EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A PRÁTICA DOCENTE EM ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM FORTALEZA - CEARÁ.

Resumo

            A Educação Ambiental (EA) tem uma história quase oficial, que a relaciona com conferências mundiais e com os movimentos sociais em todo o mundo. No Brasil, está previsto em lei e deve ser oferecida pelas escolas em todos os níveis de ensino. A inclusão do tema meio ambiente na rotina escolar, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), possibilitou atividades interdisciplinares, transversais e inserção da temática no conteúdo de cada disciplina numa perspectiva educativa quando analisa temas que permitam enfocar as relações entre a humanidade, o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificações. O interesse deste trabalho foi estudar a prática pedagógica dos docentes em relação à EA desenvolvida nas escolas públicas da rede estadual de ensino em Fortaleza - Ceará, no sentido de verificar sua contribuição para a formação de consciência ambiental dos jovens de ensino básico. Para o desenvolvimento do tema, foi realizada uma pesquisa em seis escolas, considerando quatro segmentos envolvidos na pesquisa: coordenadores pedagógicos, professores coordenadores de área, professores e alunos; averiguar qual a compreensão e perspectiva percebida por cada um destes segmentos e como se dão as ações decorrentes da temática EA nas escolas pesquisadas. Comparando os resultados dos atores envolvidos, percebemos uma relevante diferença na compreensão e concepção do processo de entendimento sobre a temática meio ambiente. Para os professores, os temas ambientais são mais específicos, enquanto os alunos tem uma visão dos temas mais global. De modo geral, as escolas estão longe de desenvolverem projetos interdisciplinares com a temática EA; que a formação continuada em EA é algo inoperante pela Secretaria de Educação e, quando existe, é por interesse próprio do professor; os alunos continuam evidenciando que a EA é uma atuação concentrada nos professores de ciências, geografia e biologia.           

Introdução

            A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúdica e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Neste sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.

             Conforme Reigota (2009, p. 15), a educação ambiental como educação política é, por principio, questionadora das certezas absolutas e dogmáticas; é criativa, pois busca desenvolver metodologias e temáticas que possibilitem descobertas e vivências; é inovadora, quando relaciona os conteúdos e as temáticas ambientais com a vida cotidiana e estimula o diálogo de conhecimentos científicos, ética e popular, e diferentes manifestações artísticas; e crítica muito crítica, em relação aos discursos e as práticas que desconsideram a capacidade de discernimento e de intervenção das pessoas e dos grupos independentes e distantes dos dogmas políticos, religiosos, culturais e sociais, e da falta de ética.

            A Educação Ambiental ainda se encontra densamente relacionada com a Ecologia. Assim, trabalha-se nas comunidades escolares com conteúdos programáticos complicados de serem ministrados em sala de aula: demasiadamente “cientificados” através de disciplinas. O advento e integração da Educação Ambiental na escola só se tornarão possíveis fundamentados em ações pontuais capazes de se adequarem, de forma sistêmica e racional, e atingirem os fins em relação às demandas, por meio de contextos metodológicos de ensino.

            Segundo Reigota (2009, p. 45), a educação Ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas quando analisa temas que permitam enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades. Portanto, a introdução da educação ambiental na escola supõe uma modificação fundamental na própria concepção de educação, provoca mesmo uma revolução pedagógica.

            Apesar de ter documentos oficiais, como a Política Nacional de Educação Ambiental; Conteúdos Programáticos e os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s, que falam sobre a temática, que são documentos importantes de referencia para a prática pedagógica dos professores e onde se dar a formação dos docentes. E, no entanto, esta temática nem aparecem em muitas das discussões em sala de aula, sendo tema de segunda categoria.

            O objetivo geral do trabalho foi estudar a prática pedagógica dos docentes em relação à educação ambiental desenvolvida nas escolas públicas da rede estadual de ensino em Fortaleza - Ceará, no sentido de verificar sua contribuição para a formação de consciência ambiental dos jovens de ensino básico.

            Tendo em vista a opção metodológica de trabalhar com dados qualitativos, ou seja, com as posições e opiniões dos atores sociais envolvidos no processo da pesquisa e, em particular o conjunto da comunidade escolar (coordenadores escolares, professores coordenadores de áreas, professores e alunos), foi realizada, a principio, uma pesquisa bibliográfica com discussão dos conceitos básicos, levantamento de dados preliminares, coleta de dados junto às escolas pesquisadas, material bibliográfico que trabalham com a temática, documentos como os PCN´s, Livros didáticos, experiências exitosas de outras pesquisas, visando a uma análise do tema de estudo, para, em seguida, realizar pesquisa de campo “in loco” junto às escolas, professores e alunos, onde foram feitas observação participante e entrevistas semiestruturadas. 

Metodologia

O principal interesse da pesquisa foi buscar a compreensão do olhar do professor sobre a sua prática, o desempenho dos mesmos no que diz respeito ao tema de Educação Ambiental, a forma de como os professores motivam os alunos para os assuntos referentes às questões ambientais, os recursos e formas utilizadas para a avaliação do aprendizado dos alunos sobre Educação Ambiental, e também os recursos pedagógicos e metodológicos que estes professores utilizam para desenvolver suas aulas.

O desenvolvimento da pesquisa envolveu as seguintes abordagens de análise quantitativa e qualitativa. Segundo Minayo (1999), os dados quantitativos e qualitativos não se opõem, ao contrário, se complementam, dentro de uma interação dinâmica que exclui qualquer dicotomia.

A princípio, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental a partir do registro disponivel, decorrente de pesquisas anteriores. Utilizou-se de dados e categorias teóricas ja trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. O material consultado na pesquisa bibliográfica e documental abrangeu todo referencial já tornado público em relação ao tema em tela como: registros em revistas e folhetos, livros, teses, documentos oficiais, sites da internet, bem como outras fontes.

Além da pesquisa bibliográfica e documental foi utilizada a pesquisa de campo, onde foram utilizados questionários semiestruturados com perguntas abertas e fechadas. Os atores inseridos na pesquisa foram constituídos de quatro segmentos: Coordenadores Pedagógicos, Professores Coordenadores de Área – PCA´s, Professores e Alunos do ensino fundamental e médio. Para a coleta de dados, foi considerada uma amostra aleatória estratificada, considerando-se cada estrato formado por professores de ambas as áreas de conhecimento e por alunos das séries de 8º ao 9º anos e nas três séries do ensino médio, dispostas em seis escolas pesquisadas no município de Fortaleza.

Foram entrevistados 06 coordenadores escolares representando o núcleo gestor das Escolas, 06 Professores Coordenadores de Área (PCA´s), 24 professores, sendo 04 em cada escola (02 do ensino fundamental e 02 do ensino médio) e 68 alunos de ambos os sexos.

As entrevistas foram elaboradas seguindo um roteiro que contemplava questões abertas e fechadas, entre elas questões comuns para os quatro segmentos. Buscou-se a construção de um olhar de totalidade, sustentado na interdisciplinaridade, pois foram contempladas as três áreas de conhecimento: linguagens e códigos, ciências da natureza e matemática e ciências humanas. Desta forma, comporta uma efetiva complexidade de atributos que é a interação de múltiplos conhecimentos sobre o meio em que o homem vive e sobrevive.

Trabalhamos com um número amostral de professores que pudessem referendar a realidade local. Os dados foram categorizados de acordo com análise temática de tal forma que pudessem responder às questões formuladas na pesquisa.

A pesquisa utilizou o método comparativo descritivo, pois foram comparadas as escolas, com vistas à contextualização das diferenças e similaridades entre as mesmas, através de uma caracterização e descrição do lugar onde está inserida a mesma. Em cada escola foi feito contato inicialmente por telefone com o núcleo gestor, explicando a proposta da pesquisa, solicitando a realização do trabalho de investigação (aplicação de questionário e caracterização da escola).

            Quanto aos alunos, estes foram selecionados de forma aleatória em sala de aula, levando em consideração sua modalidade de ensino. Pois deveriam ser entrevistados 10 em cada escola (05 do ensino fundamental e 05 do ensino médio). Em todas as escolas houve interesse de alguns alunos em participar da pesquisa respondendo o questionário, daí, em vez de 60 questionários, haver 68 entre os alunos pesquisados.

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