Resumo

Este artigo apresenta uma reflexão sobre a Educação ambiental. Inicia com uma visão geral das questões ecológicas, evidenciando o mundo atual como um mundo globalizado, vivendo uma crise mundial no campo econômico, político e cultural. No entanto, o agravamento dessa crise é crescente quando pensamos as questões ambientais. Necessário se faz uma conscientização mundial em relação ao meio ambiente. A Educação Ambiental perpassando todas as instâncias da sociedade, principalmente a escolar, deve ser um novo parâmetro para dar um basta a esse movimento de degradação do nosso Planeta, a Mãe Terra.

Palavras-chaves: educação ambiental, meio ambiente, crise mundial, sustentabilidade.

Introdução

A partir do momento em que ser humano foi estabelecido sobre o Planeta Terra, um processo de degradação ambiental iniciou-se, pois, para sobreviver, os seres humanos, como todos os outros seres vivos, precisam utilizar os recursos da natureza. Esse uso e utilização dos recursos da natureza, no entanto, nunca foram preocupantes porque não se gastava esses recursos em grande escala. A própria natureza os recompunha.

Entretanto, hoje, nosso Planeta abriga mais de 5 bilhões de pessoas e, as previsões apontam que  em 2020 seremos mais de 8 bilhões. Esse grande aumento populacional aliado a outros fatores como a industrialização, o extremo consumismo, a desordem urbana, a falta de consciência ecológica, transformam o ser humano no maior responsável pela destruição da natureza e numa ameaça aos demais seres da natureza.

O mundo atual vive uma situação limite. Por um lado, o desenvolvimento é muito grande e necessário, as cidades crescem incontrolavelmente, a ciência domina de forma maravilhosa a vida diária da nossa civilização seja no campo das novas tecnologias, seja no campo médico-biológico. Em todas as ações do ser humano moderno o desenvolvimento é irremediável. Por outro lado, enquanto usufrui-se desses bens do desenvolvimento, nosso planeta sofre com a utilização inconsequente, não planejado ou não ético de seus recursos. Não restam dúvidas de que o crescimento das cidades, as indústrias e os veículos estão causando transtornos para o ar, o solo e as águas. O desenvolvimento é necessário, porém, o ser humano precisa respeitar o meio ambiente, pois dependemos dele para sobreviver neste planeta.

Crise mundial

É notório que o mundo globalizado, hoje, passa por uma grande crise que afeta todos os setores: o econômico, o político, o cultural e também o religioso. Há uma sensação de instabilidade e o risco de uma catástrofe mundial ambiental, caso não se tome decisões e atitudes políticas a nível mundial.  A Conferência Rio + 20 foi um momento em que se pensou, embora sem resultados práticos, esta questão tendo em vista um processo de vítimas humanas e ecológicas. Vive-se, portanto, uma crise de civilização, principalmente uma crise da cultura ocidental que durante, um pouco mais de duzentos anos, isto é desde a 1ª Revolução industrial, provocou a maior destruição no Planeta Terra. Esta crise, de acordo Leonardo Boff, um estudioso da ética ecológica, é global e mundial, podendo levar a nossa civilização a um apocalipse ecológico-histórico. (Boff. Apud HÜHNE, 1997, p. 70)

Diante dessa crise, Boff aponta como causas os tecnobergs, ou seja, as tecnologias de ponta como a tecnologia genética e a informatização que são controlados pelos países centrais e hegemônicos condutores da política mundial; o mercado mundial globalizado que se mantém pela lógica da concorrência e enorme competividade e alógica do mercado geradora de um imenso processo de exclusão econômica e social. A solidariedade, a participação e a busca do bem comum são pouco privilegiadas na politica mundial. (Boff. Apud HUHNE, 1997, p. 71;73)

O desenvolvimento sustentável: uma simples saída ou uma solução?

O tempo atual, século XXI, pode ser compreendido como um tempo de sobrevivência. Sobrevivência por que, se não houver uma consciência muito grande em favor de um mundo sustentável, nosso Planeta Terra não sobreviverá.  Deve-se hoje preservar a natureza e a terra como um lugar comum, uma morada de todos os seres humanos e dos demais seres vivos. Aqui também as palavras de L Boff é altamente propositiva, diz ele:

Épocas houve que a questão básica na agenda humana era: de onde viemos? Para aonde vamos?   Que estamos fazendo na Terra? E aqui entrevemos o universo mítico que sempre de novo coloca e recoloca estas questões. Os gnósticos foram mestres deste questionamento. Outras épocas houve que se perguntavam angustiadas: que podemos saber? E Kant forjou todo sua filosofia para fundar um conhecimento compatível com a revolução das ciências experimentais. Que podemos esperar? Se perguntavam os contemporâneos, assustados, com o potencial destruidor da moderna máquina da morte que provocou devastações fenomenais como em Hiroshima-Nagasaki, nunca vistas desde o princípio do mundo. Hoje, face à 1ª crise ecológica mundial, a grande pergunta é: como devemos viver? Como nos relacionar com a natureza para preservá-la, não destruí-la e para garantir a nossa própria vida e a vida e existência de todo os demais seres? (Boff: in HÜHNE, 1997, p. 89-90).

Este autor, atualizando o imperativo categórico kantiano, apresenta como resposta a essas últimas questões:

Viva de tal maneira que não destruas as condições de vida dos outros que vivem no presente e vão viver no futuro. Ou positivamente: viva no respeito e na solidariedade para com todos os demais companheiros de vida e de aventura cósmica para que todos os seres possam continuar a existir já que todo o universo se faz cúmplice para que eles existissem e chegassem até o presente. (Boff: in HÜHNE, 1997, p. 90).

Da mesma forma, analisando toda esta situação, situação global de nosso mundo atual, a Carta de Terra assim se expressa:

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis (Carta da Terra, A Situação Global).

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar ao mesmo tempo o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, apresenta a seguinte definição de desenvolvimento sustentável: desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

Dentro desse conceito, para que haja um desenvolvimento sustentável é necessário:

  • Reciclagem de diversos tipos de materiais: reciclagem de papel, alumínio, plástico, vidro, ferro, borracha, etc;
  • Tratamento de esgotos industriais e domésticos para que não sejam jogados em rios, lagos, córregos e mares;
  • Uso racional (sem desperdício) de recursos da natureza como, por exemplo, a água; entre outros.

Estas sugestões procuram restabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente. Em seu livro Saber Cuidar, Leonardo Boff nos faz refletir acentuando que a falta de cuidado é o maior problema da humanidade. E essa falta de cuidado é consequência da falta de “amor”, que leva à falência da Terra. É preciso buscar a essência da vida humana. É preciso resgatar a conexão com o Todo, com o Universo, consigo mesmo. As mensagens simples de Leonardo Boff chegaram ao cuidado profundo que existe em cada um de nós, seres humanos.( BOFF, 2013)

Nosso lar, a Terra

Há cerca de 5 bilhões de anos, nosso planeta a Terra foi formado, depois de um longo processo evolutivo a partir da grande explosão ( Big Bang) através da qual também milhares de outros processos evolutivos surgiram formando  outros sistemas cósmicos.

 A Terra é um complexo de biodiversidade, formada com 70% de água e 30% de parte seca.

No período do Paleolítico o universo era representado pela grande mãe, a Mater mundi. Nessa época vigorava o matriarcado. A grande mãe gerava tudo desde os céus, os deuses e seres humanos e todos os seres da natureza. (BOFF, 2013, p. 70)

No Neolítico, esta representação da Terra, devido a imposição do patriarcado, passa a ser uma parte da realidade junta a outras. A Terra é a Grande Mãe (Magna Mater, Bona Mater) esposa do Grande Pai, o Céu, ou Pai do Céu (Pater Coelorum).  Deste casamento todas as coisas se originaram. O céu é o princípio masculino, o sêmen, a semente e o elemento organizador.  A Terra é o princípio feminino, o útero que recebe o sêmen, o elemento acolhedor. Ambos, Céu e Terra, são princípios ativos. (BOFF, 2013, p. 70)

Na cultura greco-romana a Terra, como Grande Mãe, Gaia/Tellus, é compreendida como o nosso Planeta Terra, um todo vivo e produtor de vida. Também, nessas mesmas culturas, o ser humano se relacionava com veneração e temor frente a Mãe-Terra. Esse sentimento ainda está presente, mesmo de forma mais velada, na humanidade hoje.  Vemos a Terra com certo encantamento. E, isto nos faz hoje ver a Terra como um superorganismo vivo, altamente organizado e com um equilíbrio sutil e frágil. (BOFF, 2013, p. 71-72)

 Palavra “Homem” vem de húmus, terra. Somos terra, pó, e ao seio da terra voltamos com nossa morte. Assim, somos filhos e filhas da terra. Nós e a terra formamos uma única e mesma realidade. Vista do espaço, nosso planeta não diferencia Terra e humanidade. (BOFF, 2013, p. 80-81)

Que sentido a Terra tem para nós, e para nos educarmos através dela?

A Terra é o nosso lar. Nela nascemos, vivemos e morremos. A visão ou compreensão da Terra como algo fora de nós, separada de nós, originou o antropocentrismo no qual colocamo-nos acima da terra, e não nela, com o intuito de dominá-la, subjugá-la  aos nossos interesses e dela dispor de qualquer forma. (BOFF, 2013, p. 87)

Educar tendo a Terra como centralidade de nossas ações, vida e reflexão é desenvolver a consciência de que a Terra não gera somente seres humanos,  mas uma infinidade de organismos e micro-organismos que devem ser preservados e cuidados com um zelo todo especial. A Terra é o único planeta no qual há condições para o desenvolvimento de toda espécie de vida. Durante milhões e milhões de anos a Terra engendrou um sistema de superorganismos que é um complexo de equilíbrio. Um organismo depende do outro e o outro depende dele, como uma teia na qual cada elo se une uns aos outros formando um todo. Por exemplo, nos animais estão presentes os 20 aminoácido necessários a composição da vida. Dessa forma a Terra gera para todos as condições de subsistência e de evolução.

Mas, há um pouco mais de dois séculos, a partir das revoluções industriais no ocidente todo esse equilíbrio se desconjuntou e está se rompendo em cadeia. Estamos já presenciando esta catástrofe pelo nosso planeta através dos tsunaimes, furacões e secas, por um lado e enchentes por outro. A terra reage e ameaça nos alertando sobre suas necessidades.

O que deve ficar claro é que a Terra, de uma maneira ou de outra, sobreviverá. A humanidade não.

L. Boff alerta dizendo: “para cuidar do planeta precisamos todos passar por uma alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo. Importa desenvolver uma ética do cuidado”.

Para isto é necessário desenvolver não apenas uma consciência ecológica individual, mas, e principalmente, coletiva. É preciso conscientizar a humanidade. Neste sentido ainda é muito pequena a consciência coletiva sobre o cuidado para com a Terra de governantes do mundo. (Boff, 2013, p. 155)

Eis os nove princípios básicos apresentados pelos Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Fundo Mundial para a Natureza ( WWF) e a União internacional para a Conservação da Natureza (UICN) que nos direcionam para uma conscientização sobre o futuro  da humanidade no Planeta Terra sob o título: “Cuidando do Planeta Terra” (Caring for the Earth 1991).(BOFF, 2013, p. 156)

  1. Construir uma sociedade sustentável;
  2. Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos;
  3. Melhorara a qualidade de vida humana;
  4. Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra;
  5. Permanecer nos limites da capacidade de suporte do planeta Terra;
  6. Modificar atitudes e práticas pessoais;
  7. Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio ambiente;
  8.  Gerar uma estrutura nacional para integrar desenvolvimento e conservação;
  9. Constituir uma aliança global.

Bases conceituais de Educação ambiental

De acordo com Pelicioni e Philippi Jr, “A educação ambiental vai formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social correta, ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos” (Pelicioni e Philippi Jr. Apud PHILIPPI Jr, 2014, p. 4). Continuando estes autores afirmam que “a educação ambiental exige um conhecimento aprofundado de filosofia, da teoria e história da educação, de seus objetivos e princípios, já que nada mais é do que a educação aplicada às questões de meio ambiente”(Ibidem, p.4). Assim, está clara, pois, que:

A educação ambiental não é Ecologia, mas utiliza-se dos conhecimentos ecológicos, estabelecendo relação de causa e efeito dos processos de degradação com a dinâmica dos sistemas sociais. A ecologia se ocupa do equilíbrio entre os ecossistemas, do meio ambiente natural e do estudo das relações entre os seres vivos e não vivos, sem estabelecer relações entre estes e o sistema socioeconômicos. Embora reconhecesse os resultados da ação antrópica, havia a preocupação com os efeitos, mas não com os fatores que os causavam, nem como a identificação de estratégias para mudança, prevalecendo, portanto, uma visão extremamente reducionista. (Pelicioni e Philippi Jr, apud PHILIPPI JR, 2014, p. 4)

Continuando estes autores afirmam que

... a Ecologia, por si só, não dá conta de reverter, impedir ou minimizar os agravos ambientais, os quais dependem de formação ou mudanças de valores individuais e sociais que devem expressar-se em ações que levem à transformação da sociedade por meio da educação da população.

A educação ambiental, por conseguinte, utiliza subsídios da Ecologia e de diferentes áreas, como a Geografia, a História, a Psicologia, a Sociologia entre outas, mas tem como base a educação e a Pedagogia na identificação dos métodos de trabalho. (Pelicioni e Philippi Jr. Apud PHILIPPI JR,  2014, p. 4)

Dessa forma, a Ecologia é uma ciência que estuda fatores e a educação ambiental através desses estudos convoca à conscientização, à transformação e mudança de atitude frente às questões ambientais. Somente através da Educação ambiental será possível modificar o quadro de destruição de nosso planeta.

Não só a consciência ecológica é o objetivo da educação ambiental, mas também a ação transformadora. Sem ação transformadora não tem sentido uma consciência ecológica desenvolvida, pois, apenas esta consciência não leva a nada se não houver atitudes que nasçam de valores éticos e de justiça social.

Dessa forma, diante de um mundo globalizado em que o capitalismo assume uma forma dominante e predatória, A Educação Ambiental se coloca contra este sistema econômico no qual os valores éticos de justiça e solidariedade não desprezados, em que a cooperação não é estimulada a não ser no sentido de exercício de maior domínio político e econômico, prevalecendo o lucro a qualquer preço, a competição, o egoísmo e os privilégios de poucos em detrimento da maioria da população.

Nas instituições escolares a Educação ambiental deve ser abordada interdisciplinarmente e não como uma disciplina, pois trata-se de uma visão contextualizadora para superar a fragmentação do conhecimento decorrente das especialidades.

A educação ambiental exige um conhecimento aprofundado de filosofia, da teoria e história da educação, de seus objetivos e princípios, já que nada mais é do que a educação aplicada às questões de meio ambiente. Sua base conceitual é fundamentalmente a educação e, complementarmente, as ciências ambientais, a História, as ciências sociais, a Economia, a Física, as ciências da saúde, entre outras.            

Conclusão

Não podemos negar que a sustentabilidade e a consciência com as questões ambientais já fazem parte do nosso presente e temos a certeza de que também fará parte do nosso futuro. Hoje já nos preocupamos muito com a qualidade de vida, pois nossos antepassados ainda não tinham esta preocupação, pois não achavam que os recursos naturais de nosso planeta um dia pudesse vir a acabar. Nós nos preocupamos exageradamente com o “hoje” e, por isso, muitas vezes esquecemos, ou não nos damos conta, de que o futuro é agora. O que antes dizíamos ser impossível ou bastante improvável já está acontecendo como chuvas ácidas, derretimento das calotas polares, poluição em níveis catastróficos e pessoas em todas as partes morrendo por falta d’água e de um planejamento de vida saudável.

Precisamos ter consciência e entender que, tudo o que fazemos e o que também não fazemos hoje, nos virá como consequência amanhã; e pela saúde das próximas gerações  é necessário o bem estar de todo o planeta.

A responsabilidade é nossa, de nossa geração. Devemos ter a consciência de que o bem estar conseguido pela geração atual, deve ser garantida para as gerações futuras. Isto se chama igualdade entre gerações. Este conceito apregoa que cada geração deve ter o mesmo bem-estar, ou a mesma igualdade de oportunidades, que as demais.  Isto significa que o meio ambiente não pode ser deteriorado a tal ponto que impeça uma geração de alcançar o mesmo bem-estar que a geração anterior. Assim compreendendo e assim agindo nos conscientizaremos através de uma educação, que seja uma educação ambiental, na qual o uso racional dos recursos naturais seja feito de modo sustentável evitando a desigualdade entre gerações.

Referências bibliográficas

BOFF. Leonardo. Ética mundial e processo de mundialização. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Ética. Rio de Janeiro: UAPÊ/SEAF, p. 69-98.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do Humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2013.

Carta da Terra. Disponível em http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html Acesso em 16/04/2015

PHILIPPI JR, Arlindo. Educação Ambiental e sustentabilidade. Barueri: Monole, 2014