O QUE É DESIGN?

Design é um termo que não tem uma tradução em Português. O design, tem as características de plano, projeto, planejamento, planificação, criação, desenho e esboço. O design envolve atividades como planejar, delinear, desenhar, esboçar, projetar, esquematizar, criar, inventar e executar. É o que fazem os arquitetos, engenheiros, economistas, artistas, quando desejam construir um objeto concreto (um capítulo de um livro, um programa de computador, uma escultura ou uma máquina de lavar-roupa). Esse objeto, na verdade, é um produto do intelecto, uma idéia, e do meio usado para expressar e materializar essa idéia. É o que nós fazemos quando resolvemos um problema do dia-a-dia (Norman, 1988).

Como pontua Homem de Melo (1997), é curioso notar que "a maioria dos trabalhos sobre design se inicia pela conceituação da profissão". Não é à toa: a própria denominação da atividade é motivo de dúvida – e não faltam termos para nomeá-las.

Segundo a adoção das nomenclaturas adotadas pelo V Encontro Nacional de Desenho Industrial (Endi), realizada em 1988, em Curitiba, segundo o qual a atividade profissional é referida genericamente como design, as habilitações são Design de Produto e Design Gráfico e o profissional é o designer. Trata-se de uma terminologia advinda do termo inglês design e que se mostra simples, clara, eficiente e amplamente aceita por aqueles que exercem ou estudam a atividade.

Dentre os termos normalmente usados para se referir a ele. Os mais correntes são quatro: comunicação visual, programação visual, artes gráficas e design gráfico. Comunicação visual é o mais abrangente de todos. A comunicação visual está presente em tudo que emite informação visual. Pintura, arquitetura, vestuário, fotografia, cinema, todas essas linguagens têm um componente muito forte de comunicação visual. Trata-se de um universo imenso. Exatamente por isso, o uso do termo acaba indicando de maneira muito vaga o tipo de atuação que se deseja designar. Já o termo programação visual avança um pouco nessa delimitação. "...quando se fala em programação, está presente a idéia de sistematização, de ordenação de mensagens em função de um determinado problema que foi colocado." MELO, F. I. H. (1997). Artes gráficas, por sua vez, delimita com precisão uma tecnologia de produção – a gráfica – mas refere-se a outro universo de atuação – a arte. Segundo MELO, "o artista gráfico é, antes de mais nada, um artista. Ele usa, como veículo de sua expressão, meios mecânicos de reprodução da imagem impressa", daí origina o artista gráfico.

Por fim, o termo design gráfico, no qual se introduz a palavra design. Perde-se em amplitude o que se ganha em precisão.

O design envolve explicitamente meios mecânicos de reprodução de uma imagem, de um objeto ou de um edifício. Quando se trabalha com Design, trabalha-se necessariamente com a previsão – ver a coisa antes dela estar pronta. Aqui comparece explicitamente a noção de projeto. MELO, F. I. H. (1997)

O design é importante por viabilizar a concretização da idéia imaginada, facilitando a comunicação das pessoas envolvidas no processo e por acelerar efetivamente a produção e a materialização de idéias benéficas à sociedade. O design não mostra-se relevante apenas no processo de passagem entre ideação e realização, mas também no momento de criação, de recriação e de aperfeiçoamento constante. Apresenta-se, portanto, como um elemento essencial, produtivo, fomentador da criatividade, enriquecedor e relevante nas tomadas de decisões em todo e qualquer momento da vida humana.

"É característica do designer o dom de recuar suficientemente para integrar o conjunto de todos dados obtidos, a fim de fazer uma síntese, olhando o conjunto de fora, que lhe permita propor novas soluções. O designer é capaz de partilhar as preocupações de cada um de seus interlocutores e trazer os elementos de respostas correspondentes, sem perder de vista o objetivo inicial." FONTOURA, A. M. (2002).

O sucesso de sua ação depende, igualmente, do modo como ele passa aos outros os resultados do método criador e de como materializa suas idéias na forma de um produto coerente, eficaz, útil e significativo. Portanto, não basta ao designer ter idéias maravilhosas, quando estas não são acessíveis a outros, quando não contribuem efetivamente na vida das pessoas. "O design apresenta-se como um meio de exercitar as conexões entre as capacidades do homem permitindo a ligação entre a idéia imaginada (por vezes abstrata) em algo concreto, disponível a todos." MEYER, G.C.(2002).

Nesta perspectiva, o design distingue-se da disciplina de desenho e de educação artística utilizadas nas escolas. Enquanto a proposta de artes apresenta uma função basicamente estética, o design apresenta além desta, também uma função simbólica e, principalmente, prática. Pode-se então, identificar o design na educação como uma associação entre desenho, resolução de problemas e criação de soluções CHING & HULSBOSCH, (2001). É um processo que exige criação, projeção, planejamento, concepção, e principalmente uma grande porção de criatividade, pois a mesma torna-se indispensável quando tratada como elemento que motiva e nos impulsiona para o "novo", para a verdade experimenta. Cabe salientar que tais tarefas pouco, ou quase nunca são exploradas nas escolas convencionais.

A atividade de design apresenta outras características que a torna mais desafiadora e criativa. Por exemplo, o design exige um outro nível de depuração. A falta de uma descrição precisa do problema e do objetivo a ser atingido, fazem com que seja muito difícil depurar o produto do design. Quando algo não sai como esperado ou não satisfaz as limitações impostas, é difícil encontrar o "bug" ou depurar o objeto em questão. Já, a situação de resolução de problema, isso é mais fácil. A condição de resolução de problema propicia melhores condições de depuração do que o design. No entanto, a habilidade de depuração no design pode ser vista, também, como uma heurística que pode ser desenvolvida à medida que se faz design.

Uma das principais características do perfil de um bom designer é ser criativo, tanto para soltar a imaginação quando tem total liberdade de criação sobre o projeto, como para ter a habilidade de fazer com que o resultado final da peça de design torne-se interessante e funcional, mesmo quando o projeto da mesma foi realizado sob inúmeras restrições por parte do cliente que, em alguns casos, julga-se autor.

Na ação prática, no dia-a-dia profissional, é exigido do designer soluções criativas aos problemas por ele enfrentados. A base do seu trabalho, seja na concepção de um novo produto, no redesenho de um já existente, na gestão do projeto, na confecção de modelos, na execução de renderings, no uso de um software de apoio, no atendimento de um cliente, na identificação de oportunidades para novos produtos no mercado, na promoção de um produto, bem como na prestação de serviços, está no domínio de determinados conhecimentos, competência técnica e principalmente no uso da criatividade.

CRIATIVIDADE

Podemos fazer uso do conceito dado por ALENCAR 2001, quando ela afirma:

"Criatividade é um recurso humano natural que necessita ser mais cultivado neste momento da história, onde as mudanças aceleram, levando a incerteza a fazer parte inevitável de nossas vidas. Ela se constitui em uma habilidade de sobrevivência para as próximas décadas." ALENCAR 2001.

Criatividade é um termo usualmente utilizado com muita freqüência, em todos os setores da vida humana, sempre que queremos nos referir a algo surpreendente, relacionado com os processos e mecanismos do pensamento, associados ao novo, à imaginação, ao entusiasmo, ao inusitado, à inovação, originalidade, inspiração, capacidade intuitiva, ousadia, "insight", desapego, iluminação, algo inédito brotado do nada, ligado à curiosidade, ao paradoxo, à invenção, a uma certa dose de mistério, complexidade, enigma, improvisação, imprevisibilidade.

Quanto ao termo criatividade os dicionários se omitem; limitam-se a associar "criação" ao ato ou efeito de criar, dar existência a, tirar do "nada" (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, 11ª edição, p. 344).

Um fenômeno que é conceituado dessa forma parece cientificamente inaceitável e tampouco impossível de ser completamente entendido, tão paradoxal ele se apresenta. Talvez por essa razão, a criatividade é, em algumas situações, associada a dons divinos, intuições especiais, inspiração romântica, instantâneas, principalmente porque elas podem ocorrer quando menos se espera, sem aviso prévio ou época determinada.

Há ainda uma conceituação sobre criatividade que a entende como uma "combinação original de idéias conhecidas", o que nos leva a imaginar que tais idéias não poderiam ser combinadas normalmente, a não ser de um modo extraordinariamente interessante.

Como se pode ver, criatividade é uma palavra freqüentemente usada, mas cujo significado ainda é entendido como um fenômeno extremamente complexo e que toma formas e dimensões diferentes, uma vez que está diretamente ligado a diversos aspectos que têm relação com o momento e/ou a pessoa, como cultura, hábitos, clima psicológico, valores, aspectos da personalidade; enfim, as influências internas e/ou externas, que podem modificar, intensificar ou enfraquecer o fenômeno.

Costumam-se associar "pessoas criativas" a nomes de especialistas em desenvolvimento de programas de computação, de diretores ou produtores de cinema TV, de estrategistas de Mercado, eficientes aplicadores da Bolsa, cientistas, "designers", grandes compositores, arquitetos famosos, artistas de um modo geral.

Há uma crença de que a criatividade está mais ligada a padrões pouco normais de comportamento e comumente ela é associada à genialidade. Criatividade é coisa de gênio, acreditam alguns. Van Gogh, Einstein, Da Vinci, são considerados gênios criativos.

Parece que o espírito criativo está ligado a uma capacidade que só as pessoas "diferentes" têm.

No entanto algumas dúvidas nos perseguem: a criatividade é um dom inerente aos indivíduos ou se poderia treiná-la; estaria ligada indiscutivelmente à inteligência ou não tem nenhuma relação com ela; as criações são espaçados "ïnsights" instantâneos ou se sucedem continuamente?

Pode-se dizer que as pessoas criativas são seres privilegiados ou apenas fora dos padrões da normalidade dos indivíduos? Ou perícia?

"O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que leva a sério, enquanto o separa nitidamente da realidade" (Haward Gardner - out.1999).

Mesmo sem saber com nítida exatidão o perfeito conceito do fenômeno da criatividade, como ele tem origem, quais são as engrenagens mentais que se articulam para dar início a esse processo no indivíduo, todos nós entendemos um pouco do assunto e somos capazes de identificar, em certos setores ou campos de ação, quando algo é criativo ou não.

Os desafios e as exigências do novo milênio, apresentam de uma forma surpreendente e constante, mudanças radicais e incertezas, que se sucedem à uma velocidade estonteante, exigindo cada vez mais dos indivíduos, esquemas criativos de ação que lhes permita acompanhar esse desenvolvimento gritante dentro de uma atuação efetiva, em busca da construção de uma ação consciente, na busca para redescobrir significados na vida e lhes permitir a expansão da consciência, rompendo barreiras e abrindo a mente para os novos tempos.

Nesse campo, tornam-se necessárias muitas competências, principalmente as relacionadas à capacidade de pensar, de achar a melhor e a mais objetiva solução para os problemas, a mais eficiente forma de inserir novas ações originais.

P. E. VERNON (apud BODEN 1999:204) define criatividade como "a capacidade de uma pessoa para produzir idéias, concepções, invenções ou produtos artísticos novos ou originais, que são aceitos pelos especialistas como tendo valor científico, estético, social ou técnico". BRANDÃO (1998:13) apud ALENCAR 2001, conceitua criatividade como "uma experiência espiritual e psíquica, que integra diversos níveis da ação humana em direção ao novo, ao inusitado, ao que se encontra além do limite". Percebe-se, entretanto, que a criatividade pessoal não se manifesta espontaneamente de uma forma violenta, de uma hora para outra, nem se cria com exercícios ou receitas miraculosas. O que se tenta fazer são exercícios para desinibir e descontrair as pessoas em certas situações, em treinar e desenvolver o potencial criativo que já existe junto à Psicologia do indivíduo, da mesma forma que o comportamento se liga à personalidade. Mas nada garante que tais medidas transformem uma pessoa passiva em criativa, nem que o seu potencial criativo seja ativado. Isso vai depender do seu desejo e da sua auto confiança em querer criar e, principalmente, na conscientização sobre o seu potencial criativo.

Esse exercício, aos poucos, cria na pessoa, o que PREDEBON (1997: 34) chama de "vício pelo novo", que seria o hábito e o costume de enfrentar os desafios do cotidiano, imaginando transformações em tudo, procurando ver o que todo mundo vê, só que de uma forma diferente.

Com o tempo, essa forma de pensar e agir criativamente começa a fazer parte da personalidade do indivíduo, como um elemento inseparável de sua personalidade. Suas ações, pensamentos, idéias, atitudes, enfim, todo o seu ser passa a agir dessa forma. Por isso, podemos dizer que a "criatividade é muito mais que uma característica do ser humano; é muito mais que uma capacidade. É mais abrangente e o envolve completamente. É uma visão de vida, um estado de espírito, uma forma de ver o mundo e de assumir um papel dentro dele." ALENCAR 2001.

A CRIATIVIDADE COMO ELEMENTO DE CONSTRUÇÃO NA SALA DE AULA

Com o progresso científico e tecnológico, em seu sentido amplo, o conhecimento tem se tornado obsoleto em um período muito curto de tempo, exigindo uma aprendizagem contínua e permanente. Somente quando o aluno possui curiosidade é que ele vai procurar uma relação mais íntima entre o objeto e o significado, a verdade em seu sentido mais amplo, portanto, a escola que não estimula no educando este sentimento, não pode prever que este se torne um investigador e criador de conhecimento.

Como afirma Paulo Freire, e em seguida complementado por Hosotani:

"... esta curiosidade permanente não deve ser estimulada apenas a nível individual, mas a nível de grupo. O que vale dizer: O convite à assunção da curiosidade na busca da leitura do real, do concreto, deve ser um convite não apenas ao menininho A, ao menininho B, mas ao grupo de estudantes, de crianças..." FREIRE(1996).

"O conceito do homem ideal procurado pela sociedade moderna mudou de um que é enciclopédia ambulante para um homem preparado para solucionar problemas. Pode-se dizer que o valor do ser humano esta na sua criatividade e habilidade para solucionar problemas, e solucioná-los cooperativamente, que é a chave para a sobrevivência de uma sociedade a longo prazo. Mais importante, a solução de problemas promove o ser humano através do aumento da motivação e das habilidades dos membros da organização" HOSOTANI(1995)

Como é impossível prever o conhecimento que será necessário no futuro, torna-se indispensável o desenvolvimento de habilidades que ajudem o indivíduo a se adaptar com facilidade ao novo e às circunstâncias marcadas pela mudança, pela incerteza e pela complexidade.

É pertinente salientar que o aluno que hoje esta na escola de primeiro grau, podendo estender essa observação a outros níveis acadêmicos, logo estará habitando um mundo bem diferente daquele com o qual estar acostumado no presente. O futuro é construído, e os condicionamentos implantados pelo nosso modelo atual de ensino, passam a se tornar barreiras bloqueadoras que impedem a construção desse futuro. O futuro é aberto e não fechado. Ele é divergente e não convergente. Para preparar efetivamente meninos e meninas para este futuro, precisamos desenvolver atividades e programas que incluam estratégias de pensamentos divergentes. Nós devemos ajudá-los a desenvolver uma atitude de abertura para o futuro, dando às crianças oportunidades para desenvolver tal atitude, estaremos ajudando-as a aprender a pensar de uma maneira antecipatória a respeito das possibilidades de seu futuro. Pois os conhecimentos adquiridos através da prática, e não mais pelo condicionamento, trará um mundo mais amplo para esses jovens.

"Opor-se a isso tudo que o mundo de hoje nos oferece e que, no presente momento, não admite vislumbrar qualquer outra possibilidade de resistência mais ampla, é competência da escola. É por esta razão que (...) é tão essencialmente importante que ela cumpra sua missão." ADORNO, apud RAMOS DE OLIVEIRA (1995)

Muitas são as capacidades de nossa mente, a maioria delas permanecem inibidas, bloqueadas e desconhecidas pelo próprio indivíduo, especialmente em função das características dos modelos educacionais hoje utilizados e da postura da maior parte dos professores inseridos nestes moldes de ensino. Estes tendem a enfatizar um numero muito limitado de habilidades, sem dar espaço para o conhecimento de nossos próprios recursos e potencialidades. Não são preparados para identificar oportunidades inesperadas, para buscar um equilíbrio entre desafios e capacidades e para maximizar as nossas capacidades pessoais, e sim, condicionados a fórmulas e formas padronizadas, limitadas e muito mal plagiadas de outros moldes "quadrados" de ensino.

FATORES PSICOLOGICOS BLOQUEADORES E DESBLOQUEADORES QUE AFETAM A CRIATIVIDADE

Em diferente ocasiões, no dia-a-dia, agimos de forma mecânica, sem termos que pensar criativamente para resolver os problemas que nos são apresentados. Aparentemente não é necessário ser criativo para fazer boa parte das coisas que fazemos - pegar um ônibus, atravessar uma rua, tomar um café ou passear com o seu cão. As rotinas simplificam a vida e são de certa forma, indispensáveis. Porém, existem problemas - até mesmo corriqueiros - que exigem um tratamento diferenciado e, por diversas razões sentimos dificuldades em resolvê-los. Nestas ocasiões, os modos comumente adotados para solucionar tais problemas não parecem eficazes. Apesar de todos os termos, comprovadamente, um potencial criativo, é normal termos também dificuldades em desenvolver pensamentos criativos. Os motivos que geram estas dificuldades são genericamente chamados de bloqueios.

Os bloqueios à criatividade, bloqueios mentais ou barreiras, são todos os fatores que tendem a restringir ou inibir o pensamento criativo. A criatividade humana necessita de condições adequadas para que possa se desenvolver. Entre estas condições que propiciam ou não o estado criativo, o espírito da época, o clima psicológico e social da sociedade e do povo; os valores dominantes na família do indivíduo e os seus traços de personalidade. Os fatores são intrapessoais, interpessoais, individuais e sociais e têm um impacto significativo na produção criativa do indivíduo e da sociedade. Para ALENCAR, os bloqueios são "paredes mentais que impedem as pessoas de entender corretamente um problema ou conceber sua solução".

Os desbloqueadores são todos os recursos e condições naturais ou criadas intencionalmente para tornar possível o desenvolvimento, o cultivo e o florescimento da criatividade tanto no indivíduo como na sociedade.

Nas etapas seguintes buscaremos identificar e caracterizar os fatores que tendem a bloquear o pensamento criativo e os meios para evitar ou contornar tais fatores. Baseado, principalmente em escritos de ALENCAR sobre o tema.

Bloqueadores

Assim como todos podemos ser criativos, todos têm bloqueios mentais que impedem o pleno desenvolvimento do potencial criativo. Eles variam em quantidade e em intensidade de indivíduo para indivíduo. Podemos não ter consciência da extensão de nossos bloqueios. Esta consciência pode não melhorar nossa condição criativa, mas pode e deve servir como motivação para evitar e superar bloqueios.

Vários autores e pesquisadores desenvolveram estudos sobre a criatividade e especificamente sobre o que impedia ou bloqueava o seu desenvolvimento e manutenção. Reconhecidamente, todos nascemos com um grande potencial criativo. A criatividade é uma condição natural da criança. Com o passar do tempo, com o nosso amadurecimento, sofremos pressões principalmente psicológicas que fazem com que "assassinemos", aos poucos, nosso potencial criativo. Dentre os "assassinos" da criatividade, ALENCAR pode identifica uma série deles, entre eles: O excesso de vigilância sobre a criança; O excesso de avaliações; O excesso de recompensas; A competição; O controle excessivo; A restrição de escolhas, A pressão (expectativas de sucesso e alto desempenho).

Daniel GOLEMAN (1998) apud ALENCAR, lembra que um dos piores "assassinos" da criatividade, o mais astuto e tão enraizado em nossa cultura é o tempo, quando ele nos é roubado enquanto somos crianças. A motivação na criança é fundamental e o elemento principal de seu cultivo é o tempo.

Lamentavelmente, com o passar do tempo, no convívio social - na comunidade, em casa e na escola - muitos de nós aprendemos a ter medo das coisas novas, de arriscarmos, de experimentarmos, de explorarmos e de nos exprimirmos espontaneamente. Aprendemos a rejeitar o novo, o incerto, o duvidoso e o arriscado. Passamos aos poucos a agir de forma estereotipada.

Para ALENCAR, em seus estudos sobre a criatividade, ressalta o efeito devastador da nossa reação negativa para com as novidades, o que interfere significativamente na produção de novas idéias e na solução inovadora e criativa de problemas. Identifica dois aspectos do pensamento humano: o pensamento judicioso e o pensamento criador.

O pensamento judicioso (ou espírito judicioso) é aquele que analisa, compara e escolhe. O espírito criador é o que figura, prevê e gera idéias. Estes pensamentos se assemelham, pois ambos exigem o poder de análise e síntese. O resultado do pensamento judicioso é um julgamento enquanto do pensamento criador, resulta uma idéia. Os julgamentos se prendem aos fatos, a imaginação e a ideação nos lançam ao desconhecido.

A atitude característica do pensamento judicioso é quase sempre negativa enquanto o pensamento criador exige uma atitude positiva. Assim sendo, o predomínio do pensamento judicioso sobre o criativo no indivíduo, representa um bloqueio à criatividade, principalmente sob a forma de convicções comuns.

Para ALENCAR somos "vítimas dos hábitos". Os hábitos adquiridos ao longo de nossa existência dificultam a solução criativa de problemas. Tendemos a reagir aos fatos da maneira que estamos habituados a reagir. A educação e a experiência, como costumam ser, desenvolvem inibições que tendem a tornar rígido o ato de pensar. Este tipo de pensamento impede a atitude imaginativa e criativa na abordagem dos novos problemas. A psicologia experimental atribui a este tipo de atitude as seguintes denominações: "fixação funcional", "rigidez na solução de problemas", "mecanização" e "fixidez". A fixação funcional pode ser útil na solução de problemas comuns e rotineiros, porém, com o surgimento de novos problemas, tendemos a limitar a mediação às soluções já usadas anteriormente, que nem sempre são satisfatórias no novo contexto. Assim devemos "deitar fora o hábito de restringir a ideação aos limites da experiência passada, de sorte a soltar a imaginação..."(OSBORN, 1962, p.30) apud ALENCAR.

ALENCAR, também ressalta os riscos de uma ênfase exagerada no conformismo, na passividade e na estereotipia, que tem predominado em muitos contextos sociais e principalmente nos educacionais.

O desânimo próprio como inibição também contribui para limitar a criatividade. O desejo de conformar-se e o convencionalismo são bloqueios por excelência. Aproveitando as palavras de ALENCAR, podemos dizer que "a convenção é o grande inimigo da originalidade". Temer beirar o absurdo e ser diferente contribui com o atrofiamento da criatividade.

A timidez como traço da personalidade de alguns é outro fator que tende a fazer abortar idéias criativas. A timidez se origina da dúvida que o indivíduo tem da própria capacidade criadora. Mesmo quando imaginamos coisas novas, a hesitação nos impede de expô-las. A falta de confiança em nós mesmos é uma dificuldade que nos impede de criar e apresentar idéias novas.

"O tímido é inseguro para questionar a natureza das tarefas que executa. Muitas vezes tem idéias inovadoras mas estas não ultrapassam os seus pensamentos" (CAMPOS & WEBER, 1987).

A falta de estímulos condena o indivíduo a uma vida monótona e comportada. A estimulação, a cordialidade, a receptividade e a complacência cultivam a ideação. Todos produzem mais e melhor quando nos apreciam os esforços. O reconhecimento de um esforço é uma compensação psicológica.

"O desestímulo que mais prejudica a criatividade provém das pessoas a quem se ama" (OSBORN, 1962, P.38) apud ALENCAR. O louvor é a maior recompensa que uma criatura pode receber de sua família e de seus entes queridos. A falta de estimulação positiva dos pais e familiares acarreta um tolhimento da futura capacidade criativa do indivíduo.

OSBORN condena o desânimo:

"Para todos nós, a boa regra está em animar sempre as idéias - animar tanto a pensá-las como manifestá-las. Qualquer outro procedimento não tem significação, portanto a essência da criatividade está em experimentar e continuar a experimentar cada vez com maior esforço - e será quase impossível esperar tal atitude da natureza humana se, além de todos os outros obstáculos ao esforço criador, tivermos também de superar a maldição do desânimo"(OSBORN, 1962, P.40) apud ALENCAR.

Maria Helena NOVAES (1980) também estuda vários fatores que constituem obstáculos à criatividade, entre eles: O condicionamento social e educacional; A falta de conhecimento e de informações; Os hábitos pessoais negativos; A atitude de pessimismo, o conformismo e a falta de esforço pessoal.

ALENCAR (1995) relembra a questão da resistência às novas idéias, típica dos seres humanos em sociedade e demonstra que a criatividade não é um atributo apenas do indivíduo, mas é também do sistema social que envolve e julga o próprio indivíduo. Observa-se uma interação entre as condições sociais e culturais com as potencialidades do indivíduo. É desta interação que pode surgir objetos e comportamentos denominados criativos. Assim entre os fatores interrelacionados que restringem a criatividade, ALENCAR cita:

1.As pressões sociais com relação ao indivíduo que difere das normas. Os processos de socialização parecem caminhar em direção a uma uniformidade de comportamentos e de expressão e parecem desencorajar a diversidade e a originalidade. Todos os indivíduos que divergem das normas, que são diferentes ou originais sofrem algum tipo de discriminação.

2.Uma atitude negativa em relação ao arriscar-se. Somos socializados desde pequenos, no sentido de buscarmos sempre a segurança e evitar situações que possam resultar em perdas ou sensação de fracasso.

3.Aceitação pelo grupo como um dos valores mais cultivados. Somos pressionados a pensar, agir e a nos conformarmos com as normas sociais do grupo a que pertencemos para sermos aceitos por ele.

4.As expectativas com relação ao papel sexual. Certos traços de personalidades associados à criatividade, são mais aceitos quando apresentados por sujeitos do sexo feminino - espontaneidade, sensibilidade e intuição - enquanto outros são considerados mais adequados a elementos do sexo masculino - curiosidade e independência.

Existe ainda outros fatores bloqueadores, não menos importantes, que podem ser apresentados e adquiridos pelo indivíduo. Entre eles podemos encontrar aqueles de natureza perceptual, de natureza emocional, de natureza cultural e ambiental, e de natureza intelectual e expressiva.

Bloqueadores Perceptivos

Os bloqueios perceptivos são evidenciados pelas dificuldades que o indivíduo tem de: visualizar um objeto como tendo mais de uma função; de reestruturar um problema, vendo-o sob um novo enfoque, dimensão ou ponto de vista; e de reformular um julgamento previamente formado. "São obstáculos que impedem a pessoa de entender claramente o problema em si ou a informação necessária para resolvê-lo" ALENCAR. Entre os bloqueios de percepção os mais comuns segundo ALENCAR, são: Vendo o que você espera ver - esteriotipando; Dificuldade em isolar o problema; Tendência a restringir demais a área do problema; Inabilidade em ver o problema de vários pontos de vista; Saturação; Falha em utilizar todos os mecanismos sensoriais.

Bloqueadores Emocionais

Os bloqueios emocionais são aqueles que impedem a exploração e a manipulação de idéias pela falta de habilidade de conceituar fluente e flexivelmente novas idéias e de comunicá-las por receio de falta de aceitação. ALENCAR lista alguns deles, a seguir: Medo de errar, de falhar, de se arriscar; Inabilidade em tolerar a ambigüidade; desejos intensos por segurança, ordem; "Nenhum apetite pelo caos"; Preferência por julgar idéias, em vez de gerá-las; Inabilidade de relaxar, incubar e "dormir com a idéia"; Falta de desafio (o problema não consegue causar interesse) contra zelo excessivo (supermotivação para obter êxito rapidamente); Inabilidade em distinguir a realidade da fantasia.

ALENCAR, continua citando outros bloqueios emocionais, são eles: O negativismo, ou seja, a dificuldade por parte do indivíduo em admitir sugestões ou considerar pontos de vista alheios; O desconhecimento por parte do indivíduo de seus próprios recursos internos, potenciais e capacidades; O medo do ridículo e da crítica; Preferência por julgar idéias, ao invés de gerar idéias; A concepção que o indivíduo faz de si mesmo.

A falta de auto-estima, de autoconfiança, de sentimentos de inferioridade e a ansiedade são outros fatores individuais que geram condições emocionalmente desfavoráveis para o desenvolvimento criativo.

Bloqueadores Culturais e Ambientais

Os bloqueios culturais são originados pelo conjunto de padrões culturais vigentes numa determinada sociedade. Os bloqueios ambientais são impostos pelo ambiente social e físico imediato. Os bloqueios culturais e ambientais são inter-relacionados. ALENCAR (1995) ressalta algumas barreiras de natureza cultural, entre elas: Consideração da fantasia e da reflexão como perda de tempo; Consideração da tradição como preferível à mudança; Ênfase na razão, lógica, utilidade e desvalorização da intuição, sentimetos e julgamentos qualitativos.

ALENCAR complementa com exemplos de outros bloqueios culturais (para nossa cultura), tais como: Tabus; Fantasia e reflexão são perda de tempo, preguiça, até loucura; Atividades lúdicas são para crianças; Resolução de problemas é coisa séria: não há espaço para o humor; Razão, lógica, números, utilidade praticabilidade são coisas boas; Sentimento, intuição, julgamentos qualitativos, prazer são coisas más; Tradição é preferível à mudança; Qualquer problema pode ser resolvido com pensamento científico e rios de dinheiro.

Os bloqueios ambientais são aqueles impostos por nossos ambientes físicos e sociais imediatos. Entre os bloqueios ambientais, ALENCAR cita: Falta de cooperação e confiança entre colegas; Chefes autocráticos que valorizam apenas as próprias idéias,; não recompensam outras; Distrações - telefone, interrupções corriqueiras; Falta de apoio para transformar idéias em ação.

Bloqueadores Intelectuais e de Expressão

Os bloqueios intelectuais são gerados pela escolha ineficiente de táticas mentais ou pela falta de munição intelectual. Os bloqueios de expressão, são aqueles que impedem ou inibem a capacidade de comunicação das idéias. Os bloqueios intelectuais e de expressão também estão intimamente inter-relacionados. ALENCAR cita:

·Resolver o problema usando uma linguagem incorreta (verbal, matemática, visual) - como ao tentar resolver um problema matematicamente quando seria mais fácil solucioná-lo visualmente;

·Uso inflexível ou inadequado de estratégias intelectuais de resolução de problemas;

·Carência de informação ou informação incorreta; e

·Habilidade lingüística inadequada para expressar e gravar idéias (verbal, musical, visual, etc.).

Bloqueadores na Escola

Como já foi citado anteriormente, a escola também desempenha um papel preponderante e importantíssimo no desenvolvimento da criatividade. Este papel pode ser positivo ou negativo no processo. A maioria dos professores costuma encontrar dificuldades no sentido de preservar a criatividade do educando e encorajá-lo a fazer uso das suas habilidades. Segundo ALENCAR (1995) vários fatores levam a isto, entre eles: Conteúdos e extensão dos programas curriculares; Visão tradicional do ensino; Ênfase exagerada na disciplina e no bom comportamento do aluno; Baixas expectativas do professor com relação ao aluno.

DERRUBANDO MUROS

"... a criatividade tem mais chance de se desenvolver naqueles indivíduos que apresentam um conjunto de atitudes, valores, motivações e traços de personalidade que predispõem o indivíduo a pensar de uma forma independente e flexível e a fazer uso de sua imaginação" (ALENCAR, 1995).

Como foi exposto anteriormente, a criatividade não depende apenas do indivíduo, mas também do meio. Para que tenham efeitos positivos, ações desbloqueadoras devem ser aplicadas em diversos níveis, tanto no indivíduo como nas diversas organizações sociais.

Na Escola

·Ser receptiva às novas idéias;

·Propiciar ao educando condições de questionamento, criar e testar hipóteses, discordar, propor conceitos, gerar alternativas;

·Aplicar princípios para gerar novas idéias;

·Dar tempo ao aluno para desenvolver idéias;

·Estabelecer um clima de espontaneidade e respeito mútuo;

·Estimular no aluno a habilidade de imaginar e encorajar a produção de idéias;

·Estimular o aluno a pensar, julgar, aperfeiçoar suas próprias idéias;

·Substituir os sentimentos de temor e ameaça pela vontade de arriscar, de experimentar;

·Valorizar o trabalho e o esforço do aluno; e

Aceitar e cultuar a espontaneidade, a iniciativa, o senso de humor e a capacidade criadora em sala de aula.

Paul TORRANCE (in ALENCAR, 1995), em seus estudos sobre a criatividade em sala de aula identifica uma série de habilidades para fomentá-la, etre elas: Reconhecer e valorizar as potencialidades dos alunos; Ter uma atitude de respeito pelas perguntas e idéias dos educandos; Fazer perguntas provocativas e estimulantes que favoreçam o pensamento, o raciocínio e a imaginação dos alunos; Reconhecer e valorizar a originalidade; Desenvolver e encorajar as habilidades de manipulação e elaboração de idéias; Desenvolver leitores criativos; Buscar o conhecimento e a verdade através de métodos de pesquisas; fazer uso de habilidades criativas para o solucionamento de problemas.

TORRANCE complementa mencionadas as seguintes condições que podem contribuir para estimular o desenvolvimento da criatividade: Criar no indivíduo necessidade de atividade e atitude criadora através da mobilização de fontes geradoras de idéias e da crítica construtiva; Aquisição de conhecimentos em vários campos, sensibilizando o indivíduo (aluno) aos estímulos ambientais e encorajando-o à manipulação de objetos e idéias; Propiciar o controle das situações. Tão importante quanto estimular a criatividade na escola, é favorecer o desenvolvimento emocional do educando, pois só assim será capaz de tolerar com segurança as tensões geradas pelos problemas.

POR UMA PEDAGOGIA DA CRIATIVIDADE NA ESCOLA ATRAVÉS DO LÚDICO

A formação de professores é, hoje, uma preocupação constante para aqueles que acreditam na necessidade de transformar o quadro educacional presente, pois da forma como a maioria deles se apresenta fica evidente que não condiz com as reais necessidades dos que procuram a escola com o intuito de construir o saber, para que, com uma maior afinidade com ele, tenham condição de reivindicar seus direitos e cumprir seus deveres na sociedade.

O professor é a peça chave desse processo, devendo ser encarado como um elemento essencial e fundamental. Quanto maior e mais rica for sua história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades dele desempenhar uma prática educacional consistente, consciente e significativa. Sobre esse assunto, Nóvoa (1991) afirma que não é possível construir um conhecimento pedagógico para além dos professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais do trabalho docente. Não se quer dizer, com isso, que o professor seja o único responsável pelo sucesso ou insucesso do processo educativo. No entanto, é de suma importância sua ação como pessoa e como profissional.

Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele caminho que o professor considera o mais correto, mas é ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros da sociedade e da sua inclusão na mesma. É saber aceitar-se como pessoa e saber aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, ou ainda melhor, construir aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.

O paradigma científico emergente (pós-moderno) não se apóia mais sobre certezas, sobre leis determinísticas, em modelos e moldes pré-adotados, mas antes sobre possibilidades; procura recuperar a totalidade da realidade natural e social através de abordagens diversas: interdisciplinares (incluindo as ciências da natureza, ciências sociais, as disciplinas humanísticas e artísticas): interdisciplinares (diversas correntes ou perspectivas teóricas dentro de cada ciência); multi-inter-transculturais, integrando conhecimentos de caráter cognitivo, sensitivo, afetivo, ético, estético Prigogine & Stengers, 1996 apud NÓVOA.

Aprendemos-nos sempre melhor quando se trata de assuntos que nos interessam e nos quais temos prazer. A preparação da criança para a escola passa pelo desenvolvimento de competências emocionais – inteligência emocional – designadamente confiança, curiosidade, intencionalidade, auto controle, capacidades de relacionamento, de comunicação e de cooperação.

No livro Professora sim, Tia não reafirma a importância das componentes afetivas e intuitivas na construção do conhecimento "...é necessário que evitemos outros medos que o cientificismo nos inoculou. O medo, por exemplo, de nossos sentimentos, de nossas emoções, de nossos desejos, o medo de que ponham a perder nossa cientificidade. O que eu sei, sei com o meu corpo inteiro: com minha mente crítica mas também com os meus sentimentos, com minhas intuições, com minhas emoções. O que eu não posso é parar satisfeito ao nível dos sentimentos, das emoções, das intuições. Devo submeter os objetos de minhas intuições a um tratamento sério, rigoroso, mas nunca desprezá-los".

Acerca do papel da intuição na produção de novos conhecimentos FREIRE (1995) salienta:

"...Para mim é impossível conhecer rigorosamente com desprezo a intuição, aos sentimentos, aos sonhos, aos desejos. É o meu corpo inteiro que, socialmente, conhece. Não posso, em nome da exatidão e do rigor, negar meu corpo, minhas emoções, meus sentimentos. Sei bem que conhecer não é adivinhar mas conhecer passa também por adivinhar. O que não tenho direito a fazer, se sou rigoroso, sério, é ficar satisfeito com a minha intuição. Devo submeter o objeto dela ao crivo rigoroso que merece, mas jamais desprezá-lo. Para mim, a intuição faz parte da natureza do processo do fazer e do pensar criticamente o que se faz." (Freire, 1995).

Nesta abordagem do processo educativo a afetividade ganha destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar as pessoas do que um raciocínio brilhante, repassado mecanicamente. Esta idéia ganha adeptos ao colocar as atividades lúdicas no processo do desenvolvimento humano.

O jogo e a brincadeira estão presente em todos as fazes da vida dos seres humanos, tornando especial a sua existência. De alguma forma o lúdico se faz presente e acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre as pessoas, possibilitando que a criatividade aflore.

Por meio da brincadeira a criança envolve-se no jogo e sente a necessidade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversário, a parceria é um estabelecimento de relação. Esta relação expõe as potencialidades dos participantes, afeta as emoções e põe à prova as aptidões testando limites. Brincando e jogando a criança terá oportunidade de desenvolver capacidades indispensáveis a sua futura atuação profissional, tais como atenção, afetividade, o hábito de permanecer concentrado e outras habilidades perceptuais psicomotoras. Brincando a criança torna-se operativa.

O brinquedo como suporte da brincadeira tem papel estimulante para a criança no momento da ação lúdica. Tanto brinquedo, quanto a brincadeira, permite a exploração do seu potencial criativo de numa seqüência de ações libertas e naturais em que à imaginação se apresenta como atração principal. Por meio do brinquedo a criança reinventa o mundo e libera suas atividades e fantasias.

A entrada da criança no mundo do faz-de-conta marca uma nova fase de sua capacidade de lidar com a realidade, com os simbolismos e com as representações. Com o brinquedo a criança satisfaz certas curiosidades e traduz o mundo dos adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades.

O ato de criar permite uma Pedagogia da criatividade na escola. Permite um ato de amor, de afetividade cujo território é o dos sentimentos, das paixões, das emoções, por onde transitam medos, sofrimentos, interesses e alegrias. Uma relação educativa que pressupõem o conhecimento de sentimentos próprios e alheios que requerem do educador infantil a disponibilidades corporal e o envolvimento afetivo, como também, cognitivo de todo o processo de criatividade que envolve o sujeito-ser-criança.

A afetividade é estimulada por meio da vivência, a qual o educador estabelece um vínculo de afeto com o educando. A criança necessita de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de se chegar perto do sujeito e a ludicidade, em parceria, um caminho estimulador e enriquecedor para se atingir uma totalidade no processo do aprender.

A ludicidade tem conquistado um espaço no panorama da educação infantil. O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e também a estimulação da afetividade na criança. A criança estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e paixões; suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades.

A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo.

Entender o papel do jogo nessa relação afetiva-emocional e também de aprendizagem requer que percebamos estudos de caráter psicológico, como mecanismos mais complexos, típicos do ser humano, como a memória, a linguagem, a atenção, a percepção e aprendizagem. Elegendo a aprendizagem como processo principal do desenvolvimento humano enfocamos VYGOTSKY (1984) que afirma: a zona de desenvolvimento proximal é o encontro do individual com o social, sendo a concepção de desenvolvimento abordada não como processo interno da criança, mas como resultante da sua inserção em atividades socialmente compartilhadas com outros. Atividades interdisciplinares que permitem a troca e a parceria. Ser parceiro é sê-lo por inteiro Nesse sentido, o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e as trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida formativa do indivíduo.

VYGOTSKY (1984) salienta, que a interação social implica transformação e contatos com instrumentos físicos e/ou simbólicos mediadores do processo de ação. Esta concepção reconhece o papel do jogo para formação do sujeito, atribuindo-lhe um espaço importante no desenvolvimento das estruturas psicológicas. De acordo com VYGOTSKY (1984) é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva. Segundo o autor a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras.

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

A formação lúdica interdisciplinar se assenta em propostas que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição da alma, proporcionando aos futuros educadores vivências lúdicas, experiências corporais que se utilizam da ação do pensamento e da linguagem, tendo no jogo sua fonte dinamizadora.

Quanto mais o adulto vivenciar sua ludicidade, maior será a chance deste profissional trabalhar com a criança de forma prazerosa, enquanto atitude de abertura às práticas inovadoras. Tal formação permite ao educador saber de suas possibilidades e limitações, desbloquear resistências e ter uma visão clara sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida da criança.

Portanto, a utilização do lúdico fortalece a criança a utilizar da criatividade para a melhor solução de possíveis situações que possa surgir. Percebemos com isso que se o professor tiver conhecimento e prazer, mais probabilidade existirá de que os professores/aprendizes se utilizem desse "modelo" na sua sala de aula. NÓVOA (1991) afirma que o sucesso ou insucesso de certas experiências marcam a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula.

Na comunidade educacional o contributivo do lúdico prima em valorizar a construção do comportamento infantil, dando ênfase à atividade interdisciplinar, à postura do educador em favorecer atividades que propiciam o prazer, a alegria, a inter-relação, a parceria, gerando um clima afetuoso no sujeito-criança, permitindo ao processo de aprendizagem uma efetivação satisfatória e realizadora.

Portanto, percebemos que brincar é coisa séria. É o grande desafio para o educador infantil em sua formação lúdica e na construção interdisciplinar do processo aprendizagem, com ênfase a Pedagogia da Criatividade na Escola, no ambiente-escola.

A INSERÇÃO DO DESIGN NA EDUCAÇÃO

O design pode contribuir para a educação, não só para a educação dos designers, mas de todos, especialmente das crianças e dos adolescentes, desde os jardins-escolas até as escolas secundárias. O design leva a criança à reflexão e à construção de sua história e de sua cultura. Abrangendo modo pelo qual as pessoas, em diferentes sociedades, chegam a interagir com o mundo, interpretando, representando e construindo sua realidade.

Completando, o design não faz o uso de métodos rígidos, estáticos que podem ser interpretados como uma receita de bolo, mas, antes de tudo, ele cria métodos específicos de lidar com problemas aos quais o designer é submetido. Portanto, o design é um agente criador, transformador, integrador e horizontal possuidor de uma abordagem e experiência multidisciplinar. O ensino da filosofia do design satisfaz a necessidade de uma formação que integre em um todo: a criatividade, o pensamento, a invenção, a representação, a tradução e a abstração.

O uso sistemático de técnicas utilizadas ao fazer design estimula o desenvolvimento das capacidades humanas de forma singular. Ao utilizarmos o design; suas ferramentas; seus fundamentos; sua metodologia de trabalho; sua maneira de interagir na formação da cultura material; seus procedimentos conceptivos; sua maneira de utilizar as tecnologias e os materiais; seu senso estético; sua maneira de realizar a leitura e a configuração do entorno; podemos afirmar que torna-se, no seu sentido e significado mais amplo, um poderoso instrumento pedagógico para participar ativamente na educação das crianças e jovens cidadãos.

CONCLUSÃO

Nos, agentes condutores construtores do saber experimentado e aplicado, por tanto o único realmente verdadeiro, temos o dever moral de contribuir de forma ciente e consciente para essa tão sonhada transformação. Contudo, para que possamos gozar os benefícios de uma educação efetiva, precisamos iniciar este processo de evolução lentamente. Todo educador pode interferir positivamente na formação das pessoas, mesmo quando inseridos em um sistema que exige resultados rígidos, dificultando o processo de Educação. Quando em sala de aula, durante seu trabalho de educador, este tem a oportunidade de "tocar" o estudante convidando-o ao aprendizado. Despertando o mesmo à criação e não a reprodução, a verdade experimentada e não mais a verdade revelada. E uma das principais ferramentas que pode ser usada nessa busca é a faculdade da criatividade.

Independente do aparato ideológico estatal para o qual esta parcela de professores "adaptados" a esse modelo de ensino atual trabalhe. Em um mundo marcado pela transformação, precisamos de habilidades que nos tornem capazes de detectar novas tarefas e nos capacitar para sua resolução. À medida que nos preparamos somente para os desafios de hoje tornamos nossas competências obsoletas em um breve espaço de tempo.

A originalidade, a curiosidade, a pesquisa, a apreciação do novo, a inventividade, a autodireção, a percepção sensorial e a autodeterminação devem nortear as ações do indivíduo criativo no meio social. A sociedade organizada, a família e a escola particularmente, são os legítimos depositários da responsabilidade de criar as condições necessárias para o pleno desenvolvimento e preservação do potencial criativo do indivíduo.

Logo, a atividade de Design apresenta-se como uma excelente oportunidade de experiência, uma ferramenta eficaz para a exercitação desse potencial criativo do individuo. Portanto, as atividades de Design, principalmente as atividades aonde dependa da criatividade como peça fundamental, quando bem estruturadas, com grau de complexidade de acordo com a faixa etária escolhida para a aplicação da tarefa e, se bem orientadas, cumprem, particularmente bem, o objetivo de exercitar as capacidades do ser humano e futuramente, provavelmente, contribuirão na formação de um indivíduo pleno.

Observa-se que o desenvolvimento das capacidades e o domínio das habilidades não podem ser vistas individualmente. Pouco contribuirá à sociedade um indivíduo que domine uma única aptidão. Para que possamos interagir com o contexto em que vivemos, precisamos desenvolver e dominar inúmeras habilidades e as conexões entre estas. Que contribuição social trará um indivíduo que domine a capacidade de imaginar soluções não-imaginadas, mas que não consegue transforma-las em algo concreto e comunicável? Uma idéia não compartilhada não tem valor social algum. O mesmo ocorre com alguém que domina o ato comunicacional, mas não possui a habilidade de refletir sobre novas situações e ter soluções convenientes diante de novas tarefas. Em nada contribui alguém que transmita informações simplesmente pelo fato de transmiti-las, sem pensar na sua validade e pertinência diante do contexto onde está inserida.

Ser criativo exige mudanças de atitude, de comportamento e na maneira como encaramos os problemas do dia-a-dia. Necessitamos de autoconfiança, segurança emocional, apoio e reconhecimento da sociedade. A criatividade exige do criador, audácia, coragem e paixão. Nascemos com ela, porém aos poucos nos é tirada pelo processo de socialização. Necessitamos tomar consciência das extensões de nossos bloqueios e utilizar esta consciência como elemento motivador para despertar e assumir uma nova atitude. Ela implica no reconhecimento e rompimento intencional das barreiras e bloqueios e na construção de uma nova sociedade mais tolerante, justa e humana. Trata-se de uma luta constante contra o conformismo e a passividade. A originalidade, a curiosidade, a pesquisa, a apreciação do novo, a inventividade, a autodireção, a percepção sensorial e a autodeterminação devem nortear as ações do indivíduo criativo no meio social. A sociedade organizada, a família e a escola particularmente, são os legítimos depositários da responsabilidade de criar as condições necessárias para o pleno desenvolvimento e preservação do potencial criativo do indivíduo.

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