AUTOR - PAULO LANI CAMPOI, professor especialista em linguística da Escola Estadual 12 de Outubro e Benedito Cesário da Cruz.

COAUTOR - ROSELI FERREIRA CAMPOI, professora especialista em linguística da Escola estadual Benedito Cesário da Cruz.

Educação? Podemos sempre questionar a respeito desta pequena palavra. Difícil é encontrarmos respostas para todos os questionamentos que a permeiam, afinal o que seria da humanidade sem ela?

Objetivando o tema iremos abordar apenas uma linha de raciocínio. “Como educar sem excluir”, vivemos em uma sociedade dita moderna e democrática, na qual, teoricamente as oportunidades são iguais para todas as pessoas. Pensando bem, deixamos aqui alguns questionamentos:

  • Vivemos realmente em uma sociedade democrática?
  • A educação acontece para todos?
  • Existe preconceito no ato de fazer Educação?

Podemos sim, questionar e abordar tais razões, pois temos um papel fundamental dentro do processo educacional; somos educadores!

DEMOCRACIA, do grego demokratia, que quer dizer: forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo. Povo? Existe uma grande distância entre a realidade e este significado, somos governados sim, mais, com um oceano de diferença e indiferença.

Governantes despreparados, sistema corrompido pela má indole das pessoas que o compõe, nos deixam em um beco sem saída, e, desiludidos deixamos de acreditar na dita soberania do povo e passamos a visualizar apenas desigualdade e injustiça social.

Há tanta desigualdade em nossa sociedade que temos em um mesmo espaço físico, pessoas passando fome e outras ganhando milhões todos os anos, isso deveria ser inaceitável, mas, parece ser comum aos olhos dos nossos governantes, que não levam em consideração a atual situação e ignoram a soberania do povo, tomando proveito da situação e se fartando da fragilidade do sistema no qual estão inseridos.

Revoltante não é mesmo? Mais, não para por aí, se falamos de injustiça e desigualdade podemos implicar vários outros setores da nossa socieade, um deles, é a maior transmissora de cultura da atualidade; a “TV”, essa sim teria a força necessária para lutar pelo povo para diminuir a injustiça e a exclusão social vigente em nosso meio, só que isso não acontece, muito pelo contrário, os dirigentes da mídia atual não querem saber se existe exclusão ou não, eles querem saber realmente é de audiência e lucratividade, usando de todas as artimanhas possíveis para alcançar seus objetivos, burlando o sistema subjetivamente, passando ideologias errôneas que muitas vezes distorcem os reais valores de uma sociedade de bem[1], ou seja, é a política do que pagar mais leva, o que poderia ser uma solução se tornou um sério agravante na luta contra a desigualdade em nossa sociedade.

Parece um problema sem solução, mais não é, se lutarmos unidos por um mundo melhor, realizando ações de conscientização poderemos mudar está situção. Simples! É, pode até parecer, mais existe uma palavra fundamental nesse processo: EDUCAÇÃO, sem ela todos os esforços serão em vão, pois, um bom processo educacional é o único caminho a trilhar, para se chegar a uma sociedade mais justa e sem exclusões.

Mesmo vivendo em uma sociedade separatista temos a impressão que, nossa educação acontece realmente para todos, pois, na correria do dia-a-dia não paramos para olhar além...

O nosso sistema sócio-econômico deixa pessoas em demasia alheias à própria sorte, pois a falta de recursos financeiros acaba afastando a população mais pobre da busca pela educação uma vez, que a busca pela “sobrevivência” fala mais alto neste caso. Logo, não podemos falar de uma educação para todos, e sim, apenas para uma parte da população.

Podemos classificar este fenômeno como uma deficiência social, deficiência sim! No sentido literal da palavra com todas as suas implicações, considerando que as pessoas privadas deste elemento se tornam deficitárias socialmente, passam a viver marginalizadas, ou seja, vivem nas sombras de uma sociedade hipócrita que finge não enxergar a realidade educacional vigente e que vai mais além, protagonizando uma ideologia difundida pelo governo através da mídia, que despudoradamente passa a falsa idéia de que a educação é para todos no nosso país. Como não enxergar tal situação? Como não se revoltar com tamanha injustiça? Temos que nos indignar sim, mais, de maneira racional e de modo progressivo tentar mudar esses ideais opressores e a primeira atitude viavel que podemos enxergar seria mostrar para as pessoas que é através da educação que se efetuam as aprendizagens fundamentais, as que condicionam todas as outras, a leitura, a escrita, o cálculo. É nela também se fornecem os referentes culturais indispensáveis que permitem o enraizar-se em uma história e, ao mesmo tempo, a abertura a outras culturas e outras civilizações. Podemos dizer ainda que é nesta mesma educação que são adquiridos os métodos de trabalho, o hábito do rigor e uma memória mais capacitada[2], pois, não é exatamente isso que todo o indivíduo precisa para se tornar um vencedor?

Só será revertida a atual situação separatista existente em nossa sociedade quando se enfatizar a real importância da educação e colocá-la como essencial para a vida de todas as pessoas, para que todos possam perceber que sem ela podemos viver sim, mais de maneira vazia tendo um horizonte muito pobre e pequeno com relação ao que poderiam realmente ter.

Em linhas gerais, além de um direito social, a educação tem sido entendida como um processo de desenvolvimento humano, no entanto, como pondera Nilma Lino Gomes, em certos momentos, “as práticas educativas que se pretendem iguais para todos acabam sendo mais discriminatórias”. Em vários grupos sociais, muitas vezes esse paradoxo acaba por se tornar uma máxima, pois a discriminação acontece de forma camuflada e se encarna no âmbito educacional.

Se analisarmos o campo escolar que é onde a educação acontece diretamente nos deparamos com uma realidade preconceituosa e exclusiva, podemos perceber preconceitos de todos os níveis possíveis: xenofobismo; negro e de diversas nacionalidades, indígena, mulheres, homossexuais dentre outros, tristemente a escola tem passado além da educação muito preconceito às nossas crianças, e o pior, é que tudo isso acontece de maneira tão sutíl que nos perdemos e como educadores nos achamos despreparados e alheios a esse tipo de ideologia hereditária. Diversos estudos comprovam que, no ambiene escolar, tanto em escolas públicas quanto em particulares, a temática racial tende a aparecer como um elemento para a inferiorização daquele (a) aluno (a) identificado (a) como negro, indígena, mulheres, homossexuais etc. Codinomes pejorativos, algumas vezes escamoteados de carinhosos ou jocosos, que identificam alunos (a) discriminados, sinalizam que também na vida escolar, as crianças estão ainda sob o julgo de práticas racistas e discriminatórias.[3]

Tendo em vista tamanha problemática, nos limitaremos a tratar o preconceito xenofobista negro, que em prior se mostra o mais pungente de todos e se tratando de um povo extremamente oprimido pela história mundial sentimos mais que um desejo didático pelo assunto, mais sim, uma responsábilidade histórico-racial para com esse povo sofrido e oprimido.

Temos efeitos desastrosos causados pelas desigualdades étnico-raciais e várias ações de combate ao racismo na sociedade brasileira fomenta discuções trazendo a luz da discução o fato de que os negros ainda sofrem com o preconceito, e que é necessário a criação de uma nova educação igualitária que possibilite o desenvolvimento intelectual e emocional da criança independente do pertencimento étnico-racial.

 Com isso, os profissionais da educação permanecem na não-percepção do entrave promovido por eles, ao não compreenderem em quais momentos suas atitudes diárias acabam por cometer práticas favorecedoras de apenas parte de seus grupos. Um olhar atento para a escola capta situações que configuram de modo expressivo atitudes racistas. Nesse espectro, de forma objetiva ou subjetiva, a educação apresenta preocupações que vão do material didático-pedagógico à formação de professores.[4]

Na III Confêrencia Mundial contra o racismo o Brasil em documento oficial declarou o seguinte:

  • O racismo e as práticas discriminatórias disseminadas no cotidiano brasileiro não representam simplesmente uma herança do passado. O racismo vem sendo recriado e realimentado ao londo de toda a nossa história. Seria impraticável desvincular as desigualdades observadas atualmente dos quase quatro séculos de escravismo que a geração atual herdou (brasil, 2001).[5]

Com base nesta declaração nós como educadores cientes dessa relidade, podemos e devemos ter a sensibilidade necessária para detectarmos onde e quando o preconceito acontece, até mesmo se ele acontecer por intermédio de nós mesmos. Por mais que pareça absurda a afirmação de que somos preconceituosos, ela é verdadeira, pois somos frutos de uma educação preconceituosa, para se ter uma idéia de como o preconceito ao negro foi imbuido em nosso ser, é necessário olharmos apenas nos livros de história que utilizamos e que são vigentes até hoje e analisarmos de que maneira o negro é apresentado, ou melhor, foi apresentado a nós e está sendo apresentado aos nossos filhos, e pior, está sendo apresentado aos filhos dos negros, isto é um genocído para a cultura deste povo, pois suas crianças que são o futuro de qualquer nação estão expostas a essa ideologia preconceituosa; de que ser negro é sinônimo de escravidão, de pobreza, de escória da sociedade, isto é um fator gerador de conflito que fará com que estes indivíduos ao invés de terem orgulho de suas origens se sintam ofendidos quando relacionados as mesmas, é uma questão de lógica! A ação deste tipo de material que foi utilizado e que ainda utilizamos afeta ambos os lados da moeda. E a questão dos livros de história é apenas a ponta do iceberg, temos aí a mídia atual que é sobrecarregada desta mesma visão e poderíamos discutir sobre essa abrangência durante muitas laudas, mas não é o nosso objetivo, queremos apenas demonsrar a fragilidade do nosso sistema educacional no que diz respeito ao preconceito.

Devemos ir além do silêncio acerca da questão étnico-racial e das situações que eventualmente estabelecem dentro e fora do campo educacional, por que o silêncio da escola sobre as dinâmicas das relações raciais têm permitido que seja transmitida aos alunos uma pretensa superioridade branca, sem que haja questionamento desse problema por parte dos profissionais da educação e envolvendo o cotidiano escolar em práticas prejudiciais ao grupo negro. Silenciar-se diante do problema não apaga mágicamente as diferenças, ao contrário, permite que cada um construa, a seu modo, um entendimento muitas vezes estereotipado do outro que lhe é diferente. Esse entendimento acaba sendo pautado pelas vivências sociais de modo acrítico, conformando a divisão e a hierarquização racial.

Por se tratar de uma situação que aparentemente é insolúvel, temos que considerar o que disse Abdias do Nascimento: Acredito na pedagogia que liberta a tecnologia de sua atual tendência de escravisar o ser humano. A tecnologia deve existir como um sustentáculo para a consagração do Homem e da Mulher em sua condição de ser.

Auto-suficiência na criação e na adoção de tecnologia, assim como no desenvolvimento ciêntífico, precisa ocorrer simultaneamente ao desenvolvimento das nações, obedecendo a seu ajustamento funcional ao respectivo ambiente e realidade humana. Não se trata de uma fórmula mágica, mas, se trata de uma visão auxiliadora na questão do preconceito racial e de suas implicações educacionais.

Devemos sim ampliar nossos horizontes a luz desta problemática, que tanto mal tem feito para as nossas relações sociais. Desconstruir velhos conceitos, constituir novos olhares para caminharmos a uma sociedade melhor. Sabemos que uma sociedade perfeita ainda é uma utopia, mais, é melhor lutar por um ideal do que ficarmos alheios a uma sociedade de valores corrompidos.

Com base nas análises já realizadas anteriormente podemos considerar que vivemos em uma sociedade separatista que faz uso de diversas máscaras para camuflar suas desigualdades e seus preconceitos. Consideramos também que não possuímos uma educação igualitária e que nossos educadores em sua maioria não estão preparados para lidar com as diferênças que os cercam.

  • Igual acesso à educação para todos e todas na lei e na prática;
  • Medidas necessárias para eliminar os obstáculos que limitam o acesso de crianças à educação;
  • Recursos para eliminar, onde existam, desigualdades nos rendimentos educacionais para jovens e crianças.
  • Capacitação de educadores nas questões separatistas da nossa sociedade;
  • Implantação de uma educação étnico-racial nas escolas.

Estas podem ser algumas ações que poderiam ajudar na melhoria da nossa sociedade como um todo. Se agirmos coerentemente sendo justos e realmente trabalharmos em planos que nos levem a uma educação mais igualitária, certamente teremos não somente uma sociedade melhor, mais um mundo mais justo com menos preconceito, no qual, as pessoas serão mais felizes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais.

CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar. São Paulo: Contexto, 2000.

NASCIMENTO, Abdias. O Brasil na mira do Pan-africanismo. Salvador: EDUFBA: CEAO: UFBA, 2002.

GOMES, Nilma Lino. Educação cidadã, etinia e raça: o trato pedagógico da diversidade. In: CAVALLEIRO, Eliane (org). Racismo e antirracismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Selo Negro, 2000.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico: 22ª edição, ed. Cortez, 2006.

MEIRIEU, Philippe. Aprender... Sim, Mas Como? 7ª edição, ed. Artmed, 1998.


[1] Apologia ao divórcio mostrada nas tele-novelas é um bom exemplo.

  Participação na política de maneira partidária, subjetivamente.

[2] Meirieu Philippe, Aprender... Sim, Mas Como? 7ª edição. Pg. 16.

[3] Para um debate mais abrangente sobre a relação racismo e educação, conferir: OLIVEIRA (1999); CAVALLEIRO (2001) e SOUZA (2001).

[4] Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Pg. 21.

[5] O governo federal estabeleceu um Comitê Nacional, composto priotariamente por representantes de órgãos do governo e da sociedade civil organizada. Também, entidades dos movimentos negro, indígena, de mulheres, de homossexuais, de defesa da liberdade religiosa mobilizaram-se intensamente nesse diálogo. Com o término da Conferência, diante da Declaração e do Programa de Ação, estabelecidos em Durban, exige-se da sociedade civil o monitoramento para que os resultados sejam respeitados e as medidas reparatórias sejam implementadas (Brasil, 2001)