É inegável e justo que tenhamos o livre-arbítrio, em nível compatível ao nosso estágio evolutivo, para escolhermos os nossos caminhos e para tomarmos as nossas decisões. Quanto mais alinhadas ao bem e às Leis Divinas, melhor tende a ser a qualidade das ações que tomamos. Quanto mais desalinhadas a esses princípios, maior a possibilidade de erro e da necessidade de reparação futura dessas ações. Mas, tudo é oportunidade de aprendizado em busca da evolução constante do ser. Entre as diversas escolhas que fazemos (e refazemos) ao longo de nossa existência, definir se, e qual, linha religiosa vamos seguir me parece de extrema relevância. Ademais, como diz o dito popular, "quem leva o filho na "Igreja" não vai buscá-lo na cadeia."

Se Cristo nada deixou por escrito, se não fundou nenhuma religião, se "apenas" nos deixou um legado de ensinamentos morais cujo conteúdo e qualidade, pelo menos na minha maneira de ver, são incomparáveis em relação aos seus antecessores e sucessores, me pergunto: Para que ficarmos então discutindo religião?

Se todas as religiões pregam o bem e se todas tencionam aproximar o homem de Deus e melhorá-lo, principalmente, do ponto de vista moral, que diferença faria o caminho a ser percorrido, se o objetivo final é exatamente o mesmo?

Embora "religião" não se discuta, opiniões e pontos de vista sobre a interpretação dos ensinamentos do Mestre deveriam e devem ser sempre discutidos, analisados e interpretados, porém, na minha humilde opinião, livre de dogmas e conceitos pré-formados, ou seja, sempre à luz da razão e dos conhecimentos atuais, fruto da evolução intelectual do ser humano. Livre de pré-conceitos? Sim, pois, como poderíamos discutir e tentar entender mais profundamente um ensinamento moral deixado por Cristo, se estivéssemos sempre obrigados a aceitá-lo como um dogma indiscutível?

A evolução intelectual tem demonstrado, ao longo da história, que muitas das coisas que o homem entendia ou classificava como "sobrenaturais", na verdade, resultavam da sua falta de conhecimento das Leis Naturais que regem o mundo físico que habitamos. Chuva, trovão, sol etc já foram classificados pelo homem como Deuses.....

Se há algumas décadas, algum "viajante do tempo" apresenta-se ao homem as maravilhas que temos hoje tanto na eletrônica como na informática, apenas como exemplos, certamente correríamos o risco de classificá-las como obras sobrenaturais ou extraterrestres e certamente duvidaríamos que tal estágio seria por nós alcançado em tão curto espaço de tempo. Imaginem então, o que vem pela frente. Pois bem, embora não se classifique no rol das religiões dogmáticas, pois tem as suas premissas básicas alicerçadas na razão (e, lembrando Kardec, "fé raciocinada é aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade"),a Doutrina Espírita, suporta-se no tripé Ciência, Filosofia e Moral Cristã (ou Religião, como definido por alguns dos seus simpatizantes da Doutrina).

A interpretação da Moral Cristã na ótica espírita está documentada em "O Evangelho Segundo o Espiritismo"; a parte filosófica em "O Livro dos Espíritos" e a Ciência em "O Livro dos Médiuns". Fico então pensando aqui com os meus botões.....

Por que não então estudarmos a Doutrina em fatias, ou seja: a) O que se refere aos ensinamentos morais deveria ser comparado, analisado, criticado, debatido, única e exclusivamente frente às demais interpretações morais dos ensinamentos já recebidos pela humanidade, incluindo todas as religiões, incluindo todos os pensadores e incluindo também nessa análise as grandes e profundas lições deixadas pelos exemplos de amor ao próximo que ao longo da história contribuíram para o progresso da humanidade; b) A parte filosófica e pedagógica da Doutrina Espírita em comparação às idéias dos grandes filósofos, pedagogos e pensadores da história; e c) A ciência da Doutrina Espírita frente à ciência oficial.

No que se refere ao seu aspecto científico, um aspecto de extrema importância deve ser lembrando, qual seja, como repetir esses "experimentos" de intercâmbio espiritual, dentro dos padrões estabelecidos pela metodologia científica em vigor, se eles dependem de uma variável que não está sob o controle do "experimentador", qual seja, a vontade do Espírito?

São princípios básicos da Doutrina Espírita a possibilidade de comunicação entre o mundo espiritual e o mundo material, a pluralidade das existências, a pré-existência e imortalidade da alma, a justiça natural, onde as penas e recompensas nada mais são que conseqüência natural de ações praticadas e o progresso infinito do Espírito.

Indispensável papel desempenha, nesse contexto, a reforma moral (ou reforma íntima como alguns preferem chamar), no que diz respeito à adequada compatibilização de todos esses conceitos. Ora, esses princípios básicos da Doutrina, que suportam a construção da fundamentação científica precisam ser explorados sob a ótica da razão humana, de uma forma tal, que não restem dúvidas quanto a sua validade. Não se tratam, portanto, de premissas que exijam a fé das pessoas que neles "acreditam", mas sim em fatos que possam ser apresentados de uma forma definitiva ao ser humano como irrecusáveis e inquestionáveis. A comunicação entre o mundo material e o mundo espiritual, a pré-existência da alma e sua imortalidade, a pluralidade das existências ou reencarnação, a justiça natural e a idéia do progresso infinito do Espírito exigem, todas, em comum a aceitação do conceito de que o Espírito, de forma comprovada e inquestionável, efetivamente existe. Porém, de que basta o meu depoimento e o de milhares de adeptos à Doutrina sobre os contatos freqüentes que realizamos junto ao Plano Espiritual, as provas, para nós irrefutáveis, que temos da influência exercida pelo Plano Espiritual no Mundo Físico, da reencarnação etc etc etc, se não conseguimos ainda colocar esse conceito no meio acadêmico e social de forma inquestionável?

Interessante constatar como diversas pessoas se interessam por temas relacionados a esse assunto. Vejam a repercussão de livros, filmes e documentários, na linha de Ghost, O Segredo, O Código Da Vinci, entre outros. A física quântica, por exemplo, está a procura do que chama ser a Centelha ou partícula divina. A reencarnação vem sendo profundamente estudada e evidências das mais diversas estão sendo documentadas em filmes (Ex. Minha Vida Noutra Vida), livros (20 casos sugestivos de reencarnação, entre outros), a comunicação entre os dois planos vem sendo amplamente estudada e aprofundada nas experiência de TCI, Transcomunicação Instrumental e de Voz e por ai vai.

Ou será que tudo isso já foi devidamente estudado e comprovado e não nos demos conta ainda?

Se ainda não, esse momento será atingido a partir do nosso esforço no que se refere ao adequado e profundo estudo das Leis Naturais às quais os Espíritos se referem. Algumas delas a ciência, por hora, já reconhece, quais sejam, atração, associação, auto-colapso, auto geração, conservação da energia, conservação da massa, conservação do momentum, continuidade, complementaridade, contextualismo (os valores das grandezas fixas precisam refletir todas as propriedades do evento e de todo o seu contexto), dualidade, dos campos, distribuição de probabilidades, equilíbrio, entropia, graus de liberdade, incerteza, inércia, impulso ou salto, interação, limites ou indeterminação, movimentos, não localidade, orientação, repulsão, similaridade, superposição ou emaranhamento, simetria, transformação ou desintegração e unicidade. Certamente, o lado científico da Doutrina Espírita, atingirá o estágio que comentamos como resultado da própria evolução do nosso conhecimento científico e intelectual, de forma que as premissas básicas que fundamentaram a Doutrina Espírita desde os idos de 1857 com o lançamento de "O Livro dos Espíritos", passarão a ser aceitos, entendidos e interpretados dentro dos conceitos das Leis Naturais cujo conhecimento será de domínio amplo do ser humano. Me parece inclusive que esse é um pré-requisito para que consigamos abandonar o estágio de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração (mas isso é assunto para outro artigo). Neste instante compreenderemos então o amplo potencial do que já temos em mãos, que hoje chamamos "simplesmente" de Doutrina Espírita, fruto do esforço dos Espíritos e de um homem chamado Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, que, anos luz à frente da humanidade, deixou esse manancial de conhecimentos e conceitos de ordem filosófica, pedagógica, científica e de interpretação moral, que mais de 150 anos depois ainda não foram compreendidos em sua plenitude pela humanidade.

Tenho a convicção de que um dia chegaremos ao ponto de entender e aceitar o fato de que os conceitos apresentados pela Doutrina Espírita são muito mais ricos e abrangentes, do ponto de vista de sua compatibilidade com as Leis que regem o Universo, do que conseguimos depreender do seu estudo até os dias atuais. Fruto do nosso próprio esforço, chegaremos lá!