EDUCAÇÃO: algumas questões

 

Nunca a sociedade valorizou tanto a necessidade de conhe­cimento como nos dias atuais. E justamente em nossos dias a fi­gura do professor está em baixa.

As profissões regulamentadas e que exigem curso superior possuem seus "Conselhos Regionais" ao qual a pessoa precisa estar vinculada para exercer legalmente a profissão. Isso não ocorre com relação ao professor. Existem regiões em que a posse de um diploma de nível superior já é condição para que a pessoa seja acolhida como professor, devido à carência de profissionais habilitados. Mas se na mesma região faltar médico ou advogado, mesmo que haja um professor que entenda dessas atividades, não poderá exercê-la sem incorrer em crime por exercício ilegal de profissão. O médico que leciona, sem habilitação, mesmo tendo diploma universitário, não está exercendo, ilegalmente a profissão de professor? E nem por isso é punido...

A partir disso poder-se-ia dizer que médicos e advogados valorizam mais suas profissões que os professores? Por qual motivo, em um edital de concurso público, o cargo de professor (nível superior) aparece com um salário inferior ao de outros profissionais com o mesmo nível de formação acadêmica?

A questão aberta pela discussão sobre a educação não se re­sume a isso. A Escolarização é imprescindível, no mundo atual. A questão é saber por qual motivo há tanto descaso para com a educação: faltam salas, faltam salários condizentes, faltam recursos adequados...

O discurso oficial diz que nunca se fez tanto pela educação, mas como explicar tamanha crise no sistema? As universidades públicas reclamam da falta de apoio financeiro e falta de concurso para contratação de professores; a pesquisa, fora dos centros de excelência, não é levada a sério e os resultados são pífios. Sem contar que muitos que concluem o nível superior, embora levem seus diplomas permanecem analfabetos ...

O ensino médio (antigo segundo grau), do ensino público, tem dificuldade para colocar seus egressos nas boas universidades, sem que antes tenham passado pelos cursinhos pré-vestibular. Acrescente-se a isso a grande massa de evadidos pelos mais diferentes fatores destacando-se aqueles que desistem para entrar no mercado de trabalho (embora os defensores da escola digam que esse é um argumento falso, há os que afirmam ser possível ganhar bem sem escolarização, e para provar isso são listados casos de pessoas com pouca escolaridade que enriqueceram...!) e os que percebem que a escolarização não está preparando para a guerra da sobrevivência.

No ensino fundamental quase que anualmente surgem teorias que, no dizer de seus defensores, resolveriam os problemas das dificuldades educativas. Mas essas novas teorias, que são aplicadas quase que sem critérios, estão gerando uma geração de analfabetos. A criança termina o ensino fundamental sem saber coisas fundamentais: tabuada, produção de textos, leitura e interpretação. E, diuturnamente teorias se substituem explicando e tentando aplicar novas técnicas e mais outras que, a história tem mostrado serem infrutíferas.

Podemos dizer que o grande problema da educação não são as teorias e métodos, mas a descontinuidade.

O discurso oficial diz que a educação vai bem. Que estão sendo feitas aplicações vultosas na educação. Que os "amigos" estão mais presentes na escola. Que as famílias estão se aproximando mais dos professores e, juntos, estão trabalhando mais pela educação... Mas não se explicam as gangues, a violência, o analfabetismo de diploma. Não explicam como são aplicadas as verbas. Não explica por que pais e amigos precisam entrar com dinheiro para melhorar a escola pública, mesmo sabendo que são pagos valores aviltantes de impostos que não voltam na forma de benefícios para a população, que paga esses impostos. Não explicam o que é feito com a arrecadação dos impostos. Não explicam a insatisfação salarial dos professores. Não explicam o descompromisso de muitos professores com o processo escolar. Não explicam como aplicar em uma turma de 40 ou 50 estudantes, teorias e metodologias que foram pensadas para turmas de 20 ou 25 alunos. O crescente volume de planos e parâmetros são belíssimos, mas com quais recursos humanos, econômicos, logísticos?

E permanece o problema das salas superlotadas, dos profes­sores insatisfeitos e de alunos que não aprendem.

Do lado político-sindical não se vê, claramente, perspectivas. Não se percebe “consciência de classe”, por parte de muitos professores. Nos momentos de convocação de sua entidade sindical há uma tendência de evasão. Deixa-se de participar dos debates sindicais para sair em pescarias ou para se acomodar em outras atividades, dizendo: "isso de sindicato, paralisação, passeatas, é coisa de gente de esquerda", "greve de professores não funciona", "isso é coisa de quem não quer trabalhar". Mas esse discurso apenas encobre um duplo descompromisso. Primeiro com sua categoria profissional: a pessoa não participa dos debates, das "lutas", mas quer se beneficiar das vitórias da categoria. Em segundo lugar mostra o descompromisso com o próprio sistema escolar, pois no dia-a-dia da escola reclama do salário, da falta de condições de trabalho, mas não se compromete nos momentos de parar para debater e acrescentar forças em favor das mudanças e transformações que deseja sejam implementadas e que poderiam ser encontradas a partir de um debate sério. E depois diz que "o sindicato não defende nossos interesses". Mas não se diz, também que o sindicato se faz pela participação dos profissionais?

Outra questão aberta no coração do sistema escolar é o pro­blema dos valores defendidos pelos adultos em confronto com os valores presentes no meio da juventude. A garotada convive com o dinamismo da TV em oposição à monotonia das salas de aula enfileiradas. Com o ritmo alegre e contagiante das músicas do momento em oposição à monotonia da voz cansada dos pro­fessores que, em pé diante da turma, repete velhas fórmulas lidas (sem convicção) em um livro antigo. A maioria dos professores não sabe quase nada de comunicação, embora trabalhe com comunicação: lecionar é comunicar; sala de aula é um laboratório... pior ainda, para muitos professores o universo virtual (computador, internet, …) representa mais uma ameaça do que a possibilidade de revolucionar o processo do ensino. O fato é que a garotada convive com comunicadores e manipula os recursos infotecnológicos com maestria e os mestres temem perder o espaço... e todos esses recursos falam mais diretamente aos estudantes, sobre aquilo que desejam ouvir. A língua da escola não está em sintonia com a linguagem da juventude... e da modernidade!

Em síntese: o discurso afirmando que a educação vai bem não confere com o drama escolar com o qual escolas, professores, pais e alunos se confrontam. E, se educação, inclusive a escolar, defende valores, precisa primar, também pelo valor da verdade e da sintonia entre quem tem o papel de ensinador e o de aprendiz, sob pena de não acontecer um processo educativo sério e o processo da educação escolar perder o link da história