Educação ambiental no ensino público e particular e a conscientização para a importância a água

 

Resumo

A Educação Ambiental (EA) é indispensável para cunhar e consagrar formas cada vez mais sustentáveis de integração entre a sociedade e a natureza. A pesquisa possui característica survey qualitativa e quantitativa junto aos alunos da 7ª e 8ª série da rede pública e particular totalizando 329 alunos, visando conhecer diferenciações entre níveis de informação, atitudes e práticas quanto a aspectos centrais da água. O estudo constituiu-se por 2 etapas, realizadas em 2 oportunidades e dias determinados. Assim buscou proporcionar aos alunos o entendimento da água e mudar os paradigmas. Foram utilizadas pesquisa de campo, teatro, questionário e observações. Os estudos mostraram que 100% dos entrevistados utilizam água distribuída pela companhia do estado ou município para uso diário. Apesar dos alunos da escola particular (EP) possuir mais conhecimento que os da escola estadual (EE) antes do projeto, eles não aplicam na prática como os da EE.

Palavras-chave: água, educação ambiental, uso racional,

Abstract

Environmental education (EE) is essential to strike and to devote more sustainable forms of interaction between society and nature. The search feature has qualitative and quantitative survey to the students of the 7th and 8th grade in public and private totaling 329 students, to determine differences between levels of information, attitudes and practices regarding the key aspects of water. The study consisted of two steps, performed in two opportunities and certain days. So sought to provide students with an understanding of water and changing paradigms. We used field research, theater, questionnaires and observations. Studies have shown that 100% of respondents use water supplied by the company of the state or municipality for daily use. Although the private school children (EP) have more knowledge of the state school (EE) before the project, they do not apply in practice as those of EE.

Keywords: water, environmental education, rational use.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

A construção de uma prática educativa denominada Educação Ambiental (EA) e a identidade profissional de um educador ambiental a ela associada são desdobramentos que podem ser entendidos como parte dos movimentos de legitimação de um campo ambiental, tanto em termos internacionais quanto no caso brasileiro. Neste sentido, a EA corrobora para a formação do campo na medida que se constitui uma categoria entre os novos “especialistas” em meio ambiente (CARVALHO 2001).

Evidentemente que, ao constituir-se enquanto prática educativa, a EA também se filia ao campo da educação propriamente dito. É da confluência entre o campo ambiental e o campo educativo com suas tradições pedagógicas que vão surgir certas orientações específicas dentro da EA. Contudo, seja no plano governamental, seja no plano da sociedade civil, poderíamos dizer que a EA não nasce desde dentro do campo educativo. Assim, situada na confluência entre o ambiental e o pedagógico, poderíamos dizer, pela experiência brasileira, que a EA parece ser um fenômeno cuja gênese e desenvolvimento estariam mais ligados aos movimentos ecológicos e ao debate ambientalista do que propriamente ao campo educacional e à teoria da educação. Neste sentido, poderíamos dizer que EA é herdeira direta do movimento ecológico e do debate internacional sobre meio ambiente (CARVALHO, 2001).

Conforme a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999 (apud BRAIL, 1999), a Educação Ambiental é entendida como o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade, é um componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caratê formal e não-formal.

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção sobre o incipiente processo de reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplas possibilidades de, ao pensar a realidades de modo complexo, defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde se articulam a natureza, técnica e cultura. Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Mas também questiona valores e premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, implicando mudança na forma de pensar e transformação no conhecimento e nas práticas educativas (JACOBI, 2003).

Em 1889, o escocês Patrich Geddes arguiu que uma criança em contato com a realidade do seu ambiente não só aprenderia melhor, mas também desenvolveria atitudes criativas em relação ao mundo em sua volta. Geddes é considerado o pai/fundador da Educação Ambiental (DIAS, 2003).

Metodologia

A coleta de dados foi realizada em três escolas particular (EP), sendo 83 meninas e 82 meninos e três escolas estadual (EE) sendo 93 meninas e 71 meninos, localizados no município de Americana estado de São Paulo. A população envolvida nesta pesquisa foram os alunos da 7ª e 8ª série.

O estudo constituiu-se por 2 etapas, realizadas em 2 oportunidades e dias determinados, agendado pela coordenação da escola seguindo os seguintes passos:

1- Aplicação de um questionário padrão com 17 perguntas fechadas de múltiplas escolhas e 3 aberta, buscando diagnosticar o grau de percepção da realidade ambiental do aluno, seu conhecimento e práticas vivenciadas por ele.

2- Apresentação do programa aos alunos participantes do estudo, desenvolvendo um diálogo de integração, aproximação e aceitação. Palestras de motivação sobre a importância do uso da água; identificação dos principais problemas da água na região, detectando suas causas e discutindo possíveis alternativas de solução para os problemas.

3- Aplicação de um questionário padrão fechado com 17 perguntas de múltiplas escolhas e 3 aberta, buscando diagnosticar o grau de influencia que o projeto exerceu sobre o aluno principalmente na prática vivenciada por ele. Nesta fase também foi enviado um questionário de 10 perguntas, sendo 8 fechada e duas abertas para um responsável do aluno responder.

A primeira etapa foi realizada em fevereiro de2011, asegunda nos meses de março a junho de 2011 e a terceira em novembro de 2011.

A pesquisa possui característica survey qualitativa e quantitativa junto aos alunos, visando conhecer diferenciações entre níveis de informação, atitudes e práticas quanto a aspectos centrais da água.

Resultados

Os estudos mostraram que 100% dos entrevistados utilizam água distribuída pela companhia do município. A qualidade da água utilizada foi considerada razoável por 20% e boa por 80% dos entrevistados e 33% afirmam que a água possui muito cloro. De acordo com o Departamento de Água e Esgoto de Americana (DAE) (2011) o valor de referência do cloro residual livre é de0,2 a2,0 mg/L e de janeiro de2010 afevereiro de 2011 o valor ficou entre 1,2 mg/L a 1,7 mg/L.

 

 

No gráfico 1, observa-se que antes da realização do projeto, os alunos da escola particular acertaram 78% contra 56% da pública, após o projeto os alunos da particular acertaram 81% contra 89% da pública.

Gráfico 1. Nível de conhecimento antes e após a realização do projeto.

Apesar dos alunos da EP possuir mais conhecimento que os da EE antes do projeto, eles não aplicam na prática como os da EE (Tabela 1). Observa que o tempo de banho possui uma diferença enorme, lembrando que 157 (95%) e 132 (80%) afirmaram que não desliga o chuveiro em nenhum momento do banho respectivamente para EP e EE.  Assim pode afirmar que o conhecimento não garante a realização na prática. Precisa desmistificar o discurso de que a comunicação, por si só, é capaz de produzir mudanças no habito da população. Ao lado da comunicação, educação e mobilização social, os programas devem ser estruturados e atuando com qualidade todos os seus outros componentes, a exemplo da vigilância epidemiológica, do combate químico, físico e biológico ao vetor, da vigilância entomológica, e, sobretudo, a promoção de

 

Gráfico 1. Nível de conhecimento antes e após a realização do projeto

ações de saneamento básico, tais como: coleta de lixo adequada, suprimento de água com qualidade e sem intermitência, esgotamento sanitário, limpeza de logradouros públicos etc (TEIXEIRA, 2008).

Observando a tabela 2 pode afirmar que a um grande descontentamento em relação ao gosto da água distribuída na rede pública, onde 163 (49,54) dos pesquisados declaram beber água mineral e apenas 59 (17,93%) consomem a água da torneira sem filtrar. Embora 100% dos pesquisados da EE declararam acreditar ou saber que a água encanada da cidade é tratada, contra 97,58% da EP. Estes dados demonstram uma credibilidade no tratamento da água encanada superior a população de Piracicaba e São Carlos, onde Vargas et al., (2011) relata que 90,6% dos entrevistados de Piracicaba declararam acreditar ou saber que a água encanada da cidade é tratada, contra 88,2% de São Carlos, pouco mais de 10% dos entrevistados declarou beber água da torneira sem filtrar na própria casa, contra quase o dobro em São Carlos.

 

Escola Pública

Escola Particular

Minutos

Quantidade

Porcentagem

Quantidade

Porcentagem

1 a 3

16

9,76

12

7,27

3 a 5

67

40,85

9

5,45

5 a 8

35

21,34

17

10,30

8 a 11

46

28,05

9

5,45

11 a 14

0

0

45

27,27

14 a 16

0

0

23

13,94

16 a 18

0

0

32

19,39

mais que 18

0

0

18

10,91

 

Tabela 1. Tempo em minutos que os entrevistados gastam no banho.

 

Escola Pública

Escola Particular

 

Quantidade

Porcentagem

Quantidade

Porcentagem

Água da torneira sem filtrar

59

35,98

0

0

Água da torneira filtrada

7

4,27

22

13,33

Água mineral

25

15,24

138

83,63

Água de poço artesiano

73

44,51

5

3,04

 

Tabela 2. Fonte que a família dos entrevistados utiliza água para beber.

Outro tema que merece ser destacado para análise diz respeito à percepção da poluição dos lagos. Para 92,12% dos entrevistados da EP, a poluição dos lagos, córregos, ribeirões e rios aumentaram (“muito” para 34,55% e “um pouco” para 65,46%), enquanto esse número cai para 31,70 % dos entrevistados da EE (aumentou muito para 40,38% e um pouco para 59,62%).

Em relação à pergunta Quem são os principais agentes responsáveis pelo aumento ou diminuição da poluição?”, a maioria dos entrevistados da EP citou primeiramente “a população (80%), seguida das indústrias (20%), já a EE citou ao contrário, indústria (94,51%) e população (5,49%). Os alunos da EP acreditam (80,6%) que apenas o governo tem a responsabilidade de ajudar o ambiente a se recuperar, enquanto 93,29% dos alunos da EE acreditam que os responsáveis são o governo e as indústrias.

Quando a aprendizagem faz sentido, quando o aluno desenvolve um olhar atento e curioso em relação aos fenômenos e acontecimentos à sua volta, busca compreendê-los utilizando-se de diferentes fontes e percebe a relação existente entre o conteúdo estudado e suas atitudes; então, a escola está contribuindo para formar a autonomia e o senso crítico, indispensáveis para o pleno exercício da cidadania. Um conhecimento escolar centrado em livros, distante do ambiente vivido pelas crianças, não contribui para o comprometimento do grupo com a comunidade, não transforma atitudes nem fortalece valores (CECCON, et al., (2009). Portanto, uma forma de conscientização da população consiste em aproximar-los dos problemas ambientais. Assim, todos os participantes andaram no Barco Escola pela Represa do Salto Grande que é considerada imprópria para banho, coletaram algas e água para análise, observaram a junção do Rio Jaguari com o Rio Atibaia, visitaram alguns pontos do Rio Quilombo que é considerado poluído e coletaram água para análise,  visitam o DAE de Americana e um tratamento de efluente (ETE).    Algumas análises físicas e químicas os alunos puderam acompanhar e observar no microscópio bactérias.

Os alunos foram incumbidos de sentir o cheiro, observar a cor, o tipo de vegetação e animal. Com tais atividades procurou-se explorar alguns dos objetivos fundamentais do ensino, colocados pelos Parâmetros Curriculares Nacional (BRASIL, 2000), que indica a utilização da observação pelos alunos, que possibilita um "buscar ver, encontrar os detalhas do objeto observado, buscar aquilo que pretende encontrar". O mesmo documento afirma que tais habilidades devem ser desenvolvidas, visando uma organização e registro de informações, pela observação, possibilitando a utilização de desenhos, bem como quadros, tabelas e maquetes, na realização das atividades (ALMEIDA et al., 2004).

A apresentação em sala de aula foi composta de informações e imagens, as fotos antigas despertaram interesse nos alunos e maior número de perguntas relacionadas à qualidade da água. A apresentação de slides, bem como da aula em si, despertou o interesse dos alunos, sendo uma possibilidade viável em preparações às visitas em locais urbanos ou naturais (ALMEIDA et al., 2004).

Foi dividido os alunos da EP e EE em 19 grupos, os grupos eram composto por alunos da 7ª e 8ª série, através de sorteio foi solicitado para EP que compusessem uma letra de música e para EE um teatro. A atividade foi realizada com bastante interesse e desenvoltura dos alunos, bem como o trabalho em grupo fortalecido, uma vez que todos tinham que pensar para a elaboração da música ou teatro. Todos os grupos realizaram as atividades (ALMEIDA et al., 2004). O grupo vencedor de cada modalidade ganhou um passeio com direito a participar de esportes radicais em Brotas estado de São Paulo. O tetro e a música foram sugeridos no meio do projeto por um grupo de alunos da EE.

Com o retorno dos questionários enviado aos responsáveis pode concluir que 79,35% dos pais dos alunos da EP notaram diferença como: diminuição do tempo de banho (Tabela 3), jogar coisas pela janela do automóvel, adquirir materiais ecologicamente correto, houve 4 alunos que coordenaram a implantação de descarte seletivo no condomínio que moram.  Observa-se na tabela 3 que apenas 2 alunos gastam

 

Escola Pública

Escola Particular

Minutos

Quantidade

Porcentagem

Quantidade

Porcentagem

1 a 3

18

10,97

22

13,33

3 a 5

72

43,91

56

33,94

5 a 8

49

29,88

54

32,73

8 a 11

25

15,24

31

18,79

11 a 14

0

0

2

1,21

14 a 16

0

0

0

0

16 a 18

0

0

0

0

mais que 18

0

0

0

0

 

Tabela 3. Tempo que os entrevistados gastam no banho após o projeto.

de11 a14 minutos no banho e nenhum mais que 14 minutos, lembrando que todos os

alunos afirmaram que desligam o chuveiro no meio do banho. Fato similar ocorreu ao

escovar os dentes, antes do projeto 99 (60%) dos alunos da EP não fechavam a tornei enquanto não acabava a higienização, enquanto 134 (81,70%) dos alunos da EE mantinham a torneira fechada ao escovar os dentes.

Dias (2001) destaca a Educação Ambiental como uma possibilidade no campo da educação, com objetivo de proporcionar conhecimento sobre o meio ambiente e alterar a atual relação de consumo exacerbado e restabelecer a relação de destruição entre ser humano e natureza.

Para Freire (2005), o processo de educação não se completa na etapa de desenvolvimento de uma realidade, mas só com a prática da transformação propriamente dita. Essas duas etapas – conhecimento e transformação – formam uma unidade dialética de um movimento que se materializa na concretude do real. Reflexão-ação, imersos no cotidiano onde se vive – escola e/na comunidade –, realiza a práxis pedagógica.

Considerações finais

O artigo reforça a filosofia de que conhecer não significa praticar. Muitos alunos sabiam o modo certo de agir, todos adquiriram o conhecimento via livro, revistas, mídia e professores, nunca tinha entrado em contato real com a situação. Após as pesquisas de campo que realmente o comportamento da maioria dos pesquisados mudou.   

Referência:

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CECCON, S.; COMPIANI, M.; HOEFFEL, J. L. de MORAES.  Estudo de Caso do Programa de Educação Ambiental Fruto da Terra: a pedagogia de projetos como estratégia para a educação ambiental crítica. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 4, n. 1, p. 37-62, 2009.

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FREIRE, P. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

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