Educação e Filosofia: relações possíveis e necessárias.

Luciene Leal da Silva1

 

“Viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem jamais fazer esforço por abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso dos nossos olhos para guiar nossos passos”.

Descartes2

 

RESUMO

Com o intuito de afirmar que há relações possíveis entre a educação e a filosofia que iremos abordar a questão da educação e da filosofia como indissolúveis, um completa a outra, pois ambos nos levam à pensar. Educar é caminhar com o outro um bom pedaço do que chamamos aprendizagem. Não devemos confundir nossa tarefa educativa com uma mera transmissão de conhecimento. A força da autoridade não é a violência, mas, sim, o dispor-se a servir e caminhar com o outro em direção a aprendizagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1 Possui graduação em Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Federal do Pará (2011), Especialista em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Pará (2012). Atualmente é Professora de Filosofia no Colégio Pequeno Príncipe Avante.

2 Descartes, R. Carta-prefácio aos princípios.

INTRODUÇÃO

A educação se desenvolve ao longo de toda vida de um indivíduo, como bem retrata Brandão “Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar” (1995, p.7).

E, a filosofia pode e deve ajudar a construir uma geração de pensadores, de pessoas que queiram se envolver com a educação. A filosofia tem um importante papel a desempenhar nesta educação, ela pode ajudar a formar pessoas que tenham autonomia de pensamento, um indivíduo independente e que pense coletivamente.

Objetiva-se, refletir acerca da importância de se pensar a educação e a filosofia como uma só. Pensar a Filosofia é pensar a Educação na sua totalidade e na sua singularidade. Mostrando que essa relação é possível e necessária para o desenvolvimento do sujeito.

 

A educação

A finalidade da educação, das escolas, é a formação dos sujeitos. Pais e professores são os modelos mais próximos das crianças e dos jovens, e como tais, são tomados como exemplo, mesmo sem querer. O melhor exemplo que podemos passar as gerações futuras é o esforço de lutar por uma educação de melhor qualidade. A partir do momento em que começamos a frequentar uma instituição escolar, buscamos nos apoderar de conceitos mais elaborados, lapidados e para isso contamos com o apoio dos educadores que possuem a responsabilidade de nos indicar o caminho a ser trilhado.

Ora, outra maneira de se compreender o que é educação é, ou poderia ser, é procurar ver o que dizem sobre ela pessoas como legisladores, pedagogos, professores, estudantes e outros sujeitos um tanto mais tradicionalmente difíceis de entender, como filósofos e cientistas sociais. (BRANDÂO, 1995, p. 54). A educação é definida nos dois dicionários brasileiros mais conhecidos assim:

“Ação e efeito de educar, de desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais da criança e, em geral, do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino” (Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa, Caldas Aulete).

“Ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações jovens para adaptá-las à vida social; trabalho sistematizado, seletivo, orientador, pelo qual nos ajustamos à vida, de acordo com as necessidades ideais e propósitos dominantes; ato ou efeito de educar; aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas, polidez, cortesia.” (Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Hollanda).

Para alguns filósofos e educadores, a educação é um meio pelo qual o homem desenvolve potencialidades biopsiquicas inatas, mas que não atingiram a sua perfeição, ou seja, o seu desenvolvimento sem a aprendizagem realizada pela educação, é por meio das práticas interativas, coletivas, interpessoais que se fala quando se escreve sobre “Filosofia da educação”, por exemplo. (In: BRANDÃO, p. 62).

Assim Como a sociedade é um corpo coletivo formado de individualidades das pessoas que a compõem, e assim como o seu fim é a felicidade de seus membros, assim também é a educação, como ideia (a definição, a “filosofia”) deve ser pensada em nome da pessoa e como escola e/ou prática (ato de educar) deve ser realizada como um serviço coletivo que se presta a cada indivíduo, para que ele venha a obter dela tudo o que precisa para se desenvolver individualmente.

“A educação não é mais do que o desenvolvimento consciente e livre das faculdades inatas do homem” (Sciacca)

“O fim da educação é desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que ele seja capaz” (Kant)

“Educação. Do latim ‘educare’, que significa extrair, tirar, desenvolver. Consiste, essencialmente, na formação do homem de caráter.”

E o que é filosofia?

A filosofia surge de uma exigência do próprio pensamento, a filosofia busca oferecer ferramentas conceituais para simbolizar a vida. Porém, é preciso salientar que a apropriação destes conceitos ou conhecimentos constitui-se em um processo de permanente desenvolvimento, que envolve educadores (professores) e educandos (alunos) na construção da aprendizagem. Esta construção se dá, então, nas relações estabelecidas entre professor e aluno que buscam o conhecimento racional. O conhecimento racional, submetido ao exame do nosso pensar e que é buscado na escola, diferencia-se do conhecimento espontâneo, pois precisa de um método que conduza a compreensão do verdadeiro significado das coisas.

Para compreender o que vem a ser o pensamento, iremos ver como a filósofa Hannah Arendt, relaciona educação e pensamento.

A filosofia é, desde o início, pensamento, pois se caracteriza pela constante busca de respostas e, por isso mesmo, jamais se submeterá à tecnização.

“Seja a filosofia o que for, está presente em nosso mundo e a ele necessariamente se refere. (...) Certo é que tende aos horizontes mais remotos, horizontes situados para além do mundo, a fim de ali conseguir, no eterno, a experiência do presente. Contudo, nem mesmo a mais profunda meditação terá sentido se não se relacionar à existência do homem aqui e agora” Jaspers (In: PAIVA, p. 65)

A Filosofia é capaz de dar contribuições muito importantes, pois pode fornecer elementos que embasam os princípios metodológicos mais indicados para que os educadores construam com os educandos conhecimentos com bases sólidas. Ou seja, para que os participantes do processo ensino-aprendizagem elaborem conhecimentos baseados na curiosidade profunda acerca do mundo no qual estão inseridos. A Filosofia, através do debate, do diálogo, da reflexão, da problematização, da argumentação, leva o educador a descobrir que, com um método eficiente, é capaz de ajudar o educando a pensar e refletir e não apenas a reproduzir conheci- mentos prontos. É a partir de então que o educador percebe que é ensinando a perguntar, dialogar, argumentar e desvendar o que está além do superficial que ele constrói a verdadeira educação. A Filosofia, através do filosofar, estabelece, então, com a educação uma relação intrínseca capaz de resultar nos verdadeiros critérios, nos valores realmente importantes, nas perguntas e respostas essenciais para a construção do conheci- mento racional. 

Pouco se procura refletir sobre o caráter ensino-aprendizagem e a filosofia tida como um modo de pensamento. Pensar um modo de pensamento como algo ensinável é sem dúvida, uma questão filosófica, devendo ser esta, uma presença constante na prática de ensino de todo professor.

“A filosofia postula os fundamentos de uma abrangência possível, na perspectiva de uma universalidade realizável, envolvendo necessariamente a compreensão da vida do homem na cidade. A Educação constrói procedimentos que fazem fluir todo o instrumento teórico-epistemológico processado na Filosofia.” (MARGENS, 2005, p. 31)

CONSIDERAÇÕES

Para finalizar, é oportuno acentuar que a educação é a base para o início de qualquer mudança. Sem educação, o nível de informação dos sujeitos fica completamente reduzido e a filosofia vem a ser uma aliada importante na formação dessas mentalidades. É por meio de um pensamento mais crítico, autônomo que os sujeitos podem evoluir. Segundo Brandão, a educação é inevitável, é preciso “reinventar a educação”, ressaltando que “reinventar” é a ideia de que a educação é uma invenção humana e, se um dia, em algum lugar, foi feita de um modo, pode ser mais adiante refeita de outro modo. A filosofia desempenha papel imprescindível na formação dos sujeitos. Para isso, devemos ter uma educação comprometida com os princípios básicos, onde sujeitos não fujam à responsabilidade.

 

REFERÊNCIA

 

BRANDÃO, C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1995.

Margens/Revista Multidisciplinar do Núcleo de Pesquisa – CUBT/UFPA – v. 2, n. 3 (jun. 2005) – Abaetetuba, PA: CUBT/UFPA; Belém: Paka-Tatu, 2005.

OLIVEIRA, D. B. ABREU, W. F. MONTEIRO, M. N. Hannah Arendt: Filosofia, Ciência e Política. In: Educação em tempos precários. Belém: Ed. Universitária, 2010.

PAIVA, Vanildo de. Filosofia, encantamento e caminho: introdução ao exercício de filosofar. São Paulo: Paulus, 2002.