EDUCAÇÃO COMO FENÓMENO SOCIAL, OS NOVOS MARCOS DA EDUCAÇÃO

 

Quiméricos ou sonhadores, nós, estudantes sempre buscamos algo mais em nosso quotidiano. Arremessamos a cada dia, a cada semana, a cada mês, a cada trimestre, a cada semestre, a cada ano um ideal e por ele lutamos, emocionamo-nos, adoptamos estratégias. Porém esse ensaio, que provavelmente desencadeará em um debate, só é real para aquele que, ao oferecer-se à apreciação, olha para a educação desde o ponto de vista da fundamentação antropológica (melhoramento da condição humana, emancipação do sistema social marcado pela exploração, exclusão e manipulação do homem) e que tenha sobretudo a crença por uma ontologia que considera o homem como um ser em construção e não como um ser construido, quer dizer, acabado, e simultaneamente toma o diálogo como um processo horizontal e uma constante em ações consciente. Hoje, como fiz entender, quero discorrer e problematizar um tópico comum quanto complexo nas suas implicações. É da educação que estou me referindo, educação como um fenómeno social que é possível analisar desde diferentes perspectivas: como processo (e não estado), como qualidade, como sistema, como resultado, como melhoramento e como ação humana. Cabendo nela o aporte que motiva o olhar sociológico, psicológico, político, filosófico, biológico, antropológico, pelo que se considera haver entre estas, um tecido comum, exigindo de nós uma abordagem fundamentada desde o ponto de vista do imperativo da interdisciplinaridade, e nesta ordem de ideia fica lançado a todos os leitores, o repto à um debate inclusivo.

Já suponho que estou sendo lido por um público conhecedor do verbo e esclarecido sobre as principais questões estruturantes, assim sendo dispenso definições operacionais, sob pena de apresentar uma visão escolastica. O “pú do gato” tem como escopo epistemológico os autores: Edgar Morin, Paulo Freire, este último consagra a educação como sendo a arma cujo efeito depende de quem a tem nas mãos e de quem é atingido por ela, é uma ferramenta contraditória, de permanente movimentação, na medida em que os indivíduos, reconhecendo-se condicionado (não determinado) são capazes de intervir sobre o condicionante, ou ainda, quando diante de acondicionamentos  os sujeitos recusam a participação social, permitindo que as elites pintem a sociedade a seu bel prazer segundo o seu poder simbólico e manifesto.

Ora, o actual ímpeto da revolução industrial, esta baseado no espectro da informática, que faz a todos e a cada um nós o autor imóvel de uma infinidade de desloçações virtuais. Portanto, as novas tecnologias parecem abolir as distâncias físicas ao dar-nos impressão de que a África, a Europa, a Ázia, a Antártida são um só pequeno mundo, não obstante estar a dar a impressão de um melhoramento e alargamento do âmbito do nosso conhecimento.

A contradição entre os problemas globais e o “bicho” da (hiper)especialização do conhecimento, como consequência do sistema da classificação da ciência clássica, é o principal desafio lançado ao conhecimento, à educação e ao pensamento. Alias, costuma a se dizer em filosofia que a verdade é como o todo, não pode ser visto no contexto da separabilidade das partes que a compõem, ou seja, a verdade simplismente não pode ser segmentada, portanto o global, tal como diz Morin (1999) tem de ser visto localmente e vice-versa. A este respeito, Blaise Pascal, no século XVII, apontava já uma via de orientação: “… acho impossível conhecer as partes sem conhecer o total, nem conhecer o total se não conhecer especialmente as partes”. (Citado em chaves do Século XXI). Por outras palavras, nem o conhecimento fragmentado, nem a apreensão holísta, globalística, permitem dominar um objecto: o conhecimento deve efectuar um movimento de vai e vem entre o nível local e o nível global, assim como a retroação do universal sobre o particular, permitindo uma organização em função de eixos estratégicos essenciais. O pensamento, deve ser capaz de ao mesmo tempo contextualizar o singular, o particular e o local e de concretizar o global, isto é, de por o global em relação com as partes. Ora, nós, professores e estudante, sofremos de uma dupla cegueira em relação ao universal e ao contexto. Por um lado os etnocentristas forçam o retomar das entidades particulares, por outro, o pensamento tecno-científico constitui um pensamento hiperespecializado, no qual a aptidão para apreender o global se atrofiou. Olhando para a produção intelectual dos autores aqui apontado e considerando o zeitguest benguelense (ambiente cultural e intelectual) posiciono-me ao lado dos intelectuais que defendem a etnometodologia de estudo que parte do indutivo ao dedutivo ou seja, do local ao concreto. É certo que compreendo que não aspiramos a elaborar um modo de reflexão que saiba entender a insustentável complexidade do mundo actual; Contudo, este tipo de pensamento poderia libertar-nos das cegueiras e das miopias que caracterizam a nossa atitude em relação ao mundo. Por exemplo, os europeus e americanos  à muito que se aproveitam de uma ciência humana extremamente sofisticada, cujo nível de formalização está muito avançado: a ciência económica. Ora esta revelou-se incapaz de prever as perturbações do sistema económico, nomedamente a crise da zona euro que se desencadeiou à nível internacional. A economia é aberta (pelo menos deveria ser), porém o “bicho” da hiperspecialização que se injetou no pensamento humano tornou-na feichada, fechada sobre si mesma a ponto de ter negligenciado as ligações que mantinha com o contexto humano e social, é como que o homem tivesse ignorado as suas sensações, percepção, paixões, medo, irracionalidade, pánico, ansiedade, impulsos, ódio, amor, frustrações, ambição,  e outros estados psíquicos conhecidos quando pensasse sobre os assuntos da economia. Alias, se Freud foi capaz de afirmar que política é o inconsciente (Citado em Barracho, 2011) podemos seguramente dizer que a economia é também o inconsciente. Sei que não estou tratando da economia como objecto de estudo para este artigo, portanto fi-lo referencia no sentido de emblemar a necessidade de uma abordagem interdisciplinar.  Por consequência, parece-me franqueado a necessidade da reforma do pensamento a que propunha Morin (1996).

Para terminar este primeiro momento, devo objectivamente exaltar o projecto educativo angolano, que nas suas variantes institucionalizou a monodocencia (procedimento didáctico que consagra e responsabiliza o professor a todas as disciplinas), processo que a meu ver se assume como uma arma forte em prol do resgate do tecido comum subjacente as unidades temáticas, portanto supõem-se que agora quem trata de religar continuamente as materias das diversas disciplinas do curriculo é apenas um único professor, e obviamente que esta iniciativa político-pedagógica tráz fortes implicações, é marcado por obstáculos, adversidades, desdobramento da parte do professor para responder e justificar a eficácia requerida, e aqui começam os contra. Todavia, tal como invoquei, não quero me protagonizar e ser o único “ser do contra”, pelo que declaro aberto o debate…

 

Produzido por: JOÃO CATCHINDELE NGUMBE

UNIKATYAVALABWILA-ISCED/BENGUELA