EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: inovações na aprendizagem

*ANA KARINA DE MOURA

Resumo

Este artigo tem como objetivo, abordar algumas mudanças no decorrer da historicidade desse país, no que diz respeito à Educação de Jovens e Adultos que, nos últimos anos vem ganhando destaque no cenário educacional. Mas, a discussão de uma política compromissada com essa modalidade de ensino, ainda não é reconhecida na mesma dimensão e nas esferas governamentais, principalmente no que tange à garantia de acesso ao direito à Educação para todos, inclusive daqueles que não tiveram acesso em idade própria na escola. Este artigo fundamenta-se, teoricamente, no pensamento de Paulo Freire, Ana Maria Freire, Magda Soares, dentre outros autores que seguem a mesma linha de pensamento, cujo objetivo principal é resgatar a auto-estima e o direito de exercer a cidadania como qualquer outro cidadão. Os estudos para a conclusão deste trabalho foram centrados em pesquisas bibliográficas, dando o suporte necessário para o término deste.

Palavras-Chave: EJA, Democracia, Cidadania.

Abstract

This article is aimed at addressing some changes over the historicity of that country, with regard to Youth and Adult Education that in recent years has been gaining attention in the educational setting. But the discussion of a committed policy with this type of education, is not yet recognized in the same dimension and government spheres, especially in terms of ensuring access to the right to education for all, including those who did not have access in their own age at school. This article is based, in theory, the thought of Paulo Freire, Ana Maria Freire, Magda Soares, among other authors that follow the same line of thought, whose main objective is to rescue the self-esteem and the right to exercise citizenship as any other citizen. Studies to complete this work was focused on literature searches, giving the necessary support to this end.

Words-Key: EJA, Democracy, Citizenship.

Introdução

A alfabetização de jovens e adultos é um campo complexo que envolve não apenas questões educacionais, mas também as relacionadas as desigualdades sociais em que se encontra a maioria da população brasileira.
De certa forma, mudar esse quadro de desigualdade não significa simplesmente oferecer uma educação de qualidade, mas sim estabelecer vínculos visando mudanças na qualidade de vida social, econômica, política e cultural da população menos favorecida do país.
Diante da realidade, em se encontra o sistema educacional no Brasil, em especial a Educação de Jovens e Adultos, que é tratada com certo descaso em relação ás outras, é necessário que haja uma política educacional definida e imediata para que se possa superar o quadro crítico em que se encontra a EJA no País.
Esse artigo está organizado em conteúdos, que tem como objetivo principal refletir questões voltadas à Educação de Jovens e Adultos.
Onde os autores pesquisados fazem um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, desde o período Colonial, perpassando pelas diversas mudanças e, chega aos anos 90 como um momento histórico de Educação para todos, chegando, portanto ao século XXI ainda com a perspectiva de novas mudanças.
Todavia também abordam as tendências pedagógicas no Brasil na intenção de facilitar e nortear o trabalho do professor em sala de aula de EJA. Todo esse aspecto está ligado com a finalidade de acesso aos saberes da leitura e da escrita de forma prazerosa, para que os alunos da EJA possam resgatar sua dignidade com auto-estima e com muita autonomia em exercer seus diretos.
Enfim, enfoca também a alfabetização como caminho para o exercício da cidadania plena, entre os quais, estão relacionados o processo de aprendizagem e a valorização das experiências de vida, dos Jovens e Adultos, inserido no processo de alfabetização incluindo os processos que envolvem a motivação dos alunos da EJA.

Educação de Jovens e Adultos
Historicamente, a educação escolar de jovens e adultos no Brasil, ficou marcada por diversos momentos de transição, devido às mudanças políticas ocorridas durante alguns períodos da história do país. Esse capítulo será desenvolvido, a partir de uma perspectiva da história da educação brasileira, cujas concepções de E J A, Educação de Jovens e Adultos, estão relacionadas necessariamente aos aspectos, social, político, econômico e cultural.
A educação escolar no Brasil, desde sua origem no Período Colonial, especialmente relacionada à Educação de Jovens e Adultos, que era oferecida de forma doutrinal. Suas ações eram missionárias e religiosas e, além de divulgar o evangelho, instruíam as normas de comportamento educacionais e os ofícios necessários do funcionamento da economia colonial, que inicialmente era destinado aos índios e, estendendo posteriormente aos negros. E no decorrer do tempo, aos colonizadores e seus filhos, oferecendo as escolas de comunidade.
Conforme as palavras de: "Esse período esteve centrado na instalação das capitanias hereditárias no Brasil, e não houve nenhuma preocupação com a educação escolarizada". (Ana M. FREIRE, 1993 p. 15). Dentre o período de 1549 - 1759, a educação estava ligada ao modelo jesuítico e surge como meio capaz de tornar a população dócil e submissa, atendendo a política colonizadora portuguesa.
Entretanto, no Período Republicano, a educação cria raiz na cultura jurídica e o direito à educação prevista na 1a Constituição Republicana de 1891, foi de uma perspectiva dual e descentralizada, na qual atribui aos Estados a responsabilidade para prover e legislar sobre o ensino primário, destinada à maioria da população carente perante a sociedade.
Mesmo tendo ocorrido grandes reformas educacionais neste período da Primeira República, é preocupante o estado precário do ensino básico devido ao alto índice de analfabetismo, que acompanhou a sociedade brasileira desde o início, passando o período colonial, o império, e continuou na república. No início da colonização brasileira, podemos dizer que a Educação de Jovens e Adultos surgiu com a necessidade de ensinar a língua portuguesa para os nativos da época, como nos mostra à história que a língua sempre foi usada como instrumento de dominação, no caso a dominação da cultura branca sobre os nativos.
No final dos anos 50 e início dos anos 60 destaca-se, momento e debate sobre a Educação de Adultos junto a outros problemas debatidos, em relação à dependência política e econômica do Brasil. Outro componente enriquecedor foi à inovação pedagógica e metodológica para a Educação de Adultos desenvolvida a partir da reflexão e prática de Paulo Freire. Segundo ele, a contribuição principal, não está na rapidez que se pode alfabetizar um adulto e sim, na sua ação conscientizadora, libertadora e de formação para "ser humano" e para a cidadania. Ainda nesse período histórico da Educação de jovens e Adultos, surge um outro fator importante que é a participação significativa do Estado e da Sociedade Civil, organizada e não organizada, no processo de acordo com a sua condição e natureza da sua responsabilidade.
Mediante a aprovação do Plano Nacional de Alfabetização em janeiro de 1964, cria -se por todo Brasil os programas de alfabetização orientados pelo já conhecido método Paulo Freire, tendo pouca duração devido o golpe militar de 1964, o qual interromperia a efetivação do plano que desencadeava esses Programas, Movimentos e Campanhas que foram extintos, visto que a desconfiança e a expressão reinantes atingiram muitos os promotores da educação popular e da alfabetização.
"O educador já não é o que apenas educa, mais o que enquanto educa, é educado também" Freire ( 1999). Portanto, promover à educação de jovens e adultos, aos que na infância não tiveram oportunidade, é importante para responder aos imperativos do presente e também para garantir melhores condições às próximas gerações.
De acordo com as estatísticas no Brasil, há um número significativo de analfabetos, os quais dominam tão precariamente a leitura e a escrita, que ficam impedidos de utilizar eficazmente essas habilidades para continuar aprendendo, acessar informações essenciais a uma inserção eficiente e autônoma em muitas das dimensões que caracterizam as sociedades contemporâneas.
No Brasil, um país marcado por graves desníveis sociais, os baixos níveis de escolarização, estão fortemente associados a outras formas de exclusão econômica e política, mas o que, de fato, a educação escolar pode trazer de novo para esses jovens e adultos que já estão integrados de um modo ou de outro em nossa sociedade? Algumas conquistas evidentes podem ser reconhecidas, como o domínio da escrita e da leitura, das operações matemáticas básicas que compõem as disciplinas curriculares. Os produtos possíveis da educação escolar não se limitem aos mais evidentes, pode também, contribuir com outros saberes valendo-se as experiências de vida de cada um, considerando seu desenvolvimento e capacidade de interpretação, do seu contexto social, é possível uma construção de aprendizagem significativa.
Libâneo nos mostra as tendências pedagógicas brasileiras em dois momentos distintos que traduzem a manifestação da práxis pedagógica. Sendo: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista.
Segundo Libâneo (1985), a Pedagogia Liberal é manifestação de uma organização baseada na propriedade privada dos meios de produção ou sociedade de classes. Sustenta a idéia de que a escola tem que preparar o indivíduo para o desempenho das funções sociais. Isto de acordo com as aptidões individuais e normas da sociedade de classes.
É importante salientar que a Pedagogia Liberal, difundiu a idéia de igualdade, porém não contesta a situação de desigualdade. Historicamente esta pedagogia iniciou-se com a pedagogia tradicional, mais tarde a renovada também chamada de Escola Nova ou Ativa. Libâneo (1985) afirma que “na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o ensino humanístico de uma cultura geral, aonde educador e aluno chegam a realização plena, como resultado do próprio esforço”.
Segundo Barbosa ( 1994) a psicogênese da língua escrita pressupõe o adulto como um sujeito cognoscente, um sujeito que constrói ativamente o saber. As informações percebidas no mundo exterior devem ser transformadas pelo esquema de assimilação do sujeito, através de um processo de reestruturação das hipóteses já elaboradas na aprendizagem. U m estímulo extenso da aprendizagem só incorporada às estruturas cognitivas.
Por outro lado, a língua estrita deixa de ser percebida como um código, cujo elemento e relações são dados previamente, percebidos, e passa a ser concebido como um sistema de representações primordial e original no caso das escritas alfabéticas.
O conhecimento não se desenvolve apenas pela incorporação de novos dados, mas pela reorganização e reelaboração de conhecimentos que já possuímos. (DURANTE, 1992)
O adulto não alfabetizado, antes de tudo precisa estar convencido da necessidade de aprender a ler e escrever. Não pode ser forçado à instrução, pois, aprende e, mais depressa quando sente a necessidade de informação que o ajude a organizar sua vida cotidiana e ampliar conhecimentos que favoreçam oportunidades profissionais e sociais.
Como ponto de partida para um trabalho significativo, a escola deve considerar e valorizar as experiências de vida e conhecimentos prévios, trazidos pêlos alunos jovens e adultos não alfabetizados ou de pouca escolarização. O processo de aprendizagem será mais significativo para a sua compreensão, sobre as regras de funcionamento do sistema da escrita e da leitura “A alfabetização de adultos, enquanto ato-político e ato de conhecimento, é comprometida com o processo de aprendizagem da escrita e da leitura". (FREIRE, 1999, p.41)
Dessa forma, o alfabetizando está se apropriando da capacidade de teorizar, produzir conhecimento, ao invés de consumir conhecimento dado, deve tornar-se capaz de criar e modificar o já instituído para a conquista desse sujeito pensante-atuante, em fase de aprendizagem, deve ao educador, proporcionar um ambiente agradável e prazeroso de estudo, valorizando assim os conhecimentos e experiências de vida de cada um, para que haja de fato uma aprendizagem significativa no seu contexto social. Os processos de desenvolvimento estão relacionados a três fatores: etapa da vida, circunstâncias culturais históricas e sociais e de sua existência e experiências particulares de cada um.
Considerar esses aspectos é fundamental para o trabalho com adultos, no que se refere à alfabetização de jovens e adultos. Além disso, uma aprendizagem se caracteriza como significativa, quando o indivíduo consegue reutilizar seus conhecimentos em situações diferentes daqueles em que foram assimilados. A alfabetização significa aprender a dizer a palavra em seu verdadeiro sentido, isto é como um direito de se expressar e expressar o mundo, de criar e recriar, de decifrar e de optar, junto suas experiências de vida.
A EJA ainda apresenta uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a escola e, nem o domínio da escrita e da leitura como bens sociais. Ser privado desse acesso é, de fato a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea. De certa forma, fazer a reparação desta dívida é um imperativo e um dos fins do EJA.
A alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num mundo em transformação é uma habilidade primordial em si mesma, é um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades (...) O desafio é oferecer-lhes esse direto (...) A alfabetização tem também papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um requisito básico para a educação continuada durante a vida toda. ( HAMBURGO 1997).
A educação, como chave indispensável para a sociedade de conhecimento, vai se importando cada vez mais nesses tempos de grandes mudanças e inovações nos processos produtivos do educando. Ela possibilita aos "jovens e adultos", retomar seu potencial, desenvolver suas habilidades, troca de experiências, inclusive, aos idosos que muito tem para ensinar às novas gerações.

Metodologia

Os estudos para a conclusão deste trabalho foram centrados em pesquisas bibliográficas, dando o suporte necessário para o término deste.

Considerações Finais

A educação de jovens e adultos, é uma modalidade específica da educação básica que se propõe em atender a um público ao qual foi negado o direto a educação durante a infância ou adolescência, seja pelo não oferecimento de vagas nas escolas, pelas inadequações do sistema de ensino, pelas condições sócio-econômicas desfavoráveis ou pela falta de oportunidade de se inserir ao sistema escolar na idade própria.
Para que possa estabelecer com clareza a parcela da população a ser atendida pela modalidade EJA, é fundamental refletir sobre seu público, suas características e especificidade. Embora a Educação de Jovens e Adultos, refere-se não apenas a uma questão etária, os jovens e adultos os quais dirigem-se as ações educativas desse tempo educacional não são quaisquer jovem ou adultos, mas uma determinada parcela da população.
São homens e mulheres, trabalhadores que vivem de uma baixa renda salarial, moradores urbanos de periferia, favelas e vilas. São sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas sócio econômicas e educacionais, privados do acesso, a cultura letrada e aos bens culturais e sociais, todos buscando uma motivo para estarem adquirindo seus direitos como cidadão brasileiro.

Referências

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PARECER CEB 4/98 E Res. CEB 2/98. Quanto ao Ensino Médio a EJA devera atender aos saberes das Ares Curriculares de Linguagens e Códigos, de Ciencias da Natureza e Matemática, das Ciências Humanas e suas respectivas tecnológicas.

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