasileira mais pronuncia em relação a Educação física, depois de esporte, seja saúde. No entanto ainda encontramos conceitos e associações indevidas. Algumas vezes essa falta de informação esta ligada a interesses superiores como os da indústria farmacêutica e a cultura da doença.

Segundo as definições dos artigos lidos existem duas definições que mais se aproximam da realidade: a de um dos principais autores da epistemologia médica, a "saúde é uma margem de tolerância as infidelidades do meio". (Canguilhem, 1995. citado por Palma, Estevão e Bagrichevsky, 2003). Assim, saúde poderia se caracterizar por uma possibilidade de agir e reagir de adoecer e se recuperar (p. 160). E saúde é o resultado das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, e acesso aos serviços de saúde. É assim antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida ( Minayo 1992, p. 10. citado por Palma, Estevão e Bagrichevsky, 2003). Na segunda definição fica claro que a saúde esta relacionada à história do individuo, e não somente a quantidade de fatores de risco citados porMooss eGordon no Manual de Pesquisa das Diretrizes do ACSM (Colégio Americano de Medicina Esportiva) para os testes de esforço e sua prescrição, no qual foi entendido que esses fatores de risco propostos seriam a principal causa de não ter uma vida saudável.

Assim entende-se que, não só os fatores de risco devem ser considerados, mas também a relação com o meio socioeconômico e o próprio psicológico. O problema é que na maioria das vezes eles são levados em conta isoladamente, como se só o fato de fumar já fosse levar o individuo a desenvolver câncer de pulmão ou doenças cardiovasculares. "A causalidade entre tabagismo e complicação cardiovascular é um bom exemplo, uma vez que, nem todos os fumantes manifestarão tal patologia e, ao mesmo tempo, é esperado que parte deles desenvolva a doença. Nesse sentido, tem sido incorporada a noção de risco. A idéia é que se, de fato, o ato de fumar tem algum efeito sobre a saúde cardiovascular, então seria esperado encontrar maior risco de acontecimento da doença nos tabagistas" ( Struchiner & Kale, 2002. citado por Palma, Estevão e Bagrichevsky, 2003).

A educação física entraria justamente nesse mesmo contexto de doenças, logicamente que está no local errado, pois o exercício físico não é para ser tido como remédio, mas como atividade prazerosa e de livre escolha. "O exercício físico não é meramente um estímulo biológico, mas um fenômeno complexo de dimensões múltiplas – biológicas, psicológicas, sociais, culturais" (Carlos Magalhães Mira – Exercício físico e saúde: da critica prudente, 2003). Isso remete ao erro que muitos têm cometido ao praticarem exercícios por obrigação apenas para se livrarem do fardo do sedentarismo imposto pela sociedade e por interesses já citados, acabando assim por fazerem o exercício sem cuidados essenciais, "não podemos desconhecer que para quem não encontra prazer em praticar exercícios físicos, ter que fazê-lo, além de investir tempo e muitas vezes dinheiro em algo que não agrada, pode resultar sumamente tedioso e sacrificado" (p.184). É importante enfatizar que não estamos defendendo o sedentarismo, mas procurando chamar a atenção para outras análises sobre o exercício e as perspectivas sobre este que são esperadas além de sempre associar a este fator o histórico do indivíduo, ou seja, como já dito obrigação não traz benefícios.

Outro aspecto a ser considerado é o fato de praticar o exercício sistematicamente com o objetivo de que este traga saúde ao individuo, pois muitos trabalhos acadêmicos e a tradição popular se referem ao exercicio como sinônimo de saúde, pois seus "benefícios" melhorariam a "saúde". Um exemplo seria o Manual do ACSM para Avaliação da Aptidão Física Relacionada à Saúde (2006), quando se refere a atividade física regular como benéfica à saúde, trazendo assim aprimoramento na função cardiovascular, redução dos fatores de risco para doenças aterosclerotica coronariana, mortalidade e morbidez reduzidas, entre outros. Sendo assim seriam tantos os benefícios que, talvez pudéssemos concluir que ele por si só já resolveria qualquer problema relacionado à saúde.

Para ratificar podemos citar um trecho presente no artigo de Mira "[...] é a saúde que conduz a atividade e ao exercício físico e não ao contrário"0.(Mira, Carlos M., 2003). É válido então pensar que de acordo com essa citação, talvez em lugar de concluir que é o exercício físico que concretiza a saúde, poderíamos pensar que seria a previa condição saudável do indivíduo que levaria a uma vida praticante do exercício físico, tornando a mais ativa. Pois geralmente em clubes, academias e outros ambientes não são os sem saúde que encontramos, e quando nos referimos a saúde aqui, retomamos justamente o aspecto socioeconômico e psicológico. Mas indivíduos saudáveis, que assim apresentam uma maior disposição para a realização de atividades regulares.

Conclusão

Assim podemos concluir que o termo saúde está intimamente ligado a Educação física, mesmo que por meios precipitados e por vezes errados. Ela não é meramente uma atividade que age isoladamente sobre a vida e saúde do indivíduo, mas necessita de outros fatores, o histórico pessoal, que irá interferir tanto quanto o exercício ou talvez até mais. Com isso podemos chegar ao seguinte resultado: somente fatores de risco também não servem para determinar se uma patologia poderá ou não aparecer , pois podemos ver a todo momento exemplos de pessoas que por mais que tenham fatores que poderiam contribuir para uma vida com complicações na saúde, não a apresentam, e podemos encontrar também o contrário. Nãoestamos dizendo que o exercício não possa trazer benefícios à saúde, mas que não deve em momento algum ser tido como o principal ou a única influência.

Também chegamos à conclusão de que são os indivíduos saudáveis, ou seja, com condições psicológica, socioeconômicas e físicas boas, que geralmente praticam regularmente um exercício físico. Pois pessoas que seriam sem "saúde" encontrariam dificuldades muito maiores para começar a praticá-lo.

Portanto, é preciso ter cuidado antes de aceitar qualquer idéia que seja imposta por terceiros, principalmente os professores de Educação física que poderão atuar diretamente com a prática do exercício com um público diversificado, desde criança até idosos, é necessário ter sempre em mente que o exercício físico não é remédio e que associado aos outros acontecimentos da vida do indivíduo fará muito mais efeito.

Referências

COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA. Manual de pesquisa das diretrizes do ACSM para testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003.

COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA. Manual do ACSM para avaliação da aptidão física relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

MIRA, Carlos M . Exercício físico e saúde: da crítica prudente. In: Bragrichevsky, M; Palma, A.; Estevão, A. A saúde em debate na educação física. Vol 1. Blumenau: Edibes, 2003

MOOSS, Aryan; GORDON, Neil F. Base conceitual para a avaliação dos fatores de risco de doença arterial coronariana na prática clínica. In: COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA. Manual de pesquisa das diretrizes do ACSM para testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003.

PALMA, A.; Estevão, A.; Bragrichevsky, M. Considerações teóricas acerca das questões relacionadas à promoção da saúde. In: Bragrichevsky, M; Palma, A. A saúde em debate na educação física. Vol. 1. Blumenau: Edibes, 2003.

PALMA, A.; Bragrichevsky, M. Estevão, A. Análise sobre os limites da inferência causal no contexto investigativo sobre " exercício físico e saúde". In: Bragrichevsky, M; Palma, A.; Estevão, A. A saúde em debate na educação física. Vol 1. Blumenau: Edibes, 2003