Introdução

Ser educador no século XXI significa comprometimento com a sociedade, pois a verdade da ciência se dá sempre na e para a sociedade: ela é prática e social. Viver é aceitar o desafio de ser aprendiz da vida, sem esquecer, que nossas descobertas são provisórias, mas são de todos.

A educação é um bem comum e social garantido em lei e indiscutível sobre sua necessidade. Entretanto, o que se torna discutível num momento de tamanha velocidade em que a tecnologia se insere no cotidiano e que quase não nos damos conta de quem somos e já passamos a ser outros, é a qualidade da Educação.

Dentre tantas discussões cabíveis e pertinentes ao assunto em questão, destaca-se as práticas educativas que, conforme defendia Freinet " a educação deveria proporcionar a realização de um trabalho real " em que os princípios educativos da prática seria que "ninguém avança sozinho em sua aprendizagem, a cooperação é fundamental."

Diante de infinitas teorias para as práticas educativas propõe-se, neste texto, uma reflexão sobre o grande e importantíssimo ofício de educar em momentos, como já citado, difíceis até mesmo de definir o que é certo e o que é errado, pois para cada situação é possível ou não a apropriação e adequação de determinadas propostas pedagógicas em que a verossimilhança se faz presente e que, na sua objetividade e subjetividade as apropriações dos sujeitos são múltiplas que por sua vez possibilitarão diferentes usos e significados.

Alguns Pressupostos Teóricos sobre a Prática Educativa no Século XXI

Muitos estudiosos deixaram contribuições riquíssimas para o trabalho pedagógico. Destaca-se aqui Paulo Freire, Jean Piaget, Freinet, Montessori, Waldorf, Gardner, Steiner, Gramsci, dentre outros, e, infinitos autores, seguidores ou não dos já citados contribuem hoje, com estudos e reflexões atualizadas para o momento em que vivemos como: Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Magda Soares, Maria do Rosário Mortatti, Roger Chartier e muitos outros...

Todo trabalho pedagógico está embasado em alguma teoria, apesar de freqüentes discursos como "a prática não tem nada a ver com a teoria", mesmo sem ter consciência, o professor está se utilizando de uma teoria para a realização do seu trabalho.

Os educadores também possuem representações resultantes de processos aos quais são submetidos no decorrer de sua existência. Segundo Godelier (1984,p.189):

"As representações referem-se àquela parte ideal que há no real e que tem por função tornar visíveis ao pensamento o que está ausente, interpretar a realidade, organizar as relações dos homens entre si e com a natureza, ou ainda, legitimar ou ilegitimar as relações dos homens entre si e com a natureza."

As representações sociais tornam-se um recurso importante para a apreensão dos sentidos que os professores atribuem às inovações no campo escolar. E, desta forma, vinculam-se à visão de mundo e suas relações com outras representações que incluem conhecimentos teóricos, conhecimentos do senso comum, conhecimentos práticos, valores, crenças, opiniões, ideologias, regras, etc. neste emaranhado "imbricam-se" e "tensionam-se" diferentes "usos e significados" às apreensões feitas e daí surge a multiplicidade de sentidos observáveis nas teorias e práticas pedagógicas.

Neste movimento dialético em que o processo histórico se dá, está o maior desafio do educador do século XXI. Deve ser capaz de, em suas práticas, considerar as múltiplas representações e apropriações dentro de cada contexto, utilizando o diálogo entre a multiplicidade de saberes existentes. Esta visão já era apontada por Celestin Freinet como proposta pedagógica baseada em investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía seu conhecimento. "A sala de aula deve ser prazerosa e bastante ativa, pois o trabalho é o grande motor da pedagogia.". A aprendizagem através da experiência se faz mais eficaz, porque se o aluno faz um experimento e dá certo, ele o repetirá e avançará no procedimento; porém não avançará sozinho, precisará da cooperação do professor.

Tanto na educação de crianças, jovens ou adultos fica claro que a interação professor-aluno é essencial para a aprendizagem. Mas, para que ocorra esta sintonia, é necessário que o professor considere o conhecimento já existente e que é fruto do meio em que o aluno vive. Como diz Freinet: "O educador deve ter a sensibilidade de atualizar a sua prática." Também,

"[...] a fonte de maior valor na educação é a experiência do aprendiz. Se educação é vida, vida é educação. Aprendizagem consiste na substituição da experiência e conhecimento das pessoas. Aprendemos o que fazemos, pois a genuína educação manterá o fazer e o pensar juntos." ( LINDMAN, 1926, p.9 )

A escola então:

"É um lugar onde se constrói saberes, solidifica os conhecimentos até então acumulados, edifica a cultura, desenvolve conhecimentos, aprimora capacidades, descobre e aperfeiçoa experiências e estimula inteligências. Toda escola é um centro epistemológico por excelência." (ANTUNES, 2002, p.18 )

Daí afirmar que, segundo Celso Antunes:

"O mais provável é que o professor, esmagado pela quantidade enorme de aulas a ministrar, prisioneiro de uma rotina que acredita difícil vencer, angustiado pelos diários de classe infinitos e pilhas de provas que se acumulam, atire para o fundo de uma gaveta as pílulas adquiridas no novo milênio e das mesmas somente se lembre ao preparar sua "declaração de princípios" para o ano que, daqui a um ano, vai nascer outra vez. Mas, se as usar, ainda que apenas algumas, certamente eufórico com os resultados, irá consultar sua bula e surpreso descobrirá que foram tecidas nos sonhos e nas palavras de Perrenoud, Piaget, Rousseau, Paulo Freire, Darci Ribeiro, Maria Montessori, Howward Gardner, Sócrates, Platão, Aristóteles, Sêneca, Quintanilianus, Santo Agostinho, Plutarco, São Francisco de Assis, Leibniz, Kant, Herbart, Shopenhauer, Kierkegaard,Koling, São João Bosco, Friedrich Nietzche, Steiner, Buber, Neill, Vygotsky, Flanagam, Makarenko e ainda outros professores, muitos outros sonhadores." ( 2002, p.11-12 )

Muitos destes sonhadores citados propunham que ao estudar os problemas da educação, o professor deveria almejar a escola ideal, criativa e libertadora, mas também estudar as condições concretas que estariam impedindo a sua realização. Eis, portanto, a grande importância das pesquisas em Educação, já que, como diz Gramsci "os intelectuais são os organizadores da cultura" e, ao pesquisar, tendo como sujeitos o professor e o aluno, em suas práticas cotidianas, o pesquisador auxiliará, com suas descobertas, no desenvolvimento de teorias e práticas que busquem a melhoria educacional e reflexões fundamentais daqueles que "pensam" e daqueles que "praticam" a Educação.

Algumas Considerações Pertinentes

Baseando-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais ( MEC , 1998, p.48 )

"[...] a escola deve assumir o compromisso de procurar garantir que a sala de aula seja um espaço onde cada sujeito tenha o direito à palavra reconhecida como legítima, e essa palavra encontre ressonância no discurso do outro. Trata-se de instaurar um espaço de reflexão em que seja possibilitado o contato efetivo de diferentes opiniões, onde a divergência seja explicitada e o conflito possa emergir, um espaço em que o diferente não seja nem melhor nem pior, mas apenas diferente, e que, por isso mesmo, precise ser considerado pelas possibilidades de (re)interpretação do real que apresenta um espaço em que seja possível compreender a diferença como constitutiva dos sujeitos" é possível concordar com o que diz O Mestre Paulo Freireem sua carta aberta divulgada nos anos 80 em um seminário ocorrido em Brasília "...da necessidade que temos, educadores e educadoras, de viver, na prática, o reconhecimento óbviode que nenhum de nós está só no mundo. Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ou encarnar esta constatação evidente, enquanto educadora ou educador, significa reconhecer nos outros - os educandos no nosso caso – o direito de dizer a sua palavra. Direito deles de falar que corresponde ao nosso dever de escuta-los."

Ou seja, a educação libertadora está em nossas mãos e nossa prática deve ser coerente ao nosso discurso. Só será possível humanizar se praticarmos a humanização.

Assim sendo, o maior desafio do educador do século XXI é construir, junto com seus alunos, saberes significativos com textos, debates e reflexões que combatam a exclusão social.

Ser incluso socialmente, no momento histórico em que vivemos, exige muito mais do que o mero aprendizado das letras. É preciso, hoje, "também saber utilizar a leitura e a escrita de acordo com as contínuas exigências sociais, e esse algo mais é o que vem designando de letramento" ( MORTATTI ,2004, p.34 )

Faz-se urgente e necessário então que a escola, situada em seu contexto e em sua realidade, desenvolva uma proposta pedagógica, que venha de encontro aos anseios da comunidade escolar, e que se pratique "um método crítico de educação que dê ao aluno a oportunidade de alcançar a consciência crítica instruída de si e de seu mundo." (PINTO, 1984, P.84 ).

Referências Bibliográficas

GRAMSCI, Antônio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura.9.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra S/A, 2006.

______. Pedagogia do Oprimido. 41ª ed. São Paulo: Paz e Terra S/A, 2005.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e Letramento. São Paulo: UNESP, 2004. (Coleção Paradidáticos; Série Educação).

ANTUNES, Celso. Vigotsky, quem diria?! Em minha sala de aula. 4ª ed.Fascículo 12. Rio de Janeiro.Vozes, 2004.