UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA


LUDIMILA SOUZA ALMEIDA



EDUCAÇÃO E POLÍTICA


JEQUIÉ-BA
2010



Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Graduada em Pedagogia, pelo Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.



À minha família e principalmente a minha mãe pelo carinho e apoio absoluto na minha trajetória. Propiciando as condições necessárias para a realização deste trabalho.



AGRADECIMENTOS


Aos professores, pelo apoio, aprendizagem e incentivo durante o curso de Pedagogia, em especial a professora Alessandra Bueno De Grandi pela motivação e orientação para conclusão deste trabalho monográfico.

Aos colegas de turma, pela convivência diária, pelas amizades conquistadas e pelas trocas e reflexões críticas que se tornam significativas durante minha caminhada no curso.

Aos meus familiares, tais como, tias e irmãs, que me incentivaram e apoiaram principalmente nos momentos difíceis que vivi durante o curso.

A minha eterna avó Zenaide que em vida dedicou-se totalmente a minha formação dano-me base para ser o que sou hoje, a ela devo tudo isso.

Ao meu namorado que estava ao meu lado o tempo todo e as minhas amigas que me apoiaram nos momentos conturbados do curso.

E ao povo brasileiro, que de forma direta e indiretamente financiaram a minha graduação.



"A resposta que o homem dá a um desafio não muda só com a realidade com a qual se confronta. Muda o próprio homem cada vez mais e sempre de modo diferente. Pelo jogo constante destas respostas o homem se transforma no ato mesmo de responder. No ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, ação? Todas essas coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente ?adaptado? à realidade e aos outros, mas ?integrado? pela ação, é que o homem se constrói como homem."
(Paulo Freire).



RESUMO


Este trabalho monográfico cujo tema "Educação e Política", tiveram como objetivos compreender como a relação entre educação e política encontra-se presente na sociedade, analisar a contribuição de Paulo Freire na educação, sob a perspectiva de uma transformação social e analisar o Programa Social PETI enquanto espaço sócio-educativo, a fim de discutir a educação e política na sociedade contemporânea. Para atingir esses objetivos realizou-se quanto aos fins uma pesquisa de caráter explicativo e quantos aos meios de caráter participante e bibliográfico. As considerações finais demonstraram que os vínculos entre educação e política na contemporaneidade, encontram-se relacionados e atrelados em todas as esferas existentes na sociedade, entendida como, plural, classista e desigual. Para que essa relação seja compreendida, é necessário e urgente que os profissionais envolvidos na educação abarquem a lógica dessa relação, levando para o espaço escolar e para os alunos uma visão mais crítica do atual sistema que é imposto.


Palavras - Chave: Educação. Política. Sociedade. Transformação social. Espaço escolar. Alunos.



SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO........................................................................................................08

2 EDUCAÇÃO E POLÍTICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ................................................................................................12

3 EDUCAÇÃO COMO TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NA CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE........................................................................................................23

4 EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA SALA DE AULA: PROGRAMA SOCIAL PETI...........................................................................................................................38

5 O PROCESSO DE TRABALHO...............................................................................................................45

5.1 Desenvolvimento da Pesquisa....................................................................................................................
5.1.1 Tipo de Pesquisa....................................................................................................................

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................................45

REFERÊNCIAS......................................................................................................53



1 INTRODUÇÃO

Entendendo a educação e a política como processo global e amplo e que por sua vez requer um olhar mais atento e crítico dos educadores, professores e profissionais envolvidos na área, a educação e a política encontram-se atreladas, porque implicam em opções diárias do educador e este não pode ser neutro, na medida em que se entende a neutralidade como uma postura ideológica, segundo Freire. Nessa perspectiva e no intuito de compreender o seu sentido mais amplo, a educação e a política tornam-se instrumentos complexos diante da realidade que analisamos e vivemos na nossa sociedade, essa entendida como plural, classista e desigual.

Alcançar a educação na sua dimensão humana, política, social e econômica é um grande desafio, porque a educação encontra-se presente em toda esfera da vida social, seja nos discursos dos professores, dos educadores, nos espaços escolares, nas salas de aula, na merenda escolar, no mundo do trabalho, nas comunidades, nas relações com o outro, enfim, em tudo que está presente na sociedade. A mesma pode ser compreendida em espaços formais como as instituições de ensino e em espaços não-formais de educação como, por exemplo, as famílias, as comunidades, as religiões, as ONGs, os movimentos sociais, os programas sociais do governo, mais especificamente o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que tem por objetivo retirar crianças e adolescentes das ruas que estão em situação de risco e vulnerabilidade social.

Abrangendo a educação no seu sentido mais global, ela é e se torna a convivência diária com o outro, porque por si só não se define plenamente, encontra-se interligada a fatores internos, externos, econômicos e políticos da vida social. A educação nesse sentido é uma ligação a fatores geradores do conhecimento formal e informal.

Essa perspectiva de fazer relações e ligações entre educação e a política, requer por parte dos envolvidos um melhor entendimento de como essa relação pode tornar-se um instrumento de alienação, de manipulação, de forma que não percebemos as interações que as envolvem. Assim é importante entender a política de seu tempo de forma ampla, desde os discursos pedagógicos até as posturas dos profissionais envolvidos no âmbito educacional.

Portanto a educação serve como base de emancipação do homem, de troca de conhecimentos de uma nação, que almeja por uma transformação social, possibilitando o aperfeiçoamento humano, social, técnico e político no educador. É necessário fazer uma conexão direta da sua definição e finalidade para que possamos esclarecer o seu sentido na prática, desmistificando suas funções e relações encontradas na Sociedade contemporânea, ou seja, a que ordem social a educação esta realmente atendendo, e para que finalidade ela está sendo colocada.

Pensando na perspectiva de que a educação não pode ser compreendida a margem da história, mas no contexto que os homens estabelecem entre si as relações, a educação não pode ser separada da questão política, a principio não cito a política partidária, como tendenciamos enxergá-la, mas a política como visão ampla, que abarca todas as instâncias da sociedade, do poder, das imposições que o estado estabelece, das ideologias que cria na mente das pessoas uma idéia de que todo que acontece no mundo é algo natural e que não existe uma razão lógica para isso.

Esta problemática relativa à educação é historicamente constituída ao longo do século no Brasil. Porque quando falamos de educação logo nos chega à imagem da escola enquanto espaço formal de educação, mas a educação é um campo amplo que abrange vários espaços de transferência de saberes, que ajuda a pensar tipos de homens, mas do que isso ajuda a criá-los e recriá-los.
Este trabalho justifica-se exatamente diante da necessidade de profissionais da educação poder estar debatendo essa temática na tentativa de entender que "se a educação não pensa a política, a política o tempo todo pensa a educação", ou seja, não separa a educação da questão do poder, ela faz parte de toda esfera da vida social, e compete aos educadores deixar clara essa relação para que o processo de educação almeje uma futura mudança do atual sistema.

Faz-se necessário então discutir esse tema no contexto atual da educação e compreender como ela está presente no contexto da globalização, tecnologia, política e da sociedade contemporânea. As questões que norteiam esse trabalho são: quais os vínculos entre educação e política na sociedade contemporânea? Tendo como fio condutor a análise do Programa Social PETI.

Portanto, este trabalho tem como objetivo principal discutir a relação entre educação e política na sociedade contemporânea, compreendendo como a educação e a política encontra-se presente nas relações da sociedade, analisando a contribuição de Paulo Freire na educação, sob a perspectiva de uma transformação social e analisando e refletindo o Programa Social PETI enquanto espaço sócio-educativo.

O desenvolvimento deste trabalho será realizado através de uma pesquisa bibliográfica que "é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao publico em geral" que segundo Lakatos "consiste na investigação e detalhamento dos elementos básicos que compõem o núcleo do que se passou a chamar de modo genérico de "estudos sobre a ciência", tendo como ponto fundamental educação e política. Realizaremos também uma análise e reflexão de conteúdo do programa do governo federal (PETI).

A análise teórica deste trabalho se baseia nos estudos de Althusser (1985) e Marilena Chauí (2000) que a respeito do tema abordam questões sobre os aparelhos ideológicos de estado, as ideologias e a alienação presentes na sociedade capitalista. Meszáros (2005) que trata das questões referentes ao sistema capitalista. Adorno (1995) que aborda a educação e a emancipação em uma perspectiva de conscientização e racionalidade do individuo. Gadotti (1991) que faz um conjunto de reflexões acerca das posturas dos educadores em sala de aula e seu processo de formação. Paulo Freire (1997) que traz as questões relacionadas à consciência do educador enquanto ser histórico na perspectiva de uma transformação social. Gramsci (1968) que trata da distinção entre a sociedade política e a civil cuja formação de intelectuais provenientes da classe trabalhadora, denomina "intelectuais orgânicos".

Este trabalho está dividido em cinco capítulos, sendo o primeiro introdutório, o segundo uma discussão entre educação e política na sociedade contemporânea. No capitulo três, vamos abordar a contribuição de Paulo Freire na perspectiva de uma transformação social e no quarto vamos analisar o Programa Social do Governo Federal (PETI) enquanto espaço sócio-educativo. As considerações finais configuram-se como o último capítulo.


2 EDUCAÇÃO E POLÍTICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Se tentarmos definir o conceito de educação e como está sendo a sua função na prática social podemos obter uma infinidade de respostas, pois, a mesma pode ser compreendida em vários aspectos presentes na sociedade. O conceito de educação por mais difícil que seja definir, sempre será expressão de vida, possibilitando o exercício do pensar, agir, refletir e criar no homem uma perspectiva de mudanças e de transformações, onde quem aprende sempre está ensinando e quem ensina sempre está aprendendo.

Pelo senso comum trata-se de ensinar a ler e escrever com a finalidade de garantir ao educando uma situação de vida melhor no futuro, como tantas vezes ouvimos de alguns quando perguntados sobre a "importância da escola e o porquê irem à escola"; contudo a educação muitas vezes acaba sendo vista grosseiramente como uma simples ferramenta que deve dar a cada aluno apenas o domínio das operações matemáticas básicas. Assim, a problemática que envolve a educação no seu processo global tem sido amplamente discutida por diferentes grupos, com interesses sociais diferentes.

A escola nesse sentido deve ser vista como um espaço privilegiado, onde se trabalha com os saberes, a consciência de classe, as ideologias que acabam encapsulando a sociedade dividida em suas diferentes classes sociais; as escolas também deveriam articular outros saberes, mas que acaba sendo instrumento de dominação e alienação presentes nos discursos e na prática dos professores.

Nesse sentido a nossa reflexão aborda a educação como um processo global, nas suas relações com a sociedade capitalista, sobretudo do ponto de vista político e ideológico do processo educativo. Este por sua vez requer mais atenção por parte dos educadores, da escola, e da sociedade, entendida nas suas diferentes classes sociais. A educação não deve ser entendida fora do contexto social, porém a mesma deve ser entendida nas relações estabelecidas entre os homens, sendo impossível separar a educação da questão do poder, da questão política, pois a educação não é um processo neutro, mas se acha comprometida com a infra estrutura da sociedade. Notamos que a educação sofre os efeitos da ideologia que consiste em naturalizar as relações sociais, na imposição de valores de uma classe economicamente dominante, como se estes fossem valores universais.

Ainda no que diz respeito à educação, a escola torna-se um instrumento de dominação na Sociabilidade. Em outras palavras, a referida instituição tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível compreender como a mesma atua na reprodução social.

A primeira delas diz respeito ao caráter classista da educação escolar, que foi bem apresentada por Althusser (1985 p.57-8):

Ora, o que se aprende na escola? É possível chegar-se ao um ponto mais ou menos, avançado nos estudos, porém de qualquer maneira aprende-se, a ler, escrever e contar, ou seja, algumas técnicas, e outras coisas também, inclusive elementos (que podem ser rudimentares ou ao contrario aprofundados) de "cultura científica" ou "literária" diretamente utilizáveis em diferentes postos da produção (uma instrução para os operários, uma outra para os técnicos, uma terceira para os engenheiros, uma ultima para os quadro superiores, etc...) Aprende-se o know-how.

Segundo Althusser (1985, p.78,) alguns professores se posicionam contra a ideologia, esses professores conseguem enxergar a educação e a escola como um espaço de luta e de transformação social, compreendendo que, o que está "estabelecido" nessa lógica capitalista poderá ser mudado, na medida em que os professores conseguem compreender a lógica dessa relação (educação/escola), outros (professores) não conseguem compreender a dinâmica do seu trabalho, a concepção que norteia sua prática de ensino e muitos acrescentaria, não sabem para quem ou a serviço de quem trabalha, a quem estão prestando os conhecimentos, a favor de quem e como usá-lo de forma crítica e consciente na sala de aula.
Nessa mesma linha de pensamento Meksenas (1988, p. 82) afirma que:

Existem professores que se recusam a transmitir os valores da sociedade capitalista como os únicos e verdadeiros: são professores que se empenham cada vez mais em desenvolver o senso crítico, procuram denunciar em suas aulas as relações de poder e dominação presentes em nossa sociedade.

Com tudo isso, a escola vai perdendo seu real sentido, seu papel vai ficando a margem de formar os cidadãos apenas para o mercado de trabalho, onde entendemos que o papel da escola é formar cidadãos conscientes dentro da sociedade, compreendendo seus direitos e deveres enquanto cidadãos e suas especificidades enquanto agentes em formação do processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido a escola vai se tornando algo tão natural e indispensável quanto era a Igreja no passado, ou seja, ela vai despejando os conhecimentos silenciosamente.

Na mesma linha de raciocínio, afirma Althusser que todos os aparelhos ideológicos de Estado, quaisquer que sejam concorrem para o mesmo fim: a reprodução das relações de produção, isto é, das relações de exploração capitalistas. Ele quer dizer que, cada um dos grupos da sociedade dispõe de sua ideologia, seja no papel de explorado, de agente de repressão, de dominado, de agente receptor de informações despejado pela mídia, rádio, televisão, enfim, as ideologias não são uma ou outra idéia, formam um conjunto muito mais vasto, de valores, representações, crenças, teorias, isto é, as classes sociais que produzem sua própria ideologia. Segundo Althusser (2001, p.84) a ideologia em geral é compreendida nos seguintes termos:
[...] a ideologia não teria uma história própria, pois não passa de devaneio consciente, produto arbitrário de uma imaginação desordenadamente a - histórica e que, como o inconsciente para Freud, "tem uma estrutura e um funcionamento tais que fazem dela uma realidade não histórica, isto é, no sentido em que esta estrutura e este funcionamento se apresentam da mesma forma imutável em toda a história"

Para ele, o Estado em geral é composto pelo governo, à administração, o exército, a polícia, o sistema penal, o sistema judiciário, etc. esses elementos citados acima formam então os aparelhos repressivos, que usam da força moral, da força psicológica e física, reprimindo as resistências ou as oposições sempre que necessário. Já os aparelhos ideológicos de estado são considerados como aqueles que de forma distintas complementam o sistema de dominação, por meio da ideologia, sendo eles: os jurídicos, os familiares, os políticos, culturais e escolares.

Segundo Quintella; Mayer (2010)
A Ideologia seria então, de fato, uma estrutura funcional básica, ou seja, um conjunto de engrenagens que determinaria as diversas manifestações ideológicas práticas, seus mecanismos sujeitariam os indivíduos, fazendo-os reconhecerem-se enquanto sujeitos sociais de uma concretude falsa e naturalmente sujeitados por ideais abstratos, mas tidos como ?reais? e absolutos.

Essas considerações nos advertem de que o fenômeno educacional que atinge todas as instâncias da nossa sociedade não pode ser definido como neutro, uma vez que se encontra intrinsecamente ligado aos problemas econômicos, políticos e sociais do seu tempo.

Discutir o conceito de escola na atualidade consiste, portanto entender como está sendo compreendido o seu sentido na prática pedagógica, pois o processo educacional encontra-se interligado nas posturas dos educadores e as formas como os mesmos estabelecem as suas relações com a sociedade contemporânea.

A educação nesse sentido não só ocorre em espaços formais (escolas), acontece também em espaços não formais de educação como os movimentos sociais, que possuem uma pedagogia voltada para o processo de formação e humanização do sujeito, os programas do governo federal especificamente o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), que tem por objetivo retirar crianças e adolescentes do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre e degradante, possibilitando o acesso, a permanência e o bom desempenho de crianças e adolescentes nas escolas, a pedagogia griô, cujo projeto tem por objetivo resgatar os saberes da cultura oral e das histórias de vida de cada povo, etc.

Nessa perspectiva é importante ressaltar que a educação não é apenas um monopólio da escola, o processo de educação abrange e encontra-se relacionados em todas as instâncias educacionais, seja no processo formal e informal de educação. Com isso ao longo do tempo a escola vem construindo uma proposta pedagógica através da qual educar não se reduz meramente a transmitir conhecimentos acumulados, mas em buscar integrar o homem a seu meio. Os educadores são desafiados a compreender melhor a dinâmica desse movimento e aprender que algumas dimensões de sua pedagogia podem ser incorporadas e refletidas nas práticas cotidianas e em suas teorias de educação.

Diante de um contexto tão conflitante, todo educador deve saber que a educação é um ato de conscientização, de construção e reconstrução do conhecimento, consistindo em um dos meios de batalhar e libertar os indivíduos senão da exploração, ao menos do estado de ingenuidade que a ideologia dominante deposita. Por outro lado não podemos ser utópicos a ponto de pensar que a educação sozinha irá libertar a sociedade aceitando-a como tranqüila e harmoniosa, o que nos leva a pensar sobre as diversas instituições e seu papel na sociedade contemporânea.

Nesse sentido o papel do educador é o de elucidar a realidade, ou seja, esclarecer e conduzir o processo educativo no sentido de oportunizar aos educandos uma reflexão não só dos conteúdos estudados na sala de aula, mas também do contexto sócio-político-econômico em que os mesmos encontram-se inseridos. A tarefa coerente do educador é desafiar o educando a produzir seu próprio pensamento e compreensão da realidade através de uma interação reflexiva, crítica e bastante dialogada. Essa relação deve proporcionar aos educadores e educandos uma conscientização do seu papel social dificultando assim, a ação da ideologia que se efetiva não somente através do livro didático como também através de outros meios de comunicação.

Segundo Paulo Freire (1982), "aprender é construir, reconstruir e constatar para mudar, é ir além de repetir a lição dada. Toda prática educativa demanda a existência de sujeitos que ensinando aprende, e aprendendo, ensina". Para ele, a função da ideologia é convencer os prejudicados de que a realidade é assim mesmo, de que não tem jeito, não há nada a fazer a não ser, seguir a ordem natural dos fatos. Portanto um educador verdadeiramente compromissado não deve se colocar numa posição neutra, mesmo porque esta posição segundo ele não existe.

É necessário, pois, que os educandos levem seus alunos a desvendar os fatos ao invés de aceitá-los passivamente. Devemos proporcionar-lhes a percepção de que eles são sujeitos históricos, possuem força política e, são, portanto, capazes de interferir significativamente na história e fazer valer seus direitos enquanto cidadãos.
Nessa perspectiva Gadotti (1991), diz que, mede-se o educador pelo grau de consciência de classe que tiver tanto burguesa quanto proletária, pois seu papel é exatamente transmitir a ideologia que o movimenta enquanto ser histórico.

Gadotti (1978, p.79,) ressalta que:
Colocar a questão política significa ainda afrontar a grave questão: para que serve o que aprendemos? Para que é e contra quem é? Para que serve a escola? Colocar a questão política significa ainda ter a ousadia de perceber que numa sociedade dividida em classes antagônicas, a escola é um aparelho da classe dominante. Nessa sociedade, a universidade, sobretudo, tem uma função particular: formar advogados para defenderem o capital, formar médicos para cuidarem da saúde da burguesia, formar economistas para defenderem os interesses particulares do capitalismo, formar educadores para conservar tudo isso como está.

Contudo, fica claro que, a tarefa pedagógica não se limita estritamente à sala de aula, prolonga-se na organização de classe dos trabalhadores da educação, no trabalho extra-escolar.

Portanto a educação torna-se parte integrante do universo social da cultura. Cabe a ela a tarefa de participar de todo o trabalho de criação de pessoas não apenas capacitadas para o trabalho produtivo segundo as leis do mercado, mas pessoas educadas para serem agentes críticos, reflexivos e criativos na criação do seu próprio mundo social, ou seja, compreender a educação como um processo de emancipação dos seres humanos, enquanto classe ou como indivíduos.

Entender emancipação na contribuição de Adorno (2010, p. 1) significa o mesmo que entender conscientização e racionalidade numa democracia, onde ele afirma que "defender ideais contrários à emancipação de cada pessoa em particular é acreditar que a consciência é o pensar em relação à realidade, ao conteúdo, a relação entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito". Isso que dizer que, esse pensamento não fica restrito só ao desenvolvimento lógico formal, mas ele corresponde à capacidade de fazer experiências intelectuais.

Assim, Adorno (1995) trata da emancipação levando em conta dois problemas difíceis, o primeiro diz respeito à própria organização do mundo em que vivemos e a ideologia dominante, ou seja, a própria organização do mundo que se transformou na ideologia, que exerce uma influencia tão grande que aliena e mascara a realidade. Ele ainda acrescenta que educação hoje se dá não só no seu processo formal (escola), como no processo informal como, por exemplo, nas famílias, nas comunidades, nas igrejas, nas relações de convivência entre diversas pessoas.

Questionando a educação autoritária, baseada na submissão e na imposição dos meios de funcionamento das leis e regras nessa perspectiva, o autor analisa a educação a partir dos conceitos de barbárie e emancipação. Emancipação na visão de Adorno é quando a educação evita no homem o que ele chama de barbárie, ou seja, o impulso de destruição que o homem trás consigo mesmo. Assim evitar a barbárie seria estabelecer no homem o espírito de emancipação cuja finalidade seria uma educação mais autônoma com formação de sujeitos críticos e emancipados.

Ainda segundo Adorno (1995, p.45)
A concretização de uma sociedade verdadeiramente democrática só se realizará quando esta for formada por sujeitos emancipados, ou seja, sujeitos capazes de atuarem na sociedade possibilitando sua transformação. A educação seria a responsável por favorecer o desenvolvimento dessas pessoas emancipadas e por isso deve rever sua atuação para cumprir essa função.

Com isso pensar na perspectiva da emancipação do homem, requer por parte dos educadores uma visão mais "aguçada" quanto às necessidades reais que "pulsam" a sociedade, nesse sentido a educação torna-se uma peça fundamental nesse processo de emancipação do homem.
Sobre isso ele ressalta que:

O grande desafio da educação é a desbarbarização e se, por meio da educação, pode-se transformar algo de decisivo em relação à barbárie. Está é uma condição em que o homem se encontra e, que, apesar de estar em um desenvolvimento industrial tecnológico, ele se encontra atrasado e, por possuir uma agressividade primitiva a um impulso de destruição, contribuem para aumentar o perigo de que toda civilização venha a explodir. Por isso, a tentativa de superar a barbárie é decisiva para a sobrevivência humana. Adorno, 1995, p. 46)

Para Meszáros (2005, p.39), "romper com a lógica do capital na área da educação equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e profundamente enraizadas de internalização mistificadora por uma alternativa concreta abrangente". Isso significa que não se pode escapar da formidável prisão do sistema escolar estabelecido, reformulando-o simplesmente. A educação não pode ser compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada à ação pedagógica.

Em uma Sociedade Capitalista, classista e desigual, que mascara a realidade centrada na exploração dos trabalhadores, o papel das ideologias consiste em naturalizar as relações sociais e tornar universais conceitos como democracia, liberdade, cidadania, educação, dentre outros, fazendo com que os indivíduos não tenham consciência de seu papel na sociedade tornando-se seres alienados da sua própria vida.

Abordar a questão política no caráter educativo da sociedade contemporânea refere-se exclusivamente a política partidária, subentende-se certa dificuldade para compreender que a política perpassa toda a esfera da vida social, que significa a própria construção da sociedade, entendida nas suas diferentes classes sociais, mas ainda assim expressões como "política não se discute" são freqüentemente ouvidas. A política encontra-se sempre presente na estrutura e na localização da escola, na merenda escolar, nas relações pessoais, na organização dos conteúdos programáticos e, sobretudo, na postura e nos discursos dos educadores. É necessário compreender que existe uma relação direta entre o discurso pedagógico e o discurso ideológico e que esses são vínculos da ideologia dominante.

Quando se estuda historicamente a maneira pela qual se formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, percebe-se que eles dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado, das indústrias, etc. Nessa perspectiva a educação encontra-se atrelada as diversas instâncias do sistema Capitalista, e a mesma deve instrumentalizar o homem como um ser capaz de agir sobre o mundo e, ao mesmo tempo, compreender a sua ação exercida.

Numa sociedade de classes antagônicas, a educação é classista. E na ordem classista, educar, no único sentido "aceitável" na sociedade e para sociedade, significa conscientizar e lutar contra esta ordem, e subvertê-la. Não temos apenas uma escola, mas muitas escolas, escolas que formam dominadores e escolas que formam dominados, escolas que formam para trabalhar nas fábricas, e escolas que formam para dirigir uma sociedade. Reconhecendo que a educação é um ato de conhecimento e de conscientização e que, por si só, não leva uma sociedade a se libertar da opressão.

Vivendo numa Sociedade fetichizada como a nossa onde tudo está associado ao capitalismo e ao mercado consumidor é muito difícil tratar da dimensão política da educação. Se por um lado há uma dissociação entre política e educação, por outro lado há distintas ideologias presentes na organização social. Trazer a questão política da educação para os educadores e para sala de aula seria estabelecer uma relação clara entre escola e sociedade, classe dominante e classe dominada, burgueses e proletários, trabalho e capital, etc. Isso implica perceber que numa sociedade dividida em classes sociais, a escola é um aparelho ideológico da classe dominante e na sociedade do Capitalismo formar educadores é mascarar tudo isso.

A educação de uma forma geral deve ser vista como uma ligação entre o individuo e a sociedade capaz de contribuir para a transformação da ordem social estabelecida, e a escola deve ser um espaço educativo, democrático e político, onde nas suas relações estabelecidas deparam com a realidade e contradições existentes. A escola não é uma ilha, mas faz parte do mundo, e nesse sentido reflete as disparidades e as lutas sociais. Ignorar esse fato é permitir que a escola permaneça a serviço de uma dominação ideológica deixando de se tornar um possível instrumento de mudança.

Pensar a sociedade de acordo com Meszáros (2005) exige uma superação da lógica "desumanizadora do capital que inclui o individualismo, o lucro e a competição que são seus fundamentos. É preciso romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente". Nesse sentido, educar para além do capital é pensar aquilo que está posto e "desalienar" o já alienado.

Na sociedade capitalista, mais desigual de toda a história, quer que se aceite que "todos são iguais diante da lei", se fazendo necessário um sistema ideológico que inculque na mente das pessoas esses valores. Nesse sentido a ideologia encontra-se presente em todas as instâncias da sociedade, contudo essa ideologia está posta mais ingenuamente dentro da classe dominada e alienante, porque a classe na qual ela esta inserida não consegue perceber a divisão de classe que a ideologia coloca, não sendo capaz dessa forma de possuir uma consciência crítica da sua condição de classe dominante.

No sistema capitalista, a educação se torna uma mercadoria, onde a escola é um aparelho ideológico do Estado, que vem a serviço da dominação de uma classe sobre a outra, através de um processo de hegemonia ideológica, mediante a uma conscientização alienante. Ela é um espaço em que se trabalha com o saber e onde se articulam determinados discursos ideológicos, onde os saberes individuais e as realidades vivenciadas por educadores e educandos encontram-se nos discursos, na medida em que os educadores despertem nos educandos uma consciência crítica da classe na qual os mesmos estão muitas vezes inseridos.

A direção apontada pelo educador nasce na relação de diálogo estabelecida entre ele e o educando. Nessa perspectiva Freire (1997, p.136) afirma que

[...] o dialogo não pode existir, contudo, na ausência de um amor profundo pelas pessoas e pelo mundo. A nomeação do mundo, que é um ato de criação e recriação, não é possível se não estiver infundida de amor: o amor é, simultaneamente, a base do dialogo e o próprio diálogo... uma vez que o amor é um ato de coragem, e não de medo, o amor é a entrega dos outros. Não importa onde se encontrem os oprimidos, o ato de amor é entrega a sua causa ? a causa da libertação. E esta entrega, porque é amor, é dialógica...

O educador precisa transpor as barreiras da sala de aula, transpor os muros e as paredes fechadas. E nessa relação o educador deve ir além dos conteúdos programados, deve relacionar o ato pedagógico com o ato político, que se torna função do educador, na medida em que entendemos que educar é um ato essencialmente político.

A educação pode criar no homem um ser novo, na sua dimensão social e humana. A educação formal escolar não é a força ideologicamente primária que consolida o sistema do capital, tampouco ela é capaz de por si só fornecer uma alternativa emanicipadora radical. Uma das funções principais da educação formal nas nossas sociedades é produzir tanta conformidade ou "consenso" quanto for capaz a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados.

No capítulo seguinte iremos abordar a perspectiva de Paulo Freire do ponto de vista da transformação social, em que o compromisso do educador deve ser acima de tudo segundo Freire um compromisso político com a sociedade, esse compromisso que ele tanto nos diz é e deve ser um compromisso diário que o educador precisa ter diante da realidade e que esse não pode ser um compromisso qualquer. Nesse sentido pensar educação e política na sociedade contemporânea requer por parte dos envolvidos na área de educação um engajamento político de que é possível pensar em uma perspectiva de mudança social.



3 EDUCAÇÃO COMO TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NA CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE

Paulo Freire contribui e contribui muito na reflexão do homem e seu compromisso com a sociedade. Ele nos trouxe imensas contribuições no que diz respeito a educação, onde o sentido mais expressivo da sua obra é a perspectiva de conscientização que o ser humano tem que ter perante a realidade vivida, seu discurso centra-se na possibilidade de uma educação libertadora, transformadora. Mesmo tendo iniciado seus estudos em cenário político opositor, a ditadura militar brasileira, Freire foi capaz de transcender as limitações impostas pelo momento político, utilizando-as como motivação para elaboração de uma proposta de educação transformadora, numa perspectiva de mudar a realidade social que o mesmo considerou desumana, opressora e excludente.

Freire soube como poucos intelectuais seguir a máxima marxista que diz que analisar a sociedade não é o bastante é preciso transformá-la. Ele buscou através da sua teoria da educação responder aos problemas do seu tempo e tomou a educação como componente prioritário na busca da transformação social. Sobre isso afirma Freire (2001, p. 52) que "o homem é um ser histórico "datado e situado", mas que não está limitado ao tempo e ao espaço, ele é capaz de transcender essas esferas, é capaz de estar no mundo e de transformá-lo sendo um ser inconcluso, inacabado, que tem a educação como instrumento de emancipação".

Freire nos ajuda a pensar esse modelo de sociedade que cada vez mais faz o homem vincular-se as condições gerais de uma sociedade globalizada, excludente sem obter as condições mínimas para "dialogar" com essa macro estrutura que altera as relações sociais, a cultura, a economia e a política do seu tempo. Nesse sentido podemos destacar na obra de Paulo Freire alguns valores e princípios pedagógicos, sendo o principal deles a "dialogicidade", porque para ele, o diálogo é a matriz da democracia, o educador precisa estar o tempo todo dialogando com os seus alunos, trocando experiências, conhecendo-os e fazendo com que eles se percebam sujeitos atuantes da sociedade.

Numa sociedade dividida em classes antagônicas, o diálogo não pode estabelecer-se só dentro da escola, da sala de aula, em pequenos grupos, o papel do educador de um novo tempo, do tempo dos conflitos, do engajamento, das contradições, é mais uma organização do conflito, do confronto do que a ação dialógica, pois segundo Freire não se pretende com isso condenar o diálogo, porém não se pode excluir o conflito sob pena de ser um diálogo ingênuo, porque o que dá força ao diálogo entre os oprimidos é a sua força de troca frente ao opressor.

Freire nos destaca alguns pontos cruciais em suas obras como o diálogo e o trabalho coletivo. O diálogo que ele nos fala não é o dialogo romântico entre oprimidos e opressores, mas o diálogo entre oprimidos para a superação de sua condição de oprimidos. Assim só existirá o diálogo se soubermos combater o conflito para que possamos ter um engajamento desses diálogos. Já o trabalho coletivo pensado por ele é através de ações coletivas da sociedade, ações essas que o educador precisa ter perante a realidade, nesse sentido ele é transformando a totalidade que se transformam as partes e não o contrário.

Freire nos ajuda pensar o homem na sua totalidade e sua capacidade de ser sujeito, de alterar as suas condições de vida e de transformar um mundo desumano em mundo mais justo, humano, onde as relações individualistas que são estabelecidas mudem para relações mais solidárias, de respeito, amor, esperança, cuidado, fazendo com que as práticas autoritárias mudem e tornem-se práticas mais dialógicas, flexíveis. Na suas obras Freire, nos faz pensar vários aspectos que tangem nossa sociedade, fazendo com que acreditemos que é possível e necessário pensar em uma educação libertadora, transformadora que possa despertar no ser humano um mundo mais digno em que o potencial transformador desse mundo é a própria educação e a sua importância para que promova efetivamente uma mudança social.

Ele nos faz pensar também a escola enquanto instituição que dentre outras funções deve formar cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, mas que hoje esta tendo a função de apenas domesticar os indivíduos para que os mesmos não consigam fazer uma reflexão crítica do atual sistema imposto, que máscara e aliena a realidade. Assim Freire nos alerta para uma sociedade mais humana e urgente, uma mudança de paradigmas que se posicione contra a lógica imposta até hoje, que a escola enquanto instituição formadora não pode mais ser um espaço, entre outros, de formação.
Precisa ser um espaço organizador dos múltiplos espaços de formação, exercendo uma função mais formativa e menos informativa. Precisa tornar-se um círculo de diálogo, discussão, como dizia Paulo Freire, muito mais gestora do conhecimento social do que lecionadora.

Depois de Paulo Freire ninguém mais pode ignorar que a educação é sempre um ato político. Pelo contrario, se a educação, notadamente a brasileira, sempre ignorou a política, a política nunca ignorou a educação. Não estamos politizando a educação. Ela sempre foi política. Freire ainda destaca que, "se a educação não trata da política, a política sempre tratou da educação", ou seja, é um jogo que se faz dessas relações uma interação que se encontra presente em toda esfera da sociedade.

Pensar na perspectiva de transformação social na visão de Freire é antes de tudo pensar na mudança de uma sociedade de oprimidos para uma sociedade de iguais, onde o papel da educação nessa relação é de elucidar os indivíduos e sua própria consciência de classe. Esse compromisso, podemos encontrar na dedicatória do seu livro mais importante, Pedagogia do oprimido, escrito no Chile, em 1968: "Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam".

Paulo Freire não se submeteu as tendências e correntes pedagógicas, ele criou um pensamento vivo orientado pelo ponto de vista do oprimido considerando que a educação é um ato essencialmente de conhecimento e de conscientização e que por si só, não leva a sociedade a se libertar da opressão. A educação não pode separar o ato pedagógico do ato político, pois os mesmos encontram-se interligados nas suas relações com a sociedade.

Não é possível fazer uma reflexão da educação na concepção de Paulo Freire sem refletir sobre o próprio homem, compreendendo-o enquanto ser inacabado e sujeito da sua própria educação, o homem nesse sentido chega a ser sujeito por uma reflexão feita sobre sua situação e o seu ambiente concreto. Acreditando que os homens são capazes de agir conscientemente sobre a realidade concreta e que poderão fazer dessa forma uma reflexão sobre sua ação e sobre o mundo, traz a idéia de que esta tomada de consciência não é ainda a conscientização, porque esta consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência.

A conscientização implica que ultrapassemos a esfera espontânea de inquietação da realidade, ou seja, quanto mais conscientização o sujeito tiver da realidade vivida, mais possibilidade terá frente à práxis, ou seja, mais possibilidade terá no ato de ação-reflexão. Esta dialética de ação-reflexão constitui o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. Por isso, a conscientização torna-se um compromisso histórico que implica nos homens um papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Segundo Freire (1979, p.21) isso acontece quando:
Não é possível um compromisso verdadeiro com a realidade, e com os homens concretos que nela e com ela estão se desta realidade e destes homens se tem uma consciência ingênua. Não é possível um compromisso autêntico se, aquele que se julga comprometido à realidade se apresenta como algo dado, estático e imutável.

A conscientização e a consciência estão baseadas na relação consciência e mundo. A conscientização deve trazer aos homens uma atitude crítica, se os homens enquanto seres que atuam na sociedade como sujeitos conscientes de seu papel aderirem a um mundo "feito" e "acabado" provavelmente estarão sujeitos, aprisionados e incapacitados de transformar ou mudar sua própria realidade. A conscientização deve estar a todo o momento entendida como um processo, pelo qual se apresenta em determinado momento e que em outro momento deverá prosseguir, na medida em que compreendemos que a realidade transformada mostra sempre um novo perfil e que esta está em constante busca.

Segundo Freire (1980, p. 27) "a conscientização nos convida a assumir uma posição utópica frente ao mundo". Essa utopia deve ser analisada na medida em que entendemos que a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar a atual estrutura desumanizante e anunciar a estrutura humanizante, assim à utopia é também um compromisso histórico, pois exige dos homens que pensam a sociedade um conhecimento crítico dela e sobre ela. Isso que dizer que, os homens não poderão denunciar ou anunciar as estruturas desumanizantes e humanizantes se não conhecê-las para assim transformá-las, muda-lás. Quanto a isso, Paulo Freire sabiamente nos afirma que
O trabalhador social que opta pela mudança não vê nesta uma ameaça. Adere à mudança da estrutura social porque reconhece esta obviedade: que não pode ser trabalhador social se não for homem, se não for pessoa, e que a condição para ser pessoa é que os demais também o sejam. (idem, p.51).

Para realizar a humanização que supõe a eliminação da opressão desumanizante é necessário ir além das situações nas quais os homens são reduzidos ao estado das coisas. Quanto mais conscientizados os homens se tornam, mais capacitados estão para ser anunciadores e denunciadores com o compromisso de transformação que esses homens estabelecem. Assim, a conscientização é o olhar mais crítico possível da realidade, ou seja, o homem passa a ser sujeito de conscientização quando consegue fazer uma reflexão sobre a realidade e seu ambiente concreto, quando isso acontece o homem comprometido consegue intervir em sua realidade em uma perspectiva de mudanças. Paulo Freire (1980, p.35) diz que,
Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência e a atitude critica, graças a qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita freqüência a educação em vigor num grande numero de países do mundo, educação que tende a ajustar o individuo a sociedade, em lugar de promovê-lo em sua própria linha.

Isso quer dizer que a educação como um instrumento de emancipação do homem deve ajudá-lo a partir de tudo constituir sua vida enquanto sujeito consciente de seu papel na sociedade. Dessa forma, a educação precisa estar atenta em seus conteúdos, programas, métodos e fins aos quais se destinam, onde permita ao homem chegar a ser esse sujeito de construção e re-construção de conhecimentos, constituídos de historias e cultura, conscientes de seu poder de transformar a natureza e os desafios que ela propõe, ou seja, o homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não tiver consciência da realidade e da sua própria capacidade para transformá-la, construindo-se como sujeito ativo e comprometido.

Se a finalidade da transformação social não vem acompanhada pela transformação pessoal, o máximo que se pode alcançar é uma mudança estrutural limitada e estas mudanças não podem produzir uma sociedade justa, que respeite e valorize o sujeito enquanto ser histórico, desta forma, se os protagonistas da mudança não estiverem tão engajados e conscientes no processo de transformação social, certamente ficará difícil alcançar uma sociedade mais justa e igual.

Por outro lado, não é possível alcançar a transformação pessoal dentro de um vazio social. Como disse o poeta John Donn "nenhum homem é uma ilha." Todos somos parte do mundo e todos nós precisamos estar interligados uns com outros. O caminho para a transformação pessoal não se encontra em viver uma vida solitária, mas sim, através da interação com outros seres na sociedade. Isso quer dizer que a mudança social só acontecerá com a predisposição do sujeito estiver de acreditar e lutar para alcançar essa mudança, segundo é preciso que as estruturas políticas estejam abertas para essas mudanças. A verdadeira transformação social pensada por Paulo Freire nesse sentido necessitaria de indivíduos comprometidos com o processo educacional e com transformação de uma sociedade mais humana e mais justa.

Freire acrescenta dizendo que o compromisso do profissional com a sociedade nos indica que não se trata do compromisso de qualquer um, mas do profissional. A primeira condição para que um ser pudesse exercer um ato comprometido era a sua capacidade de atuar e refletir. É exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com finalidades propostas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis.

Somente quem é capaz de sair do seu contexto, de distanciar-se dele para ficar com ele, transformando-o, objetivando-o pela sua própria criação enquanto ser histórico é capaz de tudo isso, de comprometer-se. Sobre isso Freire enfatiza que "os homens que criam a sociedade são os mesmos que podem prosseguir transformando-as", o homem enquanto ser inacabado está em constante busca com outros seres e o ser humano é inteiramente um produto da sociedade.
Freire (1992, p. 28) sobre as relações entre o homem e seu meio social, afirma que,

O homem é um ser que não pode ser compreendido fora de suas relações com o mundo, de vez que é um "ser em situação", também um ser do trabalho e da transformação do mundo. O homem é um ser da "práxis", da ação e da reflexão. Nestas relações com o mundo através de sua ação sobre ele, o homem se encontra marcado pelos resultados de sua própria ação. Atuando, transforma; transformando, cria uma realidade que, por sua vez "envolve-o" e condiciona sua forma de atuar. Não há, por isto mesmo, possibilidade de dicotomizar o homem do mundo, porque não existe um sem o outro.

A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é capaz de agir, mudar e refletir sobre as ordens das coisas e subvertê-las. É preciso fazer da conscientização o primeiro objeto de toda educação e posteriormente da transformação social. Freire acredita que é na profundidade de analisar os problemas sociais que indivíduo reconhece que a realidade é passível de mudanças e que o homem é um "ser no mundo", ou seja, um ser com plena capacidade de se perceber e perceber o outro, julgar, refletir, construir e modificar pela ação e pela razão.

Nessa perspectiva ressalta Gramsci (1968, p.7) que o conceito de intelectuais é muito amplo e que a escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis, ou seja, "todos os homens são intelectuais, poder-se dizer então, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais". Isso quer dizer que todo homem que possui consciência da sua natureza, da sua concepção de mundo, da sua conduta consciente moral, das suas diversas maneiras de pensar, ou seja, todo homem que consegue fazer uma reflexão crítica da sociedade com o objetivo de mudá-la, estará desempenhando sua capacidade intelectual de intervir sobre a mesma.

A educação requer por parte de todos nós, uma educação que consiga fazer uma transição de uma educação ingênua para uma educação crítica, somente conseguiremos isso se ampliássemos a alargássemos a capacidade que o homem tem de captar os desafios do tempo, que a educação estabelece. Nesse sentido necessitaríamos como diria Freire de uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política. Nessa mesma linha de pensamento, Mannheim faz afirmações que se ajustam as condições que começávamos a viver, quando diz:
[...] mas em uma sociedade na qual as mudanças mais importantes se produzem por meio da deliberação coletiva e onde as revalorações devem basear-se no consentimento e na compreensão intelectual, se requer um sistema completamente novo de educação: um sistema que concentre suas maiores energias no desenvolvimento de nossos poderes intelectuais e dê lugar a uma estrutura mental capaz de resistir ao peso do ceticismo e de fazer frente aos movimentos de pânico quando soe a hora do desaparecimento de muitos dos nossos hábitos mentais. (2000, p.96-97).

Desse modo, uma das preocupações de uma educação para o desenvolvimento e para a democracia, haveria de ser a que oferecesse ao homem a possibilidade de uma discussão e inserção corajosa de sua problemática, abrangendo a política do seu tempo, os perigos do seu tempo e por fim a consciência de seu papel, para que assim ganhasse coragem e força da sua intervenção entre uma educação que o colocasse em diálogo e revisões constante com o outro. Não poderíamos compreender uma sociedade dinâmica em fase de transição, uma posição que levasse ao homem posições de neutralidade, ao invés daquela que o levasse a procura da mudança, investigando, intervindo, estudando, agindo, enfim, só podíamos compreender uma educação que fizesse do homem um ser cada vez mais consciente de sua transição.

A educação de uma forma geral requer dos envolvidos no processo educacional uma responsabilidade social e política, onde participem tanto os educadores quanto as famílias, ganhando cada vez mais influência, por exemplo, nos destinos da escola de seus filhos, nos sindicatos, nas comunidades, na igreja, ou seja, na participação atuante da vida social, para que assim possamos ajudar o homem a fazer o processo de transição para uma sociedade mais humana e justa, aprendendo a democracia com a própria existência dela. Daí a necessidade de uma educação verbalizadora e corajosa, que enfrentasse a discussão com o homem comum, o seu direito a participação na educação e política de seu tempo. Freire (2000, p.101) sobre isso diz que,

[...] a educação teria de ser acima de tudo, uma tentativa constante de mudança de atitude. De criação de disposições democráticas através da qual se substituíssem no brasileiro, antigos e culturológicos hábitos de passividade, por novos hábitos de participação e ingerência, de acordo com o novo clima da fase de transição.

Para alcançar a tão sonhada educação na perspectiva da transformação social na contribuição de Paulo Freire, ele nos alerta primeiramente que os educadores não desvinculem a educação do processo da vida, do gosto do estudante da pesquisa, da indagação, da dúvida, do conhecimento, da constatação, da posição da escola, acalentada ela mesma pela memorização dos trechos, pela desvinculação da realidade, pela tendência a reduzir os meios de aprendizagens, ou seja, quanto mais criticidade, posições indagadoras e inquietas os alunos estiver mais ingenuamente estaremos tratando dos problemas relacionados à educação. Portanto a perspectiva de mudança na visão Freireana, vê a educação como um ato de amor, por isso, um ato de coragem, que não pode temer ao debate e análise da realidade.

A força da obra de Paulo Freire não está só na sua teoria do conhecimento, mas em ter insistido na idéia de que é possível, urgente e necessário mudar a ordem das coisas, que existe a possibilidade sim de uma educação libertadora, transformadora, que almeja uma sociedade mais justa, democrática e igualitária. Assim, o caminho que pode consolidar uma proposta político pedagógica é quando a educação nomeia educadores e educandos como sujeitos do processo de construção do conhecimento, visando construir perspectivas de outro mundo possível. Sobre o exposto, Freire acrescenta que "a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Paulo Freire acrescenta dizendo que, enquanto os educadores não lutarem por melhores condições de trabalhos, se torna mais difícil ainda uma educação para a liberdade. Sobre isso, a escola tem um papel importante porque o trabalho de conscientização deve ir além dos espaços de sala de aula, deverá aprender a se conscientizar com a massa, porque enquanto os debates permanecerem dentro da escola, cada vez mais isolada dos problemas reais e longe das decisões políticas, não existirá uma educação libertadora e de qualidade.

A mudança social pela educação se faz pela transformação do aluno em um ser autônomo, e essa autonomia só vai ser dada na medida em que os professores discutirem e refletirem com seus alunos no ambiente de sala de aula as diferentes visões que abarcam nossa sociedade sejam elas visões ideológicas ou visões reprodutoras atingindo não só a formação intelectual dos seus alunos como uma visão política que fere a sociedade.

É preciso romper com a lógica do capital e isso só acontecerá se cada profissional envolvido na educação repensar e refletir a política dos seus discursos, que tipo de pessoa nossas escolas estão formando e para que tipo de sociedade, qual é o modelo de cidadão consciente que as escolas estão formando. A tarefa educacional é simultaneamente a tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora e estas por sua vez são inseparáveis. Paulo Freire entendeu que a educação deveria servir como veículo de mudança e de transformação da sociedade e que a transformação da sociedade se daria a partir da educação e para a educação.

Ainda nessa mesma linha, Freire acrescenta que o processo de conscientização é capaz de transformar uma realidade, porém muitos ligam esse processo a interpretações ambíguas e distorcidas como uma espécie de mágica, capaz de curar a injustiça social pela simples transformação da consciência dos homens. Por isso precisa haver uma necessidade real por parte dos educadores para que assim entendam esse processo, que se aproxima da conscientização como de quem continua ouvindo falar dela e não como quem se apropria de seu sentido exato.
Sobre isso, Freire nos alerta que o trabalho de conscientização exige de quem se dedica uma percepção clara entre parcialidade e totalidade, isso quer dizer que, exige de cada um de nós uma reflexão dentro da práxis, da unidade teórica-prática, da reflexão-ação.
Freire (1992, p.59) ressalta que:

É preciso que o (a) educador(a) saiba que o seu "aqui" e o seu "agora" são quase sempre o "lá" do educando. Mesmo que o sonho do(a) educador(a) seja não somente tornar o seu "aqui-agora", o seu saber, acessível ao educando, mas ir mais além de seu "aqui-agora" com ele ou compreender, feliz, que o educando ultrapasse o seu "aqui", para que este sonho se realize tem que partir do "aqui" do educando e não do seu. No mínimo, tem que de levar em consideração a existência do "aqui" do educando e respeitá-lo. No fundo, ninguém chega lá, partindo de lá, mas de um certo aqui.

Isto significa que os educadores precisam perceber e levar em consideração aquilo que os seus educandos já possuem, já tem de conhecimentos prévios, pois nesse sentido o ponto central da educação é perceber nos educandos, seres que fazem parte de uma sociedade plural e que ao mesmo tempo estão carregados de culturas, de vivências, experiências diversas, ou seja, um ser humano singular no mundo, que aprende e se sobressai de acordo com seu tempo. Ele ainda diz que "a educação verdadeira conscientiza as contradições do mundo, sejam estruturais, superestruturais ou interestruturais, contradições que impelem o homem a ir adiante"

A educação notadamente a brasileira requer alguns cuidados como a consciência crítica e política por parte dos educadores envolvidos no processo de educar. Primeiro porque o professor precisa estar atento no seu ambiente de sala de aula, precisa despertar nos alunos o gosto de aprender, de experimentar o novo, de reformular o "velho", fazendo com que a educação de uma forma mais ampla torne-se atraente aos olhos de quem busca o saber, aprende com o velho e dar oportunidade de aprender com o novo.

Segundo que o objeto central da educação deverá ser o aluno, suas indagações, suas contradições, suas vivencias trazidas todos os dias para escola, fazendo com que os educadores compreendam que tudo que está posto pelo sistema capitalista poderá ser mudado, na medida em que os professores reconheça os alunos enquanto seres históricos dotados também de conhecimentos e que deverá o professor proporcionar aos alunos um olhar mais amplo, ou seja, o conhecimento que é dado é avançado na medida em que eles entendam que esses conhecimentos estão sendo trabalhados de acordo com suas singularidades culturais.

Paulo Freire em suas obras discute muito sobre os cuidados que devemos ter em compreender a perspectiva de uma transformação social no ponto de vista da educação. Dentro dessa visão ele vem dizer que atualmente não se compreende o processo de transformação social, pois costuma estar mal colocada para a sociedade, isso seria talvez a grande dificuldade de pensar e colocar em prática a perspectiva de mudança, de transformação.

Existe principalmente dentro da própria pedagogia certa banalização a respeito do processo de mudança. Entendemos que transformação social é um processo onde poderão ocorrer mudanças histórico-estruturais para sociedade e que esses só poderão ocorrer se essa mudança for passada de lado, ou seja, se conseguirmos atingir aquilo que chamamos de centro do atual sistema, colocando-o desta forma em xeque essa passagem, que por sua vez torna-se muitas vezes conflituosa e contra-ideológica. Sobretudo não podemos nos aproveitar disto para tachar qualquer coisa de transformação. Assim, o sentido principal do poder de transformação da educação está na capacidade de formar sujeitos capazes de história própria, individual e coletiva.

Sobre isso Freire (1982, p. 133.) diz que:

[...] a história não faz nada, não possui nenhuma imensa riqueza, não liberta nenhuma classe de lutas: quem faz tudo isto, quem possui e luta é o homem mesmo, o homem real, vivo; não é a história que utiliza o homem como meio para trabalhar seus fins - como se se tratasse de uma pessoa á parte - pois a história não é senão a atividade do homem que persegue seus objetivos.

Pensar na contribuição de Paulo Freire na perspectiva de transformação social é pensar acima de tudo na postura dos educadores e seu entendimento político diante da realidade. Ele acreditava em uma educação humana para cidadania onde cria uma educação para transformação, para mudança do mundo, para um mundo mais bonito, como ele gostava tanto de dizer, que seria um mundo mais justo. A idéia básica dele é que o que se ensina é o interesse e o interesse é um projeto político, ou seja, o interesse é um projeto de vida, de transformação social que tem grande cunho político, não partidário especifico, mas é um processo de transformação da sociedade. Ele salientava nessa perspectiva alguns pontos importantes em que o educador precisava saber em torno do conhecimento.

O primeiro, todo mundo sabe, não existe pessoa sem conhecimentos. Na verdade Paulo Freire parte do principio que todo mundo sabe. Acontece que existem pessoas que não tem consciência de que sabem. Segundo aspecto, é que o conhecimento nasce do fazer e da reflexão sobre o que se faz, ou seja, é preciso estar atento para que o educador possa ter uma visão crítica da sociedade. Terceiro, é que conhecemos juntos, embora o conhecimento seja pessoal e intransferível, ele nasce da relação entre as pessoas, ou seja, o conhecimento no qual ele fala é aquele referente às experiências de cada um, em que ele chama de conhecimento de mundo. Quando diz "a leitura do mundo precede a leitura da palavra".

Refletir sobre a urgência de criar-se nas escolas um ambiente que dê conta dessas transformações sociais, pois é nessa sociedade que alunos e alunas vão interagir, e, quem sabe, como idealizava Paulo Freire, provocar transformações que possam levar a um bem coletivo. A respeito dessa transformação Gadotti (1998, p. 81):
O homem faz a sua história intervindo em dois níveis: sobre a natureza e sobre a sociedade. O homem intervém na natureza e sobre a sociedade, descobrindo e utilizando suas leis, para dominá-la e colocá-la a seu serviço, desejando viver bem com ela. Dessa forma ele transforma o meio natural em meio cultural, isto é, útil a seu bem-estar. Da mesma forma ele intervém sobre a sociedade de homens, na direção de um horizonte mais humano. Nesse processo ele humaniza a natureza e humaniza a vida dos homens em sociedade. O ato Pedagógico insere-se nessa segunda tipologia.
Talvez o que falte à educação, ou melhor, no entendimento das pessoas que lidam com a educação, seja a consciência de que a mudança se opera por ato e decisão dos homens juntos e levando em conta as condições concretas que possibilitam a mudança. Gadotti assim como Paulo Freire, acreditam numa pedagogia transformadora que seja capaz de mudar comportamentos.

Eles defendem que a educação não pode negar a sociedade que está inserida e a luta de classes que há nessa sociedade porque a educação pode promover nos estudantes uma consciência social e política, porém não política partidária, visando à melhoria da qualidade de ensino, à melhoria das relações interpessoais que se travam na escola, à melhoria da organização do trabalho que se desenvolve na escola, dentre outros fatores que só um estudante politizado pode reivindicar.
Espera-se que os profissionais da educação acreditem nessa força que Paulo Freire tanto fala nas suas obras, e que os educadores desejem realmente participar da construção de uma nova educação para um novo mundo.


4 EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA SALA DE AULA: PROGRAMA SOCIAL PETI

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), criado pelo Governo Federal e executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, faz parte de um conjunto de políticas públicas, cujo objetivo principal é oferecer e atender crianças e adolescentes com idade entre 6 a 16 anos de idade, exceto em condições de aprendiz a partir de 14 anos. Nessa linha o PETI tem como proposta principal erradicar todas as formas de trabalho consideradas como precoce, ou seja, aquelas que colocam em risco a saúde e a segurança desse público.

No Município de Jequié, o Programa é composto por sete Jornadas Ampliadas (unidades/espaços onde funcionam as atividades de cunho socioeducativo para crianças e adolescentes), distribuídos em bairros, alguns destes considerados periféricos, como: Cidade Nova, Curral Novo, Jequiezinho, Joaquim Romão, Mandacaru, Pau Ferro e São Judas Tadeu. O PETI visa incentivar e ampliar o universo de conhecimentos dos assistidos com o oferecimento de atividades de cunho sócio-educativos em todas as jornadas ampliadas, tais como, atividades esportivas, reforço escolar, atividade de lazer e recreativa, atividades culturais, atividades artísticas, atividades de construção da cidadania, etc.
Dessa forma, os assistidos ou educandos como são chamados tem a oportunidade de visitar e conhecer vários espaços dentro do município de Jequié-Ba, proporcionando aos mesmos uma integração de convivência no meio social em que eles estão inseridos.

O planejamento trabalhado nas jornadas ampliadas é pensado dentro de um projeto pedagógico, elaborado pela coordenação pedagógica de todas as jornadas ampliadas, levando em consideração as reais necessidades de cada jornada e as particularidades das comunidades. Todas as jornadas/núcleos executam estas atividades, voltadas para uma formação educativa humanizadora dos atendidos, objetivando direcionar a criança e o adolescente o seu processo de aprendizado, a melhoria de seu desenvolvimento e a futura ascensão de sua cidadania. Nelas não há nenhuma ação de caráter profissionalizante ou semi-profissionalizante, respeitando, dessa forma, o objetivo básico deste programa.

As crianças e os adolescentes atendidos pelo programa precisam ter freqüência escolar mínima de 75% e o mesmo percentual de freqüência propostas pelas jornadas ampliadas, ou seja, o tempo de permanência no programa é determinado pela idade e pela participação dessas crianças na escola, sendo posteriormente um critério para o desligamento da conquista e emancipação financeira das famílias. A família inserida no programa recebe uma bolsa mensal para cada filho, e estas devem possuir renda per capita de ½ salário mínimo. Para que o filho seja atendido pelo programa, ele precisa estar freqüentando a escola e no turno oposto estar no PETI, caso isso não ocorra, o beneficiário é desativado do sistema pela bolsa família.

Assim segunda a cartilha do PETI (2004), esses critérios são utilizados para a permanência das famílias no programa, na seguinte perspectiva; retirada de todos os filhos menores de 16 anos de atividades laborais; manutenção de todos os filhos na faixa etária de 6 a 16 anos na escola; apoio à manutenção dos filhos nas atividades da jornada ampliada; participação nas atividades sócio-educativas; participação em programas e projetos de qualificação profissional e de geração de trabalho e renda oferecidos.

Nessa mesma linha em harmonia com o estatuto da criança e do adolescente ? ECA (Lei federal 8.069/1990), o PETI é fruto do trabalho de parcerias entre as esferas dos governos federal (responsável pelo repasse de verba), estadual (responsável pela supervisão do programa) e municipal, pertencendo às prefeituras o desenvolvimento do trabalho com os usuários e seus familiares.

O PETI além de contar com as parcerias entre as Secretarias dos Municípios (Educação, Cultura, Esporte e Saúde), conta com uma equipe multidisciplinar compostas por assistentes sociais, psicólogos, pedagogos e outros profissionais, que quando necessitados atendem a essas crianças e adolescentes que vivem em situação de risco. As equipes servem para apoiar e orientar o trabalho que vem sendo desenvolvido na melhoria do atendimento ao público atendido pelo programa. Essas equipes não precisam necessariamente estar sediadas nas instalações das jornadas ampliadas e sua atuação pode não ser exclusiva no PETI, porém sempre que solicitadas devem estar disponíveis para os acompanhamentos da criança e do adolescente e das famílias.

O PETI é norteado por três eixos básicos segundo rege a cartilha (2004), a educação (escola), a jornada ampliada e o trabalho com as famílias. Quanto ao primeiro eixo, o programa deve intervir junto às famílias na permanência e no sucesso das crianças e dos adolescentes na escola, inserindo no seu dia-a-dia as questões sociais em um universo cultural amplo. A escola nesse sentido tem o papel fundamental de criar formas que permitam avaliar e ampliar o universo das crianças e dos adolescentes, especificamente no que se refere ao desenvolvimento da lecto-escrita, antes, durante e depois do ingresso no PETI.

O segundo eixo é centrado nos núcleos das sete jornadas distribuídas no Município de Jequié, tem como objetivo ampliar o universo cultural das crianças e adolescentes que são atendidos pelo programa, respeitando-os em particular e que na maioria são pessoas carentes e com problemas peculiares, necessitando muitas vezes os mais vulneráveis de acompanhamento específico. A jornada nessa perspectiva trabalha com uma proposta pedagógica diferenciada, voltada para a realidade e necessidades desse publico que são atendidos pelo programa.

O terceiro eixo esta relacionado diretamente com o segundo, porque o trabalho que é desenvolvido com criança e adolescente são centrados na participação das famílias por meio de ações sócio-educativas e de geração de trabalho e renda que contribui para o processo de emancipação, promoção e inclusão social, tornando as famílias protagonistas de seu próprio desenvolvimento social.

O trabalho do PETI se destaca pela problemática específica de enfrentamento de uma das questões sociais, consideradas mais desumanas e contraditórias existentes em nossa sociedade, que é as desigualdades sociais e a exploração de trabalho infantil, este em geral proibido por lei e considerado como crime, especificamente, as formas mais nocivas ou cruéis de trabalho infantil.

A Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1973, no artigo 2º, item 3, fixa como idade mínima recomendada para o trabalho em geral a idade de 15 anos, porém nessa mesma convenção recomenda uma idade mínima de 18 anos para os trabalhos que possam colocar em risco a saúde, a segurança ou a moralidade do menor. E sugere uma idade mínima de 16 anos para o trabalho que não coloque em risco o jovem por qualquer destes motivos, desde que o jovem receba instrução adequada ou treino vocacional.

Apesar de existir legislações que proíbam oficialmente este tipo de trabalho, é comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamentos de vias de tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário, nos lixões, nos sinais, nas carroças pegando terras para vender, e principalmente nas feiras, local onde esses menores usam de um instrumento chamado de galeota para carregar pesos em troca de pequenos valores em dinheiro. Nessa mesma linha, o Programa PETI, vem com a perspectiva de amenizar ou até mesmo sanar essas disparidades, não como proposta de perpetuar programas assistencialistas com intuito de justificar as desigualdades presentes na sociedade, mas sim desvincular essas famílias desses programas de forma independente para sua assunção de cidadania.

Os Programas Sociais do Governo Federal existem porque certamente existe no nosso país famílias que vivem em situações de total abandono, muitas dessas famílias que por diversos motivos não tiveram oportunidades de estudo e hoje vivem a mercê desses programas ditos como de assistência para as famílias pobres e carentes. É nessa perspectiva que as famílias justificam a entrada de seus filhos no mundo do trabalho infantil, porque não conseguem entender as disparidades que existem na sociedade, tão desigual, negando esses pais os direitos dos seus filhos que são garantidos pelo estado e assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.

Dessa forma, para que os programas sociais sejam implantados nos municípios, faz-se necessário por parte do Governo Federal um levantamento pelos estados que comprovem que existem casos de crianças e adolescentes vivendo em situação de risco e de trabalho. Contudo, as leis que aparam essas crianças e adolescentes são as mesmas que lhe negam o direito de ser criança.

Nessa perspectiva, são princípios da política nacional de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente (2009, p.6): 1.O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, isso quer dizer que, esse princípio reconhece que as crianças e os adolescentes são sujeitos de história, de direitos humanos e de cidadania, isso implica nas condições e participações de decisões sobre sua vida. 2. O respeito aos direitos humanos de crianças e adolescentes assegurados nas normas nacionais e internacionais existentes. 3. A igualdade e respeito à diversidade, ou seja, as crianças, os adolescentes, as mulheres e os homens são iguais em seus direitos.

As políticas de estado devem propor a superação das desigualdades sociais, tais como, étnico-raciais, orientação sexual, deficiência, inserção social, situação econômica etc. 4. A universalização dos direitos e das políticas, esse principio garante o acesso aos direitos sociais, políticos, econômicos e culturais. Essa universalização deixa claro que todos os direitos sejam extensivos para todas as crianças e adolescentes do país.
A Constituição da Republica Federativa do Brasil é clara quanto aos direitos dos cidadãos menores de idade: é a responsabilidade da família e da sociedade em geral para os mesmos. O Estatuto da criança e do adolescente-ECA é uma lei que vem contribuir para que esses direitos efetivamente sejam cumpridos de forma efetiva, porém o que percebemos é que esses direitos são negados e não são colocados em prática efetivamente. É importante destacar que os cidadãos na maioria ignorantes ao conhecimento desses direitos, não conseguem perceber que o direito básico de seus filhos como estudar, divertir-se, ter moradia, educação de qualidade, etc., não são respeitados, muitas vezes ficam assegurados só no papel.

Muitas são as críticas, no que diz respeito aos Programas Sociais do Governo, principalmente aqueles destinados a crianças e adolescentes que vivem em situações financeiras precárias, de risco e abandono, porém há de se fazer uma ressalva no que diz respeito a importância destes na vida dessas crianças e adolescentes, principalmente na inserção desses meninos e meninas que hoje vivem a margem da sociedade, nas ruas, nos trabalhos explorados e no mundo da marginalidade.

No que diz respeito aos Programas Sociais do Governo Federal principalmente aqueles destinados as crianças e adolescentes, que estão em situação de risco, abandono e miséria, para poder existir é necessário que o governo faça um levantamento do número de crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social pelo país, para que esses programas sejam implantados.

Muitos pais por não terem nem mesmo o conhecimento escolar básico, ou seja, escrever o seu próprio nome encontra-se a mercê da ajuda financeira dos filhos que são explorados nos sinais, nas ruas, nos bares, enfim, ao mesmo tempo em que, por adquirirem ganhos mais altos que os pais e/ou responsáveis, os filhos estão assumindo de fato as responsabilidades que cabem aos adultos. Isso nos faz pensar acerca de que tipo de sociedade estamos vivendo e que tipo de dignidade esta sendo dada para essas famílias de classe cada vez mais desfavorecidas.

Nessa perspectiva, o trabalho do PETI é acima de tudo uma compreensão de que mais do que lidar e conviver com crianças e adolescentes é necessário apoiá-lás em seu processo de desenvolvimento, fortalecendo sua auto-estima com a escola, com a família, com os amigos e com a realidade em que os mesmos convivem todos os dias. Enriquecer o universo cultural dessas crianças e adolescentes é parte de um trabalho pedagógico centrado em atividades que estimulem a sociabilidade, a comunicação, às competências e habilidades de cada um, as trocas culturais, os direitos de cidadania, o favorecimento do seu autoconhecimento e acesso ao aprendizado de forma lúdica.

Cabe aqui ressaltar que, as ações educativas desenvolvidas nas Jornadas Ampliadas ? PETI deve ser acima de tudo um compromisso político que o educador precisa ter diante da realidade dessas crianças e adolescentes, pois o fator determinante para o bom desempenho no programa é o compromisso com a ação educativa, na medida em que entendemos a educação em seu sentido mais amplo, e este por sua vez encontra-se atrelado aos fatores, sociais, políticos e econômicos.



5 O PROCESSO DE TRABALHO

5.1 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

5.1.1 TIPO DE PESQUISA QUANTO AOS FINS

Este projeto quanto aos fins tem um caráter explicativo, porque discutimos quais os vínculos entre educação e política na Sociedade contemporânea, tendo como base a proposta Freireana de educação. Segundo Vergara (2000, p. 46-49) uma pesquisa pode ser definida explicativa quando:

Tem como principal objetivo tornar algo inteligível justificar-lhes os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores contribui de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. Pressupõe pesquisa descritiva como base para suas explicações.



5.1.2 TIPO DE PESQUISA QUANTO AOS MEIOS

Em relação aos meios, optamos por uma pesquisa bibliográfica, porque é nos vínculos entre educação e política que fazemos e pensamos uma sociedade mais justa e humana. Segundo Vergara (2000, p.46-49) uma pesquisa pode ser definida como participante quando:


Não se esgota na figura do pesquisador. Dela tomam parte pessoas implicadas no problema sob investigação, pesquisando, fazendo com que a fronteira pesquisador/ pesquisado, ao contrario do que ocorre na pesquisa tradicional, seja tênue.



6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como proposta discutir a temática "educação e política", na atual sociedade contemporânea, a partir da visão de transformação social de Paulo Freire. A curiosidade para tratar deste tema surgiu a partir das minhas indagações e discussões feitas durante as aulas no Curso de Pedagogia, discussões essas que me fizeram entender a real finalidade da educação, onde formar cidadãos conscientes é seu papel fundamental e o seu caráter político é peça chave nesse processo. Nesse sentido, entender a educação é acima de tudo entender o próprio processo histórico no qual estamos inseridos, porque na medida em que entendemos a educação de forma humana, econômica, social e política, entendemos por seguinte a sua própria finalidade para a vida.

Diante disso, os percalços que norteiam a educação e a política configuram-se como uma visão crítica que devemos ter do atual sistema que nos é imposto, nesse sentido que as posturas dos profissionais envolvidos na educação deve ser acima de tudo uma postura política, no qual entender a sua função na prática é um processo de ação, reflexão e ação. Sobre isso já dizia Paulo Freire "a educação sozinha não transforma a sociedade e sem ela tampouco a sociedade muda", ou seja, não podemos separar a educação da vida social, ela encontra- se presente em todos aspectos da sociedade.

Ao longo desses anos a educação passou por longos procesos históricos, alguns desses relacionados as suas finalidades e seus objetivos. Contudo, na atual sociedade contemporânea a educação tem perdido muitas vezes seu real sentido na prática, devido ao proprio entendimento da sua função e importância. Debates atuais sobre os objetivos da educação para a formação do sujeito, privilegiam a formação de sujeitos livres, autônomos, críticos, abertos à mudança e capazes de intervir na sociedade. Porém é nesta sugestiva direção de formação política para a cidadania que os profissionais da educação sente-se "presos" nas perspectivas de mudanças e no caminhar da reelaboração de curículos.

Nessa perspectiva é necesário e urgente por parte dos profissionais envolvidos na área reavaliarem as suas práticas e os seus discursos, ampliando dessa forma os objetivos e os conteúdos de formação política, em que deverá consistir a formação de cidadãos atuantes e críticos.

Tratar da questão política da educação é antes de tudo tratar das posturas dos profissionais envolvidos nela, é um processo onde envolvem aspectos ligados a consciência de classe que o educador precisa ter diante da realidade e o engajamento nas relações com a sociedade. Dessa forma podemos perceber que uma educação libertadora é acima de tudo uma educação conscientizadora, na medida em que, além de ter o conhecimento da atual realidade, é nessário transformá-la, ou seja, tanto o educador quanto o educando precisa aprofundar seus conhecimentos em torno do mesmo objeto para assim poder intervir.

Nesse mesma linha, quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo, mais os alunos se sentirão desafiados a buscar respostas, e conseqüentemente quanto mais estimulados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e posteriormente de transformação frente à realidade. Esta relação dialética é cada vez mais centrada na medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu proceso.

Assim, umas das fontes dessa explicitação do caráter político da educação, é a pedagogía libertadora de Freire, onde exprimem orientações políticas e culturais amplas, especialmente no que se refere a necessidade de qualificar o valor da educação. Nesse sentido a aprendizagem precisa ser assim compreendida no seu sentido amplo, como parte essencial da vida. Nessa perspectiva a educação e a política deveriam ser associadas aos aspectos ligados ao próprio contexto da sociedade, entendida como uma sociedade plural e desigual, onde deve ser tomada como indicador do mais alto grau de desenvolvimento econômico e social.

Nesse sentido, o profesor precisa está atento ao seu ato pedagógico e político, nos seus discursos em sala de aula, nas suas posturas diante aos acontecimentos da sociedade e principalmente no aprendizado do seus alunos. A partir dessas informações, podemos apontar que a essência política do conceito de educação é sua propia função, levando em consideração a sua perspectiva de mudança. A educação pode ser entendida como uma ação cooperativa, isso significa dizer que tem em vista a aprendizagem como um processo de engajamento e descoberta do conhecimento, isso só ocorre como resultado de uma integração, ou seja, uma construção coletiva.

Podemos concluir que ao entendermos o termo educação no seu sentido amplo e política no seu sentido interno com a sociedade, podemos refletir sobre dois pontos de vistas: primeiro no que diz respeito as posturas dos profissionais envolvidos na educação, onde estes por sua vez interferem na vida dos alunos e no seu aprendizado. E o segundo nos diz respeito ao entendimento na prática das posturas políticas que os profesores precisam ter diante da realidade, ou seja, entender até que ponto essa relação entre educação e política está vinculada na sociedade.


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