Karla Olímpia Pereira Lima

RESUMO

O Objetivo precípuo do presente trabalho é investigar de que maneira a educação para a cidadania interfere no processo de formação dos professores gestores da atualidade e como esse processo interfere na prática do educador na escola. O tipo de pesquisa desenvolvida foi a bibliográfica, o que permitiu aprofundar os conhecimentos acerca do tema a partir da visão de importantes autores da área, tais como Hansen (2000), Vieira & Gomide (2008), Saviani (2009), Andrade (1993), Demo (1995), Brandão (1995), entre outros. Os resultados demonstraram que formar um professor envolve muito mais que transmitir conhecimentos técnicos de sua matéria; envolve sensibilizá-lo acerca de seu papel e da importância de sua função social, pois isso envolve saber que se deve respeitar o educando em todos os aspectos, além da consciência de que deverá estar em constante formação, a fim de acompanhar o movimento que a educação apresenta no mundo atual

INTRODUÇÃO

O universo educacional tem sido pesquisado ao longo da história com vistas ao aperfeiçoamento dos métodos e recursos para a melhoria na formação do ser humano, bem como na construção de sujeitos capazes de tornar melhor sua convivência em sociedade.

Educar para a cidadania significa preparar o educando para enfrentar os desafios impostos por essa sociedade; é proporcionar condições para que esse educando tenha acesso à escola e nela permaneça até conseguir uma formação que permita a ele ter uma profissão e um pensamento crítico-reflexivo capaz de situá-lo no espaço e no tempo, e que o conduza a uma vida digna.

A escola é o local privilegiado onde os alunos encontram oportunidade para adquirir os conhecimentos por ele almejados e até então não alcançados. O primeiro momento do aluno na escola pressupõe um encontro, na maioria dos casos, com situações desconhecidas, já que a educação contemporânea prioriza a formação de sujeitos críticos, capazes de transformar a realidade social na qual se encontram.

A formação do professor gestor pressupõe, portanto, uma preparação do profissional para que ele tenha condições de formar o cidadão, a partir do conhecimento do verdadeiro sentido de cidadania.

  1. UM RESGATE HITÓRICO SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL

Um elemento fundamental para que se alcancem os objetivos delineados pelas políticas educacionais é a formação adequada para os professores, pois sua prática é que torna real as ações implementadas durante o planejamento da educação. Por isso, essa formação deve estar condizente com a realidade da sociedade na qual está inserida.

De acordo com Hansen, (2000. Apud VIEIRA & GOMIDE, 2008, p. 3836), a história da educação no Brasil demonstra que nem sempre houve essa preocupação com a realidade dos alunos. O início dos ideais educacionais brasileiros se deu com a vinda dos jesuítas, no ano de 1549, cuja ideologia era fortemente cristã. Esses princípios educacionais perduraram até a expulsão da Companhia de Jesus, no ano de 1759, pelo Marquês de Pombal. Nessa época, um bom exemplo era a transmissão de valores europeus aos nativos, em detrimento de sua própria cultura e seus costumes.

Para a educação dos professores da época jesuítica, investiu-se no preparo de sacerdotes com habilidades de pregação e da liturgia que, de acordo com Vieira & Gomide (2008, p. 3837):

(...) receberiam uma formação baseada nos clássicos antigos, voltada a padrões da sociedade européia cristã que privilegiavam a retórica com a eloqüência ciceroniana como marca na formação de representantes da Companhia de Jesus. Essa formação, recebida em Portugal ou, mais tarde, no Brasil, constituía a primeira e marcante influência externa na formação de professores da terra recém conquistada.

No entanto, com o advento do governo de Pombal, foi desfeito o forte cunho religioso da estrutura administrativa baseada na educação religiosa, sendo implantadas as chamadas “aulas régias”, que teve inspiração no iluminismo. “Era necessário disseminar uma cultura de base, com o ensino da leitura, da escrita e do cálculo, além dos conhecimentos relacionados às obrigações religiosas e civis.” (VIEIRA & GOMIDE, 2008, p. 3838)

Os professores eram selecionados por meio de concurso público, e data de 20 de março de 1760 a realização do primeiro deles no Brasil. Apesar disso, como não houve nomeação dos profissionais aprovados, a população utilizou os serviços de professores particulares para educar seus filhos. (CARDOSO, 2004. Apud VIEIRA & GOMIDE, 2008)

Na época, não se exigia dos professores qualquer diploma para comprovar suas habilidades. “Sua avaliação de desempenho estava adstrita somente à sua conduta pessoal, atestada pelo pároco, pelo chefe de polícia e pelos pais dos alunos” (VIEIRA & GOMIDE, 2008, p. 3838)

Já no período da Proclamação da República, segundo Vieira & Gomide (2008, p. 3840):

(...) foi presente a influência dos princípios de orientação positivista. Na instrução pública, não eram levadas em consideração as peculiaridades do país, com suas diferenças regionais, sendo que no plano docente destacava-se a insuficiência quantitativa e a baixa qualificação dos mestres.

Havia, na época, uma forte tendência à imitação dos modelos apresentados na Europa e nos Estados Unidos, o que fazia com que se deixasse de lado a realidade brasileira, ou mesmo promovia-se a modificação dessa realidade com base nos ideais perpassados pela educação e pelas exigências do governo. Com a promulgação da Constituição da República de 1891 e a instituição de governo federativo, houve a descentralização do ensino. Tal Carta era omissa em relação ao ensino primário, mas “delegava aos estados e aos municípios a competência para legislar e prover esse nível de ensino, obrigando-os a difundir a instrução mediante a disseminação das escolas primárias, sob as bases de um regime livre e democrático.” (VIEIRA & GOMIDE, 2008, p. 3841)

Nesse importante documento, havia também a exigência de que o ensino fosse leigo. De acordo com Tanuri (2000, p. 68), “a atividade normativa ou financiadora do Governo Federal no âmbito do ensino normal e primário não chegou a se concretizar na primeira República, de modo que os estados organizaram independentemente os seus sistemas de ensino”.

Após a Segunda Guerra Mundial, as ideias liberais foram fortalecidas juntamente com o Estado de Direito, sob forte influência iluminista e de uma educação pública que deveria ser direito de todos e dever do estado, questão que persiste até os dias atuais. O ensino organizava-se nessa época, de acordo com Vieira & Gomide (2008, p. 3842):

Os grupos escolares revelaram sua importância, na medida em que definiram as bases estruturais encontradas até os dias atuais: reunião de alunos, organização de salas, seriação, definição lógica e seqüencial de conteúdos, processo avaliativo. Cada grupo escolar tinha um diretor e o número de professores variava de acordo com o número de escolas que tinham sido reunidas. Estes grupos eram também chamados de escolas graduadas, tendo em vista a progressiva graduação das séries letivas, implicando em progressividade de aprendizagem.

Na década de 30, os ideais capitalistas e a economia crescente nessa área já exigia um novo fazer/pensar educacional, direcionando o ensino para a qualificação para o trabalho.

O sistema educacional incorpora características contraditórias: de um lado, a pressão social pela educação; de outro, o controle das elites para continuar os estudos em nível superior. Especificamente, para a formação de professores, inspirada em modelos europeus, evidencia-se esta dualidade, introduzida em nosso sistema de ensino, logo após os estudos primários.

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