A educação e o escuro além da porta

 Renato Uchôa

 A geração que lutou contra o regime autoritário, principalmente, nos anos 60/70, início dos  oitenta e sobreviveu, sabe da competência da Policia Federal e os demais órgãos de segurança que enviaram pra morte milhares de brasileiros, tortura psicológica e física, dia e noite, que permeou o cotidiano das décadas de terror instaladas não só no Brasil. Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, para citar alguns que não perdoaram os crimes hediondos praticados, quando a vida democrática se estabeleceu.

O escuro além da porta nunca representou um obstáculo às ações ilegais realizadas, que nas mais das vezes provocaram a morte de quem buscavam, quando vivos, se transformaram em mortos-vivos. A tortura generalizada como método, nos interrogatório, obviamente, in toten, não teve o apoio do conjunto das Forças Armadas, da Polícia Federal. A conjuntura criou o Estado de Terror pronto para punir indistintamente qualquer cidadão, mesmo não professando “ideologias estrangeiras”,  fossem civis ou militares, bastando o direito inalienável de discordar.

 Aos escrúpulos, nas estrelas. Nenhum sentimento de humanidade caracterizou a ação dos aparelhos repressivos do Estado de Terror implantado em 1964. A revolução burguesa em curso no início da década, o fortalecimentos dos movimentos sociais na luta pela reforma agrária, a questão da remessa de lucros, a perspectiva de alfabetização dos milhões de não letrados em função do desnudamento dos mecanismos de opressão, rumo a uma sociedade democrática que absorvesse as legiões de alijados do campo e da cidade. A classe dominante, em países subdesenvolvidos como o Brasil, a subserviência histórica, umbilicalmente vinculada aos centros hegemônicos internacionais, nas diversas etapas da formação e constituição do Estado Brasileiro impediu as reformas essenciais para o desenvolvimento do capitalismo.

Outro cenário, época diferente, diriam alguns, os mesmos grupos que dominaram e ainda são donos no Brasil, a Polícia Federal, pela visão embaçada ao que parece, não consegue enxergar os passos da Jovem Fernanda Lages, após a porta. Afirmação de um pai ao ouvir um dos delegados responsáveis pela investigação. O escuro que nos clareia, cega os policiais responsáveis pela elucidação do crime.  Um delegado que se afasta e entra a CICO. Crime hediondo, requinte de perversidade, na principal Avenida de Teresina, no solo sagrado da justiça.

A culpabilização da Polícia Civil (CICO), em parte, fato comprovado pela contaminação da cena do crime, uma vez que um coronel preservou a área, com competência. Cuidadoso indicou as pegadas do possível assassino que conduziu Fernanda para a morte. Falha grave no isolamento, inclusive das escadas, topo do prédio que passou a interessar a vertente de suicídio. Por (in) competência não pode se constituir na desculpa da Polícia Federal encontrar os criminosos.

 A não colocação dos executores no local do crime, nos leva a acreditar que foi na lua. É fato: o crime aconteceu no raiar do dia, com trabalhadores na obra que não escutaram o “barulho da queda”.  Remete-nos a questão de que não houve, pode ter sido morta em outro local, ou onde se encontrava.

O poder público tem a obrigação moral de informar a população das ações empreendidas para punir os mandantes e executores. A angustiante demora da Policia Federal varre a cidade, o ar contaminado pelas dúvidas, em se confirmando a desastrosa tese de suicídio ou assassinato sem executores ou mandantes, suicida as nossas esperanças creditadas a ela. Fernanda Lages é filha de todos nós.

Renato Uchôa

(Educador)