Resumo: A educação ambiental enfatiza as regularidades e busca manter o respeito pelos diferentes ecossistemas e culturas na terra. A população está cada vez mais envolvida com as novas tecnologias, com cenários urbanos, perdendo desta maneira a relação natural que tinha com a terra e sua cultura. A degradação e poluição dos ecossistemas, como por exemplo, o manguezal, é um tema em grande discussão atualmente, e com base nesses argumentos surgiu uma preocupação de ser realizar uma pesquisa de investigação-intervenção na comunidade São Lourenço, localizada às margens do manguezal, na cidade de Bayeux no Estado da Paraíba, com o objetivo de desenvolver um trabalho pedagógico para relatar a importância da manutenção e conservação do meio ambiente. Neste trabalho utilizaram-se pressupostos da pesquisa qualitativa, onde as informações partiram por meio de diálogos e relatos orais dos grupos focais de moradores. Foram desenvolvidas algumas palestras e oficinas para reverter este quadro, onde obtivemos êxitos com relação à confiança dos moradores, que se mostraram perseverantes e apoiaram este trabalho, colaborando com as informações necessárias durante o período da coleta de dados, participando das oficinas nas quais os mesmos (as) reconheceram que estavam contribuindo para o aumento da degradação do mangue o qual eles (as) habitam, mas mostraram-se dispostos a tentar mudar esta situação. Para o grupo pesquisador, este trabalho trouxe uma experiência positiva com relação ao conhecimento científico e popular, pois durante o trabalho de campo foi percebida a importância da pesquisa no ambiente acadêmico, porque proporcionou uma visão nítida da relação integradora entre a teoria e prática. Palavras-chave: Educação ambiental, Meio ambiente, Manguezal, Comunidade, moradores.

O AMBIENTE MANGUEZAL

O Manguezal é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés. É constituído de espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptogamas), adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). O ecossistema ocupa regiões tipicamente inundadas pela maré tais como: estuários, lagoas costeiras, baías e deltas (ALVES, 2001). No Brasil os manguezais ocorrem em quase todo o seu litoral, tendo importantes ocorrências no Nordeste, principalmente no estado do Maranhão e Bahia.

Os manguezais são ecossistemas altamente produtivos, devido ao acúmulo de substâncias alóctones e a queda e degradação de folhas e outros substratos autóctones (SCHAEFFER–NOVELLI, 1995). Esta alta produção de matéria orgânica é fundamental nos processos de reciclagem de nutrientes, que influencia a rica cadeia alimentar presente nestes ecossistemas.

Por possuir uma grande riqueza de recursos naturais, os manguezais constituem-se há tempos em áreas de grande importância para a população humana. Este ambiente, porém, vem ao longo dos anos sofrendo agressões que contribuem para a sua degradação constante e crescente, quer seja na exploração desenfreada e não planejada de seus recursos, quer seja nos aterros que vem sofrendo ou nos aportes de poluição de esgotos domésticos e industriais que recebe (ROSADO, 2006).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MANGUEZAL

A Educação Ambiental (EA) constitui-se numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, por meio de um processo pedagógico participativo permanente, que procura incutir no indivíduo uma consciência crítica sobe uma problemática ambiental (GUERRA & ABÍLIO, 2006), compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.

A incorporação da questão ambiental no cotidiano das pessoas pode propiciar uma nova percepção nas relações entre o Ser Humano, Sociedade e Natureza (ABÍLIO, 2008), promover uma reavaliação de valores e atitudes na convivência coletiva e individual, assim como, reforçar a necessidade de ser e agir como cidadão na busca de soluções para problemas ambientais locais e nacionais que prejudiquem a qualidade de vida (DIAS, 2003; SATO, 2001). Nesse sentido, cabe destacar que a EA assume cada vez mais uma função transformadora, onde a coresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003).Este trabalho foi desenvolvido no ambiente manguezal, pelo fato do mesmo exercer uma enorme importância na manutenção do ciclo da vida ambiental e da sustentabilidade humana.

"Os manguezais são fontes de elevada produtividades biológica, comparáveis somente as boas terras de cultivos, transformando-se em habitat's potenciaispara a produção de atividades humanas como: aqüicultura,apicultura, eco-turismo e a pesca a artesanal, entre a captura do caranguejo-uçáe de mariscos responsáveis pala colocação de um terço de proteína animal consumida no Brasil." Nordi (1995)

Os mangues são enormes amortecedores que protegem os continentes das ondas e tempestades, aos fatores determinantes para defesa da manutenção do ecossistema manguezal são os benefícios indiretos, como da fundamental retenção de sentimentos continentais trazidos por rios e pelos escorrimentos pluviais, os quais contribuem significativamente para melhoria das águas, como se existisse um filtro natural para diluir as águas poluídas. Estima-se que um hectare de estuário de maré represente o equivalente a uma economia de cento e cinqüenta mil dólares nos custos do tratamento de resíduos, segundo contabilidade ambiental (NORDI, 1995).

Percebendo que a comunidade São Lourenço está localizada as margens do manguezal Bayeuxense, e por não haver uma devida preocupação dos órgãos públicos em relação a um desenvolvimento estrutural urbano-industrial, por isso o ecossistema está submetido ao desequilíbrio ambiental, devido às aglomerações residenciais, industriais, hospitalares e outros, as quais poluem o mangue sem nenhuma preocupação com a degradação e extinção de algumas espécies que ali habitam.

A norma constitucional preceituada no Art.225, § 3º (...) descreve a obrigação imposta às pessoas físicas ou jurídicas de direito público e privado quando, ao praticarem condutas ou atividades que causam lesões ao meio ambiente e especificamente ao manguezal, estarão passíveis de sofrer sanções administrativas, civis e penais (CABRAL, 2003).

E neste contexto surge à preocupação de desenvolver um trabalho pedagógico junto à comunidade São Lourenço, com isso levar o conhecimento científico para que possam refletir sobre a degradação e poluição do ambiente em que estão inseridos.

"O ecossistema manguezal está submetido a fortes estresses antrópicos, em nível crescente, causados pelo rápido e intenso processo de degradação proveniente da ocupação urbano industrial" (CABRAL, 2003, p. 37).

O uso do ecossistema manguezal deve ter como objeto principal a sua preservação, com gestão de usos múltiplos que significa o aproveitamento de recursos disponíveis oferecidos pela natureza, descobertos e utilizados pelo homem, mas não de forma irresponsável, convertendo-se em outros usos sem a devida ciência das aplicações daquele recurso e adequabilidades.

CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE

A comunidade São Lourenço localizada as margens do manguezal (Figura 01), na cidade de Bayeux, Estado da Paraíba, foi fundada na década de 80 (oitenta). Aproximadamente quatro anos após sua fundação, foi formada uma cooperativa com a participação de uma freira italiana conhecida como irmã Blandina e o arcebispo da Paraíba daquela época Don José Maria Pires e alguns moradores, com o objetivo de apoiar os moradores prejudicados por uma enchente no local, algum tempo depois a mesma foi extinta por falta de recursos financeiros. A comunidade é composta por 2.000 mil habitantes, a faixa etária é de 0 a 60 anos com predominância de crianças (Figura 02).

Figura 01 – Aspectos do Mangue da Comunidade São Lourenço, Bayeux - PB

Figura 02 – Números de habitantes, por classe etária, da Comunidade São Lourenço, Bayeux - PB

A profissão dominante é a pesqueira (Figura 03 ), a renda média gira em torno de um salário mínimo, com exceção de algumas famílias que sobrevivem apenas da bolsa família.

Figura 03 – Principais atividades desenvolvidas pelos moradores da Comunidade São Lourenço, Bayeux - PB

O grau de instrução é preocupante por predominar o analfabetismo em vários níveis (Figura 04).

Analfabetos puros ou absolutos são aqueles que não conhecem os códigos do idioma ou os manejam precariamente. No entanto, os analfabetos por desusos são aqueles que alcançaram um manejo das habilidades de leitura e escrita, mas que, ao não praticá-las, esqueceram-nas, regressando a qualidade de analfabetos absolutos. Já os analfabetos funcionais são aqueles que possuem habilidades funcionais de leitura e escrita, porém insuficientes para se desenvolver no meio letrado (CHAVES, 2003).

No grupo estudado, alguns concluíram o ensino fundamental básico não havendo continuação por parte deles (as), por estarem acomodados (as) com a situação em que se encontram trabalhando o dia todo e à noite já estarem cansados para enfrentar o cotidiano escolar, acreditando que o estudo não mudará sua vida. Alguns adultos entrevistados relataram que, estão com idade avançada para estarem em sala de aula, pensamentos negativos arraigados em alguns grupos sociais, contribuindo para que estas pessoas continuem fora da sala de aula.

A maioria das pessoas acredita que os jovens são capazes da aprender. Porém nem todos concordam que os adultos aprendam. Embora você ache que a afirmação que acabou de ser feita sobre a condição dos adultos seja absurda, ainda existem muitas pessoas que resistem à idéia de que um adulto possa aprender a ler e escrever (CHAVES, 2003).

Mas é sabido que há aulas da EJA no salão comunitário (Figura 06) e na Escola Estadual de Ensino fundamental Frei Caneca, única escola localizada na comunidade.

A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas, sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das plantas (FREIRE,1997).

Figura 04 – Níveis de escolaridade dos moradores da Comunidade São Lourenço, Bayeux – PB

Mediante a pesquisa de campo, foi percebida na comunidade a ausência de saneamento básico, as casas estão construídas à margem do mangue, sendo o ambiente prejudicado pelo escoamento dos esgotos residenciais, hospitalares e fabris, como também o acúmulo de lixo e grandes quantidades de conchas de moluscos (mariscos) (Figura 05).

Figura 05 - Esgoto a céu aberto e grandes quantidades de conchas de mariscos na comunidade São Lourenço, Bayeux - PB

As condições de vida são precárias, devido à falta de infra-estrutura, como por exemplo, esgotos a céu aberto (Figura 05), criação de animais em locais inadequados e o contato direto com o mangue (Figura 06).

Figura 06 - Pescadoras no quintal de suas casas na comunidade São Lourenço,Bayeux - PB

Há na comunidade um posto de saúde da família (PSF) no qual há atendimentos odontológico, ginecológico, clínico geral e pré-natal, para todos os moradores daquela localidade. Na área de lazer, é destacado o Balneário Santa Bárbara, onde há piscinas infantis e adultos, um quiosque, música ao vivo nos finais de semana e feriados.

O lazer também está presente no manguezal, com passeios de barcos em canoas que saem de da comunidade São Lourenço percorrendo do rio Sanhauá a Cabedelo.

PRINCIPAIS PROBLEMAS DETECTADOS NA COMUNIDADE SÃO LOURENÇO (BAYEUX – PB) E SUGESTÕES PARA AMENIZÁ-LOS

Os principais problemas observados na comunidade foram: a falta de interesse de alguns moradores da comunidade pela preservação do meio ambiente, pois os mesmos acreditam que os recursos naturais não irão acabar.

A disseminação cada vez mais intensa da poluição é um problema que nos afeta e deve interessar a todos nós (MAIA, p.415, 2001).

A falta de preocupação com os assuntos comunitários; ausência de uma organização estrutural-urbano no local; falta de um trabalho incentivador junto à comunidade; acúmulo de lixo e carcaças de crustáceos e moluscos a céu aberto; falta de confiança dos moradores nos órgãos públicos.

O tratamento e a disposição desses resíduos tem se tornado um problema crescente devido a fatores quantitativos, como o aumento da população em áreas urbanas, a mudança de hábitos de consumo e o desenvolvimento industrial, e por fatores políticos, como a corrupção e falta de continuidade administrativa nos níveis municipal, estadual e federal (MAIA, p.415, 2001).

Foi percebido a importância do desenvolvimento de um trabalho pedagógico de intervenção junto aos moradores com base em suas vivências pesqueiras, artesanais e a reutilização do lixo com um trabalho de reciclagem.

A reutilização do lixo gerado pode ser feita de duas formas diferentes, reaproveitando-se os materiais em sua forma original, ou passando o produto por um processo de transformação (reciclagem) (MAIA, p.415, 2001).

A partir destas considerações, percebe-se que toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina, daí o seu cunho gnosiológico; envolve o uso de métodos, de técnicas, implica, em função do seu caráter diretivo, objetivo, sonhos, utopias, ideais (FREIRE, 1996).

Para amenizar a acomodação dos moradores, é necessário a realização de palestras com especialistas da área de Educação Ambiental, como também dos órgãos responsáveis pela preservação do meio ambiente, dando ênfase ao manguezal, por exemplo: (IBAMA) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis; (CONAMA) Conselho Nacional do Meio Ambiente; (SISNAMA) Sistema Nacional do Meio Ambiente, órgãos responsáveis pela proteção e conservação do meio ambiente.

Com o advento do capítulo do meio ambiente no ordenamento constitucional brasileiro, precisamente no seu artigo 225, § 4°, surge a proteção jurídica de preservar os ecossistemas mais importantes do país, pelo qual o comando constitucional elencou, entre outros a zona costeira brasileira, como patrimônio nacional. Que implícita e genericamente pode ser incluído o manguezal (CABRAL, 2003).

Ao detectar a falta de um trabalho incentivador junto à comunidade, foi visto a importância de um profissional com conhecimentos na área de reciclagem, para que possa orientar e desenvolver trabalhos artesanais na comunidade, utilizando: carcaças de moluscos (mariscos); papelão; quenga de coco; tinta para tecido; pincel; massa de modelar; cola; tesoura; verniz; madeira; materiais recicláveis (garrafa plástica, latas e outros).

O que chamou mais atenção do grupo pesquisador foi o acúmulo de lixo e carcaças de crustáceos e moluscos, os quais estão assoreando o mangue e provocando doenças aos moradores, com alto índice nas crianças devido à proliferação de bactérias, insetos e roedores.

Além disso, a decomposição da matéria orgânica resulta em um liquido denominado chorume que pode ser absorvido pelo solo e atingir os lençóis d'água, contaminando-os, impossibilitando o seu uso para abastecimento e prejudicando a fauna e flora (MAIA, p.415, 2001).

Para solucionar tal problema foi debatido junto a comunidade a importância de coletores de lixo nos principais pontos da comunidade, pois a mesma tem conhecimento que a prefeitura disponibiliza um transporte três vezes semanal para o recolhimento do lixo na comunidade, mesmo assim alguns moradores ainda jogam lixo nas ruas e no mangue.

Foi questionado pelos moradores a descrença nos órgãos públicos, mas logo foi sugerido pelo grupo pesquisador que os mesmos participem das reuniões ocorridas semanalmente na Câmara Municipal de Bayeux,afim de reivindicar soluções para alguns problemas comunitários e com isso gradativamente poderão adquirir vínculo e confiança aos órgãos públicos.

EDUCAÇÃO E A CONSERVAÇÃO DO MANGUEZAL

A educação tem como principal tarefa formar cidadãos, através de um trabalho de conscientização. Em relação à educação ambiental, as pessoas terão que ser sensibilizadas com os problemas de caráter sócio-ambiental, com o intuito de se estabelecer uma nova lógica social, ou seja, de uma sociedade sustentável, buscando o equilíbrio da humanidade com a natureza (SATO, 1997).

O primeiro contato com os moradores da comunidade aconteceu no salão comunitário fomos bem acolhidos pelos mesmos, onde iniciamos um debate sobre a pesca e sua modalidade, foi então que percebemos que há vários tipos de pesca, devido à diversificação de pescadores no local reunidos. Alguns são pescadores de Crustáceos (caranguejo, camarão, lagosta, Tatuí e outros), Moluscos (marisco, unha-de-velho, ostra e outros) e peixes.

O folclore é a sabedoria popular transmitida no decorrer dos anos, deve ser valorizado e incentivado.Sua prática permanece sobretudo entre as classes populares(MAIA, p.415, 2001). Os pescadores também relataram algumas lendas existentes no mangue como, por exemplo: "o pai do mangue, a vovó do mangue, Dona florzinha, a cobra sucuri e outros".

Como afirma o Sr. Lucinaldo, morador e pescador da comunidade .

"O pai do mangue apareceu para mim, quando eu estava pescando, fiquei todo arrepiado, não conseguia falar direito nem correr, o bicho é muito feio, todas as vezes que vou pescar fico com medo que ele apareça novamente, tô falando a verdade".

O segundo contato foi realizado nas residências dos moradores, onde procuramos conhecer o cotidiano e a participação de cada um nos assuntos comunitários. Para a surpresa do grupo pesquisador, poucos têm envolvimento com a comunidade, alguns por comodismo, outros por não acreditarem em mudanças, devido à falta de estímulos, como afirma a dona de casa moradora da comunidade Veronice Fernandes, em sua fala:

"Não gosto de participar da comunidade, vejo muita desunião das pessoas que participam da associação, os dirigentes não conseguem administrar, pois os próprios moradores não contribuem, muitos querem tirar proveitos e cobram do (a) presidente muitas coisas e quando ele (a) não serve, corre o risco até de sofrer violência."

A Educação Ambiental vem contribuir em um processo interativo, participativo e crítico para o surgimento de uma nova Ética, esta vinculada e condicionada à mudança de valores, atitudes e práticas individuais e coletivas (ABÍLIO, 2008).

Algumas das práticas coletivas para contribuir com o processo interativo, participativo e crítico seria os moradores participarem juntos da coleta seletiva e reuniões comunitárias onde irão discutir problemas relacionados à comunidade, por exemplo: cada morador selecionaria seu lixo em sacolas plásticas e depositá-lo-ia em locais adequados para seu devido recolhimento, isso acarretaria numa atividade coletiva, contribuindo com a diminuição da poluição e degradação do meio ambiente (mangue).

Moradores questionaram sobre a "Caiçara" existente na comunidade (Figura 07), mas que não é disponível para todos os pescadores acomodarem seus produtos de pesca, como afirma seu Antônio José pescador e morador da comunidade:

"Sinto a necessidade de uma cooperativa para dá apoio na conservação do produto, pois não tenho freezer, se tivesse um programa de revendo ajudaria muito, pois além de pescar temos que ir á feira para vender, dificultando o trabalho, além da conservação que é feita em isopor, que pode pôr a perder a qualidade."

Figura 07 – "Caiçara" de pescadores da comunidade São Lourenço, Bayeux-PB.

OFICINAS PEDAGÓGICAS DE SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE

As oficinas pedagógicas, segundo Ferreira (2001), se caracterizam como uma prática peculiar por apresentar os seguintes elementos: reflexão e troca de experiência, confrontando a prática com a teoria e avançando na construção coletiva do saber; produção coletiva – comprometimento e desenvolvimento de competências; confronto de experiências e criando estratégias – descoberta de alternativas de solução para os impasses fundamentados na necessidade de transformar a realidade educacional.

A primeira oficina realizada aconteceu na casa de uma moradora da comunidade, onde foi exposto um vídeo do manguezal da cidade do Recife, Pernambuco com o objetivo de detectar o grau de degradação e poluição desse manguezal em relação ao mangue da comunidade São Lourenço em Bayeux. Houve debate e os mesmos especificaram as diferenças e as semelhanças entre os manguezais como especifica Dona Maria em sua fala abaixo:

"O mangue é tudo igual, é igual ao de lá, mas o de lá tem menos que aqui, aqui tem cachorro morto na maré, é cavalo, é galinha, é gato, é tudo dentro da maré".

A segunda oficina realizada aconteceu no Salão Comunitário da comunidade, como palestras sobre a degradação e poluição do meio ambiente, especificamente o manguezal, com exposição de materiais que são lançados ao meio ambiente, explicando o tempo de decomposição dos mesmos. Os materiais expostos foram: vidro, madeira, tecido, pano, nylon, papel, chiclete, plástico, alumínio e óleo.

Após as amostras houve debates sobre o lixo acumulado no manguezal, alguns moradores especificaram algumas soluções como, por exemplo: a realização de mutirões para recolher o lixo acumulado na comunidade e no mangue, foi sugerido também a distribuição de panfletos educativos na comunidade. Embora um dos participantes não acredite que estas ações venham amenizar o acúmulo do lixo naquela localidade.

"Dificuldades todos nós temos, quem é que não tem dificuldades nessa fase, mesmo que tenha um pessoal dessa universidade para ajudar... pra mais de dez anos vocês têm que fazer um abaixo assinado com os pescadores porque ai, no papel vai fazer o que estão falando...".

Segundo Brasil (1999) as atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) devem ser desenvolvidas nas seguintes linhas de atuação, necessariamente inter-relacionadas: educação ambiental no ensino formal e não-formal; formação de recursos humanos; desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; produção e divulgação de material educativo; mobilização social; gestão da informação ambiental; monitoramento, supervisão e avaliação das ações.

Devido aos problemas ambientais que a cada dia se agravam, percebe-se a necessidade de se trabalhar este tema nas séries iniciais, para que os educandos comecem a entender a importância da conservação do meio ambiente para uma melhor qualidade de vida.

As pesquisas e as experimentações ajudarão nas descobertas dos avanços ou diminuições das agressões ambientais, com isso são estudadas alternativas para amenização dos efeitos agressivos. As campanhas educativas de conservação ao meio ambiente aumentam a cada dia, pois com as pesquisas realizadas atualmente, é visível o aumento de desrespeitos aos ecossistemas como, por exemplo, desmatamentos, queimadas, poluições, fragmentação e destruição, e etc.

Na comunidade, a oficina foi encerrada com a exposição de uma música do grupo Cantarolama (Meu Manguezal Brasileiro), onde todos cantaram e refletiram em debate a letra da música.

MEU MANGUEZAL BRASILEIRO (autorChiquinho)

Meu manguezal brasileiro

Vai pra você essa canção

Sustento de um povo em comunhão

Estuário região onde uma vida vai brotar

Pra outras vidas alimentar

Tu és o berçário desse mar, Manguezal

Ele vai do Amapá até Santa Catarina

Esse cinturão verde essa lama que é vida

Seja preto seja branco, vermelho ou saraíba

Dá de tudo nesse mangue onda há

Mangue há vida

Seja mangue sapateiro, Siriba ou botão

O manguezal brasileiro mora no meu coração

Meu manguezal brasileiro Vai pra você essa canção (bis)

TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das informações aqui levantadas é importante desenvolver ações integradas na comunidade sobre a importância do manguezal e sua biodiversidade para que com isso venha melhorar a situação existente no local;

Um trabalho significativo e uma mobilização da comunidade para a coleta seletiva, trabalho com reciclagem, noções de higiene pessoal e comunitário deve ser uma das prioridades, enfatizadas pela população local;

O investimento de políticas públicas na comunidade São Lourenço, deveria ser uma das ações prioritárias para a diminuição da degradação e poluição do manguezal, resultando em uma vida mais saudável e segura a esta comunidade, uma vez que esta depende do ambiente e de seus recursos.

Este trabalho nos trouxe novos conhecimentos relacionados ao manguezal, como sua importância social, não só para os moradores que habitam às margens do mangue e dependem dele para sua sobrevivência, bem como a sociedade em geral, pois o mesmo tem a capacidade de proteger o litoral das tempestades marítimas. Por isso e outros motivos, devemos preservá-lo e conservá-lo adequadamente.

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