SURDEZ, Educação de Surdos e Sociedade

A surdez não se trata de uma deficiência e sim de uma diferença, são sujeitos considerados diferenciados sociais. A discussão sobre os termos diferença e deficiência se presta aos olhares, vivências, conhecimentos diversos da sociedade, do imaginário social e se faz necessário esclarecê-los.
A comunidade surda pode ser considerada diferenciada na sociedade dita "normal", pelo faro de apresentarem uma limitação no seu sentido auditivo, o qual só começamos a dar importância, no momento em que nos falta, pelo fato de ser um dos sentidos de maior importância, principalmente no aprendizado, é claro sem menosprezar os demais, por se tratar de um dom sem o qual teríamos muita dificuldade de interagir com o mundo, fazendo referência à expressão oral humana que sem duvida tem um valor inestimável em razão a interação do sujeito social como membro da sociedade.
Pode ser definida através de três pontos de vista, que são: ponto de vista médico, educacional ou cultural. Em termos médicos, a surdez é categorizada em níveis do ligeiro ao profundo. É também classificada de deficiência auditiva, ou hipoacúsia. No ponto de vista educacional, surdez refere-se à incapacidade da criança aprender a linguagem por via auditiva e ter um desempenho acadêmico. Em termos culturais, surdez é descrita como uma identidade cultural, partilhada entre indivíduos Surdos ou com perda auditiva.
Não é novidade a ninguém que qualquer pessoa com uma determinada diferença ou mesmo uma deficiência tem dificuldades para se incluir na sociedade de modo geral. O sujeito surdo esta ligado a essa ideia pelo fato de não estarem ligados ao mundo ouvinte. Mas durante muito tempo, pessoas têm lutado em prol desta integração e muitas vitórias já foram conquistadas. Como tratam também em seus conceitos como; "Surdez, Educação de Surdos e Sociedade", como é o caso de: SILVA, Ângela. Carranho da. Ouvindo o silêncio: Educação, linguagem e surdez. Porto Alegre: Mediação, 2008.
SILVA (2008), quando afirma que a pessoa surda é um sujeito com direito a interação social, que faz parte e compreende o cotidiano da sociedade, a falta da linguagem oral não exclui esse sujeito do âmbito social, contudo precisa ser olhado como uma pessoa normal - pois de fato e precisa ser respeitada em suas diferenças.
Acreditamos que a abordagem histórica apresentada por SILVA (2008) é bastante pertinente, pois, permite ao leitor perceber o contexto histórico do sujeito surdo, através dos fatos e dos elementos que influenciaram na participação do surdo como membro efetivo da sociedade. Entre os autores que apresentam a surdez como um problema que afeta o desenvolvimento cognitivo, como cita a autora, FERNANDES, SILVA, REIS e outros, não há uma teoria que comprove essa relação de comprometimento entre o biológico, o social e o cognitivo, em outras palavras, esses autores não conseguiram provar nem conseguiriam que a falta de audição provoca comprometimento irreversível das estruturas cognitivas.
No entanto como coloca a autora, SOUZA (1994), enfatiza que apesar do homem possuir fundamentos biológicos, a cultura é uma variante significativa na formação do pensamento da criança, pois, como afirma Piaget à inteligência precede a fala, sendo assim, acreditamos que o pensamento se origina da interação do sujeito com o meio, e não do simples ato de expressão oral.
Entendemos que a fala de SILVA (2008), é importante quando afirma "... há uma expectativa constante de se viabilizar um melhor aprendizado e a integração/inclusão do surdo na sociedade e/ou na cultura do mundo "ouvinte" em todas as áreas do conhecimento". Sendo que nos permite traçar um olhar diferente no que concerne a socialização do surdo, e a oportunidade de diminuirmos os preconceitos que afetam nossa sociedade.
Percebemos que a educação para os surdos sempre foi envolvida de dicotomias, como apresenta a autora nos métodos utilizados para essa educação. Os congressos nacionais de 1878 e 1880 trouxeram benefícios e prejuízos no que concerne de a educação de surdos. O primeiro congresso deu o direito dos surdos assinarem documentos, os tirou da marginalidade; o segundo, no entanto, tirou o direito do surdo usar gestos e sinais para se comunicar, privilegiando assim, a linguagem oral.
Acreditamos diferentemente dos métodos oralistas, que não é o método que levará a criança surda a desenvolver suas habilidades cognitivas, pois, como afirma Emília Ferreiro, os métodos podem facilitar ou prejudicar a aprendizagem, no entanto, não são decisivos do desenvolvimento do conhecimento. O método oralista apresenta-se assim, como mecanismo que impede o desenvolvimento natural da pessoa surda, pois, não respeita sua realidade, mas lhe apresenta um cenário artificial, como cita a autora, "alguns métodos defendem o ensino de palavras isoladas a crianças de um ano de idade, o que, em função da descontextualização, dá a linguagem um cunho de artificialidade e de difícil entendimento".
Concordamos com GOÉS (1996), quando afirma que a mímica não deveria ser vista como uma inimiga, mas, como uma aliada no processo de ensino-aprendizagem, pois percebemos que a língua de sinais complementa e facilita a aprendizagem do sujeito surdo, sendo então, fundamental na comunicação dos surdos. A autora é bem categórica ao apontar a comunicação total, que não possui a oralização como meta, estabelecendo assim, o verdadeiro papel da comunicação total, que é o de oferecer ao surdo meios que facilitem e potencializem sua aprendizagem e seu desenvolvimento cognitivo, sendo assim, um novo modo de adquirir a linguagem. No entanto, a autora cita pesquisas que mostraram que esse método não propicia ao surdo um efetivo aprendizado da língua de sinais, mas é um apoio a língua oral.
Neste contexto a autora relata que surgiram alternativas educativas voltadas para uma educação bilíngue, que reconhece a língua de sinais como a língua materna dos surdos, isso nos parece ser coerente, pois, entendemos que essa alternativa respeita a escolha do sujeito surdo em optar por uma língua, que o ajudará a se desenvolver socialmente.
Concordamos que as três abordagens, comunicação oral, total e bilíngue, refletem posturas diferentes em relação ao processo educacional, sendo a escolha de uma abordagem de pensar ligada à visão de homem que se tem, em outras palavras, depende da visão que a sociedade tem sobre o sujeito, o que nos leva a refletir sobre a visão medieval que a nossa sociedade tem dos surdos, e como a educação precisa avançar no campo da educação especial.
Quando considera como questões internas à capacidade para a linguagem, a sequência natural e o período sensível. Como questões externas a autora reconhece o ambiente, a interação, a idade interesse/motivação, a prática social, as estratégias de aprendizagem, os estilos de aprendizagem, assim como os fatores afetivos. Pois cada individuo reagirá de uma maneira diferente aos métodos aplicados a ele, muitas coisas irão influenciar no seu aprendizado, inclusive o meio em que vive e o estimulo dado a ele não apenas na instituição de ensino como deixa explicito a autora.
Temos a mesma visão que FOUCALT, quando diz que as relações de poder que tem origem e se desenvolve o saber. Pois é através do saber que vai se assegurar o exercício do poder, onde aplicasse o a dominação sobre os outros, é claro em razão ao conhecimento. Onde a educação também seria uma prática de poder marcada por relações de disciplina e dominação. Nessa visão sendo as possibilidades dos diferentes sempre limitadas.
A língua de sinais se baseia no uso de gestos e sinais em vez da comunicação oral. Ela é de muita importância na comunicação de surdos e mudos, como forma de entendimento. Sendo que não se trata de uma linguagem universal cada país tem a sua definição de língua de sinais como se fossem idiomas diferentes. No Brasil ela só foi considerada uma língua em 2002, quando foi sancionada uma lei que reconheceu a LIBRAS como meio legal de comunicação entre surdos.
Como já foi tratado acima enquanto aos deficientes auditivos é grande a discussão entre a linguagem oral e a de sinais, onde a grande diferença entre as línguas de sinais e as línguas orais é que, enquanto as primeiras se utilizam do canal visual espacial, as segundas se utilizam do canal auditivo. Sendo assim a informação linguística é recebida pelos olhos, os sinais são construídos de acordo com as possibilidades perceptuais do sistema visual humano.
Concordamos com VALENTINI (1995) quando diz que as línguas de sinais da mesma forma que as orais, são definidas pelos sistemas fonológicos, morfológico e sintático. A diferença é, então, indicada pelo canal espaço visual.
Concordamos com BELLUGI e PETITTO (1998) onde ressaltam, a partir dos resultados de seus estudos, que a criança surda de nascença que tem acesso a uma língua espaço visual, viabilizada por meio pais surdos, desenvolverá uma linguagem sem qualquer deficiência. Pois será exposta desde cedo a uma linguagem caracterizada pelo que a cercam, fazendo com que ela absorva essa língua para ela.
Desta forma podemos ver que a questão do surdo, deve ser tratada com mais respeito e seriedade, do mesmo modo como algumas situações ? problemas presentes nas instituições como: em relação à inclusão, o bullying, a gestão democrática e outras possam parecer que as suas possíveis soluções sejam utopias, somos educadores que procuramos a diferenciação profissional para proporcionar a mudança e as soluções, dando assim o devido valor a todos eles, aplicando-lhes o direito a integrarem-se de maneira firmada em um lugar, como qualquer outro cidadão que seria considerado "normal", com o direito a uma posição e a uma educação, e preparo desde a linguagem até a sua formação de cidadão do mundo sem qualquer tipo de diferenciação a idades ou classe social, em que possam ter o devido respeito que merecem, visando não na ideia de mudar o mundo pois com nossas mãos não seremos capazes, mas sim nos dispormos a dar o nosso melhor para fazer um pequena parte que já será muito na construção de cidadão mais critico, reflexivo e criativo, em que levará adiante esses ideais de proporcionar sua pequena parcela a todos aqueles que tem em seu peito o desejo de mudar o mundo.
Ser Surdo, judeu, negro, índio, enfim, ser diferente dos demais configurados como normais na concepção patológica da medicina não mais deve ser motivo de isolamento, exclusão social, estigma, preconceito, mas sim, este é o momento propício para que ocorra uma mudança profunda na visão e costumes dos povos, fazendo com que os diferentes se fundam ao contexto sócio histórico e se tornem nada mais e nada menos do que sempre foram não só aos olhos da natureza, mas também aos olhos daquilo que todas religiões definem com Deus: Iguais.

Referencia
SILVA, Ângela. Carranho da. Ouvindo o silêncio: Educação, linguagem e surdez. Porto Alegre: Mediação, 2008.