EDUCAÇÃO E CONTRADIÇÃO

Idanir Ecco[1]

A contradição é destruidora, mas também criadora, já que se obriga à superação, pois a contradição é intolerável.

                                           (Carlos R. Jamil Cury)

            A educação institucionalizada, reconhecida como um direito humano, clamorosamente, é chamada a responder desafios relevantes nos dias atuais, desde a superação do analfabetismo, letrado e funcional, ao desenvolvimento ou progresso da nação.

A convocação, referida acima, é possível de ser identificada, em afirmações, frases e/ou exclamações bradadas em diferentes contextos e espaços, constituindo-se em apelos clamando soluções, aos quais assistimos ou ouvimos na companhia de pontos de interrogações: “A educação é a base do desenvolvimento”; “A violência é fruto da falta de educação”; “Para ser grande o Brasil precisa investir forte em educação”; “Não se faz um país sem educação”; “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”; “A educação é a base para a justiça social”; “Educar é tudo. Tudo para melhorar o mundo que a gente tem”...

            Se a educação é a base do desenvolvimento, se a educação resolve o problema da violência, se a educação possibilita um país grande e forte, se a educação tem o poder de mudar o mundo, se a justiça social fundamenta-se na educação, se o ato de educar melhora o mundo que a gente tem... então, perplexamente, perguntamo-nos: por que o discurso da falta de educação não é superado? E por que, apesar dos herculanos esforços (?) os problemas relacionados à educação arrastam-se de geração em geração? Por quê? Por quê?... Por que não se discute as razões da falta de educação, em todos os espaços e tempos da sociedade, sejam eles públicos ou privados, sagrados ou profanos?  

            O poder fenomenal da educação está provado, haja vista a convicção das afirmações coletadas e registradas anteriormente. No entanto, essa mesma retórica denuncia seu descaso. É difícil de entender, uma vez que, em nossas situações corriqueiras, assim que identificamos a falta de algo, redobramos os esforços para suprir a carência apontada.

            Imaginemos uma situação modesta passível de ser reconhecida em nosso cotidiano: no ato da higienização bucal, constata-se a falta da escova dental. É algo muito simples, insignificante se comparado com a falta de educação. Aliás, comparação meramente explanativa. Quiçá, abusiva. Guardadas as devidas proporções, pressinta: que sensação desagradável, que sentimento de negatividade ante a restrição da escovação! Que atitude tomar diante disso? Obviamente, sem pestanejar, adquire-se a escova! ATENÇÃO: mediante a necessidade constatada e reclamada, providenciou-se a solução sem precisar de assembleias familiares, nem mesmo de elucubrações e argumentações para tal. Bastou apenas identificar a necessidade!

            Partindo da exemplificação acima, forçamos uma comparação com a falta de salário digno aos profissionais da educação, com os espaços físicos carentes dos educandários (escolas), com o desencanto de educadores (falta de motivação) em relação ao exercício da profissão... E nestas situações e em muitas outras da natureza educacional, qual é a sensação, qual é o sentimento dos sujeitos envolvidos ou afetados? Todavia, a(s) necessidade(s), nos referidos contextos, também, está evidente, da mesma forma que a necessidade da escova de dente anterior!... E os por quês, novamente são trazidos à baila.

            Contradição! Incompatibilidade entre afirmações e ações. Falta de lógica e incoerência, uma das faces veladas da educação. 

           


[1] Mestre em Educação UPF/RS. Professor da URI Campus de Erechim – RS. E-mail: [email protected]