A história da educação de surdos

Autor: Paulo Igor Xavier da Silva

Como preleciona Sa’ (2003, p.88,89) “a situação a que estão submetidos os surdos, suas comunidades e suas organizações, no Brasil e no mundo, tem muita historia de opressão para contar”. De fato, durante os muitos momentos históricos em que já vivenciamos, percebemos o quão postos a margem estão os surdos e mudos, sim, colocados à margem no mundo social, econômico, cultural, politico e educacional, por serem rotulados como deficientes e incapazes de exercerem plenamente os seus direitos e deveres como qualquer cidadão.

A Wikipédia Brasil, citando Dias (2006), explica que ate meados do sec. XVi, os surdos eram encarados como ineducáveis, como consequência inevitável disso, eram vistos como inúteis a sociedade da época, por em nada contribuírem a sociedade, muito pelo contrario, logo jovem (já nas décadas de 60 - 90), eram aposentados por invalidez (pela previdência social Brasileira) e tornavam-se um fardo econômico aos cofres públicos e principalmente aos contribuintes – os economicamente ativos.

Ainda no sec. XVI registra-se experiências do Dr Gerolamo Cardano (1501-1577) que concluira: “a Surdez não prejudicava a aprendizagem, uma vez que os surdos poderiam aprender a escrever e assim expressarem seus sentimentos” (JANNUZI, 2004, p. 31). Então, o Surdo começa a ser encarado por outro ângulo. Agora, ao invés de um fardo para toda a coletividade, o surdo passa a ser visto como uma pessoa normal, munida das mesmas capacidades econômicas, civis, culturais, politicas, culturais e educacionais.

            Outro registro de suma importância em relação à educação com surdos envolve o Monge Pedro Ponce de Leon (1510-1584), que foi reconhecido como o primeiro professor de surdos. Ele atuava no mosteiro beneditino de São Salvador, em Ona, onde conseguiu ensinar a linguagem articulada aos surdos. Infelizmente, como naquela época o fator materialismo era bem mais predominante na Igreja que hoje, apenas os filhos dos ricos e nobres, que eram surdos, tinham acesso à educação, assim, estes aprenderiam a administrarem as riquezas que por ventura seriam herdadas. Quanto aos filhos de pobres e homens ordinários, estes ficam a mercê do descaso educacional.

Embasamos o supramencionado parafraseando SILVA (2006) ‘ os filhos, surdos, da nobreza espanhola recebiam atendimento educacional especial. Já os surdos, filhos dos que não pertenciam à nobreza, viviam em uma verdadeira miséria, sofrendo a falta de educação, consequentemente de trabalho e por fim, um isolamento social enorme.

Ao passar dos anos, as instituições educacionais, a saber: a religião e a Escola (um subsidiaria a outra) começam a desenvolver novas técnicas para atingirem este novo publico – os surdos.

Ponce de Leon, monge católico e professor, utilizava um alfabeto manual que seria como pontua PLANN (1997, p. 30,31) “um modo de soletrar no ar, formando letras com os dedos”, tornado assim mais palpável, digamos assim, as letras e o que elas representavam aos surdos.

Com o tempo, alguns países investiram nos estudos sobre educação por intermédio de sinais visuais aos que não podiam ouvir e falar.

Inicialmente, datamos 1775, onde L’epee fundou a primeira escola de ensino para pessoas surdas, em Paris, Franca, onde os professores ensinavam os alunos com sinais e linguagem corporal e reuniam-se periodicamente com o objetivo de discutirem os seus resultados obtidos. L’epee cria que a língua natural dos surdos seria era a linguagem de sinais e por meio desta, os surdos desenvolveriam o pensamento e a comunicação social. Sua escola, em 1791, tornou-se o Instituto Nacional para Surdos-Mudos em Paris (SILVA, 2003).

            Assim, a France tornou-se a pioneira na educação de Surdos-Mudos. Só para termos ideia, depois de 1791 (criação do Instituto Nacional para Surdos-Mudos em Paris) o estado Frances investiu fortemente nesta modalidade educacional. Como resultado de tal investimento, mesmo em escolas publicas, após seis anos de formação, os surdos-mudos, “dominavam a língua de sinais francesa, o francês escrito, o latim e outra língua estrangeira também, de forma escrita, [...] tinham acesso aos conhecimentos de geografia, astronomia, álgebra, [...], bem como artes de oficio e atividades físicas” (SILVA, 2006, p. 23 - 25).

Além do ponto de vista pedagógico, a linguagem de sinais, começava a ter “[...] como eixo orientador a formação profissional, cujo resultado era traduzido na formação de professores surdos para as comunidades surdas e a formação de profissionais em escultura, pintura, teatro e artes de oficio, como a litografia, jardinagem, marcenaria e artes gráficas” (SILVA, 2006, p. 24).

Brasil

Em uma viagem ao exterior, o professor ouvinte Dr. Brasil Silvado Junior entrou em contato com as associações de surdos dos países Europeus e trouxe a ideia de fundar a primeira associação de surdos do Brasil, no Rio de janeiro. Segundo a Revista Ephaphatha (1915), a ideia foi bem acolhida entre os surdos.

Na Primeira Reunião para a organização dessa associação de surdos, em 24 de maio de 1913, foi registrada a presença de quase todos os surdos residentes no Rio. Dessa forma, iniciou-se a estruturação da associação Brasileira de Surdos mudos.

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 Nesse Período, ao mesmo tempo em que os surdos se organizavam, também surgia, no Distrito Federal (a época o Rio de janeiro), com forca avassaladora, as ideias do Oralismo, cujo resultado final culminou com o controle dessa associação pelos ouvintes.

O Oralismo se perpetuou na educação do aluno surdo, no Brasil, por um longo período, ate mesmo atualmente podemos facilmente encontrar escolas de educação de surdos que seguem essa linha. Nesta filosofia, são utilizados três elementos para o seu desenvolvimento, a saber: o treinamento auditivo, a leitura labial e o desenvolvimento da fala, também o uso de prótese individual que amplifica os sons, com o objetivo de aproveitar os resíduos do aluno surdo, possibilitando aos mesmos a comunicação oral. (SILVA 2006).

No Brasil, segundo Guarinello, Massi, Barberian (2007, p.48,49). “a proposta bilingue, ainda e’ bastante recente, ou seja, já existem alguns projetos em fase de implementacao, porem seus resultados ainda não são conhecidos”.

QUADROS (1998, p.40) confirma em seus estudos que algumas conquista, já foram realizadas, na educacao de surdos-mudos no Brasil, como por exemplo: “[...] o reconhecimento da pessoa surda enquanto cidada integrante da comunidade surdacom o direito de ter assegurada a aquisicao de lingua de sinais como primeira lingua, o uso de sinais na escola para garantir o desenvolvimento cognitivo e o ensino de conhecimentos gerais; o ensino da lingua oral-auditiva com estrategias de ensino de segunda lingia e a inclusao de pessoas surdas nos quadros funcionais das escolas”.

Concluimos que, muito embora o Brasil caminhe a passos de tartaruga em relacao a muitos aspectos relacionados ao seu desenvolvimento como nacao, como a educacao,especialmente a de surdos-mudos, algo já comeca a ser realizado. Os surdos-mudos brasileiros não são mais considerados invalidos, socialmente, ocupando postos de trabalho tanto no servico publico como na iniciativa privada, conseguindo comunicar-se, por meio da LIBRAS (lingua brasileira de sinais) e viver mais plenamente em sociedade.

Bibliografia

_________. Wikipédia Brasil. Origem a história da educação de surdos. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos>. Acessado em: 20 Nov. 2013.

_________. Blog Educação de Surdos no Brasil. A Educação de Surdos Mudos. Disponível em < http://educacaodesurdosnobrasil.blogspot.com.br/> Acessado em: 20 Nov. 2013

_________. Ministério da Educação e Cultura. Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos para a pratica pedagógica. Brasília: Mec., SEESP, 2 v. 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ipvol12.pdf. Acesso em:  Acessado em: 21 Nov. 2013

PLANN, S. A silent minority: deaf education in Spain, 1550 – 1835. Berkely: University of California Press, 1997.

QUADROS, R.M.de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Medicas. 1997.

SA’, N.R.L.de. Convite a uma revisão da pedagogia para minorias: questionando as praticas discursivas na educação de surdos. Revista Espaço, Rio de Janeiro, n. 18/19, p. 87-93, 2003.

SILVA, V, et al. Educao de Surdos: Uma releitura da primeira escola publica para surdos em Paris e do congresso de Milao em 1880. In: QUADROS, R.M. (Org.). Estudos Surdos I. Petrópolis, RJ, Arara Azul, 2006. P. 324.

GUARINELLO, A.C.;MASSI, G.A.A.; BERBERIAN,A.P. Surdez e Linguagem Escrita: um estudo de caso. Revista Brasileira de Educacao Especial, v.13, p. 205 – 219, 2007.